Crítica | Apartamento 7A faz releitura original do universo de O Bebê de Rosemary

Crítica | Apartamento 7A faz releitura original do universo de O Bebê de Rosemary

Há pelo menos três clássicos do terror que representam a síntese da indústria para o gênero: O Exorcista, O Iluminado e O Bebê de Rosemary (e aqui fica uma menção honrosa para A Profecia original). Além dos valores intrínsecos a cada um, o trio tem sido referência desde o final da década de 1960, sendo inumeráveis vezes referenciado, imitado e homenageado (como depois seriam Sexta-Feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo, em nova fase dessa mesma indústria).

Indo além do que se viu até hoje em termos de ampliação dos universos de O Iluminado e O Exorcista, Apartamento 7A, original da Paramount Plus dirigido por Natalie Erika James, transita entre o que seria uma antecipação e quase uma refilmagem do original de Roman Polanski, com resultados, entretanto, originais.

Na trama, Terry Gionoffrio (Julia Garner) é uma aspirante a estrela de musicais que sofre um acidente e tem dificuldades para se manter na Nova York dos anos 1960 e conseguir um novo papel. Desassistida, ela acaba sendo convencida a ir morar no prédio da produção original, onde é acolhida por um casal de idosos sem filhos (Dianne Wiest e Kevin McNally). A partir daí, o desenrolar segue uma sucessão de eventos que lembra bastante o romance de Ira Levin.

O Bebê de Rosemary: um clássico cercado por controvérsias

O original de 1968 ficou tragicamente relacionado no imaginário popular ao assassinato da esposa do diretor, Sharon Tate, um episódio modificado pela ficção de Quentin Tarantino em Era uma Vez em Hollywood. Independente da mitologia que se criou a partir disso em torno do filme, esta é ainda hoje uma verdadeira aula de direção e roteiro, um espetáculo cinematográfico onde se mostra quase nada, tudo é clima e preparação para o final cinicamente apoteótico.

Se Polanski mostra muito pouco, Erika James escolhe um caminho mais exuberante do ponto de vista visual, não se contendo em oferecer os sustos e truques que o público atual parece esperar de todo novo filme de terror. Se carece da sutileza do original, por outro lado nos brinda com cenas de impacto visual e filmagem elegante, o que nem de longe representa pouco no cinema de hoje em dia.

O maior acerto do filme está na presença de duas atrizes de gerações diferentes, porém igualmente excepcionais. Garner é uma artista completa e consegue com sua versatilidade parecer ora a “mocinha” do filme, ora a “feiosa” solitária. Wiest, por sua vez, num papel contido, mas recheado de sutilezas e reveladores tons de voz, empilha mais um desempenho digno de uma das grandes atrizes de Hollywood em todos os tempos.

Entre a originalidade e a fidelidade, o filme segue a linha do meio

A partir de determinado ponto, o enredo opta por ser rigorosamente fiel ao universo do filme original para que seu desfecho se encaixe com o início da versão de 1968. Mas a diretora deixa sua marca autoral ao introduzir, de forma altamente criativa, um elemento que no filme de Polanski permanece ocultado: a contracultura. É quando 1968 e 2024 se encontram e se espelham, e o individualismo trágico e solitário de Terry vence, a seu modo, a convenção social diabólica que até então silenciosamente a oprimia.


5 melhores filmes com Maggie Smith

5 melhores filmes com Maggie Smith

Embora fosse mais conhecida do público contemporâneo por seus papeis icônicos na franquia Harry Potter e na série de TV Dowton Abbey, Maggie Smith participou de quase uma centena de produções ao longo da carreira. Nascida em 28 de dezembro de 1934 em Essex, Inglaterra, e falecida no dia de hoje, em Londres, Smith acumulou 2 Oscars, 4 Emmys, 3 Globos de Ouro e 7 Baftas ao longo da carreira.

Violet Crawley, a Condessa Viúva de Grantham em "Downton Abbey", é uma das personagens mais marcantes da série. Interpretada por Maggie Smith, Violet se destaca por sua inteligência rápida, comentários irônicos e forte dedicação à sua família. Ela frequentemente se envolve em questões sociais e políticas para garantir os interesses dos Crawley. Sua postura imponente e charme único a tornam uma figura central na trama da série.

