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Os dez melhores filmes da década de 90 que não estão nas listas dos melhores filmes da década de 90

As listas que elencam os melhores filmes da década de 90 são encontradas aos montes pela internet. Até veículos sem tradição na crítica e na análise cinematográfica têm o seu próprio rol de pérolas da sétima arte. Seria natural, dado a profusão de canais que elaboram e divulgam estas listagens, que houvesse certas diferenças nos índices que as compõem. Porém, você irá encontrar com frequência os lugares-comuns: Pulp Fiction, Clube da Luta, Matrix, Trainspotting, e etc. Não que esses não sejam grandes filmes. Contudo, há outras estrelas que abrilhantam a constelação cinematográfica da década de 90. As descobri nos meus anos de garimpo em videolocadoras, quando vasculhando nos recôndito das pratilheiras eu percebia algum VHS clamando para sair do isolamento. Encontrei excelentes obras, como Armadilha Selvagem, dirigido por Christopher Reeve logo após o trágico acidente que lhe paralisou o corpo; também Entardecer de uma estrela, continuação do oscarizado Laços de Ternura. Graças a internet, consegui rever todos esses títulos e revigorar meu  apreço por eles. Compartilho abaixo a lista completa:

1. TANGO (1998) – Direção: Carlos Saura

Depois de ser abandonado pela mulher, famoso diretor tenta superar a dor com a realização de um filme sobre tango. Ele se apaixona pela nova estrela do espetáculo, que é a namorada do principal investidor do filme, um homem muito perigoso. O espanhol Saura não realizava nada de notável desde a trilogia sobre o flamenco (Bodas de Sangue; Carmem; Amor Bruxo). Talvez como forma de encontrar a inspiração perdida, ele retoma a fórmula dramática de Carmen nesse projeto ambicioso sobre o tango. A trilha sonora de Lalo Schifrin é belíssima, e a película foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, além de vencer o Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes de 1998, dedicado à fotografia do italiano Vittorio Storaro, conhecido como “O Mago da Luz, que também fotografou Apocalipse Now e O Último Imperador.

2. CITIZEN X (1995, EUA) – Direção: Chris Gerolmo

Em 1982, investigador sensível é chamado para cuidar do caso de um serial killer que está matando mulheres e crianças numa cidade da Rússia. Baseado em caso verídico, este filme feito para a TV mostra a minuciosa busca ao criminoso que deixou como saldo 52 vítimas. Apesar de ser uma produção americana, foi inteiramente filmada em Budapeste (Hungria) e tem o ritmo lento dos filmes policiais europeus. As locações e o elenco se destacam: Rea (de Traídos pelo Desejo) compõe seu inseguro personagem na medida exata, fazendo contraponto com a atuação marcante de Sutherland, que levou o Globo de Ouro de ator coadjuvante em 95.

3. ARMADILHA SELVAGEM (1997, EUA) – Direção: Christopher Reeve

Jovem de quase trinta anos com Aids em estágio avançado volta para casa, depois de vários anos, para morrer próximo da família. Com essa história, baseada em conto publicado no New York Times, o ator Christopher Reeve estreia na direção provando grande talento para conduzir com sutileza e sensibilidade um doloroso drama. Baseado em diálogos precisos e emocionais, roteiro metafórico, deslumbrante fotografia e trilha sonora delicada, Reeve mostra-se sobretudo competente diretor de atores, extraindo o máximo de seu excelente elenco. Não se deixem enganar pelo péssimo título brasileiro, que não faz jus ao original ( In the Gloaming, o título original, é uma expressão escocesa para “crepúsculo”). Uma pequena obra-prima.

4. TAXI (1996, ESPANHA) – Direção: Carlos Saura

Jovem reprovada no vestibular decide trabalhar com o táxi do pai durante o dia e descobre que ele, e talvez seu namorado taxista, podem estar envolvidos com assassinatos de natureza neonazista. O talento do espanhol Saura faz sua versão personalista e contundente da violência urbana, por meio do peculiar cotidiano de um grupo de taxistas neonazistas rodando pela cidade de Madri. A belíssima fotografia de Vittorio Storano (indicado para o Oscar por Dick Tracy) ajuda o diretor a realizar um filme moderno, estilizado, com imagens e atuações vigorosas.

