Crítica | Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira - Mas quem sofre é o espectador
As coisas não andavam bem para Jason Voorhees. Após o fracasso de Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York, a Paramount Pictures finalmente resolveu ceder os direitos da franquia para a New Line, que já cozinhava o projeto de unir Jason com sua galinha dos ovos de ouro, Freddy Krueger. Mas antes, os produtores da New Line iriam oferecer um capítulo final digno para seu novo brinquedo, e chamaram até mesmo o diretor do original, Sean S. Cunningham, para produzir o que viria a ser Jason vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira. Bem, teria sido melhor para todos nós se essa porcaria simplesmente não tivesse existido.
A trama começa de forma ousada, com Jason Voorhees (Kane Hodder) caindo na armadilha de uma operação policial, que consegue fuzilá-lo e explodi-lo em pedaços, aparentemente se livrando do assassino de Crystal Lake de uma vez por todas. Porém, e eu juro que não estou inventando isso, ao levar seus restos mortais para uma autópsia, seu coração libera uma entidade demoníaca que vai possuindo outros corpos, de forma a continuar sua matança. A única forma de matá-lo é pelas mãos de outra pessoa da família Voorhees, que é descoberta na forma de sua sobrinha perdida, Jessica (Kari Keegan).
No que diabos essas pessoas estavam pensando? Acho que é um tipo de padrão no gênero que o suposto "filme de morte" do assassino seja uma grande bomba, com Freddy Krueger sofrendo do mesmo mal em A Hora do Pesadelo 6: A Morte de Freddy. Mas o que o roteiro de Jay Hugueley e Dean Lorey faz aqui é simplesmente ridículo, reinventando completamente o conceito do personagem e jogando-o em uma premissa sobrenatural que simplesmente não condiz com os capítulos anteriores, e é estúpida demais para se levar a sério - ou, pelo menos, ter um pouco de medo disso. Além disso, isso acaba nos levando de volta ao mesmo erro de Um Novo Começo, por não termos exatamente Jason Voorhees comentendo os assassinatos; é simplesmente risível ver a atuação dos personagens "possuídos" por Jason enquanto perseguem os protagonistas, e a única coisa boa que tiramos daí são alguns efeitos de maquiagem muito eficientes.
A ideia de explorar um pouco mais da família Voorhees é uma que poderia ter rendido bons frutos, mas que aqui não ganha desenvolvimento o bastante, servindo mais como um dispositivo Deus Ex Machina. A maioria dos personagens é completamente descartável, e nem mesmo o fato de o protagonista de John D. LeMay compor um perfil nunca visto na série antes (o de um jovem pai), jamais é capaz de simpatizar ou ganhar o afeto d público. Apenas Steven Williams é capaz de gerar algum interesse com seu Creighton Duke, um caçador de recompensas caricato e que diverte justamente por esse fator artificial, e confesso que teria sido fascinante vê-lo em exemplares anteriores da franquia.
Responsável pela direção, Adam Marcus não se destaca. Com exceção da ótima primeira cena, que começa com uma mulher fugindo de Jason antes de termos a noção de que é uma operação policial, nada mais fica na memória. Todas as cenas de assassinato pelos "avatares" de Jason parecem copiadas dos filmes de zumbi de George Romero, mas com a diferença de serem mais cômicas do que assustadoras. Só mesmo no final, em um clímax digno de um Sam Raimi em sua época do primeiro A Morte do Demônio, temos algo que consegue ser um tanto visualmente criativo, onde o assassino é arrastado para o inferno. E, claro, o famoso easter egg onde a garra de Freddy Krueger puxava a máscara de Jason, enfim dando início ao processo que culminaria em Freddy vs Jason.
Jason vai para o Inferno é uma atrocidade. Os produtores claramente tentaram expandir a mitologia de Jason Voorhees e tentar algo novo, mas é aquele velho cenário de uma decisão assustadoramente equivocada e sem sentido, sendo um verdadeiro desserviço para o personagem e a franquia. Só vale mesmo para o easter egg com Freddy Krueger, nada mais.
Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (Jason Goes to Hell: The Final Friday, EUA - 1993)
Direção: Adam Marcus
Roteiro: Jay Huguely e Dean Lorey
Elenco: John D. LeMay, Kari Keegan, Steven Williams, Allison Smith, Erin Gray, Steven Culp, Rusty Schwimmer, Leslie Jordan
Gênero: Terror
Duração: 87 min
https://www.youtube.com/watch?v=CSQXPQKxlSI
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York - Mas ele mal fica por lá
Uma das minhas grandes reclamações enquanto acompanhava a série Sexta-Feira 13, era a de que todos os filmes acabavam em um repetição tediosa ao sempre situar suas histórias em um acampamento; ou alguma variante envolvendo matas fechadas e casas de campo. Dessa forma, imaginem minha empolgação ao contemplar o título Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York, filme que enfim sugeria a ideia de termos Jason Voorhees fora de seu habitat natural. Porém, é frustrante assistir ao oitavo capítulo da franquia e se deparar com um desperdício de potencial tremendo.
A trama começa quando um casal de namorados passeia de barco pelo antigo Crystal Lake, e após circunstâncias mais absurdas do que as do sexto filme, Jason Voorhees (Kane Hodder) é despertado novamente, agora seguindo um grupo de adolescentes que prepara-se para ir até Nova York para uma excursão acadêmica. Com o grupo saindo de navio até a ilha de Manhattan, Jason entra escondido na embarcação e promete levar sua onda de assassinatos até a Big Apple.