Já em "Harry Potter", Maggie Smith assumiu o papel da Professora Minerva McGonagall, chefe da Casa Grifinória e professora de Transfiguração em Hogwarts. McGonagall é uma bruxa extremamente habilidosa e justa, conhecida por sua disciplina firme e lealdade inquestionável a Dumbledore e à escola. Ela desempenha um papel fundamental na luta contra Voldemort e na proteção dos alunos de Hogwarts. Sua presença severa, mas justa, junto com seu coração generoso, a transformou em uma das personagens mais queridas pelos fãs.

Carreira no cinema ao longo de sete décadas

A seguir, listamos 5 produções com Meggie Smith fora do universo Harry Potter e Dowton Abbey para relembrar seu trabalho como atriz.

5 - Uma Janela Para o Amor

Adaptação do romance de E.M.Foster, o filme é um drama romântico ao melhore estilo britânico. É também a estreia cinematográfica de Helena Bonham Carter e rendeu uma indicação ao Oscar a Smith como atriz coadjuvante.

4 - Mudança de Hábito

A clássica comedia musical com Whoopi Glodberg ofereceu oportunidade para Maggie Smith representar uma madre superior icônica e que corresponde bastante a persona cinematográfica que ela manteria por décadas.

3 - Morte Sobre o Nilo

Esta é a versão anterior da adaptação de Agatha Christie. Uma boa oportunidade para comparar com a refilmagem de Kenneth Branagh realizada em 2022.

2 - Assassinato em Gosford Park

Este é mais um dos filmes longos e caóticos realizados por Robert Altman e, como tal, não é para qualquer público. Conferir a performance de Smith exigirá paciência de acompanhar também a evolução de uma infinidade de outros personagens, ao exato estilo do cineasta.

1 - O Exótico Hotel Marigold

Esta famosa e divertida comédia sobre um hotel decadente que vira moradia para expatriados na Índia revela a faceta cômica de Smith, bem acompanhada pela também lendária Judi Dench. Uma chance de ver a performance de duas atrizes excepcionais de seu tempo em um recorte descompromissado.


Dirigível do São Paulo cai em Osasco e agita torcedores

Dirigível do São Paulo cai em Osasco e agita torcedores

Um dirigível com frases de apoio ao time do São Paulo despencou na tarde desta quarta-feira no município de Osasco, Grande São Paulo.

A ação fazia parte da promoção em torno do jogo que será realizado às 21:30 no estádio do Morumbis, pela Libertadores da América, contra o Botafogo-RJ.

Ação semelhante foi feita ano passado, antes da final da Copa do Brasil, vencida pelo São Paulo. A queda movimentou os torcedores nas redes sociais. Enquanto os são-paulinos não parecem ter se deixado abalar pelo acidente, torcedores rivais comemoravam finalmente uma "queda" do time paulistano.

Até o momento, não se sabe se foi de fato uma queda ou um pouso forçado, nem tampouco se há feridos envolvidos.

Veja o vídeo que circula pelas redes sociais:

 


Crítica | Não Fale o Mal usa a velha fórmula de refazer uma boa ideia (e estragá-la)

Crítica | Não Fale o Mal usa a velha fórmula de refazer uma boa ideia (e estragá-la)

Diz a lenda que o visionário produtor da Hollywood clássica, Irving Thalberg, fazia questão de ser fiel aos livros e peças de teatro que adquiria sempre que levantava suas produções. Ele acreditava que, quando você adapta uma obra original de sucesso, nunca sabe realmente qual o segredo do êxito, e portanto o mais razoável seria sempre permanecer o mais próximo possível do material original.

Agora, vamos saltar quase um século para frente até chegarmos a 2024: Não Fale o Mal é a refilmagem norte-americana da produção dinamarquesa de mesmo nome e lançada em 2022. Nos dois filmes, a trama parte de uma situação corriqueira: de férias na Toscana, dois casais com um(a) filho(a) acabam fazendo amizade e combinam vagamente de voltar a se ver em breve. Um dos casais vive em Londres e passa por uma crise matrimonial; o outro casal vive no campo e convida o primeiro para um final de semana de isolamento e passeios ao ar livre. Marido e mulher aceitam e partem na viagem levando sua menina.

