Crítica | O Protetor: Capítulo Final - Um desfecho monótono
Com a variedade de filmes de ação que são lançados todos os anos pela indústria cinematográfica, é necessário selecionar quais são bons e quais são ruins. E olha que não é uma tarefa das mais fáceis, já que há uma grande quantidade de baixa qualidade estreando. É seguro afirmar que O Protetor: Capítulo Final (Antoine Fuqua) é um oásis em meio a tanto conteúdo irrelevante.
A adaptação da série de TV homônima (1985) retoma, em seu terceiro capítulo, a história de Robert McCall, um agente secreto com profundos conhecimentos em técnicas de batalha, que age como um vingador, trabalhando para proteger os indefesos e oprimidos.
Denzel Washington se transforma em Michael Myers
Em 2014, ano do lançamento de O Protetor, a produção rapidamente se tornou um sucesso entre público e a crítica por ser um filme de ação à moda antiga. Assim, se desenhou a trajetória da franquia, que logo se transformou em uma trilogia de ação liderada por Denzel Washington no papel de um bom samaritano que faz justiça com as próprias mãos. Neste terceiro longa, Robert McCall aparece na Europa, onde encontra conforto em uma cidadezinha na Itália após ser baleado e receber ajuda de um médico que reside ali. Ele se vê obrigado a ajudar os habitantes locais contra traficantes internacionais que atuam na região.
Esta é a quinta vez que o cineasta Antoine Fuqua trabalha com Washington, em uma parceria que tem rendido frutos desde o ótimo Dia de Treinamento (2001). O resultado, em comparação as duas versões anteriores, fica distante daquele que o público esperava. Não é uma obra feita para atrair novos fãs à franquia, mas sim para aqueles que já a conhecem e a acompanham desde o primeiro filme.
Não é errado dizer que Fuqua exagerou neste novo capítulo, transformando o personagem de Denzel Washington em um matador a sangue frio, lembrando em muitas cenas, Michael Myers, o clássico vilão da franquia Halloween, matando seus inimigos com requintes de crueldade e, muitas vezes, de forma banal. O problema não é apenas a violência excessiva e desnecessária, mas também a maneira como esse elemento é inserido na trama.
A diferença em relação aos filmes anteriores, nos quais Robert McCall tinha uma motivação clara em busca de vingança, com um lado dramático sendo bem explorado, é que Fuqua aborda o drama na vida pessoal de McCall como se o personagem estivesse perdido em meio a tanta violência, como se ele tivesse saído do controle. No entanto, isso não é bem estruturado pelo roteiro e não se mostra aprofundado nem tão bem desenvolvido ao longo da narrativa.
Fim de um ciclo
Por ter sido forjado em torno da ação, é natural que os fãs queiram presenciar o elemento que fez desta produção o que ela é: ação pura e simples, sem rodeios ou piruetas acrobáticas. McCall é um homem de poucas palavras, avisa o que irá fazer e quando menos se espera, cria o caos. Tirando a cena inicial, que é uma ação mais contida, porém violenta, durante todo o filme o que se viu foi bastante drama e apenas duas sequências de ação boas. No entanto, essas cenas são tão rápidas e a forma como McCall acaba com tudo é tão impressionante que chega a ser decepcionante como os vilões não são páreos para o protagonista.
A falta de ação diz muito sobre a história que o roteiro deseja contar. Neste caso, optou-se por explorar mais o lado dramático de Robert, mas não um drama pessoal, nada relacionado à família ou amigos; é mais uma questão existencial mesmo. O teor dramático do personagem não é explorado a fundo, o que é uma grande oportunidade perdida em trazer mais da história pessoal de McCall. Além de ter ação insuficiente para uma franquia cujo ponto forte são as cenas de ação, por esse motivo, seu ritmo é bastante maçante, em alguns momentos, bastante sonolento.
O Protetor: Capítulo Final surge com a promessa de ser o último filme da franquia, se realmente será o último capítulo, isso é outra história. Denzel Washington é um reconhecido astro de cinema, atuando tanto em obras que disputam o Oscar quanto em longas de ação que servem apenas para agradar e divertir os espectadores. O melhor de tudo é que Denzel não se importa se os roteiros que lhe são concedidos entregam o máximo de si, pois ele encara isso como seu trabalho, e o resultado é que ele cria papéis memoráveis em produções que são puro entretenimento.
O Protetor: Capítulo Final (The Equalizer 3, EUA – 2023)
Direção: Antoine Fuqua
Roteiro: Richard Wenk, Baseada na série de Televisão criada por Michael Sloan, Richard Lindheim
Elenco: Denzel Washington, Dakota Fanning, Eugenio Mastrandrea, David Denman, Gaia Scodellaro, Remo Girone, Andrea Scarduzio
Gênero: Ação, Policial, Suspense
Duração: 109 min
Crítica | Ruim pra cachorro - Uma comédia sem limites
Quem pensa que Ruim pra cachorro (Josh Greenbaum) é um filme inocente e voltado exclusivamente para o público infantojuvenil está enganado. Nos primeiros minutos, o longa parece apresentar uma história adorável e fofa, com o cachorro protagonista Reggie, um Border Terrier que acredita estar divertindo seu dono e que esse o ama, porém, este o ignora e faz de tudo para se livrar dele.
No entanto, ocorre uma reviravolta rápida logo no primeiro ato, revelando o verdadeiro rumo que a trama seguirá, quando Reggie é abandonado e se encontra pela primeira vez com Bug. É nesse momento que começam os inúmeros diálogos pesados e provocativos entre os cães. A maioria dessas conversas são desnecessárias e completamente ridículas.
