Daniel Tanan
Há uma piada na indústria de efeitos visuais que é mais ou menos assim: alguém ouve que você trabalha com filmes, então te perguntam, “que filme te fez chorar?” O artista responde, “no cinema ou no escritório?”
Segundo o site io9, a indústria de efeitos visuais é cheia de problemas. Explora artistas usando contratos de curto prazo, persegue incentivos fiscais em todo mundo, criando um ambiente em que estúdios de produção, especialmente gigantes como a Marvel, tratam estes funcionários terceirazos precariamente à custa do ofício e da saúde mental dos artistas.
Através de uma série de entrevistas em telefone com fontes de dentro da indústria de efeitos visuais que trabalharam em diversos títulos da Marvel, desde os da Fase 1 até as séries que ainda não receberam título, io9 ouviu uma gama de reclamações sobre as condições de trabalho que os estúdios de efeitos visuais aplicavam em seus funcionários para atender as demandas dos clientes.
Todos os trabalhadores de VFX nessa história são referidos por pseudônimos devido ao tamanho relativamente pequeno do setor e porque estão com medo de caírem em uma lista negra.
O veículo também fez diversos pedidos para a Marvel comentar, mas até o presente momento, não responderam.
A indústria vai quebrar?
“Se torna um jogo de culpa,” disse H. Artistas se tornam coordenadores que culpam os produtores, que culpam executivos, que culpam outros artistas.
“Tudo está ligado ao topo. Porque não temos tempo ou dinheiro suficientes para fazer o trabalho de forma que você não tenha pessoas perdendo o aniversário de seus filhos. Tivemos equipes dormindo no escritório porque dirigir para casa toma muito tempo.”
H disse que não é fácil achar um estúdio que tenha condições melhores porque eventualmente todos os artistas vão trabalhar em um projeto que tem demandas rígidas. A responsabilidade, disse H, em última análise repousa nas casas de produção.
“Especialmente em uma companhia tão grande quanto a Marvel, sabe? Por que não podem dar às pessoas agendas e orçamentos realistas ao invés de forçar essa corrida desse jeito? Eu sei que estamos vivendo em um inferno capitalista, mas estão criando um ambiente muito tóxico para as pessoas. É meio que a natureza da indústria: o burnout inevitável”, diz Conrad.
Sam disse que os estúdios sabem e não ligam. “Há constantemente novos grupos de garotos chegando da universidade que querem trabalhar nos filmes. Mas talvez burnout não seja uma palavra forte o suficiente para descrever o que acontece com alguns artistas. Doença mental, doença física e suicídio.”
É mais do que apenas algumas horas de trabalho extra. É pressão constante, estresse constante e demandas constantes para fazer melhor, mais rápido e mais barato o seu trabalho. E enquanto alguns estúdios podem isolar seus artistas de tal pressão, a maioria não liga. Para os estúdios vale a pena fazer os funcionários passarem por burnout para agradar o cliente.
“Várias pessoas, realmente pensam que funcionamos como uma espécie de botão “faça ser legal,” explica David. “Eles não percebem a imensa quantidade de trabalho e as centenas de artistas necessárias para fazer qualquer coisa acontecer.“
Para cada filme, cada plano, artistas de dezenas de estúdios de VFX estão criando sob medida, gráficos e animações. É trabalho braçal e isso requer treinamento comercial, conhecimento íntimo de certos softwares, e, sem dúvidas, talento artístico.
Os estúdios de produção se beneficiam da crença de que há um botão mágico que os artistas pressionam e de repente Tom Holland está no traje do Aranha. Querem que imagine que as cidades caleidoscópicas de Doutor Estranho vem de um código plugado em um computador que faz todo o trabalho”, continua H.
“Não é conspiração, não é cobertura, é só que as empresas estão capitalizando na consistente desvalorização de seu produto e passando trabalho para os artistas que fazem do produto impossível. O negócio é uma bagunça,” disse Ren. “É costume. É como manufaturar algo que nunca foi feito antes toda vez.” “Para um simples plano de três segundos mostrando Tony Stark com diversos hologramas em tela, colocamos ao menos 50 horas de trabalho.”
Então a Marvel está fazendo algo errado? A resposta é, infelizmente, sim e não. Estão simplesmente operando do jeito que sempre foram; dirigindo a linha de baixo para onde quer que seja possível e facilitando uma relação de trabalho com vendedores que permitem que tirem vantagem da insegurança institucional dos artistas empregados pelos estúdios de VFX, de acordo com a reportagem.
A indústria do blockbuster está inegavelmente construída nas costas dos artistas de VFX, e se continuar desse jeito, vai quebrar. E vai levar os filmes da forma como conhecemos com eles.