Como você estraga uma boa ideia trocando originalidade por repetição de clichês em Não Fale o Mal

O original (dirigido por Christian Tafdrup e roteirizado por ele e por Mads Tafdrup) é mais um dos filmes muito interessantes do circuito independente que não dão as caras por aqui. Colecionou prêmios e indicações a ponto de chamar a atenção de Hollywood, que comprou o roteiro para uma nova versão em inglês. É de se imaginar (usando lógica elementar) que, se o filme tem qualidades a ponto de valer a pena fazer uma nova versão (com elenco famoso e mais alcance de mercado), é pelo que ele tem de diferente e não por ele repetir chavões e situações que vemos todos os dias em filmes do gênero. Logo, o mais natural seria que a refilmagem preservasse o que ele tem de melhor: ou seja, seu diferencial.

Quem já assistiu ao filme original sabe que ele é uma crônica social muito ácida transmitida pelo diretor em forma de um filme de suspense. O resultado é incômodo e provocativo e é bem expresso em seu título: no caso, a melhor tradução para "Speak No Evil" poderia ser "Finja que não viu" ou algo parecido. As questões que o roteiro original propõe são: Até onde você finge que nada está errado apenas para preservar a polidez social e evitar constrangimento ou confrontação? Vale arriscar a cautela e o instinto de sobrevivência somente para escapar de um instante desconfortável?

A versão dinamarquesa (cuja fama é um prêmio para o rigor e a originalidade do tratamento) mantém tal premissa até o limite (ou seja, até o desfecho, que é devastador). É bizarro e incômodo do início ao fim pela fidelidade a seu próprio universo de valores e ao conjunto de conflitos sobre os quais se debruça. Não faz concessões às convenções de gênero ou ao espetáculo. Deve ser por isso que chamou atenção da indústria. E aí a indústria foi lá, fez tributo a ele e, em retribuição, destruiu o conceito na refilmagem.

Refilmagens são a nova praga da indústria

Seria ótimo que o original de 2022 pudesse ganhar maior projeção com uma distribuição de peso (chegando até mesmo ao Brasil). Mas na impossibilidade disso, a refilmagem poderia fazer o mesmo que Michael Haneke fez com seu próprio Violência Gratuita, que ele refilmou em inglês repetindo praticamente página por página do tratamento original. E é quase isso que o diretor e roteirista James Watkins faz na versão de 2024: por cerca de uma hora, a refilmagem segue os passos seguros e perspicazes no outro filme - há clima, mistério, incômodo, um diálogo repleto de coisas não ditas e pequenos mal-entendidos que vão aumentando a tensão por baixa da mesa.

Até que ele...bem, ele desiste. Depois da metade, o que era um filme original e que não sairia da cabeça do espectador por dias cai na vala comum do jogo de gato e rato, da correria e da barulheira típicas de 95% dos filmes hollywoodianos do subgênero de "perseguição": alguém persegue, outro alguém foge, um procura, outro se esconde, um personagem precisa "salvar o dia", você sabe que todo mundo vai se machucar em algum nível mas, bem, no final é o de sempre.

Não Fale o Mal está longe de ser o primeiro filme estrangeiro destruído em sua versão norte-americana. Basta se lembrar da obra-prima argentina O Segredo de Seus Olhos, que virou o terrível primo gringo Olhos da Justiça, ou da desanimadora refilmagem norte-americana do clássico sul-coreano Oldboy. O espectador que assiste a qualquer das novas versões terá uma pálida noção do que era o material original.

O que sobra aqui, por sua vez, é a presença sempre poderosa de James McAvoy, cada dia mais parecido com uma versão renovada de Russell Crowe. É pouco para o filme que poderia ser o melhor de seu gênero na temporada. Irving Thalberg teria preservado mais do original - afinal, como saber se a parte que foi modificada não era o real motivo de prestígio do primeiro filme?

https://www.youtube.com/watch?v=mSzsQuRQ9Z8


Os melhores filmes sobre serial killers

Os melhores filmes sobre serial killers

Filmes que exploram a temática de serial killers têm um apelo particular no universo do entretenimento. Tais filmes frequentemente mergulham nas profundezas da mente humana, explorando os aspectos mais sombrios e perturbadores da psicologia. A narrativa típica se desenrola em torno de um assassino meticuloso, cujas ações são motivadas por impulsos incontroláveis ou traumas profundos. A tensão é um elemento constante, mantendo o público à beira do assento enquanto tenta desvendar os mistérios por trás dos crimes.

A construção desses personagens é feita de maneira a provocar tanto repulsa quanto fascínio. O público é levado a questionar a natureza do Mal e a linha tênue entre sanidade e loucura. A atmosfera desses filmes é frequentemente sombria e opressiva, com uma trilha sonora que intensifica a sensação de perigo iminente. A cinematografia utiliza sombras e ângulos de câmera para criar um ambiente de suspense e medo.