O roteiro de Dan Perrault ultrapassa todos os limites possíveis do humor escrachado com a finalidade de transformar a obra em um produto politicamente incorreto. Filmes como Deadpool e até mesmo Ted (que, por sinal, é da mesma produtora de Ruim pra Cachorro) são conhecidos pelo tipo de humor pesado que adotaram, mas com a diferença de que não foram tão apelativos e até conseguem ser engraçados em alguns momentos.
Com Strays (nome original), ocorre o contrário. Não é engraçado e é apelativo em vários momentos, tanto em suas piadas e diálogos quanto nas situações apresentadas, que inserem os cachorrinhos em situações constrangedoras e escatológicas. Fica bem claro que o diretor ultrapassou os limites com a intenção de chocar o público, relegando o humor e até mesmo a própria história para um segundo plano.
Há tantas frases com conotações sexuais explícitas que o diretor consegue provocar uma reação oposta àquela que se imaginava ter no público. Em vez de fazer os espectadores rirem e refletirem sobre a mensagem da trama, na realidade, ocorre o efeito contrário: gera repulsa pelos eventos retratados na tela e um alívio quando finalmente termina a torturante sessão de vulgaridades.
A ideia de criar uma produção politicamente incorreta com cachorros é louvável, especialmente considerando que a maioria dos últimos filmes lançados com cães como protagonistas tem sido comédias dramáticas que mais fazem o espectador chorar do que sorrir, como foi o caso de Juntos Para Sempre (2019) e O Chamado da Floresta (2020). No entanto, essa ideia desanda quando o filme passa a enfocar mais a sexualidade e o uso excessivo de xingamentos, em detrimento do próprio roteiro.
A dublagem brasileira se destaca como sendo uma das melhores do mundo e em Strays mostra o porquê disso, sendo um diferencial ao adaptar algumas piadas e por dar maior entonação em determinados diálogos. Tanto a versão nacional quanto a original investiram em personalidades consagradas do mundo pop para dar voz aos personagens. Enquanto na versão original Reggie e Bug são dublados por Will Ferrell e Jamie Foxx, na brasileira, também contamos com a dublagem de nomes conhecidos. Reggie é dublado por Wendel Bezerra e Bug pelo humorista Fábio Rabin.
Ruim Pra Cachorro é indiscutivelmente de mau gosto. No entanto, tem um público cativo e deve agradar àqueles que apreciam produções politicamente incorretas e cheias de palavrões. Seu humor se assemelha ao de uma animação que, à primeira vista, parecia inocente quando foi lançada - a infame Festa da Salsicha (2016). A diferença é que a versão animada é consideravelmente mais divertida de assistir do que esta obra com personagens caninos.
Ruim pra Cachorro (Strays 3, EUA – 2023)
Direção: Josh Greenbaum
Roteiro: Dan Perrault
Elenco (vozes): Will Ferrell, Jamie Foxx, Isla Fisher, Randall Park, Will Forte, Brett Gelman, Rob Riggle, Josh Gad, Sofia Vergara
Gênero: aventura, comédia
Duração: 93 min
Crítica | Nosso Sonho - Filme acerta ao abordar a vida de Claudinho e Buchecha
Nos anos 1990 e início dos anos 2000 uma dupla de funk brasileira fazia muito sucesso no país. Composta por Cláudio Rodrigues e Cláudio Buarque, conhecidos como Claudinho e Buchecha, e que criaram grandes clássicos no cenário musical. Canções como Quero te encontrar, Só Love e Nosso Sonho marcaram época, essa última por sinal dá nome à cinebiografia que conta a trajetória de sucesso dos músicos.
Claudinho e Buchecha marcaram época sendo eles mesmos e criando músicas atemporais e com letras insinuantes. Antes do Funk ostentação tomar conta no mercado nacional de música, muito antes disso, Claudinho e Buchecha se destacavam como uma dupla de funk de sucesso com letras que não eram apelativas e que acabou por se separar de uma maneira trágica, com a morte de Claudinho no ano de 2002.
A cinebiografia Nosso Sonho, dirigida por Eduardo Albergaria, é um bom entretenimento e agrada ao apresentar, mesmo que de forma genérica, a jornada de sucesso da dupla. O filme segue a estrutura da maioria das produções do gênero, principalmente aquelas concebidas em território nacional. Nele são apresentados os dois protagonistas, a amizade entre Claudinho (Lucas Penteado) e Buchecha (Juan Paiva) na infância, o reencontro na adolescência e a trajetória até se tornarem um sucesso no país.
Devido a essa estrutura narrativa, o longa expõe algumas deficiências que se tornam evidentes no segundo ato. Há uma passagem rápida pela infância de Claudinho e Buchecha, uma fase bastante interessante da vida dos dois, para depois se concentrar rapidamente na adolescência e na fase adulta. Há muita história, e a tentativa de abordar toda a vida dos cantores, mesmo que de forma resumida, mostrou-se ineficaz. O diretor precisava fazer uma escolha, e essa escolha resultou em uma obra que se tornou uma versão genérica sobre a dupla.
