Escute o melhor da trilha musical de Interestelar

Christopher Nolan está de volta com o soberbo filme Dunkirk. Mas não somente ele está de volta: o mito Hans Zimmer retorna com outra peça musical fascinante. 

Porém, no fim de 2014, Nolan e Zimmer conseguiram trazer uma das melhores trilhas musicais já feitas para um filme na História. A trilha de Interestelar é nada menos que mesmerizante e um prazer imenso de escutar de tão bela, mesmo em seus tons mais alienígenas e assustadores. 

Por isso, nessa sexta-feira, antes de embarcar na nova aventura histórica de Nolan, eu pergunto a você: já separou uns minutos do seu dia para escutar essa maravilha mais uma vez? Não?! Então não custa nada deixar essa guia aberta enquanto trabalha ou procrastina na internet para se envolver novamente na magia musical de Hans Zimmer. Um fã condensou os melhores segmentos dos 96 minutos de música em um medley com menos de meia hora. 

Escute, se emocione e se inspire para grandes feitos ouvindo uma das obras-primas de toda a carreira de Hans Zimmer.

https://www.youtube.com/watch?v=iBfk37Fa3H0


O que é o Tesseract? | O final de Interestelar explicado

SPOILERS!

Isso será complicado, já aviso.

Interestelar é um filme que se baseia fortemente nos princípios atuais das ciências da Física moderna, além de mostrar teorias que ainda não foram comprovadas em experimentos científicos. Apenas suposições que vão nortear todo o futuro da Ciência nas próximas gerações.

Se discutiu bastante durante o frisson da estreia do novo longa de Christopher Nolan se Cooper tinha criado um paradoxo ao traçar seu próprio destino enquanto estava no Tesseract, dentro da singularidade do buraco negro de Gargantua. Logo, se ele mesmo guia a humanidade para a salvação, indicando o caminho para a NASA ,o jogando novamente em direção aos fatos que tínhamos visto até então, como que ele foi parar lá em primeiro lugar?

Logo, especula-se sobre universos paralelos ou realidades alternativas. Mas isso novamente seria jogar a atenção em elementos que estão fora do filme. Como sempre Nolan gosta de fazer em suas reviravoltas mindfuck como a de A Origem cujo final explicamos aqui, as respostas para esses mistérios estão dentro sim da narrativa, mas não enfatizados em exaustão.

A informação mais importante que temos que levar em conta são os humanos do futuro que colocam o Buraco de Minhoca perto de Saturno ligando a nossa galáxia até Gargantua. É dito que eles são seres de cinco dimensões, ao contrário de nós, criaturas tridimensionais.

É importante, portanto, fazermos um breve glossário antes de entrarmos na discussão de fato.

As peças do jogo

No filme, dr. Brand traça dois planos para a sobrevivência da humanidade. O Plano A consiste em encontrar a resposta de uma equação que possibilitaria a manipulação da gravidade, permitindo o lançamento de uma massiva estação espacial que serviria como arca para o restante da humanidade se dirigir para um novo lar. O Plano B é mais drástico. Durante a missão Endurance, caso toda a humanidade tenha perecido por conta da Relatividade, fica a cargo da tripulação e milhares de embriões selecionados para povoar o novo planeta garantindo o futuro da espécie.

A viagem até Gargantua, a nova galáxia, é possibilitada pelo Buraco de Minhoca posicionado ao lado de Saturno em nosso sistema solar. O wormhole liga a nossa galáxia com a de destino na viagem, possibilitando que a Endurance chegue ao novo sistema com 12 planetas com potencial de abrigar vida. Caso não houvesse a presença desse buraco de minhoca, a viagem interestelar não seria possível, mesmo com o auxílio da hibernação. Por estar a milhares anos-luz de distância, toda a equipe morreria antes mesmo de chegar na metade do destino.

Essa é a função do buraco de minhoca, dobrar o espaço-tempo permitindo a viagem rápida pelo bulk ligando dois pontos muito distantes. Nesse sistema, há um Buraco Negro, ou seja, uma estrela colapsada, o cadáver de um astro. A gravidade é tão forte que tudo o que entra em seu horizonte de eventos, é sugado para dentro dele. Nem mesmo a luz, a gravidade e o tempo escapam de ser engolidos. Dentro dele, existe a singularidade.

