Crítica | Se Beber, Não Case! Parte III - A conclusão que ninguém queria
Eu não realmente não queria estar falando sobre a terceira parte da franquia Se Beber, Não Case. Sucesso estrondoso em 2009, o primeiro filme era uma comédia original e inteligente; um filme misterioso e pervertido como poucos lançados nos últimos anos. Vítima de seu próprio lucro astronômico, a franquia ganhou uma continuação em 2011 e agora este Se Beber, Não Case! Parte III que abandona a fórmula tradicional, gerando um irônico paradoxo: se agrada por não se repetir, dispensa qualquer semelhança temática com os anteriores.
Como você já deve ter ouvido por aí, a trama não traz casamentos ou ressacas como ponto de partida. Dessa vez, o “Bando de Lobos” formado por Alan, Doug, Phill e Stu (os sempre bem entrosados Zach Galifianakis, Justin Bartha, Bradley Cooper e Ed Helms) sendo ameaçado pelo mafioso Marshall (John Goodman), uma inesperada figura do passado que pressiona o grupo para encontrar o sr. Chow (Ken Jeong) para que este possa vingar-se deste após perder seu ouro. A busca os levará para a cidade de Tijuana, no México, e novamente a Las Vegas.
Minha grande ressalva com o segundo filme da trilogia é a repetição de eventos e situações, que carecem do elemento de surpresa que o original tinha de sobra. Com este capítulo final, surpreende a estrutura e tom escolhidos pelo diretor Todd Phillips (que também assina o roteiro ao lado de Craig Mazin), que parece mais a de um longa de ação do que comédia. Uma decisão curiosa, mas que funciona com improvável eficiência graças aos constantes experimentos visuais de Phillips, vide a câmera colada ao torso de Alan durante uma perseguição a pé ou as luzes piscantes que o diretor de fotografia Lawrence Sher fornece a uma cena mais intensa; alcançando um efeito similar àquele visto em Alien, O Oitavo Passageiro.
É até aceitável que um professor, um dentista e um maluco se saiam tão bem ao escalar terraços e protagonizar perseguições de carros – fugindo completamente do espírito original – , já que o filme é incrivelmente sem graça. Lembrando apenas que humor é algo muito pessoal, então mesmo que a imagem de um adulto barbudo se desfazendo em lágrimas como um bebê não provoque reação em mim (a não ser o desgosto em parte dos roteiristas, que transformaram a excentricidade do personagem em uma irritante infantilidade), não duvido de que haverão muitas risadas durante a sessão – houveram, na minha. O que funciona comigo são piadas menores – e pouco frequentes – como o plano-detalhe que ressalta o nervosismo de Stu ao trazer sua camisa encharcada de suor ou sua reação heroica ao ser, enfim, reconhecido como um médico.
Contando com descartáveis momentos sentimentais (que trazem de volta o mesmo bebê do primeiro filme), Se Beber, Não Case! Parte III não apresenta nem a inteligência nem o humor do original, mas ganha pontos por não se limitar a uma mera repetição de piadas e pelo cuidado estético de seu diretor.
Oferece uma conclusão competente, ainda que a história jamais precisasse ter se estendido além daquela gloriosa despedida de solteiro em Las Vegas…
Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover Part III, EUA – 2013)
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phillips, Craig Mazin
Elenco: Zach Galifianakis, Bradley Cooper, Ed Helms, John Goodman, Justin Bartha, Heather Graham, Melissa McCarthy
Gênero: Comédia
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=HM_JmKO7yLw
Crítica | Assim Estava Escrito - O melhor retrato sobre a Hollywood clássica
Nada no cinema pode ser mais metalinguístico do que o filme sobre filme, um gênero vastamente explorado, mas que rende raras obras-primas. Deve-se citar o clássico Crepúsculo dos Deuses, o icônico representante da Nouvelle Vague, A Noite Americana, o hilário O Jogador e eu até incluiria a recente comédia Trovão Tropical como menção honrosa, dada sua ácida crítica aos bastidores de produções blockbusters. Mas dentre o vasto leque, encontrei uma pérola da qual nunca havia ouvido falar e, sinceramente, tampouco encontrei outros admiradores após minha descoberta. Trata-se de Assim Estava Escrito, longa de Vincente Minelli que facilmente entrou para minha lista de filmes preferidos, e que precisa ser encontrado por todos os amantes da Sétima Arte.
O roteiro oscarizado de Charles Schnee, originado de um argumento de George Bradshaw, traça uma narrativa com três histórias distintas sobre um único sujeito: Jonathan Shields (Kirk Douglas), um inescrupuloso e talentoso produtor de cinema em ascensão. Estas são contadas por um diretor (Barry Sullivan), uma atriz (Lana Turner) e um roteirista (Dick Powell), todos bem sucedidos em suas respectivas carreiras e familiarizados com o lado sombrio de Shields, que inegavelmente tornou-se um dos responsáveis pelo sucesso destes.
Assim Estava Escrito permanece como o filme com maior número de vitórias no Oscar sem uma indicação a Melhor Filme. Saiu com as estatuetas de Atriz Coadjuvante para Gloria Grahame, Roteiro Adaptado, Fotografia, Design de Produção e Figurino, além de uma indicação para Kirk Douglas como protagonista. Me dói não encontrar uma indicação na categoria principal (e nem em Montagem, mas chegaremos lá), já que o filme é um dos melhores representantes do gênero citado acima, servindo também como um fortíssimo estudo de personagem e um imortal retrato da Velha Hollywood. O texto de Schnee toma emprestado diversas figuras e produções cinematográficas para enriquecer seus jogadores: Shields é uma mistura do lendário produtor David O. Selznick (responsável pela produção de … E o Vento Levou), o diretor Orson Welles e um dos pioneiros do cinema-B, Val Lewton (que traz no currículo o terror psicológico Sangue de Pantera, homenageado aqui em uma boa porção da trama).
Há muitos exemplos assim durante o longa (incluindo pequenas paródias a Diana Barrymore e Alfred Hitchcock), que é basicamente um cautionary tale sobre a vida hollywoodiana. Kirk Douglas faz de Shields um homem ganancioso, megalomaníaco (em mais de uma ocasião, Shields arma uma situação teatral para conseguir coisas que se resolveriam em um simples diálogo) e manipulador, e que não parece sentir remorço nem mesmo quando suas ações se desmascaram na frente de amigos, e que usa o diretor, o roteirista e a atriz para atingir seus meios. Mas Shields, ainda que um ser humano detestável, é nada menos do que um gênio. Suas ideias e ações garantem dinheiro e reputação, e mesmo que estas consistam em traições e inimizades (“Não se preocupe, a maioria dos filmes bons é feito por pessoas que se odeiam”, “então faremos um ótimo filme”), só ajudaram as “vítimas” a crescerem em seus respectivos ramos. O icônico plano final é o atestado definitivo do que é Shields, e também uma divertida imagem que transborda de um sarcasmo delicioso.