O roteiro não é necessariamente ruim, mas apresenta problemas de construção e planejamento. É claro que mostrar o caminho de sucesso dos músicos era importante para o público, porém, deveríamos questionar se era realmente necessário detalhar toda a vida deles, incluindo informações irrelevantes. O que torna a trama cativante é, na verdade, a relação entre Buchecha e seu pai, assim como a conexão entre Claudinho e Buchecha. No entanto, esta última relação fica em segundo plano após o segundo ato, quando a dinâmica entre Buchecha e seu pai se torna mais proeminente na narrativa. A relação entre pai e filho é o principal elemento dramático da obra, sendo explorada de forma intensa e tornando esse conflito o fator central da narrativa.
Por se tratar de um filme e pela necessidade de ser “conciso” ao abordar os temas relacionados à vida da dupla, é por esse motivo que o final deixa muito a desejar. No ato final, que envolve a morte de Claudinho, a cena é apresentada de maneira apressada. Não há um esforço em mostrar o ponto de vista de Claudinho momentos antes do acidente; tudo é apresentado do ponto de vista de Buchecha. Além disso, a cena do acidente carece de emoção. Pode gerar comoção devido ao acontecimento, mas, em si, não evoca muita emoção.
Uma cinebiografia sobre uma renomada dupla de cantores precisa contar com intérpretes competentes para as cenas ao vivo, que não apenas dominem a entonação musical, mas também tenham presença de palco capaz de cativar o público. A escolha dos atores Lucas Penteado e Juan Paiva foi acertada no que diz respeito ao aspecto dramático, pois ambos demonstram uma conexão em cena e conseguem atrair a atenção dos espectadores para as situações em que estão envolvidos. Por outro lado, as partes mais críticas, que envolvem as performances musicais, não foram tão bem executadas, com algumas desafinações que destoaram das canções originais.
Nosso Sonho é apenas mais uma das tantas cinebiografias sobre a vida de artistas que têm tomado conta do mercado audiovisual nacional. É, de fato, um nicho a ser explorado, porém, surge a questão de se a quantidade de produções desse gênero não está se tornando saturada, sem mencionar a qualidade dessas obras. O filme é bom e se destaca da média, sendo capaz de cativar a atenção de muitos fãs e reavivar as lembranças de uma época que passou e deixou saudades.
Nosso Sonho (idem, Brasil – 2023)
Direção: Eduardo Albergaria
Roteiro: Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Mauricio Lissovsky, Fernando Velasco
Elenco: Juan Paiva, Lucas Penteado, Isabela Garcia, Marcio Vito, Gustavo Coelho
Gênero: Biografia, Comédia, Drama
Duração: 117 min
Crítica | A Última Rainha - Uma forte reflexão da realidade
No período de 1517, a Argélia estava sob cerco espanhol e sob domínio do Império Otomano. A luta contra os espanhóis é um aspecto importante na história da Argélia, assim como sucessivos embates que ocorreram ao longo do tempo. No entanto, esse não é o foco principal de A Última Rainha (Adila Bendimerad, Damien Ounouri), uma produção que aborda uma situação específica em Argel (atualmente a Argélia) durante esse período em particular.
O longa conta a história de Zaphira, esposa do último rei de Argel, Salim Toumi, conhecida por confrontar o pirata Barbarossa. É verdade que a ideia era contar esse momento da Argélia, no qual a Princesa Zaphira é apresentada como uma mulher destemida, enquanto Aruj (Barbarossa) é retratado quase como se fosse um tirano com atitudes megalomaníacas.
Ao longo da história, há certos eventos que envolvem a vida de Zaphira e são muito debatidos até hoje, muitas vezes rejeitados por historiadores, que acreditam que a narrativa sobre a Princesa Zaphira foi aumentada. Sendo um fato verídico ou não, o filme aborda com bastante fidelidade o que é de conhecimento público sobre essa figura histórica, evitando assim um dos maiores problemas quando se trata de dramas de época, que é a incongruência com os fatos históricos.
O que impressiona em A Última Rainha, além do belo figurino e dos cenários deslumbrantes, é a mensagem que é transmitida. Zaphira é representada como uma mulher de opinião e determinada quanto aos rumos que deseja tomar. É de conhecimento público que naquela época as mulheres eram tratadas como cidadãs de segunda classe. Porém, mesmo assim é importante que tal tema seja retratado de maneira mais aprofundada, e isso é algo que o filme não contextualiza de forma precisa, mostrando de maneira superficial, com algumas situações apresentadas, como era esse período.
Atualmente, assuntos como os direitos das mulheres e outros temas relacionados são amplamente debatidos pela sociedade. Por isso, é um grande acerto da dupla de cineastas Adila Bendimerad e Damien Ounouri trazer essa discussão para os dias atuais, utilizando uma figura histórica e inserindo-a em uma época em que as mulheres eram repreendidas, trazendo essa questão para os dias atuais.
No entanto, a questão histórica fica um tanto confusa em algumas situações, principalmente para aqueles que não estão familiarizados com a história da Argélia ou com os acontecimentos que cercavam aquele período. Os próprios espanhóis servem como ponto de partida para o arco narrativo de Aruj, mas depois desaparecem da trama. Quanto ao Império Otomano, este sequer é mencionado, o que é incompreensível, dado que os Otomanos dominavam uma grande parte do território africano naquela época.
Como qualquer obra histórica, é importante ressaltar que os diretores fazem uma tentativa de trazer à tona uma figura desconhecida do grande público, colocando-a em evidência e apresentando as situações pelas quais passou durante o golpe concedido por Aruj. O final é marcante e poderoso, com doses dramáticas e com uma mensagem impactante sendo transmitida.
A Última Rainha é um drama de época que não apenas oferece entretenimento, mas proporciona um aprendizado sobre como o mundo mudou (embora não muito) desde aquele período até os dias atuais e como a história tende a se repetir ao longo dos anos.