Com a decepção de A Matança Continua, um filme que a Paramount esperava conseguir um novo respeito e até reconhecimento em prêmios, o estúdio simplesmente já não sabia o que fazer com a franquia. Sendo o último filme da série sob propriedade do estúdio, que então cederia os direitos para a New Line, Rob Hedden foi escolhido para escrever e dirigir o longa, que realmente parece algo feito sem muito ânimo ou criatividade. É o caso de "Velocidade Máxima ser Duro de Matar em um ônibus", mas com Jason sendo Jason em Nova York. Ou melhor, Jason em um navio, já que o filme demora para enfim fazer jus ao título, nos forçando a acompanhar um arco terrível envolvendo alguns dos mais chatos personagens de toda a franquia - pobre Peter Mark Richman, que tenta dar credibilidade a um personagem tão mal escrito e caricato.
Quando a trama enfim chega a Nova York, e isso demora mais de 1 hora, até que a situação fica um pouco mais divertida, mas não como poderia. Temos tiradas bacanas como aquela em que o assassino contempla um grande bilboard com uma máscara gigante de hóquei, uma caminhada memorável pela Times Square e até uma perseguição por dentro dos vagões de um metrô. Porém, nunca sentimos a grandiosidade ou o escopo da cidade, e Jason sempre está concentrado naquele grupo específico formado por Rennie e seus amigos, ignorando qualquer outro civil pela rua. Vale apontar também que, dado o orçamento limitado da produção, muitas cenas foram filmadas em Vancouver, e à noite, o que nos dá muito pouco da real Nova York.
E Hedden até se esforça para tornar essas cenas interessantes, mesmo com o orçamento reduzido - com exceção de tudo envolvendo o navio, que é simplesmente maçante. Uma das cenas mais memoráveis de toda a franquia é quando o durão Julius (V. C. Dupree) enfrenta Jason em um combate corpo a corpo, tentando derrubá-lo com uma série de jabs e socos, até literalmente não conseguir se manter em pé e suas mãos começarem a sangrar. Em um belo exemplo do trabalho de efeitos especiais e da direção de Hedden (que alterna entre planos plongée e abertos com inteligência), Jason arranca a cabeça do jovem com um simples soco. Esse filme merece a menção só por essa hilária cena, mesmo. De resto, as já conhecidas perseguições e jogos de gato e rato dos anteriores, mas agora nos corredores de um navio e em túneis subterrâneos.
Um verdadeiro desperdício de proposta, e uma triste despedida de Jason Voorhees de sua casa, Paramount Pictures. Agora, depois de sair do campo e visitar uma das maiores metrópoles do mundo, não havia muitos lugares que o assassino da máscara de hóquei poderia ir. Bem, havia um...
Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York (Friday the 13th Part VIII: Jason Takes Manhattan, 1989 - EUA)
Direção: Rob Hedden
Roteiro: Rob Hedden, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Jensen Daggett, Scott Reeves, Barbara Bingham, Peter Mark Richman, Martin Cummings, Gordon Currie, V. C. Dupree, Alex Diakun, Kane Hodder
Gênero: Terror
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=uLMib7lDzpM
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua - Quando Jason encontrou Carrie White
Comentei algumas vezes em outras de minhas críticas sobre a franquia Sexta-Feira 13, mas aqui essa questão fica mais relevante. Enquanto Jason Voorhees executava suas matanças anualmente, o fenômeno de Freddy Krueger e A Hora do Pesadelo já havia despontado, e começava a roubar os holofotes do Queridinho da Mamãe de Crystal Lake. A cada novo filme da série, o lucro era menor, enquanto a franquia protagonizada por Robert Englund arrecadava praticamente o dobro que cada novo capítulo da Paramount. Foi aí que começou a integração dos universos, com executivos da Paramount e da New Line (proprietária de A Hora do Pesadelo) negociando um possível crossover entre as duas franquias, que só viria a acontecer em 2003, com Freddy vs Jason.
Porém, empolgada com a ideia de um confronto de Jason com algum outro personagem, os produtores começavam a brincar com esse conceito e praticamente exploravam todas as possibilidades possíveis, até que o roteirista Daryl Haney soltou a pérola: "Todo filme termina com alguma adolescente sobrevivendo, e se tivessemos uma garota com poderes de telecinese?". Basicamente, daí nascia Jason vs Carrie, a Estranha, também conhecido oficialmente como Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua. Mas por mais divertido que o conceito seja, não é o bastante para salvar o filme da mesmice.
Após a tradicional recapitulação dos eventos de filmes anteriores, a trama nos apresenta à Tina Shepard (Lar Park Lincoln), uma jovem que lida com o trauma de ter matado acidentalmente seu pai, em uma consequência de seus misteriosos poderes telecinéticos. Em busca de um tratamento e uma forma de entendê-los, ela busca ajuda em uma clínica localizada no antigo Crystal Lake, mas o descontrole de seus poderes acaba trazendo Jason Voorhees (Kane Hodder) de volta das profundezas do lago, e mais mortes começam.
Olha, quando o assunto é ideias bizarras, eu sou a primeira pessoa a animar. Fiquei triste quando desistiram do crossover de Anjos da Lei com Homens de Preto, sou o maior apoiador da ideia de Velozes e Furiosos no espaço e estou até mesmo animado para ver Jason X, que levará o assassino de Crystal Lake ao espaço. Porém, por mais que A Matança Continua tenha um conceito sobrenatural interessante, é pessimamente desenvolvido e raramente usa essa singularidade para oferecer inovações à franquia. Mesmo com uma verdadeira mutante na equipe, o texto de Haney e Manuel Fidello ainda perde tempo com subtramas adolescentes genéricas, com um tratamento artificial e risível para as tentativas de integração de Tina com os jovens; e outra, que tipo de clínica psiquiátrica fica no meio do mato ao lado de uma república adolescente? Bizarro, mesmo.