Em sua duração de 2 horas, Minelli conduz as três narrativas com maestria, e mesmo que cada uma delas tenha uma identidade própria, o diretor não perde a mão. Vale apontar a belíssima fotografia em preto e branco de Robert Surtees, que brinca com as sombras e os tons de preto em um estilo noir e a excepcional montagem de Conrad A. Nervig, que mantém o equilíbrio nas três histórias e oferece transições maravilhosas, como aquela em que a imagem de uma estatueta do Oscar dissolve na figura de Shields ou o holofote de filmagem que logo se transforma em um canhão de luz de um tapete vermelho.
Recomendo fortemente que Assim Estava Escrito seja descoberto pelas gerações mais novas. Filmes como esse, impecáveis em direção, roteiro, elenco e praticamente todas as categorias técnicas (a trilha de David Raksin não me impressiona tanto, mas só) são um deleite para os interessados e estudiosos do Cinema, além de servirem tanto como um incentivo quanto aviso para aqueles que se arriscarem a seguir uma carreira na indústria do entretenimento.
E mostra que gênios às vezes vêm na forma de um mal necessário como Jonathan Shields.
Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, EUA – 1952)
Direção: Vincente Minnelli
Roteiro: Charles Schnee, com argumento de George Bradshaw
Elenco: Kirk Douglas, Lana Turner, Barry Sullivan, Dick Powell,Walter Pidgeon, Gloria Grahame, Gilbert Roland, Leo G. Carroll
Gênero: Drama
Duração: 118 min
https://www.youtube.com/watch?v=T4mG-4HBn1w
Crítica | A Travessia - Uma experiência sensorial impressionante
Vira e mexe, deparamo-nos com coisas e eventos que parecem impossíveis demais para serem verdade. Vem-me à mente uma versão um tanto mais otimista da frase de Alex DeLarge em Laranja Mecânica, quando ele se espanta com “a maneira que a violência parece mais real quando a vemos numa tela de cinema”, e ainda que concorde com o perturbado personagem de Malcom McDowell, gosto de pensar também que não só a violência, mas as coisas belas parecem mais vívidas quando as vemos projetadas. É exatamente isso o que Robert Zemeckis faz em A Travessia.
Aqui, o diretor utiliza o 3D para contar a história real de um certo Philippe Petit (vivido por Joseph Gordon-Levitt), um equilibrista francês que enxergou nas torres gêmeas do World Trade Center o palco perfeito para seu número definitivo: atravessar os dois prédios utilizando uma corda bamba.
Ao lado do roteirista Christopher Browne, Zemeckis transforma a façanha de Petit em uma verdadeira fábula. Logo nos segundos iniciais, quando o próprio surge interagindo com a platéia enquanto encontra-se no topo da Estátua da Liberdade, Petit já é visto como uma espécie de mágico que nos contará sobre suas incríveis aventuras, e o tom fabulesco preenche todo o primeiro ato da projeção ambientado em uma Paris muito característica. Todo o tempo, o roteiro nos cria uma imagem visionária para o protagonista, especialmente ao retratar sua ambição e subsequente arrogância para realizar seu sonho. E Joseph Gordon Levitt trabalha com cuidado seu sotaque francês, por pouco não transformando Petit em uma caricatura, mas compensando pela empatia que causa com o público e sua constante interação com este.
Claro, é uma visão absolutamente idealizada, o que pode incomodar um pouco quem não entender por completo as motivações do protagonista. Se o excelente documentário O Equilibrista é mais direto e factual, o filme de Zemeckis aposta pesado no tom de conto-de-fadas e no constante incentivo aos sonhos impossíveis, além de ignorar as sutilezas na bela homenagem ao World Trade Center, quase um personagem em seu próprio mérito. E é sempre bom esclarecer que não é uma homenagem a uma bandeira ou nação, mas sim à perseverança do espírito humano e à natureza da Arte.
Já no segundo ato, Zemeckis troca a fábula por um inusitado filme de heist, e a mistura funciona. A trilha de Alan Silvestri converte o acorde mais sensível para uma divertida trilha old school, ao passo em que os personagens planejam seu “golpe” e testam suas artimanhas, sendo particularmente eficaz em sua montagem dinâmica, como na cena em que a flecha de um treino de pontaria em um parque (utilizado para lançar o cabo entre as duas torres) sutilmente transita para o World Trade Center, além dos planos habitualmente longos do diretor; daqueles tão ricos que nem percebemos que um corte não ocorreu. Existe até mesmo uma justificativa crível para o fato de todos os personagens franceses falarem em inglês o tempo todo, já que Philippe é obcecado em conhecer Nova York e insiste que todos os seus colegas falem o idioma ianque para “praticar”. Claro, é a “legendafobia” americana, mas é uma desculpa muito eficiente.
Muito bem, falemos sobre a meia hora final do filme, na qual Philippe enfim realiza a tão antecipada travessia. É facilmente um dos melhores usos de 3D que qualquer cineasta já tenha realizado até hoje, e fica ainda mais impressionante se visto em uma boa sala IMAX, a fim de realmente conseguir a mesma sensação experienciada por este que vos escreve: a de absoluto deslumbramento. Zemeckis conduz a vertiginosa sequência com maestria, valorizando a maravilha que é o ato do protagonista, ao mesmo tempo em que sua câmera viaja pelo ambiente digital – que jamais deixa de parecer convincente – e nos coloca na pele do equilibrista, que enfim alcança seu clímax emocional nesta que é uma das mais memoráveis cenas do ano. A profundidade de campo é chave para que o 3D tenha um efeito tão profundo, e o diretor de fotografia Dariusz Wolski merece aplausos por compor luzes e cores belíssimas, mas que respeitam a estética naturalista do projeto – evitando imagens surrealistas ou tons mais oníricos que transformassem a caminhada em algo fantasioso.
A Travessia é uma obra inspiradora e que traz Robert Zemeckis em sua melhor forma em anos. Beneficiando-se da ótima história, produção e um 3D avassalador, a saga de Philippe Petit transforma-se em uma das mais poderosas experiências cinematográficas de 2015.