A Última Rainha (La dernière reine, Argélia, França – 2022)
Direção: Adila Bendimerad, Damien Ounouri
Roteiro: Adila Bendimerad, Damien Ounouri
Elenco: Adila Bendimerad, Dali Benssalah, Mohamed Tahar Zaoui, Imen Nouel
Gênero: Aventura, Drama, História
Duração: 110 min
Crítica | A Médium - Um surpreendente terror tailandês sobre possessão
O título já é um aviso sobre do que o longa abordará e de qual caminho seguirá. A Médium (Banjong Pisanthanakun), filme tailandês que assustou e angustiou a muitos espectadores, aborda um tema que já foi muito explorado no cenário audiovisual, e mesmo contando com clichês em seu roteiro, como o da garota possuída por demônios e atividades sobrenaturais que ocorrem durante a noite. Mesmo com esses elementos conhecidos do gênero, ainda assim funciona como forma de entretenimento.
A trama acompanha a médium Nim (Sawanee Utoomma) que vive na região de Isan, na Tailândia, e participa de um documentário a respeito de possessões e rituais típicos locais. Enquanto realizava entrevistas para o documentário, a sobrinha de Nim, Mink (Narilya Gulmongkolpech), passa a apresentar comportamentos estranhos, e a médium suspeita de que ela esteja possuída por algum demônio.
O nome é difícil de pronunciar; no entanto, Banjong Pisanthanakun é um diretor com alguns clássicos do terror em sua filmografia. Ele foi o responsável por dirigir Espíritos: A Morte Está ao seu Lado (2004), assim como sua sequência, o que mostrou ao público internacional o potencial dele e do cinema tailandês em criar grandes obras de terror. Em A Médium, Banjong mantém sua marca principal: o horror sobrenatural com um toque de drama. O longa apresenta cenas que variam entre assustadoras e tensas, devido à forma de se contar a história em primeira pessoa.
O roteiro deixa a desejar pelo final, que, se não é decepcionante, é, no mínimo, frustrante. Por outro lado, sua mensagem é transmitida e foge do lugar-comum da maioria das produções sobre exorcismo. O roteiro vai por outro caminho, preferindo descambar em pura carnificina devido a sucessivos acontecimentos que levam até esse espetáculo mórbido e cruel.
Pensado para ser um found footage e com filmado a intenção de enganar como se fosse um filme nesse estilo, a verdade é que ele falha bastante nessa tarefa. Por se tratar de um found footage, é natural que os cinegrafistas tenham uma participação maior na narrativa, já que estão segurando as câmeras que contam a história. Não há aquela sensação de câmeras tremendo que geram maior imersão, o que faria com que o espectador sentisse mais medo ainda. Há alguns momentos em que isso acontece, mas são raros, e quando ocorrem, a fotografia e os enquadramentos não são utilizados com profundidade.
A Médium é apenas mais uma entre muitas produções asiáticas de qualidade que vem ganhando espaço entre o público nas últimas duas décadas. Não apenas filmes coreanos ou japoneses, mas também indianos, iranianos e originários da Tailândia, país que já conta com clássicos como Ong-Bak - Guerreiro Sagrado (2003). Os fãs agradecem por mais uma obra de qualidade e que venha mais pela frente.
A Médium (Rang zong, Tailândia – 2021)
Direção: Banjong Pisanthanakun
Roteiro: Chantavit Dhanasevi, Na Hong-jin, Banjong Pisanthanakun, Siwawut Sewatanon
Elenco: Narilya Gulmongkolpech, Sawanee Utoomma, Sirani Yankittikan, Yasaka Chaisorn
Gênero: Terror
Duração: 130 min
Crítica | Fale Comigo - É um dos grandes filmes de terror do ano
Havia muito entusiasmo por parte do público para assistir à produção Fale Comigo, da produtora queridinha dos fãs de filmes de terror, a A24. Tal euforia faz sentido, já que a A24 se notabilizou nos últimos anos por criar obras excelentes e com tramas assustadoras e inteligentes. Em Fale Comigo, dos diretores iniciantes Danny Philippou e Michael Philippou, a produtora acerta novamente ao conceber uma história intrigante e que deve se transformar em um verdadeiro clássico em alguns anos.
A história se desenrola em Adelaide, Austrália, onde um grupo de adolescentes compartilha uma fascinação pelo sobrenatural. Eles se reúnem para jogar um game que permite a eles que se comuniquem com o mundo dos mortos. É necessário sentar em frente a uma mão bizarra e dar um aperto de mão para que o contato com o desconhecido ocorra.
Mia (interpretada por Sophie Wilde), é uma adolescente atormentada por tragédias pessoais. Após a morte de sua mãe por suicídio, Mia decide deixar sua residência e morar por um tempo na casa de sua melhor amiga, Jade (Alexandra Jensen).
Falando com os Mortos
O roteiro não foge ao clichê, uma vez que não é o primeiro filme a tratar de adolescentes sendo perseguidos por um perigo sobrenatural. Produções como Verdade ou Desafio (2018) e Corrente do Mal (2014) são exemplos mais recentes. A narrativa de Talk to me (título original) explora diversos temas, incluindo o trauma, o luto, suicídio e o medo do desconhecido.