O pior é ver como o roteiro se leva a sério ao tentar abordar os poderes de Tina. É tratado como se fosse a coisa mais normal do mundo, e ainda temos o ridículo trauma do passado que fica voltando em flashbacks para atormentar a protagonista. Quando Jason retorna, temos mais uma série de assassinatos, que realmente não parecem ter mais criatividade ou imaginação, e nenhum dos personagens envolvidos conseguem captar nosso interesse. Nem mesmo a protagonista, que tenta ter um arco mais desenvolvido, consegue sair da mesmice, e não ajuda que Lar Park Lincoln seja uma péssima atriz.
Saindo do departamento de maquiagem para a direção, John Carl Buechler não traz muito de novo. Sua câmera faz o serviço e traz suspense quando a narrativa requer, valendo mencionar a "homenagem" a um dos planos icônicos de Tubarão, quando uma bela moça nua nadando no lago é atacada por Jason, e vemos o POV contra plongée embaixo d'água. Buechler ganha mais força quando enfim chegamos ao confronto entre Tina e Jason, com efeitos de telecinese bem empregados e criativos o bastante para serem usados contra o assassino - que ganha aqui uma maquiagem verdadeiramente assustadora, mérito do antigo emprego de Buechler.
Foi uma tentativa admirável e fora da caixinha, mas infelizmente o sétimo Sexta-Feira 13 não funciona tão bem.
Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua (Friday the 13th Part VII: The New Blood, EUA - 1988)
Direção: John Carl Buechler
Roteiro: Daryl Haney e Manuel Fidello, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Lar Park Lincoln, Kane Hodder, Kevin Blair, Susan Blu, Susan Jennifer Sulivan, Terry Kiser, Elizabeth Kaitan
Gênero: Terror
Duração: 87 min
https://www.youtube.com/watch?v=l7Hm9RNGo8A
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive - Abraçando o espírito trash
Massacrado tanto pela crítica (que nunca foi muito simpatizante da franquia) e pelos próprios fãs, Sexta-Feira 13: Um Novo Começo deixava uma lição bem clara: os filmes não iriam sobreviver sem Jason Voorhees, que naquele longa era apenas a memória de um dos personagens e uma identidade a ser assumida pelo real antagonista da história. Assim, a Paramount não perde tempo e já deixa explícito no título de sua nova desventura: Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive. Mas não só o retorno do filho de Pamela Voorhees é o grande atrativo, mas também de que, finalmente, a galhofa havia chegado ao Crystal Lake. E isso, pasmem, é ótimo.
A trama começa praticamente com um retcom do anterior, com Tommy Jarvis (substituído por Thom Mathews) ainda atormentado por suas visões com Jason e determinado a fazer algo a respeito. Com a ajuda de um amigo, eles invadem o cemitério onde o corpo do assassino está enterrado, mas após uma macarrônica reviravolta, um raio atinge o cadáver de Jason e ele retorna como uma espécie de zumbi indestrutível. Mais forte, sem dor e implacável, ele avança para um novo acampamento construído no antigo Crystal Lake, agora ocupado por um grupo de crianças, e Tommy é o único determinado a impedi-lo.
A coisa mais importante para se apreciar Jason Vive é aceitar o ridículo. Em toda grande franquia, em algum momento os filmes começam a se tornar auto conscientes e flertar com uma linha assumidamente trash, vide os pesadelos absurdos de Freddy Krueger nas sequências do filme de Wes Craven ou até mesmo o agente 007, que viu em Roger Moore e Pierce Brosnan oportunidades para se usar o ridículo a seu favor. Dessa forma, quando Jason é atingido por um raio em uma das cenas mais estúpidas da série (Tommy abre seu caixão e começa a chutá-lo sem necessidade, criando o problema que precisa confrontar), e vemos seu rosto cada vez mais monstruoso rugindo, vemos que a Paramount sabe o tipo de filme que quer fazer. Diabos, o longa conta até mesmo com uma vinheta no melhor estilo James Bond, com Jason entrando em quadro e jogando um facão em direção à tela!
Já com essa abordagem mais trash, o roteiro de Tom McLoughlin (que também assina a direção) consegue elaborar uma trama que poderia até ser mais clichê e sonolenta se estivessemos usando o antigo clima da série, mas que ganha contornos divertidos aqui. Por exemplo, McLoughlin cria diversas subtramas que não se conectam com a narrativa principal, apenas para criarem diferentes "antologias" de mortes ao redor do antigo Crystal Lake. Vale destacar o nonsense de um jogo de paintball corporativo que é logo frustrado por Jason, ou quando um casal em um fusca encontra o assassino no meio de uma estrada, e a moça praticamente prevê a franquia Pânico ao falar "já vi filmes de terror demais pra saber que um mascarado no meio da noite é problema", em uma boa amostra da metalinguagem divertida do filme.
Claro, é um resultado imperfeito e que erra no equilíbrio. O desespero da performance de Mathews como Tommy parece sugerir que o sujeito está no filme errado, e não ajuda que a personagem de Jennifer Cooke tenha uma crush quase doentia pelo protagonista. É engraçado, mas não criamos muito afinco por esses personagens, apenas pelo policial vivido por David Kagen, e que ganha mais força próximo do clímax. É uma pena ver o núcleo das crianças do acampamento, já que nunca chegamos a conhecê-las por completo, limitando-se a algumas tiradas e frases de efeito. Em tempos de It: A Coisa, uma aventura dark com crianças enfrentando Jason Voorhees seria algo que eu pagaria pra ver.