A Complexidade da Mente Criminosa Serial Killer

Um dos aspectos mais intrigantes desses filmes é a exploração da mente criminosa. Os roteiristas e diretores se esforçam para apresentar uma visão autêntica e, ao mesmo tempo, aterrorizante do que leva uma pessoa a cometer atos tão hediondos. Muitas vezes, o público é apresentado a flashbacks ou cenas que revelam o passado do assassino, oferecendo pistas sobre suas motivações e traumas. Essa abordagem não só humaniza o vilão, mas também adiciona camadas de complexidade à narrativa.

Além disso, esses filmes frequentemente apresentam um protagonista que está determinado a capturar o assassino. Esse personagem pode ser um detetive, um jornalista ou até mesmo uma vítima sobrevivente. A dinâmica entre o caçador e a presa é um elemento central, com jogos de gato e rato que mantêm a audiência engajada. A busca pela justiça ou vingança é um tema recorrente, e o desfecho muitas vezes traz uma mistura de alívio e inquietação.

Em resumo, filmes sobre serial killers oferecem uma experiência cinematográfica intensa e provocativa. Eles desafiam o público a confrontar seus próprios medos e curiosidades sobre a natureza humana. A combinação de suspense, mistério e uma análise profunda da psicologia criminal faz desses filmes uma escolha popular para aqueles que buscam uma narrativa envolvente e perturbadora.

Abaixo, apresentamos uma lista com os 15 melhores filmes sobre serial killer: você acha que faltou algum título?

15º: Twilight (1990): Detetive aposentado tenta capturar o assassino que mata crianças na zona rural húngara. O diretor Gyorgy Fehér trabalhou com o mestre do cinema húngaro Béla Tarr e este é certamente um dos filmes mais perturbadores e desolados já realizados, uma mistura desconcertante de fotografia em preto e branco e música erudita. Osgood Perkins já viu este filme em algum momento de sua vida...

14º: Monster: Desejo Assassino (2003): Baseado na história real de Aileen Wuornos, uma prostituta que se torna uma assassina em série. O filme explora sua vida e os eventos que a levaram aos assassinatos. A mais impressionante performance de Charlize Theron.

13º: Be My Cat: A Film for Anne (2015): Um cineasta obcecado tenta convencer uma atriz famosa a estrelar seu filme, recorrendo a métodos cada vez mais perturbadores e violentos. Um filme romeno de baixíssimo orçamento, alto conceito, ultrajante e muito original.

12º: A Cela (2000): Uma psicóloga infantil entra na mente de um assassino em coma para salvar sua última vítima. A viagem pelo subconsciente do criminoso é visualmente deslumbrante e aterrorizante, no filme que influenciaria anos depois o desenho de produção de "300" de Zack Snyder.

11º: Eu Vi o Diabo (2010): Um agente secreto busca vingança contra o assassino em série que matou sua noiva. A caçada se transforma em um jogo de gato e rato brutal e sangrento. Cinema sul coreano em sua melhor expressão.

10º: Creep (2014): Um vídeo-maker é atraído por anúncio para gravar durante um dia as últimas mensagens de um homem à beira da morte. Filme barato, roteiro brilhante e atuação inesquecível de Mark Duplass.

9º: Aconteceu perto de sua casa (1992): Um falso documentário segue um assassino em série enquanto ele comete seus crimes. A equipe de filmagem gradualmente se envolve nas atrocidades. Uma das melhores referências no formato, embora pouco conhecido pelo público atual.

: Memórias de um Assassino (2003): Baseado em uma história real, dois detetives sul-coreanos tentam capturar um assassino em série que aterroriza uma pequena cidade. A investigação é marcada por erros e frustrações. Do mesmo diretor de "Parasita" e já votado como o melhor filme sul coreano de todos os tempos.

7º: A Tortura do Medo (1960): Um cinegrafista assassino filma as expressões de terror de suas vítimas enquanto as mata. O filme explora a obsessão pela imagem e o voyeurismo. Do extraordinário diretor inglês de "Os Sapatinhos Vermelhos" e "Narciso Negro".