Mesmo seguindo o mesmo caminho de outras produções do gênero, o longa consegue trabalhar de maneira eficaz com a conhecida fórmula dos filmes de terror. Talk to me tenta ir além da maldição, ao dialogar sobre as perdas que sofremos em nossas vidas, algo que é feito de maneira interessante e sem muita enrolação. A protagonista, Mia, acaba desenvolvendo um vício em entrar em contato com os mortos, pois busca uma conexão com sua mãe morta. Ou seja, mesmo dois anos após a morte de sua mãe, ela ainda não conseguiu superar o luto e continua a enfrentar esse trauma pessoal.
Há um grande furo que pode passar despercebido por parte do público, que está relacionado à mão amaldiçoada, não sabemos de onde ela veio, porque possui todo aquele poder, quem são os espíritos que aparecem ao ser apertada e porque os espíritos estão lá. São muitas perguntas que não são respondidas, deixando no ar o principal: o que seria aquela maldição que envolve a mão. O final reserva uma grande reviravolta, surpreendendo e intrigando, mas ainda assim não é o suficiente para tirar da cabeça os questionamentos feitos a respeito do artefato.
Terror Australiano de qualidade
Se há algo que provoca temor no imaginário coletivo, é o conceito de entrar em contato com os mortos. Essa noção foi amplamente explorada em diversas produções audiovisuais, sendo O Sexto Sentido (1999) uma das mais famosas. O ato de falar com os mortos ou estabelecer contato através de um tabuleiro ouija ou de um artefato amaldiçoado é um elemento clássico do gênero. Esse elemento frequentemente serve para desencadear a narrativa, servindo de ponto de partida para a criação de toda a atmosfera de terror.
Por falar nisso, Talk to me não é um longa tão assustador quanto todos imaginavam, não se assemelha a Invocação do Mal (2013) e muito menos à A Morte do Demônio: A Ascensão (2023). Há momentos impactantes e que chocam, mas não isso não é o foco do longa, o é bastante frustrante, pois quando havia oportunidade para ir além, o filme se mantém na mesma repetição de eventos que já sabemos como vão se desenrolar.
Fale Comigo é uma aposta que deu certo da A24. É original por trazer personagens cativantes e surpreende por ter uma história que foge do lugar-comum, é sim, um dos grandes filmes do ano dentro do gênero e que deve receber uma merecida sequência em breve.
Fale Comigo (Talk to me, AUS, 2022)
Direção: Danny Philippou, Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou, Bill Hinzman, Daley Pearson
Elenco: Sophie Wilde, Miranda Otto, Alexandra Jensen, Zoe Terakes, Jude Turner, Joe Bird
Gênero: Terror, Suspense
Duração: 95 min
10 filmes essenciais sobre OVNIs
A raça humana sempre teve curiosidade sobre o que habita o nosso universo, e a pergunta se há vida inteligente fora da Terra é frequentemente feita, com alguns acreditando que não estamos sozinhos, enquanto outros acreditam que somos os únicos na vastidão do universo.
O cinema acompanha essas ideias, criando teorias e tentando imaginar como seriam os OVNIs e como seria o contato entre humanos e alienígenas. Existem ótimas produções sobre o assunto que devem ser vistas e revistas pelo espectador.
10. Contatos de 4º Grau (2009)
É verdade que Contatos de 4º Grau é uma obra bem ruinzinha. Porém, pensando no tema OVNIs, é uma produção que até assusta em algumas situações ao simular um documentário, fazendo parecer com que a sua trama tenha sido não apenas inspirada em fatos reais, como fazer com que as cenas de abdução pareçam verdadeiras, sendo que não há nada de real ali.
A ideia do longa é a de trabalhar o medo psicológico de uma abdução em uma cidade do Alasca, apresentando fenômenos inexplicáveis, fazer o espectador questionar o que é ou não real, além de tentar causar medo.
9. Fogo no Céu (1993)
Não se sabe se a história de Fogo no Céu é verdadeira ou não, mesmo que sua trama tenha sido inspirada em fatos reais. O filme dirigido por Robert Lieberman, se baseia na vida de Travis Walton, um homem que afirmou ter sido abduzido por alienígenas, em 1975.
A história que Fogo no Céu reproduz é considerado o caso mais famoso de abdução já registrado até hoje, e o longa foi concebido com a proposta de fazer uma espécie de horror espacial, mostrando de forma aterrorizante como ocorreu a abdução de Walton. A atmosfera de terror causada pela narrativa sobre OVNIs é o principal fator para se assistir à produção.
8. Arquivo X: O Filme (1998)
Quando o assunto é OVNI, não podemos deixar de lado a clássica série Arquivo X. A famosa franquia foi levada para os cinemas em 1998, após o sucesso retumbante na TV. Na época, o filme não fez muito sucesso, mas hoje é reconhecido como um divertido entretenimento envolvendo OVNIs.
A ideia do longa é o de trabalhar com a paranoia e mistério, elementos típicos da série, que foram levados para a história do longa. Os fãs amam teorias da conspiração, ainda mais quando no meio delas há o envolvimento do governo, de alienígenas e de um vírus letal. Sem dúvida, uma boa história de terror e de Sci-fi.
7. Sinais (2002)
Night Shyamalan consagrou-se como um dos grandes cineastas atuais, apesar de ter obras de gosto duvidoso em seu currículo. Em Sinais, Shyamalan trabalha um ambiente de suspense e paranoia envolvendo alienígenas. Com o tempo o longa tornou-se um clássico do gênero.