A Travessia (The Walk, 2015 – EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis e Christopher Browne, baseado na obra de Philippe Petit
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Ben Kingsley, Charlotte Le Bon, Clément Sibony, César Domboy, James Badge Dale, Steve Valentine, Ben Schwartz
Gênero: Drama
Duração: 121 min
https://www.youtube.com/watch?v=N9pFKbg39Q8
Crítica | Mr. Robot - 2ª Temporada
Em 2015, Mr. Robot tomou a televisão americana de surpresa. Trouxe uma estética original e uma narrativa cativante movida por um tipo de protagonista que raramente vimos no formato seriado (dá até pra dizer que é uma figurinha difícil até mesmo na Sétima Arte) e com uma linguagem e cunho social muito relevantes. Foi vencedora de prêmios, picos de audiência e uma segunda temporada era inevitável para o criador Sam Esmail, que agora abraçaria a escola de Cary Fukunaga em True Detective e dirigiria todos os episódios da nova temporada – além de roteirizá-los.
É uma nova forma de televisão de autor.
Os acompanhantes da primeira temporada bem sabem que linearidade e total compreensão do que acontece na história é uma regra a ser quebrada, e já iniciamos o segundo ano de Elliot (Rami Malek) em confusão. Algum tempo se passou após o hack bem sucedido no Banco da E-Corp, colocando a implacável agente do FBI Dom DiPierro (Grace Gummer) atrás do grupo Fsociety e de Tyrell Wellick (Martin Wallström), que desapareceu misteriosamente após um breve encontro com Elliot. Já o nosso jovem hacker segue lutando para manter sua mente livre da identidade controladora do Mr. Robot (Christian Slater), que cada vez mais ameaça tomar posse de seu corpo para sempre.
Ainda que tenha os mesmos realizadores e agora o total controle de Sam Esmail, esta nova temporada difere bastante da anterior em muitos sentidos. O principal, sem dúvida, é que mergulhamos na mente de Elliot de forma muito mais profunda, sendo uma narrativa psicológica que não se preocupa em gastar tempo com descobertas e confusões de seu protagonista – que, novamente, interage e engana o público frequentemente -, mesmo que isso signifique arcos inconclusivos (como aquele envolvendo o personagem de Craig Robinson) ou a aparente sensação de repetição, uma corrida em círculos.
A interação com Mr. Robot é o ponto alto dessa abordagem. Tendo sido revelado como uma criação extremamente hostil e independente de sua mente, vemos Elliot e Robot disputando o controle da situação, gerando dilemas tensos, como o fato de seu alter ego saber o que houve com Tyrell Wellick e lhe ocultar a informação; a ideia de que Elliot tenha sido controlado por sua outra persona por um longo período de tempo também é amedrontadora, e rende bons momentos dos dois, beneficiados pelas sempre excelentes performances de Rami Malek e Christian Slater.
A ideia de Elliot tentar inibir Robot através de remédios, por exemplo, acaba por lhe proporcionar alguns dias de pura felicidade, até o momento assombroso em que é raptado em plena luz do dia, levado até uma garagem deserta e ter cimento fresco derramado em sua goela, fazendo-o vomitar… Até termos a revelação de que fora um mero truque de Mr. Robot para provocar essa reação em Elliot e fazê-lo livrar-se dos remédios que ameaçam sua presença. Coisas assim tornam esse segundo ano praticamente imprevisível em relação ao que é real ou não.
Visualmente, esse núcleo é interessantíssimo. Esmail retorna com a estética desproporcional e os enquadramentos que diminuem os personagens e nos mergulham nesse mundo bizarro e onírico. É algo ainda mais intenso nas cenas de Elliot na primeira metade da série, e que revela-se algo genial quando temos uma grande reviravolta que explica o isolamento de Elliot dos demais núcleos e a confusão dos eventos que se segue ali. Se a revelação da identidade de Mr. Robot na primeira temporada já estava na cara, o que acontece aqui é realmente uma surpresa das mais agradáveis – e quando a reavaliamos, todas as pistas estavam ali, incluindo a trilha sonora. Ainda no quesito visual e no que diz respeito à mente de Elliot, não poderia deixar de comentar a brilhante abertura do sexto episódio da temporada, na qual a série magicante transforma-se em uma sitcom dos anos 1980 e traz Elliot, Robot e toda a família em uma viagem de carro num chroma key falso e uma câmera de vídeo típica da época – com direito a trilha de risadas e uma cameo de Alf, o Eteimoso!
Com Elliot tendo seu maior conflito dentro de sua mente, ficou para os personagens coadjuvantes da primeira ganharem um grandioso destaque aqui. A começar pela Angela de Portia Doubleday, que ganha um arco muito mais complexo e envolvente desta vez, com sua carreira na Evil Corp sendo ameaçada por um comportamento niilista e quase autodestrutivo que a acaba deixando em perigo e conectada ao fsociety e até ao misterioso Whiterose (BD Wong, que performance incrível). Doubleday acerta em cheio nessa transição de garota certinha para uma figura imponente e perigosa, rendendo a espetacular sequência na qual traz uma versão melancólica de “Everybody Wants to Rule the World” em um karaokê.
Já tendo uma presença nebulosa e pontual na primeira temporada, a belíssima Stephanie Corneliussen assume as rédeas do sumiço de Tyrell Wellick na pele de sua esposa Joanna. Uma femme fatale impactante, Corneliussen oferece sensualidade e força à Joanna, tornando todas as suas cenas um festival de mistério e até suspense. Quem assume as rédeas após a ausência de um personagem é Darlene (Carly Chaikin), que se vê forçada a assumir a liderança da Fsociety com o isolamento inicial de seu irmão Elliot, o que leva a um dos arcos mais tensos e poderosos da série – o que dizer da subtrama que envolve o rapto de uma advogada?
Mas talvez a melhor personagem do novo ano seja Dom DiPierro. Começa com o estereótipo da agente do FBI badass, aos moldes de Clarice Sterling de O Silêncio dos Inocentes, e Dom de fato é, como vemos em seu desempenho formidável durante um tiroteio em plano sequência ou seu comportamento incisivo e determinado durante inúmeros interrogatórios. Mas é o lado problemático e a solidão que tornam a personagem tão especial, seja pelo fato de a vermos se masturbar logo em suas primeiras cenas ou quando conversa com a “siri” de seu celular à procura de alguém que a escute. Uma grande personagem.
E não poderia deixar de mencionar Joey Bada$$, que interpreta um novo amigo de Elliot, Leon. Não é um personagem tão importante para a história, mas já entrou no meu hall de favoritos pelo simples fato de passar boa parte do tempo oferecendo insights filosóficos para episódios de Seinfeld. Sam Esmail sabe bem como me agradar…
A segunda temporada de Mr. Robot talvez seja melhor e mais interessante do que sua antecessora, pelo simples fato de manter o foco em seus personagens e nos embates psicológicos e ideológicos que travam ao longo da narrativa. As atuações permanecem sólidas e a televisão de autor de Sam Esmail funciona e promete deixar os fãs morrendo de expectativa para o terceiro ano. Mal posso esperar.