6º: O Mensageiro do Diabo (1955): Um falso pregador, que é também um assassino, casa-se com uma viúva para encontrar o dinheiro roubado escondido por seu falecido marido. As crianças da viúva são as únicas que sabem onde está o dinheiro. Único crédito de diretor do ator inglês Charles Laughton, é lembrado até hoje também pela exuberante fotografia em preto e branco de Stanley Cortez.

5º: Zodíaco (2007): Um cartunista de jornal se torna obcecado em identificar o assassino do Zodíaco, um criminoso real que aterrorizou São Francisco nos anos 60 e 70, enviando cartas e códigos para a imprensa. Roteiro intrigante, condução segura de David Fincher e um desfecho inesquecível.

4º: M (1931): Um assassino de crianças aterroriza uma cidade alemã, levando tanto a polícia quanto o submundo do crime a caçá-lo. A tensão aumenta à medida que o cerco se fecha sobre o criminoso. Clássico do cinema que influenciaria gerações de cineastas e poderoso retrato do clima da época em que foi realizado.

3º: Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995): Dois detetives investigam uma série de assassinatos brutais, cada um inspirado pelos sete pecados capitais. A busca pelo assassino leva a um desfecho chocante num dos roteiros cinematográficos mais celebrados de todos os tempos.

2º: Psicose (1960): Uma secretária em fuga se hospeda em um motel isolado, onde encontra o misterioso proprietário e sua mãe. A trama se desenrola em uma série de eventos aterrorizantes. Imitado e referenciado seguidas vezes, o clássico de Alfred Hitchcock se mantém até hoje como um dos mais poderosos conjuntos de imagens já apresentados.

1º: O Silêncio dos Inocentes (1992): Agente iniciante do FBI busca auxílio do encarcerado Dr. Hannibal Lecter, um canibal meticuloso que pode ajudá-la a prender outro serial killer em atividade conhecido como Buffalo Bill, no filme perfeito, em que roteiro, direção e elenco se ajustam precisamente para criar um espetáculo cinematográfico intenso e repleto de simbologia.


Crítica | A Substância mistura horror e humor mas se sustenta na dupla de atrizes

Crítica | A Substância mistura horror e humor mas se sustenta na dupla de atrizes

Na crescente onda de novas realizadoras dentro da indústria, a francesa Coralie Fargeat (do anterior e nem tão conhecido Vingança, de 2017) conquistou grande reconhecimento em Cannes este ano ao levar o prêmio de melhor roteiro por A Substância, que chega agora aos cinemas brasileiros. Seu filme é uma mistura provocativa (mas também apelativa) de ficção científica, horror e comedia de humor negro.

Na trama, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma estrela de TV decadente que, após perder seu emprego como apresentadora, decide utilizar uma terapia experimental e secreta que replica suas células de modo a criar um clone mais jovem de si mesma (Margaret Qualley) e que pode ser usado sob condições e prazos muito específicos. Quando as circunstâncias levam a uma repetida infração das regras do experimento, as consequências são devastadoras para a paciente.

Por que o filme tem chamado tanta atenção

Embora se alongue demais - especialmente num clímax exagerado e escatológico - o filme consegue divertir e, ao mesmo tempo, propor uma reflexão superficial a respeito do culto à juventude e à aparência (especialmente feminina), uma exigência constante e estimulada pelos meios de comunicação de massa. A atuação de Moore é particularmente comovente (porque ela literalmente é "desmontada" na tela), mas o filme dificilmente funcionaria tão bem se seu contraponto não fosse interpretado por uma radiante Margaret Qualley.

A pretensão de "crítica social" de A Substância perde força por apostar completamente na caricatura e em soluções esquemáticas de roteiro. Todos os homens no enredo são figuras patéticas e desprezíveis, o que reduz a observação sociológica ao nível do desenho animado. Além disso, a fixação em mostrar imagens "chocantes" (sangue, vísceras, ferimentos) soa infantil e apelativa, deixando pouco espaço para a sutileza e a imaginação da plateia.

Outra deficiência do filme está em soluções de roteiro que desprezam completamente a lógica interna, como quando Elisabeth se transforma magicamente numa marceneira profissional ou quando, já bastante debilitada fisicamente, consegue correr e carregar peso com extrema facilidade. A aposta na "ficção científica" muitas vezes é entendida de maneira cartunesca, o que coloca o filme muito abaixo de clássicos do gênero (que respeitam a verossimilhança mesmo dentro de premissas fantásticas).

