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Crítica | O Exorcista: O Devoto – É apenas um filme ruim sobre exorcismo

Há filmes na história do cinema em que é inimaginável pensar que possam receber remakes ou continuações, e principalmente, que sejam tão bons quanto os originais. O Exorcista, lançado em 1973 e dirigido com maestria por William Friedkin, é um desses casos. É óbvio que os estúdios querem lucrar com continuações de filmes que foram sucesso de público e crítica, assim como era óbvio que O Exorcista iria acabar ganhando novas releituras, mas a questão mesmo está em relação à qualidade dessas obras, que são geralmente são bastante questionáveis e muitas vezes desnecessárias, o mesmo ocorre com O Exorcista: O Devoto (David Gordon Green).

Em 1977, foi lançado O Exorcista II: O Herege, uma sequência ridícula e que não fazia justiça ao original, enquanto O Exorcista III (1990) foi uma produção decente dentro da proposta estabelecida. Em O Exorcista: O Devoto, ocorre uma tentativa falha de ressuscitar o clássico e recontar a história para as novas gerações, visto que há a possibilidade de ser o primeiro capítulo de uma futura trilogia.  

O principal dilema deste novo episódio reside na reflexão sobre a necessidade de dar continuidade à história do filme original, em vez de explorar uma trama completamente nova, evitando revisitar os eventos que afetaram a jovem Regan (Linda Blair).

Comparações Inevitáveis

David Gordon Green ganhou notoriedade com o elogiado Halloween (2018), que realmente resgatou a qualidade da franquia após sequências decepcionantes. Porém, ele cometeu o mesmo erro ao criar continuações igualmente fracas quanto as que sucederam o longa de 1978. Em O Exorcista: O Devoto, embora haja um esforço do cineasta em evocar a atmosfera dos filmes clássicos, ele acaba tropeçando nos clichês do gênero e na completa incapacidade de recriar o clima de horror e medo que tornou O Exorcista tão marcante.

Assim como ocorre na maioria das produções sobre exorcismo, duas garotas são possuídas não por demônios, mas pelo próprio diabo, capeta ou qualquer outro nome associado à entidade maligna que já foi usado ao longo dos anos. Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O’Neill) desaparecem por alguns dias na floresta e, ao retornarem, começam a manifestar um comportamento estranho, o que leva à descoberta posterior de que estão possuídas, requerendo, obviamente, a realização de um exorcismo nelas. Há também na história o personagem de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), um viúvo que perdeu a esposa em um terremoto no Haiti.

É inevitável fazer comparações entre esta versão de David Gordon e a de Friedkin, uma vez que O Exorcista sempre teve uma presença significativa na cultura pop. Pode-se afirmar que várias obras sobre o tema foram filmados utilizando como referência o filme, como O Exorcismo de Emily Rose (2005) e outras produções que incorporaram elementos do clássico da década de 1970.

Os vários Problemas de “O Devoto”

David Gordon Green não entregou seu melhor trabalho em The Exorcist: Believer (nome original), mas há de se concordar que o roteiro não ajuda muito – roteiro este escrito por Gordon Green em parceria com Peter Sattler. A ideia de desenvolver uma nova trama envolvendo uma família originária do Haiti não convence, sem mencionar as mudanças em relação à obra original, deixando de lado elementos que funcionaram, como a obscenidade do diabo quando possui Regan ou até mesmo a icônica cena do vômito. Esses elementos estão ausentes nesta nova versão, resultando em um filme vazio e esquecível, se apresentando assim essencialmente como uma produção de terror de baixa qualidade.

Logo no primeiro ato, já é possível identificar alguns dos clichês clássicos do gênero do terror, como o da mulher grávida, algo que já foi explorado, por exemplo, em O Bebê de Rosemary (1968). Há muitos outros clichês, como o das crianças possuídas, as várias caretas que elas fazem, o das luzes que piscam. O roteiro é ruim também por se mostrar indeciso sobre qual direção seguir e qual mensagem quer transmitir, ocasionando em um conteúdo completamente frágil.

Mesmo com os retornos de Ellen Burstyn, no papel de Chris MacNeil, e de Linda Blair, em uma aparição relâmpago, os efeitos são quase nulos. Em vez de proporcionar um encerramento satisfatório para o arco das personagens, essa inclusão as trouxe de volta sem o devido protagonismo que mereciam. Não há uma conexão palpável entre a personagem de Ellen e o público, uma vez que passou muito tempo desde sua última aparição. Seu retorno apagado apenas reforça essa percepção.

O Exorcista permanece como um clássico atemporal no mundo do cinema, ainda tendo bastante influência e impacto no meio. Infelizmente, O Exorcista: O Devoto não consegue cativar nem capturar a tensão e o medo causado pelo longa original, mesmo com seu potencial para algo maior. A narrativa se perde em não estruturar direito os personagens, nem em criar uma história decente, deixando uma sensação de desapontamento. É um lembrete de que nem todas as histórias precisam de sequências ou revisitações, e que o legado de um clássico como “O Exorcista” permanece intocado, ainda sendo lembrado como referência para futuras gerações.

O Exorcista: O Devoto (The Exorcist: Believer, EUA – 2023)

Direção: David Gordon Green
Roteiro: Peter Sattler, David Gordon Green
Elenco: Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Leslie Odom, Linda Blair, Ellen Burstyn, Jennifer Miranda, Ann Dowd
Gênero: Terror
Duração: 111 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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