Mr. Robot – 2ª Temporada (Mr. Robot: Season 2 - EUA, 2016)
Showrunner: Sam Esmail
Direção: Sam Esmail
Elenco: Rami Malek, Christian Slater, Portia Doubleday, Carly Chaikin, Stephanie Corneliussen, Grace Gummer, Craig Robinson, Michael Cristofer, Azhar Khan, Sunita Mani, Martin Wallström, Joey Bada$$, BD Wong
Emissora: USA
Duração: 59 min (cada episódio, aproximadamente)
https://www.youtube.com/watch?v=Oc-AsN7d1wg
Crítica | A Noite do Jogo - Quem sai ganhando é o espectador
Se há um gênero que vem cada vez mais perdendo espaço no cinema de estúdio, é a comédia. Talvez só tenha perdido para a comédia romântica, hoje um tipo de filme praticamente extinto em produções de majors; foi-se o tempo em que víamos astros como Matthew McConaughey ou Anne Hathaway em tramas deliberadamente açucaradas e escapistas. Por isso, quando a Warner Bros anuncia A Noite do Jogo entre seu lineup de 2018, uma comédia cheia de nomes grandes e não baseada em nenhuma propriedade já existente, é de se fornecer alguma atenção. E, no fim, felizmente posso constatar que ainda é possível ir ao cinema apenas para dar umas boas risadas - e até se impressionar com algo além.
A trama começa da forma mais boba possível: Max e Annie (Jason Bateman e Rachel McAdams) são um casal extremamente apaixonado por jogos. Seja de competição, tabuleiro ou adivinhação, os dois se conheceram e mantém um casamento baseado nesse hobbie, promovendo uma série de noites de jogos com seus amigos, que incluem o casal Kevin e Michelle (Lamorne Morris e Kylie Bunbury) e o mulherengo Ryan (Billy Magnussem), que conhecemos enquanto sai com a britânica Sarah (Sharon Horgan). Quando Brooks (Kyle Chandler), o irmão mais velho e bem sucedido de Max, chega na cidade para uma temporada, ele propõe um jogo diferente: uma experiência imersiva onde um deles será sequestrado, formando uma competição para encontrar o alvo. Porém, as coisas ficam nebulosas quando todos se questionam sobre o que é real ou não nessa experiência bizarra.
Basta olhar para o material promocional de A Noite do Jogo, e imediatamente remetemos a outras comédias "grandes" apadrinhadas pela Warner: os dois filmes de Quero Matar Meu Chefe e a trilogia Se Beber, Não Case!, ambos com um elenco formidável e um orçamento alto para um filme do gênero. Com roteiro de Mark Perez, em seu primeiro trabalho na área em quase 10 anos (após o telefilme Back Nine), Noite do Jogo se revela uma experiência divertida e imprevisível, justamente pela ambiguidade que é capaz de provocar com a perspectiva de o que faz parte do jogo ou não, quase como um Vidas em Jogo escrachado. Claramente, é um efeito que dura pouco tempo sem soar muito evidente, e Perez sabe o momento de entregar o jogo, mas sem nunca deixar de nos surpreender com reviravoltas divertidas, sempre na linha entre o aceitável e o banal.
As piadas também funcionam, ainda que nem sempre atinjam em cheio, apostando principalmente em referências de cultura pop e citações. É particularmente incômodo ver algum personagem parodiar um filme famoso, apenas para que logo em seguida outro tenha que explicar a referência, como quando Annie parafraseia um dos diálogos mais icônicos de Pulp Fiction. Os rumos da história também acabam exagerando no terceiro ato, onde o longa trilha pela ação de forma inexplicável, mesmo que sempre mantendo a veia humorística; o que de certa forma justifica alguns dos absurdos, como trazer à tona Liam Neeson e o desastroso Busca Implacável 3 durante uma perseguição de carro.
Mas mesmo que todas as piadas não tenham o efeito desejado, o elenco sempre entrega em cheio. Bateman está fazendo seu tipo habitual, praticamente o mesmo personagem de Quero Matar Meu Chefe, enquanto McAdams surge adorável em um papel com doses de excentricidade. Porém, quem rouba a cena são os coadjuvantes, especialmente Billy Magnussem e Sarah Rogan, que juntos criam uma química muito divertida com o primeiro sendo o bonitão estúpido, e ela a britânica espirituosa e sagaz; a cena em que ele tenta oferecer um suborno, com a reação impagável de Rogan, é um ponto alto. Morris e Burbunry também garantem excelentes momentos, principalmente pela piada recorrente envolvendo Denzel Washington, que garante uma das surpresas mais hilárias da projeção. E, claro, não poderia deixar de mencionar Jesse Plemmons, absolutamente hilário como Gary, um policial solitário que sempre é deixado de lado nas noites de jogos - e levemente assustador com seu discurso pesado e sombrio.
Mas talvez a grande surpresa da produção esteja no setor onde raramente vemos inovação neste gênero: a direção. Responsáveis pelo fraco reboot de Férias Frustradas, John Francis Daley e Jonathan Goldstein apresentam um domínio notável de linguagem cinematográfica, e a traduzem muito bem visualmente para gerar humor e storytelling. A rima dos planos que marcam duas situações chave para Max e Annie em momentos distintos da história é admirável e, sem medir exageros, puro cinema, assim como o match cut inteligente que os coloca caindo dentro de um tabuleiro. De forma a emular a experiência de diferentes jogos, a dupla constantemente posiciona a câmera na parte de trás de veículos, simulando a perspectiva do game em terceira pessoa, e também aposta em um plano sequência impressionante que traz os personagens correndo pelos cômodos de uma mansão enquanto tentam escapar com um objeto, uma cena que - mesmo com os cortes bem evidentes - ainda impressiona pela execução dinâmica e bem ensaiada. Saindo um pouco da direção, outro elemento incomum é a trilha sonora de Cliff Martinez, inteiramente composta com sintetizadores a la Stranger Things, conferindo não só uma vibe distinta, mas também remetendo a antigos jogos de filperama.
A Noite do Jogo é um exemplar de um gênero em ameaça de extinção: a boa comédia de grandes estúdios. Através de um roteiro que entende de reviravoltas, um elenco carismático e uma direção surpreendentemente estilizada, temos aqui uma das experiências mais divertidas do ano, e eu torço para que não seja a última.