Eficiente no roteiro, McLoughlin mostra-se também um diretor criativo. Ainda que não traga mortes tão elaboradas quanto as do Capítulo Final, o diretor se diverte ao trazer um pouco de humor e nonsense para os ataques de Jason, e até mesmo nos coloca ao seu lado durante diversos estágios; nunca antes nós víamos o assassino antes da vítima, e aqui temos até reaction shots do mascarado, que parece surpreso com sua própria força bruta. Vale mencionar também a montagem inteligente, que cria raccords sutis puramente através da ordem dos planos, como quando Jason acerta um sujeito com uma faca bem no meio da testa, e o corte seguinte nos mostra um jogo de dardos na parede. Acho que até Alfred Hitchcock esboçaria um sorrisinho com esse pseudo efeito Kuleshov.
Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive traz um inesperado senso de humor e galhofa para Jason Voorhees, que assume os exageros de sua proposta e entrega um filme que entretém, diverte e até consegue assustar, na mesma medida. Uma das pérolas da franquia.
Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive (Jason Lives: Friday the 13th Part VI, EUA - 1986)
Direção: Tom McLoughlin
Roteiro: Tom McLoughlin, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Thom Mathews, Jennifer Cooke, David Kagen, Kerry Noonan, Renée Jones, Tom Fridley, Darcy DeMoss, Nancy McLoughlin, Tony Goldwyn, C.J. Graham
Gênero: Terror
Duração: 87 min
https://www.youtube.com/watch?v=g5u75gMUcEI
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sombras da Vida - Um drama existencial baseado no sobrenatural
Histórias de fantasmas e assombrações estão quase sempre ligadas ao gênero do terror. Um dos tipos de narrativa mas primordiais, daquelas que eram contadas ao redor da fogueira em noites frias, contos sobre a vida após a morte e o contato entre ambos os mundos já renderam obras apavorantes, mas poucas já foram capazes de provocar o afeto, ou nos envolver pelo drama. Eis que David Lowery e a sempre certeira produtora A24 oferecem um experimento original e fascinante com o apropriadamente entitulado A Ghost Story, que ignora qualquer convenção de gênero em um filme sem igual, que opta pelo estudo existencial da alma humana, ao mesmo tempo em que não esquece as raízes de seu tipo de história.
A trama nos apresenta ao casal formado por C e M (Casey Affleck e Rooney Mara), que vivem um período conturbado pelo desejo dela de sair da casa onde moram, mas ele recusa por seus motivos pessoais que o ligam àquele lugar. Quando C subitamente morre em um acidente de carro, seu espírito, representado por ele mesmo sob um lençol branco com dois buracos, volta à casa e M, e dessa forma acompanhamos sua estranha jornada e estadia no pós-vida.
David Lowery tem uma carreira interessante. Ao mesmo tempo em que oferece dramas pesados como Amor Fora da Lei (também com Affleck e Mara), ele ainda figura na Disney com as novas adaptações de Meu Amigo, o Dragão e o vindouro reboot de Peter Pan. Como a Walt Disney confia tanto dinheiro a um cineasta tão autoral e com um olhar muito peculiar, é um pequeno milagre, e basta o espectador pegar meros segundos deste A Ghost Story para compreender isso: é um filme com ritmo lento, quase sem diálogos e com planos longuíssimos que não parecem dizer muito à primeira vista. Não é um filme para aqueles que não aguentam uma boa contemplação, e que, abraçando a natureza de seu protagonista, pode tornar-se sem vida em diversos momentos. E confesso, ainda que estes sejam belos, e a fotografia em 16mm com razão de aspecto quadrada reforça essa característica "caseira", tais momentos podem vir a se arrastar sem muita necessidade aqui e ali (Mara come uma torta por 4 minutos ininterruptos em uma cena), mas ajudam a construir a atmosfera fria e fantasmagórica da narrativa; o próprio exemplo da torta é um eficiente retrato do luto e o vazio da perda.
O que torna o filme ainda mais fascinante, é quando vai além. Para minha surpresa, tudo o que envolve a personagem de Rooney Mara acaba se desenrolando rápido, e é aí que o filme revela sua brilhante estrutura: a alma de C está presa àquela casa, e Lowery então nos faz acompanhar todos aqueles que habitam aquela terra. É uma ideia ousada e que Lowery executa de forma espetacular, e a montagem (também assinada pelo diretor) praticamente invisível é excepcional em sua função de avançar anos de acontecimentos em meros segundos, trazendo algumas das elipses mais sutis e bem elaboradas do ano (o plano em que vemos M entrar e sair da mesma porta, com roupas diferentes, é um bom exemplo). Lowery consegue explorar pequenas fatias de vida nessa jogada inesperada, tudo do ponto de vista de um C sempre por baixo do lençol e sem a capacidade de falar, e é incrível como Lowery consegue pegar uma situação que estamos acostumados a ver como algo assustador - um fantasma levantando objetos e agressivamente destruindo a louça de uma família durante o jantar - e transformar em algo de partir o coração, já que agora é a noção confusa de C em ver estranhos naquela que um dia foi sua casa.
A viagem se prolonga por caminhos ainda mais surpreendentes, e que prefiro não estragar aqui, mas que conseguem até mesmo brincar com a ideia do infinito e paradoxos temporais. Claro, tudo na base imagética e de mínimos diálogos (com exceção do longo monólogo de um sujeito durante uma festa), muitas vezes envolvendo legendas quando C encontra outros "fantasminhas" a seu redor. E quanto mais audacioso Lowery fica, a trilha sonora de Daniel Hart ganha uma força descomunal, e uma sequência específica que envolve arranha-céus é certamente uma das cenas mais inebriantes de 2017. É uma jornada de proporções cósmicas, mas sem nunca deixar a visão intimista e humana de sua proposta, que revela-se no final como uma metáfora incrivelmente simples, mas eficaz.