O roteiro aborda de forma inteligente e eficiente o medo do desconhecido e foge dos clichês conhecidos do gênero, como o ser de outro planeta que mata toda a humanidade. A ideia é mais focar no medo e menos em sustos baratos, como a maioria das produções faz
6. Guerra dos Mundos (2005)
A versão de Guerra dos Mundos protagonizada por Tom Cruise foi concebida para trazer a obra de H.G. Wells para os dias atuais, sendo que essa história já havia sido levada para os cinemas anteriormente em 1953. Na trama do remake, testemunhamos uma invasão alienígena e a busca de um pai para reencontrar sua filha em meio à destruição do planeta Terra.
Sabe-se que a obra de H.G. Wells é um clássico atemporal e um marco da ficção-científica. Os OVNIs de tamanho colossal e a destruição que causam por onde passam, com aliens pilotando armas de guerra com tentáculos, transformam a narrativa em um terror que reflete o quão vulnerável é a raça humana diante de eventos desconhecidos.
5. A Chegada (2016)
Denis Villeneuve criou uma das obras mais inteligentes envolvendo alienígenas. Com o excelente A Chegada, o diretor trouxe à tona uma perspectiva diferente daquela à qual o público estava acostumado. Enquanto na maioria dos filmes sobre OVNIs o problema principal eram os alienígenas que invadiam a Terra e causavam destruição, no filme de Villeneuve, o terror está relacionado ao medo que os extraterrestres têm dos humanos.
Não é um longa de fácil assimilação; no entanto, carrega uma mensagem inteligente, é intrigante e gera debates. Por si só, já seriam motivos para indicá-lo, mas o filme vai além da simples destruição do mundo ou do caos gerado por uma invasão alienígena, abordando temas como comunicação e o medo do desconhecido. Sem dúvida, é um dos grandes filmes de ficção científica dos últimos anos.
4. Não! Não Olhe! (2022)
Escrito e dirigido por Jordan Peele, Nope, é um filme de terror que surpreende pela sua qualidade narrativa e pela atmosfera de horror concebida ao longo da trama. Os protagonistas Daniel Kaluuya e Keke Palmer interpretam dois irmãos que começam a procurar evidências de que há um objeto voador não identificado na região em que moram, e acabam se deparando com um OVNI assustador.
A proposta da produção é de trabalhar o conceito da curiosidade que cerca os OVNIs e também o quão misteriosos esses seres são, além. Além disso, obviamente, discute a questão de se existe ou não vida fora da Terra. Tudo isso é feito com uma belíssima direção de Jordan Peele.
3. Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977)
Um clássico dos anos 70 e uma presença frequente em listas de melhores filmes sobre OVNIs, Contatos Imediatos do Terceiro Grau é uma obra que aborda um tema que naquela época e ainda hoje é bastante disseminado em produções audiovisuais: a da invasão à Terra por seres de outro planeta.
Este foi o primeiro longa de Steven Spielberg após o sucesso de Tubarão (1975). Pode-se dizer que a atmosfera da história não é nada assustadora, também não é uma obra feita para causar sustos. Tampouco é possível encontrar efeitos especiais de última geração nele. No entanto, vale a pena assisti-lo pela discussão sobre a existência de vida fora da Terra e, claro, pela qualidade da direção de Spielberg.
2. O Dia em que a Terra Parou (1951)
Em 2008, foi lançado um remake de O Dia em que a Terra Parou, contando com Scott Derrickson na direção e Keanu Reeves como protagonista, mas o filme foi um fracasso retumbante de crítica. A versão original, lançada em 1951 e dirigida por Robert Wise, pode ser considerada brega e ultrapassada para os dias atuais, em que os efeitos digitais reinam soberanos.
A verdade é que o filme da década de 50 mantém seu trono entre as ficções científicas mais importantes da história do cinema. Já naquela época, eram debatidos temas como a agressividade humana e a corrida armamentista, em um momento em que ocorriam as tensões da Guerra Fria. A ficção refletia muito da realidade do período, e o OVNI está ali mais para transmitir uma mensagem impactante do que para causar destruição.
1. O Enigma de Outro Mundo (1982)
Obra-prima de John Carpenter, "O Enigma de Outro Mundo" é um terror capaz de assustar qualquer fã do gênero. A trama se passa em uma região isolada da Antártica e apresenta um grupo de pesquisadores que faz uma descoberta inusitada: um OVNI enterrado no gelo. O que eles não sabem é que ali reside um alienígena com habilidades metamorfas e de ambições sombrias.
The Thing (nome original) é outra obra que trabalha a ideia de paranoia, mas aqui do ponto de vista dos integrantes da equipe que tentam descobrir qual membro da equipe é que o alienígena se transformou, levando a tripulação ao desespero e causando um sentimento de claustrofobia no espectador.
Crítica | Besouro Azul - Filme da DC com cara de Marvel
Besouro Azul não figura entre os mais conhecidos e idolatrados heróis da DC, mesmo com o personagem existindo desde a década de 30 (versão da editora Fox) e só surgindo com o formato atual nas Hqs, apenas na década de 80, com o cientista Ted Kord sendo o herói e tendo as primeiras edições publicadas após Crise Nas Infinitas: Terras. É pensando em expandir o seu universo cinematográfico que a DC leva Besouro Azul aos cinemas.
Com direção de Angel Manuel Soto e roteiro de Gareth Dunnet Alcocer, o longa que tem no elenco Xolo Maridueña (Cobra Kai) e a tão aguardada estreia da brasileira Bruna Marquezine em Hollywood, narra a história do jovem Jaime Reyes. Ele é possuído por uma relíquia alienígena, que se prendendo ao seu corpo e concedendo poderes inimagináveis a Jaime. A partir desse ponto, já se pode imaginar o que irá acontecer, pois o herói terá que lutar contra os vilões e enfrentar diversos desafios.