A Noite do Jogo (Game Night, EUA - 2018)
Direção: John Francis Daley, Jonathan Goldstein
Roteiro: Mark Perez
Elenco: Jason Bateman, Rachel McAdams, Jesse Plemmons, Bruce Magnussem, Sarah Rogan, Lamorne Morris, Kylie Bunbury, Kyle Chandler, Jeffrey Wright, Michael C. Scott, Danny Huston
Gênero: Comédia
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=x9Mar90UugE
Crítica | Desejo de Matar (2018) - Um remake que se atrapalha na mensagem
Lançado em 1974, Desejo de Matar é um dos grandes veículos do veterano Charles Bronson, que transformou a história de um homem levado ao vigilantismo após uma tragédia familiar em uma franquia de ação com múltiplas continuações. Claro que toda a crítica social e análise psicológica daquele filme acabaram esquecidas nos filmes subsequentes, mais preocupados em retratar Bronson em tiroteios e pancadaria. Com a luz do remake inevitavelmente brilhando sobre seu catálogo, Eli Roth enxerga em Bruce Willis a chance de lhe oferecer um retorno triunfal, além de atualizar os temas da obra estrelada por Bronson para uma nova audiência.
A trama desta nova versão coloca o protagonista Paul Kersey (Willis) como cirurgião renomado de um hospital em Chicago. Quando sua casa é invadida por assaltantes, sua esposa (Elisabeth Shue) é brutalmente assassinada e sua filha Jordan (Camila Morrone) é deixada em estado de coma. Impaciente com a ineficiência do departamento de polícia da cidade, que enfrenta uma assustadora onda de crimes diariamente, Paul decide fazer justiça com as próprias mãos e inicia uma cruzada sangrenta para encontrar os criminosos que atacaram sua família.
A maioria das pessoas pode dizer que sempre é um timing ruim lançar um remake, mas o filme de Eli Roth realmente não poderia ter saído em hora pior. Com mais um massacre a tiros em uma escola americana, os EUA novamente passam pelo controverso diálogo sobre a posse de armas (com até mesmo o estúpido argumento em relação a filmes e games violentos sendo colocado antes de uma nova jurisdição, pelo próprio presidente), e um longa de ação violento que, de certa forma, apoia esse tipo de vigilantismo com certeza vai endurecer sua recepção; que já era ameaçada pelo fato de se tratar de um remake. É um tratamento injusto, claro. O filme de Roth ser lançado agora e alguns anos atrás não deveria afetar a percepção do público, mas sim aquilo que está em tela, e a verdade é que - sem querer usar aquele velho e cansado clichê - realmente estamos diante de mais um remake medíocre e irrelevante.
O roteiro de Joe Carnahan até tenta trazer algum tipo de discussão sobre o tema, integrando trechos de noticiários, programas de internet e podcasts como parte da narrativa, sempre comentando as ações do protagonista como vigilante - batizado de Grim Reaper pela população. É uma técnica que remete ao Robocop de Paul Verhoeven, ou até mesmo o primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi, mas que não funciona por ser raso e genérico demais, com o texto de todos os personagens jornalistas soando artificial e digno de uma etiqueta de posto de gasolina ("Is he a hero or a zero?). As intenções também confundem-se quando Carnahan traz um núcleo em uma loja de armas full america, praticamente satirizando esse tipo de negócio ao trazer uma bela jovem para atuar como negociante, explicitando a facilidade para Paul conseguir uma arma.
Mesmo que o roteiro tivesse alguma profundidade, é do tipo que um cineasta como Eli Roth seria incapaz de compreender ou fazer jus. Conhecido por seu trabalho no gênero do torture porn, é evidente que o diretor fará sua habitual glamourização da violência e trará efeitos práticos exagerados, mas confesso estar surpreso por alguns fatores. As mortes nem de longe equiparam a seus desempenhos mais gráficos, como Canibais ou O Albergue, sendo algo contido dentro de um universo mais "realista", se é que podemos definir dessa forma. Segundo, porque Roth mostra aqui e ali alguns sinais de inteligência, como na assustadora cena em que a casa dos Kersey é invadida, evidenciando um trabalho sólido de atmosfera e construção de suspense, da mesma forma como traduz visualmente bem algumas das ironias da história, como o uso da tela dividida ao mostrar Paul retirando uma bala de um paciente ao mesmo tempo em que o vemos carregando o pente de uma arma. São momentos pontuais que fazem a sobrancelha levantar em admiração, mas não muito mais que isso. Roth é mais eficiente com o terror do que ação, e falha em criar sequências memoráveis ou que fujam do lugar comum, limitando-se a tiroteios que sempre obedecem à mesma decupagem. Não é algo banal ou prejudiciado por uma montagem viciada, é simplesmente monótono.
Quanto a Bruce Willis, um dos grandes astros de ação do cinema americano, era de se esperar algo melhor de seu grande retorno às telas - o ator não protagoniza nenhuma produção cinematográfica desde Red 2. Havia ali uma chance de se desenvolver bem o personagem de Paul, que no início é tão relaxado e pacifista a ponto de evitar provocações com estranhos em um jogo de futebol, mas que inexplicavelmente transforma-se na máquina de matar badass que estamos acostumados a ver ali. Willis não parece nem estar interessado em trabalhar essa mudança (tampouco o texto, mas enfim), permanecendo com a mesma expressão fechada e uma ausência de carisma realmente assustadora. Não é possível nem ao menos se divertir com Willis, nem nos momentos em que o longa arrisca algum senso de humor - majoritariamente, falho. E em um elenco onde Vincent D'Onofrio, Dean Morris e Elisabeth Shue são meros enfeites, temos mais uma triste decepção.
Ainda que não seja um desastre completo, este novo Desejo de Matar é um filme indeciso. Insatisfeito em ser um mero filme de ação descerebrado, Eli Roth tenta explorar a cultura de armas e vigilantismo dos EUA, mas falha ao tentar tirar profundidade de um assunto do qual não tem a menor capacidade de lidar. Resta torcer para que Bruce Willis não tenha perdido toda sua vontade de atuar.
Desejo de Matar (Death Wish, EUA - 2018)
Direção: Eli Roth
Roteiro: Joe Carnahan, baseado no livro de Brian Garfield e no longa-metragem de Wendell Mayes
Elenco: Bruce Willis, Dean Morris, Vincent D'Onofrio, Elisabeth Shue, Camila Morrone, Kimberly Elise, Beau Knapp
Gênero: Ação
Duração: 107 min
https://www.youtube.com/watch?v=HzILu6yyA20
Especial | Star Wars
Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante...