A Ghost Story é um belíssimo filme. Lento e às vezes um tanto monótono, mas traz uma experiência diferente das outras, além de uma abordagem original a um tipo de história primordial, jogando uma luz sentimental em um assunto tão ligado ao terror e o medo. Uma pequena grande conquista.
Sombras da Vida (A Ghost Story, EUA - 2017)
Direção: David Lowery
Roteiro: David Lowery
Elenco: Casey Affleck, Rooney Mara, Will Oldham, Sonia Acevedo, Liz Frankie, Grover Coulson, Kenneisha Thompson, Barlow Jacobs, McColm Sephas Jr., Kesha Sebert
Gênero: Drama
Duração: 93 min
https://www.youtube.com/watch?v=c_3NMtxeyfk
Crítica | Sexta-Feira 13 Parte V: Um Novo Começo - Um péssimo reboot
Nunca acreditem quando um filme traz as palavras "capítulo final" em seu título.
Freddy Krueger definitivamente não ficou morto, o assassino do Jigsaw ainda está à solta e os X-Men com certeza não tiveram um confronto final durante seu terceiro filme. Dessa forma, é claro que Jason Voorhees voltaria aos cinemas novamente após o divertido quarto longa, mas não da forma que a maioria esperava. Visando reiniciar a franquia através de um novo protagonista, Sexta-Feira 13 Parte V: Um Novo Começo segue a ideia ousada de não ter Jason como antagonista, até lembrando a ideia inicial da Paramount de se fazer uma antologia. Por mais admirável que o conceito seja, este é facilmente o pior filme da série até então.
A trama começa alguns anos após o anterior, com Tommy Jarvis (agora vivido por John Shepard), profundamente atormentado por seu sangrento encontro com Jason Voorhees quando era uma criança (com as feições de Corey Feldman, que faz uma ponta) e sendo enviado para uma clínica mental, localizada - você adivinhou - no interior. Tommy sofre com visões do assassino, que o fazem tomar atitudes violentas e agressivas contra todos a seu redor, e as suspeitas ficam ainda maior quando uma série de assassinatos que seguem o padrão de Jason começam a pipocar pela região.
À primeira vista, este quinto filme parece a forma ideal de rebootar a franquia. Sem a presença física de Jason Voorhees (que aparece apenas nas visões de Tommy), o roteiro de Martin Kitrosser, David Cohen e do diretor Danny Steinmann parte da interessante premissa de encontrar outro assassino que preencha o legado de Jason, e tudo o que o texto vem construindo desde o início - na verdade, desde o impecável clímax de O Capítulo Final -, é de que Tommy Jarvis será o novo assassino da franquia. Teria sido uma jogada fascinante, mas infelizmente o texto opta por sacanaear o espectador e ir para uma solução completamente sem sentido para a identidade do assassino, ignorando o que poderia ter sido uma construção inteligente. A cena final até tenta recuperar isso, mas o estrago já estava feito naquele ponto.
Pior ainda, temos o setting mais incongruente e ridículo da franquia até então. Os produtores realmente não desgrudam da ideia de adolescentes tarados no meio do mato, mas parecem não compreender que esse conceito não casa com a ideia de abordar uma clínica psiquiátrica. Aliás, nenhum dos personagens ali (com exceção do caricato Dominick Brascia) parece ter algum tipo de deficiência mental, como se a trinca de roteiristas tivesse simplesmente colocado um hospital apenas para "evitar repetições". Bem, não foi uma tarefa bem sucedida, e nenhum dos personagens é minimamente interessante, e ainda temos um desnecessário núcleo coadjuvante com dois personagens que levam o estereótipo do caipira white trash ao extremo, vividos por Carol Locatell e Ron Sloan. Claro, sendo uma mulher grosseira e um filho adulto mimado, os dois servem como uma amálgama de Pamela e Jason Voorhees; no papel, já que nada na pavorosa performance ou retrato dos dois rende algum tipo de análise.
Talvez apenas o pequeno Shavar Ross como Reggie, que segue a acertada decisão do anterior em colocar crianças espertas para enfrentar o assassino - e acho hilário como Reggie tenha um irmão (Miguel A. Nuñez) ,com um visual inexplicavelmente idêntico ao do Prince - e o fato de ele cantar em uma cena só reforça a comparação.
Em termos de direção... Esse deve ser o Sexta-Feira 13 mais fraco e sem imaginação. Por manter boa parte da trama envolta no mistério de quem está cometendo os assassinatos, a decupagem de Steinmann sempre oculta o rosto do antagonista, retornando à velha técnica dos primeiros filmes. Mas se lá tínhamos o POV voyeurístico e incômodo, aqui Steinmann se limita a apresentar planos fechados da mão do assassino com alguma arma, facão ou tesoura de jardinagem, e o resultado é mais embaraçoso do que assustador. E pelo amor de Craven, eu já esperava que no quinto filme da série já estaríamos fartos de perseguições dentro de celeiros...
Um Novo Começo foi uma tentativa frustrada de dar novo fôlego à franquia. A premissa é interessante, mas tudo desde o desenvolvimento da história até a fraca direção de Steinmann faz o espectador desejar que a série realmente tivesse terminado no capítulo anterior. Sexta-Feira 13 não é Sexta-Feira 13 sem Jason Voorhees.