Apenas mais um filme de herói
Há uma discussão recente no mercado audiovisual, que na verdade não é tão recente assim, mas vem ganhando mais força nos últimos anos: a de que que o público está se cansando de filmes de super-heróis. O debate é valido, porém talvez não seja o público que esteja cansado do gênero, mas sim dos filmes que não trazem nada de novo ou de relevante para o cenário. Nesse contexto que se encontra Besouro Azul.
A obra da DC não é ruim, mas é exageradamente boba, com um humor desproporcional ao que a história pede, lembrando até mesmo de produções ruins da Marvel que exageraram no tom cômico, como Thor: Amor e Trovão (Taika Waititi). Algumas piadas até funcionam e devem tirar risos dos espectadores, enquanto outras se mostram constrangedoras. Frases de efeito sendo jogadas apenas para gerar humor, mas que na realidade, são completamente sem sentido.
Em sua estrutura narrativa, o longa tem um roteiro praticamente idêntico ao de Shazam! (2019), com a diferença de que em Besouro Azul, a família de Jaime Reyes o auxilia na batalha utilizando itens mágicos, e não são transformados em campeões, como ocorre em Shazam! Isso apenas evidencia a fragilidade do roteiro, que, ao contrário de The Flash, em que houve uma verdadeira jornada ao multiverso da DC, não apresenta nada de novo que já não tenhamos visto em outras produções de heróis. Trata-se de uma obra que simplesmente repete a fórmula de outras produções sem acrescentar novos elementos ao formato.
Na verdade, Besouro Azul lembra mais um filme da Marvel que uma obra da DC, com um humor bobinho e cenas de ação com muita destruição. Diverge do estilo sombrio de Zack Snyder e até do tom sério empregado em Adão Negro. Esse humor inserido em Blue Beetle é algo que os produtores da DC já estavam trabalhando nas últimas produções e que estava sendo implementado antes de James Gunn e Peter Safran assumirem como co-CEOs da DC Studios.
Bruna Marquezine brilhando em Hollywood
Quando Bruna Marquezine foi anunciada no elenco de Blue Beetle, logo gerou grandes expectativas entre os fãs e, especialmente, no público brasileiro. Isso não se deve apenas ao fato de ter uma atriz brasileira em Hollywood, mas também porque ela assume o papel de protagonista em uma produção de super-heróis, gênero que dá confere muita visibilidade ao artista.
Bruna Marquezine é a protagonista do filme, ao lado de Xolo Maridueña, que se destaca no papel de Jaime Reyes. Os elogios à atriz os elogios vão desde sua atuação impecável como Jenny Kord até a maneira como a personagem é construída. A interpretação da atriz não segue o padrão caricato que os estúdios frequentemente utilizam ao representar personagens latinos.
Esse é o longa que apresentou o elenco mais diversificado com qual a DC já trabalhou, e isso é uma grande conquista. Há tempos o público demandava por mais diversidade, e os produtores finalmente conseguiram aplicá-la. A maior parte do elenco é composta por nomes latinos ou de descendência latina - Mariduenã é americano com ascendência mexicana. Até mesmo os diálogos dos personagens indicam o tom que o roteiro deve adotar, com frases sobre o imperialismo norte-americano e sobre como os mais pobres se tornam "invisíveis" para os mais ricos.
Besouro Azul entrega aquilo que os fãs esperavam: boas cenas de ação, entretenimento, um vilão estiloso com desejos malignos e bons efeitos visuais. No entanto, peca por não trazer nada de novo a um formato que já se encontra saturado. Não há mais surpresas sobre os eventos da trama, tudo é bastante previsível. Blue Beetle (nome original) não vai muito além de mensagens jogadas aqui e ali. Como entretenimento cumpre sua função e deve trazer bastante alegria ao público e aos fãs, mas isso não quer dizer que é uma obra-prima do gênero, pelo contrário, está muito longe disso
Besouro Azul (Blue Beetle, EUA, 2023)
Direção: Angel Manuel Soto
Roteiro: Gareth Dunnet-Alcocer
Elenco: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Harvey Guillén, Raoul Max Trujillo, Gabriella Ortiz, George Lopez, Belissa Escobedo
Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica
Duração: 127 min
Crítica | Além do Tempo – Um drama que não entrega seu potencial
Johanna (Sallie Harmsen) e Lucas (Reinout Scholten) estão em um relacionamento concreto e feliz. Nos anos 80, os dois velejam juntos pelo mar e presenciam um acidente envolvendo o filho único do casal e que irá mudar a vida deles para sempre. Tal fatalidade acaba levando a separação dos algum tempo após o acontecimento.
Essa é a premissa de Além do Tempo, filme dirigido por Theu Boermans e com roteiro de Marieke van der Pol, que se desenvolve em duas linhas temporais distintas, sendo que a principal delas é apresentada no passado, com o casal tentando viver normalmente depois do acidente fatal envolvendo o filho, e em outra linha do tempo é mostrado o reencontro do casal após 35 anos, que seria o presente, com o ex-casal colocando a conversa em dia e revivendo o trauma particular pelo qual passaram.
O argumento proposto pelo roteiro é bastante raso. O próprio luto pelo qual a família passa é retratado de forma superficial, não indo além das sucessivas discussões entre os conjugues. Alguns desses desentendimentos fazem sentido para a trama, enquanto que outras cenas de embates não passam de pura enrolação, gerados para dar a ideia de conflito no relacionamento.