5. LA MADRE MUERTA (1993, ESPANHA) – Direção: Juanma Bajo

Um homem mata mulher num assalto; a única testemunha, filha da vítima, é reencontrada anos mais tarde pelo assassino numa clínica para doentes mentais. Sem cair no psicologismo barato e na morbidez gratuita, é um filme desesperadamente trágico e sombrio, quase dostoievsquiano, um dos preferidos do público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (1994), recebendo prêmios nos festivais de Estolcomo (atriz) e Montreal (direção). Fotografado em tons escuros, em estilo barroco mas sem maneirismos, o filme evolui num suspense crescente, com cenas tão fortes que chegam a incomodar. Do ótimo elenco, destaque para Alvarez, que transmite de forma trágica todo o trauma do passado.

6. EXÓTICA (1993, CANADÁ) – Direção: Atom Egoyan

Atormentado por uma tragédia pessoal, homem fica obcecado por bailarina de stripe-tease adolescente que trabalha em boate. Prêmio de crítica no festival de Cannes(94), é um estudo insólito da solidão, da incomunicabilidade humana, da sedução e do voyeurismo. Apesar das discutíveis ideias estéticas do diretor armênio Egoyan, o filme transmite, com talento, por meio de uma fotografia escura e sombria, o pessimismo da história, na qual o comportamento das pessoas é revelado aos poucos, num verdadeiro strip-tease das relações humanas.

7.  TERRAS PERDIDAS (1997, EUA) – Direção: Jocelyn Moorhouse

Em vida, velho patriarca faz a divisão dos mil acres de sua propriedade rural, gerando conflito entre suas três filhas. A australiana Morhouse (Colcha de Retalhos) mais uma vez demonstra a sua peculiar sensibilidade para descrever ressentimentos e afetos acumulados durante anos. Sem resvalar no dramalhonesco, fez um filme denso e delicado ao mesmo tempo, com notável rendimento do elenco em que se destacam a premiada Lange e a bela Pfeiffer como as irmãs Ginny e Rose.

8. O ÚLTIMO JANTAR (1996, EUA) – Direção: Stacy Title

Grupo de universitários esquerdistas mata acidentalmente um convidado com ideias nazistas. Como não são punidos, decidem eliminar as pessoas preconceituosas e indesejáveis que atravessam seu caminho. A diretora estreante Title mostra fôlego de veterano para conduzir essa sátira política, com diálogos ácidos e muito humor negro. Pela cadeira da morte desfilam representantes de preconceitos sociais mais comuns, num incômodo inventário social e ético da sociedade americana, agravado pela audácia dos supostos defensores do bom senso e do “mundo melhor”, no caso os assassinos, – muito mais cruéis e amorais do que suas vítimas.

9. ARLETTE (1997, FRANÇA) – Direção: Claude Zidi

Para pagar dívida de jogo, ator francês é obrigado a casar com garçonete de bar de estrada na França, que desconhece ser herdeira de rede de cassinos em Las Vegas. O francês Zidi foi capaz de uma façanha: transformou a desengonçada Josiane Balasko (Uma Cama para Três) em princesa encantada e Lambert, o eterno Connor Mcleod, no objeto de desejo dela, numa escrachada e moderna versão do conto de fadas da gata borralheira. No lugar do sapatinho de cristal usou o caça-níquéis da glamurosa Vegas, substituiu a madrasta por gângsters e com algumas outras boas sacadas do roteiro realizou uma comédia romântica surpreendente.

10. O ENTARDECER DE UMA ESTRELA (1996, EUA)

Responsável pelos três netos desde que sua filha morreu há quinze anos, Aurora vive em meio aos problemas que eles causam. Continuação de Laços de Ternura (Oscar de melhor filme em 1983), com as crianças já crescidas. Mescla situações densas (doença, envolvimento com drogas, etc.) e engraçadas. Também responsável pelo roteiro, o diretor Harling saiu-se melhor no melodrama, não obstante o eficiente humor no registro da conduta do psicólogo (Paxton). Maclaine novamente vive Aurora, que lhe possibilitou em 1983 o único Oscar de sua carreira. E faz isso com entusiasmo. O mesmo se verifica na curta participação de Nicholson retomando o ex-astronauta da fita anterior, quando levou o Oscar de melhor ator coadjuvante.

Texto Escrito por Fernando Henrique Lins 

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