Mais um filme repleto de referências

A Substância se nutre de diferentes fontes para construir seu universo imaginário e visual, que aliás é bastante poderoso e um dos seus pontos altos. A mais evidente delas é o cinema de David Cronemberg, mas também ficam bastante explícitas as citações a Stanley Kubrick (especialmente com Laranja Mecânica e O Iluminado), não só em detalhes do cenário e direção de arte de modo geral (repare no carpete do estúdio e nas paredes vermelhas), no figurino de Harvey (Dennis Quaid), como também na composição geométrica de muitos quadros e no uso de lentes mais curtas. Ao final, Fargeat não se contém e chega a usar "Assim Falava Zaratustra" de Richard Strauss para sua apoteose.

Outras referências estão nos clipes musicais dos anos 1990 (como os de Benny Benassi, uma evidente fonte de inspiração para as coreografias do show de Sue) e o clássico de horror B dos anos 1970, Nasce um Monstro.

É difícil ser indiferente ao filme, mas...

Ao escolher o choque e não a sutileza e deixar pouquíssimo espaço para o juízo do espectador, A Substância não permite que a plateia fique indiferente, provocando ora repulsa, ora riso nervoso. Mas acidentes de carro, quebras bancárias e velórios de crianças tampouco deixariam a mesma plateia indiferente (e nem de longe são coisas boas). Se apostasse menos no horror visceral e mais na intensa presença e no jogo de cena de sua dupla de talentosas atrizes, o filme fatalmente sobreviveria melhor ao tempo. Veremos quantos cinéfilos ainda se lembrarão dele daqui a 10 anos.

https://www.youtube.com/watch?v=jEUc1ZYoy-k


Crítica | O Casal Perfeito é a minissérie que você precisa assistir agora na Netflix

Crítica | O Casal Perfeito é a minissérie a que você precisa assistir agora na Netflix

Baseada no romance escrito pela veterana autora best-seller formada pela Universidade Johns Hopkins (uma das mais conceituadas dos Estados Unidos), Elin Hilderbrand, e desenvolvida para a Netflix por Jenna Lamia (de Good Girls), O Casal Perfeito é a típica minissérie feita para maratonar: episódios bem amarrados e que prendem o espectador querendo entender o que de fato se passa entre aquele bizarro grupo de personagens.

Na trama, Green Garrison Winbury (Nicole Kidman) é uma poderosa escritora que vive na luxuosa comunidade de Nantucket (uma ilha localizada no estado de Massachusetts). Em torno dela orbitam seu marido (Liev Schreiber), os filhos e suas respectivas esposas e namoradas. Quando um deles resolve se casar no local, um crime é cometido poucas horas antes da cerimônia - prendendo a todos na ilha e numa trama cuja teia se revela aos poucos diante dos olhares dos personagens e do próprio espectador.

Os acertos da produção que fazem diferença

Além de uma trama bem sustentada e um conjunto de personagens interessantes e ambíguos (cada vez mais raridade na dramaturgia de streaming), a minissérie conta com a direção segura de uma cineasta de peso: Susanne Bier, de Em um Mundo Melhor e Depois do Casamento, além do sucesso Bird Box, da própria Netflix. Egressa da escola dinamarquesa, Bier cultiva um estilo mais realista, o que propicia aos atores terreno fértil para encontrar suas melhores atuações sem ter que disputar atenção o tempo todo com subterfúgios e truques de edição, por exemplo.

A ambientação da minissérie confere autenticidade ao drama dos personagens, além de oferecer ao espectador um panorama social saboroso a respeito da comunidade local que enfrenta os conflitos típicos de uma localidade turística (incluindo os ruídos inevitáveis de classe e entre moradores e visitantes).

O elenco se destaca 

Nicole Kidman tem sido apontada como o maior destaque da minissérie, mas ela não brilha sozinha: o elenco foi muito bem escalado e Liev Schreiber está à altura dela como o marido apreciador de maconha e que tem mais segredos que os filhos imaginam (muitos deles compartilhados com a própria esposa). Entre os mais jovens, é impossível não notar a presença magnética de Eve Hewson, atriz irlandesa de outra minissérie de sucesso (Por Trás de Seus Olhos), que além de ótima atriz é também uma das mais carismáticas de sua geração. É preciso acompanhar com atenção sua carreira a partir de agora. Dakota Fanning também está excelente como a nora grávida e maliciosa e demonstra que hoje é uma atriz completa. Para os apreciadores de cinema europeu, a minissérie traz ainda a lendária atriz parisiense Isabelle Adjani, estrela de tantos clássicos como Possessão e Nosferatu: O Vampiro da Noite.