Sexta-Feira 13 Parve V: Um Novo Começo (Friday the 13th: A New Beginning, EUA - 1985)
Direção: Danny Steinmann
Roteiro: Martin Kitrosser, David Cohen e Danny Steinmann, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: John Shepard, Melanie Kinnaman, Shavar Ross, Richard Young, Dick Wieand, Tiffany Helm, Juliette Cummins, Miguel A. Nuñez, John Robert Dixon, Dominick Brascia
Gênero: Terror
Duração: 92 min
https://www.youtube.com/watch?v=sTqXh6KaY-Y
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sexta-Feira 13 Parte IV: O Capítulo Final - Teria sido um final perfeito
Depois de três filmes bem sucedidos da série Sexta-Feira 13, a Paramount Pictures parecia esgotada. O slasher já havia se tornado algo popular no cinema americano daquela época, e os próprios produtores admitem terem feito Parte III como uma forma de encerramento da franquia, até porque o assassino Jason Voorhees terminava o longa aparentemente morto. Todavia, Jason viveria para matar novamente. Dessa vez, pra valer, a Paramount iria se livrar de Jason e seguir em frente com outros projetos, e anuncia Sexta-Feira 13 Parte IV: O Capítulo Final para enfim colocar a franquia para descansar. Porém, ninguém iria esperar que o suposto último filme seria o melhor até então.
O quarto filme começa imeditamente após o final do anterior, oferecendo dessa vez não apenas a recapitulação do anterior, mas de todos os três primeiros capítulos da saga. Uma equipe de paramédicos vai à casa de campo da Parte III, onde encontram todos os corpos da matança de Jason, e também o corpo do assassino, que é então transportado para o necrotério de um hospital local. Claro, não demora para que o maníaco da máscara de hóquei volte à vida e saia em busca de mais vítimas, o que o leva a uma região onde uma pequena família e um grupo de adolescentes dividem casas no interior.
Já pela premissa percebemos que, finalmente, a franquia sairia um pouco do lugar comum. Barney Cohen realmente parece se divertir em explorar novos territórios para Jason, e a história já começa surpreendendo positivamente por mostrar o assassino em um hospital, pela primeira vez saindo o batido cenário do acampamento e da floresta. Claro, alguns minutos depois somos levados exatamente para mais um setting no meio da floresta, mas Cohen acerta por colocar um grupo de adolescentes mais desenvolvidos e, como grande diferencial, um núcleo familiar formado por uma mãe, Sra. Jarvis (Joan Freeman), a filha, Trish (Kimberly Beck) e o pequeno irmão, Tommy (Corey Feldman), e o fato de termos uma criança inteligente pela primeira vez na franquia definitivamente torna o núcleo humano mais envolvente. Até os adolescentes são mais carismáticos e interessantes do que os anteriores, cada um com pequenos arcos (claro, motivações fúteis sobre quem pega quem no grupo) e atuações acima da média, com destaque para o jovem Crispin Glover, que um ano depois estaria fazendo De Volta para o Futuro.
Mas é mesmo com a família Jarvis que o filme realmente ganha fôlego. O fato de o pequeno Tommy ser uma espécie de menino prodígio, com habilidades para maquiagem e máscaras de monstros que deixariam Rick Baker orgulhoso, torna-o um oponente digno e interessante para Jason, e ainda mais quando Tommy está junto de sua irmã, formando assim a primeira dupla de sobreviventes em um filme da série; e o pequeno Feldman está excelente aqui, oferecendo um sutil toque "Spielberg" para o slasher, que praticamente torna-se uma aventura sombria toda vez que o menino ganha o foco narrativo - e Cohen merece aplausos pela maneira inteligente e inesperada com que o assassino é lidado no clímax, que realmente foge do padrão da série. Vale destacar também Rob, personagem de Erich Anderson que oferece uma subtrama interessante e que marca conexão com os demais capítulos, e também por oferecer mais uma figura inteligente e que não seja uma presa fácil - mas o roteiro é sádico na hora de subverter nossas expectativas.
No quesito direção, Sexta-Feira 13 nunca esteve tão elegante. A direção de Joseph Zito continua o padrão estabelecido no anterior, com menos câmeras POVs (ainda que haja um uso genial quando a câmera está na visão do Jason "morto" na cama do necrotério) e mais aposta na atmosfera e a antecipação pelo surgimento do vilão. Dentre assassinatos em chuveiros e surpresas em cozinhas, vale destacar o incrível plano onde a câmera de Zito faz um travelling enquanto uma das personagens tenta abrir a porta do carro, em meio a uma tempestade. O plano se alonga enquanto a personagem vai logo sumindo de vista, mas não antes que um trovão provoque um clarão onde vemos rapidamente a silhueta de Jason se aproximando por trás com um facão. Simplesmente sensacional, e que já vale o posto de melhor morte da franquia só pelo apuro estético.
É irônico que o quarto Sexta-Feira 13, vendido como o último da série, acabe por tornar-se o melhor exemplar até então. A abordagem de Barney Cohen e Joseph Zito foi um bem-vindo sopro de ar fresco e diversão genuína, e prova-se um aprimoramento tanto no terror, quanto no mais do que necessário trabalho com os personagens, que pela primeira vez tornam-se figuras interessantes. Felizmente - ou não - a Paramount voltaria atrás com a ideia de aposentar Jason Voorhees.