Confira aqui todo nosso conteúdo dos especiais de Star Wars!
CINEMA
Trilogia Original
Crítica | Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança
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Crítica | Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca
Publicado originalmente em 11 de dezembro de 2016
Crítica | Star Wars: Episódio VI - O Retorno de Jedi
Publicado originalmente em 12 de dezembro de 2016
Trilogia Prequel
Crítica | Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma
Publicado originalmente em 7 de dezembro de 2016
Crítica | Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones
Publicado originalmente em 8 de dezembro de 2016
Crítica | Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
Publicado originalmente em 9 de dezembro de 2016
Fase Disney
Crítica | Star Wars: O Despertar da Força
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Crítica | Star Wars: O Despertar da Força (Com Spoilers)
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Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars (Com Spoilers)
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Crítica | Star Wars: Os Últimos Jedi (Sem Spoilers)
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Publicado originalmente em 17 de dezembro de 2017
Crítica | Han Solo: Uma História Star Wars
Publicado originalmente em 16 de maio de 2018
Animação
Crítica | Star Wars: Clone Wars (2003)
Publicado originalmente em 7 de dezembro de 2017
Crítica | Star Wars: The Clone Wars (2008)
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Crítica | Star Wars: The Clone Wars - A Série Completa (2008-2015)
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Crítica | Star Wars: Rebels - 1ª Temporada
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Crítica | Star Wars: Rebels - 2ª Temporada
Publicado originalmente em 23 de dezembro de 2017
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DVD | Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones
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DVD | Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
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DVD | Star Wars: A Trilogia
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Blu-ray | Star Wars: A Saga Completa
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Blu-ray | Star Wars: O Despertar da Força - Edição Steelbook
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Blu-ray | Star Wars: O Despertar da Força - Edição Especial 3D
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Blu-ray | Rogue One: Uma História Star Wars - Edição Steelbook
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Blu-ray | Star Wars: Os Últimos Jedi - Edição Steelbook
Publicado originalmente em 27 de março de 2018
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Análise | LEGO Star Wars: The Complete Saga
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Análise | Star Wars: The Force Unleashed - Ultimate Sith Edition
Publicado originalmente em 3 de janeiro de 2017
Análise | Star Wars: The Force Unleashed II
Publicado originalmente em 5 de janeiro de 2017
Análise | Star Wars: Battlefront
Publicado originalmente em 15 de dezembro de 2016
Análise | Lego Star Wars: O Despertar da Força
Publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2017
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Crítica | Star Wars: Kenobi
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Crítica | Star Wars: Tarkin
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Crítica | Star Wars: Provação
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Crítica | Star Wars: Marcas da Guerra
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Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars (Trilha Sonora Original)
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Os Últimos Jedi não liga para o que você pensa sobre Star Wars. E isso é ótimo.
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Crítica | Verdade ou Desafio - Impossível não gargalhar
É preciso dar crédito ao gênero do terror. A cada ano que entra, roteiristas e produtores precisam encontrar uma nova forma de assustar e apavorar adolescentes ao redor do mundo, apostando nas mais variadas ameaças e combinações de elementos ordinários com o sobrenatural. Aniversários, festas, feriados e todo tipo de brinquedo já serviram como pretexto para o gênero, que sempre periga estar sem ideias ou fôlego - salve algumas exceções, como o universo Invocação do Mal de James Wan. Dito isso, é preciso dar crédito ao roteirista que entrou no escritório da Blumhouse, ficou cara a cara com Jason Blum e vendeu o peixe da ideia para Verdade ou Desafio. O único mérito reside na audácia do roteirista em oferecer essa ideia bizarra, porque de resto, só deve ter sido resultado de um desafio imposto ao produtor.
A trama começa quando um grupo de amigos vai passar o Spring Break (aqui divertidamente traduzido como feriadão) no México, naquela que seria a última grande viagem antes de cada um embarcar em uma faculdade diferente. Na última noite, a jovem Olivia (Lucy Hale) conhece um estranho charmoso (Landon Liboiron) que acaba por convidá-la e seus amigos para uma inofensiva partida de verdade ou desafio. Porém, as coisas ficam estranhas quando o jogo revela-se algo sobrenatural, seguindo os jovens até os EUA e exigindo que estes continuem jogando, com ameaça de morte de uma entidade demoníaca caso não cumpram as regras; ou recusem-se a prosseguir a brincadeira.
Não há como colocar isso de forma delicada: é uma premissa estúpida que ganha uma execução igualmente estúpida, e que se aproxima mais de uma comédia de humor negro do que um terror; algo que o longa se beneficiaria de forma infinitamente melhor, especialmente se assumisse uma proposta metalinguística como a de Pânico ou o recente A Morte te dá Parabéns. Na tentativa de se construir como algo sério demais, o roteiro da caravana formada por Michael Reisz, Jillian Jacobson, Christopher Roach e o diretor Jeff Wadlow acaba se perdendo em suas intenções, confundindo as regras do jogo e introduzindo conceitos macarrônicos que complicam algo que deveria ser simples e conciso. Não que os personagens em um filme de terror importem, mas a trupe de roteiristas parece se esforçar para criar as figuras mais apáticas possíveis. Todos são intercambiáveis e apresentam os núcleos dramáticos mais previsíveis e clichês, e chega a ser embaraçoso quando Wadlow pesa a mão em seus enquadramentos "iluminados" e a trilha sonora de Matthew Margesonn aposta no melancólico, como se o diretor achasse que realmente algum apego emocional está sendo bem sucedido.
Com um trabalho pedestre nos personagens, é difícil até mesmo para um elenco talentoso equilibrar a balança. Conhecida pela série Pretty Little Liars, a adorável Lucy Hale demonstra bastante carisma e se esforça para espremer o suco de seu fiapo de personagem, claramente demonstrando que a atriz merece papéis melhores em produções mais dignas. Violett Beane também garante alguns bons momentos dramáticos aqui e ali, e Hayden Szeto mostra-se um bom alívio cômico. De resto, todos os demais são inexpressivos e classificam-se na categoria de "coadjuvantes intercambiáveis", servindo apenas para preencher o grupo central.
No que diz respeito ao terror, a direção de Wadlow representa o que o gênero tem de pior. Todos os momentos "assustadores" são baseados em jump scares da pior qualidade, que só se preocupam em assustar o espectador sem qualquer compromisso em criar uma atmosfera aterradora; em momento algum sentimos medo ou preocupação em relação ao jogo ou a mitologia por trás, a única exceção sendo a competente cena em que uma das personagens é forçada a caminhar pela beirada de um telhado - mas que Wadlow estraga ao apostar em mirabolantes tomadas de grua que normalmente veríamos em um filme de Michael Bay, desperdiçando o elemento da vertigem. E bem, não preciso comentar as ridículas expressões sorridentes, certo? Me espanta que os produtores realmente apostavam que essa técnica fosse assustar alguém, já que só é eficiente em iniciar o riso incontrolável sempre que algum dos personagens a adota.