O Casal Perfeito é uma minissérie bem produzida, com uma trama que prende atenção e que pode ser vista de um fôlego só: imperdível para o público mais adulto do streaming.


Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice é diversão nostálgica repleta de referências

Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice é diversão nostálgica repleta de referências

Como faz parte do seleto grupo de diretores com alguns bilhões de bilheteria no currículo, Tim Burton pode se dar ao luxo de levantar uma continuação quase duas gerações depois do original, de modo que todo um grupo etário que sequer estava vivo quando "Beetlejuice: Os Fantasmas se Divertem" foi lançado, em 1988, pode agora se divertir fingindo que nutre nostalgia por aquilo que não viu. Ou saudade do que não viveu.

A trama do primeiro filme gira em torno de um casal, Bárbara (Geena Davis) e Adam Maitland (Alec Baldwin), que, após morrerem em um acidente de carro, ficam presos como fantasmas em sua antiga casa. Quando uma nova família se muda para a residência, incluindo a adolescente Lydia (Winona Ryder), os Maitland tentam assustá-los para que vão embora, mas sem sucesso. Em busca de ajuda, eles invocam Beetlejuice (Michael Keaton), um espírito caótico e imprevisível, cuja intervenção acaba criando mais problemas do que soluções.

Na continuação de 2024, "Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice", Lydia - que hoje é estrela de um programa de auditório - está de volta à casa assombrada acompanhada da mãe amalucada artista plástica (Catherine O'Hara, divertida como sempre), da filha adolescente mal-humorada (Jenna Ortega, em mais uma variação sobre o tema "Wandinha") e do candidato a padrasto enganador. A família novamente se vê às voltas com Beetlejuice (Keaton, enérgico como sempre), que por sua vez tem que se preocupar em escapar da fúria de uma antiga amante vivida por Monica Bellucci (esposa atual do diretor e que faz aqui uma "noiva-cadáver" quarentona).

Nostalgia e trilha musical empolgante seguram Beetlejuice

O roteiro é ágil e sabe que está lidando com expectativas alimentadas por algumas décadas, então tudo que estava no original parece necessariamente ter de estar na continuação (inclusive a passagem musical e sobrenatural do desfecho). Mesmo transitando num universo cujas regras já foram estabelecidas anteriormente, o enredo demonstra inteligência em não se alongar, ao mesmo tempo que introduz novos obstáculos que mantêm a trama de pé sem se repetir demais (especialmente no conflito criado pelo interesse romântico da personagem de Ortega). A única sobra parece ser o personagem de Willem Dafoe, um tardio "ator do momento" que, ao menos aqui, tem pouco com o que se ocupar em tela.

É curioso notar que a grande qualidade do primeiro filme (o universo soturno e caótico do purgatório concebido por Tim Burton) não poderia ter, em 2024, a força que tinha no século passado. São quase 40 anos de bizarrices acumuladas no cinema, na TV e na Internet, o que faz com que as extravagâncias típicas da imaginação de Burton e de seus roteiristas (os figurinos de show do Talking Heads, por exemplo, e mesmo a violência gráfica, mas cartunesca) hoje parecem uma leve repetição do que se assiste rotineiramente.

Tim Burton, contudo, é talentoso o suficiente para saber disso, e oferecer à expectativa de um público acostumado com o caos ofensivo da cultura pop as doses certas de referências cinematográficas (ao expressionismo alemão e também ao cinema de terror de Mario Bava, numa divertida passagem falada em italiano), além de uma seleção de canções antigas que dificilmente incomodarão a alguém (ou tem como qualquer coisa que esteja acontecendo com "MacArthur Park" tocando ao fundo não ficar interessante?).

Sem se aprofundar muito nos temas que costumam se sobressair em sua filmografia (a questão da "máscara social" e das aparências, presente desde sua leitura de Batman e em "Edward Mãos de Tesoura", por exemplo), Burton consegue oferecer uma diversão leve, mas de qualidade, numa mistura bem equilibrada de maquiagem com efeitos visuais digitais e que provavelmente agradará tantos aos fãs do primeiro filme quanto a seus filhos (e, muito em breve, netos).

https://www.youtube.com/watch?v=As-vKW4ZboU