Sexta-Feira 13 Parte IV: O Capítulo Final (Friday the 13th: The Final Chapter, EUA - 1984)
Direção: Joseph Zito
Roteiro: Barney Cohen, baseado nos personagens de Victor Miller, Ron Kurz, Martin Kitrosser e Carol Watson
Elenco: Judie Aronson, Peter Barton, Crispin Glover, Corey Feldman, Kimberly Beck, Erich Anderson, Joan Freeman, Lisa Freeman, Ted White
Gênero: Terror
Duração: 95 min
https://www.youtube.com/watch?v=zBme5lOcZF4
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Crítica | Sexta-Feira 13: Parte III - Agora tem uma máscara de hóquei
A ideia do roteirista Ron Kurz em Sexta-Feira 13: Parte 2 realmente foi um acerto: o público quer mais Jason Voorhees, e usar sua figura como antagonista central da continuação do hit de 1980 talvez tenha sido a melhor decisão daquele projeto, e uma que seria mantida pelo restante da duradoura franquia. Com Sexta-Feira 13: Parte III, a Paramount e Steve Miner manteriam o jogo seguro que garantiu o sucesso dos dois primeiros filmes, e, como era de se esperar, na terceira vez as coisas já começam a ficar mais desgastadas e sem aquele fator surpresa.
Novamente apostando naquele toque serial, a trama começa nos relembrando o clímax do filme anterior, mas dessa vez ele não tem ligação alguma com os acontecimentos deste novo filme - então imagino que os produtores o colocaram ali simplesmente para preencher tempo de duração, deixar os espectadores se acomodarem em seus assentos e comprarem suas pipocas. Parte III enfim nos tira do acampamento para nos colocar... Em uma casa de campo, que abrigará um novo grupo de adolescentes que chega ali para passar férias sossegadas. Claro, não demora para a contagem de corpos começar assim que o assassino Jason Voorhees (vivido aqui por Richard Brooker) iniciar sua matança.
Bem, já fica meio redundante começar a comentar a trama nesse ponto, já que ela explicitamente é uma repetição da estrutura dos anteriores. Dessa vez, a dupla de roteiristas Martin Kitrosser e Carol Watson até tenta trabalhar e desenvolver seus personagens, oferecendo alguns arcos dramáticos, como a de Chris (Dana Kimmell), final girl da vez que tem uma cena razoavelmente boa sobre um evento traumático envolvendo seus pais. De forma similar, acompanhamos a subtrama de Shelly (Larry Zerner), fazendo o papel do típico garoto gordinho de baixa auto-estima que tenta conquistar uma colega bonita. No papel, isso até funcionaria de forma aceitável, mas todo o elenco é uniformemente péssimo. Os próprios produtores admitiram que todo o casting foi baseado em aparência, não talento, e a Parte III deixa isso bem claro sempre que os personagens são forçados a interagir entre si. Isso pra não comentar o breve, mas ridículo, arco envolvendo um trio de motoqueiros que ameaça os protagonistas em certo ponto da trama. Risível.
Não há nenhuma nova exploração ou expansão da mitologia de Jason Voorhees, e Pamela Voorhees nem aparece aqui (se ignorarmos aquele jump scare sem sentido na última cena), mas a Parte III é famoso por ser o primeiro filme da série em que Jason ganha sua icônica máscara de hóquei. Naquela que só poderia ser um acidente feliz, durante um teste de iluminação ficou decidido que Jason precisaria cobrir seu rosto neste novo filme, e um dos membros da equipe tinha um saco cheio de material de hóquei, incluindo uma máscara do Detroit Red Wings. O resto é História, como bem sabemos. A máscara acabou por tornar-se o grande símbolo da série, e mesmo este novo filme sendo irregular, não deixa de ser empolgante ver o assassino aparecendo com o rosto coberto pela primeira vez.
No quesito direção, temos Steve Miner abandonando diversos trejeitos de Cunningham e indo para algo mais tradicional. Sai a câmera em POV, entra o famigerado jump scare, exacerbado pela trilha sonora intensa de Harry Manfredini - que felizmente abandona de vez os acordes chupinhados de Bernard Herrmann para Psicose, e usa bem o tema original do primeiro filme para criar suspense. Mas o que chama mais atenção, de forma negativa, é que este filme foi lançado em 3D durante sua época de lançamento, então temos diversos enquadramentos risíveis onde algum personagem leva algum objeto em direção à câmera, especialmente quando Jason se aproxima para esfaquear alguém.
Redundante e sem muito à acrescentar, a Parte III é o mais fraco filme da série até então, que em apenas três filmes já consegue esgotar a fórmula. Porém, fica o alento de que Jason Voorhees pela primeira vez estava completo, ganhando seu visual icônico e abraçando o estilo de filme que enfim viria a se consolidar em capítulos subsequentes.
Sexta-Feira 13: Parte III (Friday the 13th Part III, EUA - 1982)
Direção: Steve Miner
Roteiro: Martin Kitrosser e Carol Watson, baseado nos personagens de Victor Miller e Ron Kurz
Elenco: Richard Brooker, Gloria Charles, Rachel Howard, David Katims, Dana Kimmell, Larry Zerner, Paul Kratka, Catherine Parks, Tracie Savage, Nick Savage, Kevin O'Brien
Gênero: Terror
Duração: 95 min
https://www.youtube.com/watch?v=if_LVGLMMws
Leia mais sobre Sexta-Feira 13
Estúdio | A24
No ramo das produtoras indies, poucas tem tido um crescimento tão notável e prestigioso quanto a A24, responsável por alguns dos filmes mais bem elogiados e premiados dos últimos anos, quase sempre figurando em premiações da Sétima Arte. Ainda nova na indústria, a empresa tem um caminho promissor pela frente, e reunimos aqui todo o nosso conteúdo de sua já rica filmografia.