Outro fator extremamente danoso é a censura 14 anos do filme, algo claramente visto como uma forma de atrair mais público, mas que representa um tiro no pé ao apostar em recursos artificiais para a contenção da violência. Nenhuma das ações gráficas tem algum impacto, e sangue é algo que o público comum está acostumado a ver em produções do gênero, sendo esdrúxulo ver uma garganta ser degolada ou uma língua ser mutilada sem a presença de sangue. É possível sim fazer um PG-13 com impacto (vide O Cavaleiro das Trevas), mas é outra área na qual Wadlow não tem domínio.
Verdade ou Desafio representa uma mancha feia no currículo impecável da Blumhouse, que vem se destacando como produções como Corra! e Fragmentado. Partindo de uma premissa absurda e de uma execução pior ainda, fica difícil fazer milagres. A verdade é que este filme não chega perto nem do aceitável, e o real desafio é chegar até o fim.
Verdade ou Desafio (Truth or Dare, EUA - 2018)
Direção: Jeff Wadlow
Roteiro: Jillian Jacobs, Michael Reisz, Christopher Roach e Jeff Wadlow
Elenco: Lucy Hale, Tyler Posey, Violett Beane, Sophia Ali, Nolan Gerard Funk, Landon Liboiron, Sam Lerner, Morgan Lindholm, Hayden Szeto
Gênero: Terror
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=WWf6mu03QNM&t
Crítica | Vingadores: Guerra Infinita - Você não está preparado para isso
Desde que o Homem de Ferro alçou voo pela primeira vez há dez anos atrás, a Marvel Studios realizou um feito notável em suas produções. Baseando-se no modelo das histórias em quadrinhos e no padrão televisivo, os filmes eram todos integrados no mesmo universo, com personagens e narrativas compartilhando participações e eventos. E ao final do primeiro filme dos Vingadores, em 2012, o produtor Kevin Feige estabelecia qual seria a narrativa principal por trás dessa grande história: a busca do vilão Thanos pelas Joias do Infinito. E é justamente nessa proposta que Vingadores: Guerra Infinita se baseia, apostando em uma escala megalomaníaca para entregar uma culminação de todos esses personagens e filmes ao longo da década. O resultado? Estranho e desconjuntado, mas definitivamente grandioso.
Como dito, a trama enfim coloca Thanos (Josh Brolin) ativamente indo atrás das Joias do Infinito para completar sua poderosa Manopla, o que lhe concederia a habilidade de eliminar metade da existência no universo - seu objetivo a fim de encontrar o "equilíbrio" perfeito. A fim de impedir a catástrofe definitiva, todos os Vingadores unem forças entre si, contando também com o auxílio dos Guardiões da Galáxia e dos Magos liderados pelo Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch).
Season Finale Maquiavélico
É um filme dificílimo de se estruturar, até mesmo resumir sua sinopse. Essa talvez seja a questão central no longa, que é sua ausência de estrutura. A clássica progressão de três atos? Esqueça. Não há nada neste filme que possa ser visto sob uma óptica sequencial lógica, mas sim como diferentes núcleos narrativos amarrotados sob o mesmo fio condutor: de um lado temos Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Homem-Aranha (Tom Holland) e Estranho responsáveis pela proteção de uma joia específica, enquanto Capitão América (Chris Evans), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Falcão (Anthony Mackie) ajudam Hulk (Mark Ruffalo), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Máquina de Combate (Don Cheadle) a proteger Visão (Paul Bettany) e a Joia que este guarda em sua testa, contando também com o auxílio do Pantera Negra (Chadwick Boseman) e toda a nação de Wakanda. E por fim, paralelamente, ainda temos Thor (Chris Hemsworth) separando os Guardiões da Galáxia para duas missões diferentes, na busca de uma arma poderosa o suficiente para derrotar Thanos.
Fica claro que é uma quantidade absurda de núcleos narrativos, ambos de mesma importância. Nunca houve um filme tão grande e com tantas linhas narrativas, e o primeiro reconhecimento vai para o setor de montagem. Jeffrey Ford e Matthew Schmdit fazem trabalho admirável em juntar todos eles, e o mero fato de este filme existir e se sustentar em menos de 3 horas já merece um carinho. Porém, não é o bastante para garantir a coerência que uma história dessas requer: sempre que nos concentramos demais uma das jornadas, outra de igual importância acaba sendo deixada de lado por tempo considerável, o que contribui para a sensação de se estar vendo não um filme, mas uma série de episódios dentro do mesmo pacote. Cada núcleo narrativo gera ramificações, e ainda temos o próprio Thanos em sua jornada pessoal para encontrá-los, adicionando mais caldo à panela.
Uma comparação ideal é aquela com a sequência do aeroporto em Capitão América: Guerra Civil, que de certa forma é uma audição para Guerra Infinita: diversos personagens juntos na mesma luta, mas com núcleos e combinações diferentes que acompanhamos um de cada vez, e que eventualmente se misturam. Não me entendam mal, nem mesmo Thelma Schoonmaker poderia organizar essa narrativa de forma melhor.
Inevitável, mas os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely (nomes de poder na casa após O Soldado Invernal e Guerra Civil) são eficientes ao manter os estilos particulares de todos os diferentes personagens, então Stark permanece irônico e egocêntrico e os Guardiões mantém a mesma veia cômica que conhecemos nos longas de James Gunn. E assim como fora interessante ver super-heróis diferentes interagindo entre si no primeiro Vingadores, a noção de se ter Thor e o Senhor das Estrelas (Chris Pratt) em uma competição de egos, ou as mentalidades de Strange e Stark trabalhando juntas é algo que causa uma animação, especialmente pelo investimento a longo prazo nessa franquia. Todo o gigantesco elenco que mal cabe no cartaz principal do filme também funciona muitíssimo bem, ainda que Pratt mereça destaque por conter algumas das mudanças mais emotivas dentre todos os personagens, e Cumberbatch surpreende por trazer um Strange mais maduro e sábio.