O processo de superação do luto é algo que toma grande parte da narrativa. Na realidade, o filme todo é sobre o processo de superação da morte do garoto e a respeito do drama pessoal pelo qual o casal passou, sendo que Lucas tenta esquecer o acidente através da arte, enquanto que Johanna parece ter dado seguimento à sua vida sem olhar para trás.
Um ponto positivo a ser mencionado não é a mensagem do longa em si, e sim o jeito como as lembranças pessoais são tratadas pelo roteiro, pois um simples vídeo antigo ou foto do filho que se foi já serve como gatilho para trazer de volta uma memória dele. A reflexão sobre a perda de um ente querido é algo bem aproveitado por Theu Boermans, mas que não causa a comoção esperada ao espectador.
Chama bastante a atenção o fato de que o trauma particular do casal, o sentimento de luto, e demais cenas que deveriam ser sensíveis ao público, não passam emoção alguma. Os protagonistas até que se mostram esforçados e não tem culpa dessa nenhuma pela falta de sentimento em cenas chaves. A culpa é sim do roteiro e da direção, que não exprimem a devida sensibilidade da história.
Além do Tempo tinha tudo para ser um drama instigante e sentimental. Contava com todos os elementos para que fosse desta forma. Porém, com uma trama sem conteúdo, um elenco que não convence com suas interpretações e uma direção que não leva a trama a lugar algum, a produção frustra com um final bastante genérico.
Além do Tempo (Zee van tijd, Holanda, 2022)
Direção: Theu Boermans
Roteiro: Marieke van der Pol
Elenco: Sallie Harmsen, Reinout Scholten van Aschat, Elsie de Brauw, Gijs Scholten van Aschat
Gênero: Drama
Duração: 116 min
Crítica | O Convento - Um terror vazio e sem essência
Filmes com freiras tendo um papel crucial para o roteiro, sendo vilãs ou não, estão na moda no cinema, principalmente no gênero do terror, e essa onda aparentemente não parece que terá um fim tão já. Em O Convento, longa dirigido por Christopher Smith (Alex Rider), há um erro primário do cineasta em não conseguir criar uma história decente e que possa fazer algum sentido para o espectador.
A trama gira em torno de Grace (Jena Malone), que vai até um Convento na Escócia para investigar a misteriosa morte de seu irmão. Chegando lá, percebe que a igreja local esconde vários mistérios que podem ajudar a solucionar esse terrível crime.
Produção escrita pela dupla Christopher Smith e Laurie Cook, é a clássica história de terror que tenta enganar o público de qualquer maneira, e no final das contas, quem se enganou mesmo foi o próprio diretor na hora de finalizar o produto audiovisual. A montagem de O Convento é terrível em todos os aspectos, sendo que a montagem foi essencial para que desse um rumo diferente para a narrativa.
O roteiro, ao explicar o mistério por trás de Grace e de seu irmão, se perde completamente. É quase que evidente que o diretor não tinha a mínima ideia do que queria fazer com a protagonista. Não dá para entender de onde vem a força demoníaca de Grace, muito menos dá para compreender sua mudança brusca de comportamento. Até o fim do primeiro ato parece ser um longa investigativo envolvendo a Igreja, depois muda para uma espécie de drama sem sentido, e termina sendo uma mistura bizarra de suspense com um terror barato.
A construção dos personagens é falha. Não sentimos empatia nem por Grace nem por qualquer outro personagem do longa, falta carisma ao elenco. O público terá grandes dificuldades em compreender o arco dramático de cada intérprete, principalmente o de Grace, sendo que a maioria das cenas são jogadas e sem explicação alguma.
Os flashbacks inseridos na história não tem lógica alguma para a narrativa, pelo menos não do jeito que esses flashbacks foram inseridos na trama, ficando algo completamente confuso. Ao apresentar os acontecimentos envolvendo um homem que nem se quer era o pai de Grace, houve uma tentativa em enganar o espectador, sendo que no final pareceu algo bem idiota e sem sentido. O desfecho da narrativa também faz sentido, sendo que nem dá para entender se era uma obra sobre vidas passadas, demônios ou sobre o nascimento de alguma entidade.
Não necessariamente uma obra audiovisual precisa ter uma mensagem clara e objetiva, mas a falta desta em O Convento é apenas mais um dos vários erros do roteiro. No primeiro ato, parecia que o longa faria uma crítica à religião, algo que não se concretizou com o passar da história. O mesmo pode-se dizer da luta entre o bem o mal, um elemento clássico em produções do gênero e que praticamente inexiste no roteiro.
O Convento perde uma grande oportunidade de se fazer um filme assustador e de marcar seu nome entre os fãs do estilo. Os vários furos de roteiro, direção genérica e os personagens rasos, acabam fazendo com que o público perca a atenção da obra ainda em seu segundo ato. Filmes de terror com freiras continuarão sendo produzidos, até porque há uma demanda alta para esse tipo de conteúdo, sendo que alguns serão de boa qualidade, enquanto outros, como é o caso de O Convento, serão pura perda de tempo.
O Convento (Consecration, Brasil, 2023)
Direção: Christopher Smith
Roteiro: Christopher Smith, Laurie Cook
Elenco: Jena Malone, Danny Huston, Janet Suzman, Ian Pirie, Thoren Ferguson
Gênero: Terror, Suspense
Duração: 91 min