Confira:
2013
Crítica | Spring Breakers: Garotas Perigosas
Publicado originalmente em 8 de julho de 2016
2014
Crítica | Sob a Pele
Publicado originalmente em 9 de julho de 2017
Crítica | O Ano Mais Violento
Publicado originalmente em 8 de julho de 2016
2016
Crítica | Sala Verde
Publicado originalmente em 21 de julho de 2016
Crítica | De Palma
Publicado originalmente em 25 de novembro de 2016
Crítica | Moonlight: Sob a Luz do Luar
Publicado originalmente em 22 de fevereiro de 2017
Crítica | Mulheres do Século 20
Publicado originalmente em 3 de abril de 2017
2017
Crítica | Ao Cair da Noite
Publicado originalmente em 21 de junho de 2017
Crítica | A Ghost Story
Publicado originalmente em 26 de novembro de 2017
Crítica | Artista do Desastre
Publicado originalmente em 15 de outubro de 2017
Crítica | Sexta-Feira 13: Parte 2 - Repetição e aprimoramento
Filmado e executado de forma simples e barata, o primeiro Sexta-Feira 13 foi um fenômeno. Rendeu muito lucro nas bilheterias e fez a cabeça dos jovens dos anos 80, com uma trama básica de assassino funcional, ainda que descaradamente copiada dos conceitos do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock. Nada ingênua, a Paramount planejava não uma, mas uma verdadeira cinessérie de Sexta-Feira 13, onde um novo filme seria lançado anualmente, quase como se o público voltasse todo ano para "ver um novo episódio". Qualquer semelhança com os universos cinematográficos de super-heróis da atualidade não é mera coincidência.
Dessa forma, Sexta-Feira 13: Parte 2 inicia-se imediatamente após o final do original; bem, na verdade, ele literalmente nos mostra os minutos finais do confronto entre Alice (Adrienne King) e a psicopata Sra. Voorhees (Betsy Palmer), com a adolescente conseguindo sobreviver e decaptar a assassina. Logo no início, a franquia se livra de Alice ao nos apresentar a Jason Voorhees, filho da assassina do original, e que parte em busca de vingança pela morte de sua mãe. Seu próximo alvo? A nova leva de adolescentes que estupidamente insiste em passar férias no acampamento Crystal Lake.
Pela premissa já percebemos que é o mesmíssimo filme que assistimos da primeira vez, mas trocando a mãe pelo filho. O roteiro de Ron Kurz não se arrisca a explorar novas áreas ou conceitos, atendo-se exatamente à estrutura do original, e enquanto isso é terrível pelo motivo de tornar a experiência um tanto maçante e previsível, é necessária para que a franquia lentamente vá encontrando seu mojo. Isso porque, antes de Parte 2 ser oficializado, os produtores até cogitaram que Sexta-Feira 13 fosse uma cinessérie de antologia, onde a cada novo filme seríamos introduzidos a uma história slasher diferente com personagens diferentes. De certa maneira, é mais ou menos por aí que a franquia acaba seguindo, já que o personagem de Jason Voorhees insiste em voltar dos mortos repetidas vezes, e os eventos de cada filme não parecem ter muita conexão entre si - afinal, Alice é morta logo na primeira cena, e esse evento não tem nenhuma repercussão no restante da narrativa.
Infelizmente, isso significa nos apresentar a novos personagens, e eu sinceramente não consigo me lembrar de nenhum. Não que esse tipo de filme seja conhecido por seu trabalho com seres humanos, mas o roteiro de Kurz é excepcional em não trazer absolutamente nada de novo para o grupo adolescente protagonista, que compõe mais uma equipe de acampamentos que prepara o Crystal Lake para a chegada de futuros membros. Final girl da vez, Amy Steel se sai bem na hora de gritar e até mesmo tentar confrontar o assassino Jason, mas é difícil simpatizar com qualquer uma das figuras (deliberadamente, talvez) descartáveis da projeção.
No que diz respeito à direção, Steve Miner replica com afinco todas as marcas estilísticas de Sean S. Cunningham no original. A movimentação de câmera que constantemente nos coloca no POV do assassino é obrigatória, e acaba por provocar um efeito similar ao do primeiro. Porém, como a reviravolta do original era sobre a Sra. Voorhees ser a responsável pelos assassinatos, o POV nunca deixava sua figura até a cena final. Aqui, com Jason já sendo estabelecido como o assassino, Miner pode brincar melhor com a silhueta e a presença ameaçadora do vilão, que ainda não tem sua máscara de hóquei, mas usa um saco de pano branco que consegue ser amedrontador dependendo do ângulo ou da iluminação de Peter Stein. Há muitas boas ideias no clímax também, com a protagonista fazendo uso de uma sinistra cabeça decepada da Sra. Voorhees para tentar confrontar Jason, e talvez só por esse momento o longa já valha a visita.
No fim, Sexta-Feira 13: Parte 2 surge quase como um remake do original, mas com alguns aprimoramentos em relação à sua forma e a mitologia de Jason Voorhees. Longe de ser um grande filme ou uma sequência memorável, mas faz jus ao trabalho de Cunningham. Mas é como dizem, alguns truques não funcionam mais de duas vezes...
Sexta-Feira 13: Parte 2 (Friday the 13th Part 2, EUA - 1981)
Direção: Steve Miner
Roteiro: Ron Kurz, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Amy Steel, John Furey, Adrienne King, Betsy Palmer, Kirsten Baker, Stuart Charno, Warrington Gillette, Walt Gorney, Jack Marks, Steve Dash
Gênero: Terror
Duração: 85 min
https://www.youtube.com/watch?v=Qqmj12n7yYc
Leia mais sobre Sexta-Feira 13