E, claro, temos o grande vilão Thanos. Em uma decisão curiosa e que faz sentido dentro da lógica narrativa, o Titã Louco é o protagonista da história, afinal é sua busca pelos "macguffins" que acaba movendo as engrenagens e entregando as resoluções mais definitivas nesta parte da história. Dessa forma, Markus e McFeely escrevem o personagem maravilhosamente bem, onde o espectador entende seu raciocínio radical, e também sua noção de misericórdia - jamais haveria assassinato sob sua visão, metade do universo simplesmente deixaria de existir, sem dor alguma. É uma figura complexa, e Josh Brolin se excede ao oferecer tanto o lado sinistro e maquiavélico de Thanos, quanto sua tristeza no "dever espiritual" de garantir equilíbrio ao Universo, e como este fardo lhe fere e rende consequências inesperadas. E fujam dos spoilers, pois a conclusão deste filme é a mais corajosa e impactante que um longa da Marvel (talvez todo o cinema de super-heróis) já teve até hoje.
Os Russos estão chegando!
Com as chaves do reino marvete nas mãos desde o sucesso inesperado de O Soldado Invernal, os irmãos Anthony e Joe Russo têm a gigantesca responsabilidade de comandar o espetáculo. Já tendo experimentado unir diversos personagens em um único filme em Guerra Civil, os Russo elevam a proposta e estilo daquele filme a níveis mais grandiosos. Tendo rodado toda a produção com câmeras IMAX, a dupla mantém o estilo nervoso e rápido das cenas de luta pessoal (como Capitão América e Viúva Negra enfrentando os lacaios de Thanos em um hangar), mas também aproveitam mais o espaço e a escala em sequências amplas. Tudo envolvendo o Thor e os Guardiões é de se encher os olhos, e os irmãos sabem bem como combinar as habilidades dos diferentes personagens, como Estranho projetando plataformas holográficas para o Senhor das Estrelas se movimentar ou até mesmo Homem-Aranha e Stark mesclando seus movimentos para combater um oponente.
Só é uma pena que os Russo ainda mostrem-se um tanto deficientes nos efeitos visuais, já que nenhuma das armaduras digitais convencem, sendo necessário treinar o olhar para ver as cabeças flutuantes de Downey Jr, Holland e Don Cheadle a cada aparição. De forma similar, o CGI no exército alienígena de Thanos é mais um exemplo dos "antagonistas genéricos e descartáveis", assim como o trabalho de motion capture na Ordem Negra de Thanos, que acaba desperdiçando talentos como os de Carrie Coon e Terry Notary em bonecões digitais. Só mesmo o trabalho em Thanos rende algo digno de nota, ainda que o Titã também tenha seus momentos de artificialidade, especialmente ao interagir com elementos reais - reparem na estranheza da cena em que este levanta um certo personagem humano logo na primeira cena.
Mas são queixas menores. No fundo, Vingadores: Guerra Infinita é o resultado de uma década de histórias e personagens, consolidadas em uma pseudoconclusão que definitivamente representa algo corajoso e diferente para a Marvel nos cinemas. Talvez o cinema de quadrinhos não esteja pronto para esse filme, e isso é algo que definitivamente deixará uma marca duradoura.
Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, EUA - 2018)
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely, baseado nos personagens da Marvel Comics
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Benedict Cumberbatch, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Chadwick Boseman, Tom Holland, Benedict Wong, Don Cheadle, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Josh Brolin, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Letitia Wright, Danai Gurira, Winston Duke, Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Pom Klementieff, Karen Gillan, Paul Rudd, Jeremy Renner, Linda Cardellini, Bradley Cooper, Vin Diesel, Carrie Coon, Peter Dinklage, Terry Notary, Benicio del Toro, Gwyneth Paltrow
Gênero: Aventura
Duração: 149 min
https://www.youtube.com/watch?v=4jGRyEa2jhE&t=
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Especial | Steven Spielberg
Nenhum diretor na História do Cinema tem uma carreira como a de Steven Spielberg. Um dos nomes mais rapidamente associados à Sétima Arte, o lendário cineasta ofereceu alguns dos maiores clássicos e blockbusters que Hollywood já viu, e reunimos aqui nossa cobertura sobre sua versátil e impressionante filmografia.
Confira:
Crítica | Louca Escapada (1974)
Publicado originalmente em 10 de março de 2018
Crítica | Tubarão (1975)
Publicado originalmente em 11 de março de 2018
Crítica | Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977)
Publicado originalmente em 13 de março de 2018
Crítica | Os Caçadores da Arca Perdida (1981)
Publicado originalmente em 14 de março de 2018
Crítica | E.T. - O Extraterrestre (1982)
Publicado originalmente em 17 de março de 2018
Crítica | Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984)
Publicado originalmente em 17 de março de 2018
Crítica | A Cor Púrpura (1985)
Publicado originalmente em 14 de março de 2018
Crítica | Império do Sol (1987)
Publicado originalmente em 15 de março de 2018
Crítica | Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)
Publicado originalmente em 18 de março de 2018
Crítica | Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991)
Publicado originalmente em 19 de março de 2018
Crítica | Jurassic Park: O Mundo dos Dinossauros (1993)
Publicado originalmente em 20 de março de 2018
Crítica | A Lista de Schindler (1993)
Publicado originalmente em 16 de janeiro de 2018
Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997)
Publicado originalmente em 21 de março de 2018
Crítica | Amistad (1997)
Publicado originalmente em 17 de janeiro de 2018
Crítica | O Resgate do Soldado Ryan (1998)
Publicado originalmente em 18 de janeiro de 2018
Crítica | A.I.: Inteligência Artificial (2001)
Publicado originalmente em 22 de março de 2018
Crítica | Minority Report: A Nova Lei (2002)
Publicado originalmente em 23 de março de 2018
Crítica | O Terminal (2004)
Publicado originalmente em 19 de janeiro de 2018
Crítica | Guerra dos Mundos (2005)
Publicado originalmente em 25 de março de 2018
Crítica | Munique (2005)
Publicado originalmente em 20 de janeiro de 2018
Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)
Publicado originalmente em 26 de março de 2018
Crítica | Cavalo de Guerra (2011)
Publicado originalmente em 21 de janeiro de 2018
Crítica | As Aventuras de Tintim (2011)
Publicado originalmente em 29 de março de 2018
Crítica | Lincoln (2012)
Publicado originalmente em 22 de janeiro de 2018
Crítica | Ponte dos Espiões (2015)
Publicado originalmente em 23 de janeiro de 2018
Crítica | O Bom Gigante Amigo (2016)
Publicado originalmente em 26 de julho de 2016
Crítica | The Post: A Guerra Secreta (2017)
Publicado originalmente em 24 de janeiro de 2018
Crítica | Jogador Nº 1 (2018)
Publicado originalmente em 28 de março de 2018