Como sabemos, no filme, Cooper se sacrifica para garantir que dra. Brand chegue ao planeta de Edmunds, o único que pode garantir um habitat saudável para a vida humana. Para isso, se desprende da Endurance junto com TARS e cai diretamente no buraco. Sobrevivendo aos eventos por conta da criação de um espaço de quatro dimensões chamado Tesserato (um cubo de quatro dimensões) pelos seres de cinco dimensões, Cooper consegue enviar mensagens através de códigos na estante do quarto de Murph, sua filha que viria se tornar uma excelente astrofísica.

Vendo a percepção do tempo como os “humanos” evoluídos, Cooper se livra da percepção linear que todos nós temos. No Tesserato, ele e nós enxergamos todos os momentos que ocorreram no quarto de Murph. Para impedir sua existência naquela prisão cósmica, Cooper tenta criar um paradoxo ao mandar a mensagem F.I.C.A. em código binário para Murph avisar o Cooper que vive naquele espaço temporal e impedir a jornada.

Ali é dito que é impossível mudar o passado, as coisas seguem como devem ser, mas que é necessário enviar mensagens que garantam o acontecimento dos fatos – gerando um loop eterno. Cooper então pede as coordenadas da NASA para TARS, conseguindo enviar também em binário através da poeira que invade o quarto de Murph. Todas as mensagens são transmitidas com o auxílio da gravidade

Depois, sabendo que TARS descobriu os dados quânticos da singularidade – dados que permitem a manipulação da gravidade para jogar a Estação Cooper no espaço, Cooper envia os dados através de código Morse para o relógio que deu de presente para Murph antes de embarcar na jornada espacial. Enviando os dados com sucesso, o Tesserato se fecha. Enquanto colapsa, Cooper é enviado de volta para o buraco de minhoca, viajando dentro do bulk, mas como um ser de quinta dimensão (momentaneamente), observando a Endurance cruzar novamente para Gargantua. Lá, ele aperta a mão de Brand, fechando o loop enquanto outro começa.

Então Cooper é resgatado pelos astronautas da Estação Cooper que partem em direção ao Buraco de Minhoca. O protagonista reencontra Murph, já com mais de cem anos, e depois parte para reencontrar dra. Brand no planeta de Edmunds – pela relatividade, Cooper encontrará Brand poucos momentos depois de ter se jogado no Buraco Negro. Murph simplesmente está muito mais velha que Cooper por causa dos efeitos da Relatividade. Para entender melhor o conceito de Relatividade, gravidade e tempo aplicados em Interestelar, recomendo muito que vejam o documentário feito especialmente para isso contando com a presença do renomado físico Kip Thorne (também produtor do filme) e outros cientistas:

https://www.youtube.com/watch?v=SymwZtX3UWo

Logo, não há mesmo paradoxo de viagem do tempo em Interestelar. O paradoxo temporal envolve a (im)possibilidade de você viajar de volta a um tempo no qual não havia nem mesmo a hipótese de sua existência. Como Cooper nem mesmo chega a viajar no tempo, já que vira um ser pentadimensional, e muito menos para um tempo no qual ele não existia, o paradoxo é extinto. Cooper apenas transmite mensagens através da gravidade interferindo em objetos físicos garantindo que sua jornada se mantenha conforme o loop para salvar a humanidade.

Se a viagem no tempo existe, nós já vivemos os efeitos dela. Logo, nosso presente se torna consequência do nosso futuro. É nisso que Interestelar acredita. Sempre haverá um Buraco de Minhoca, a humanidade sempre será salva, a humanidade evoluiu para seres de quinta dimensão depois de ter sido resgatada da Terra, depois colocará o Buraco de Minhoca 40 anos antes da viagem da Endurance, Cooper sempre partirá para Gargantua e cairá no buraco negro e sempre transmitirá as mensagens para Murph salvar o resto do mundo. Não há como fugir desse loop temporal que está fadado a se repetir por toda a eternidade.

Também não adianta teimar em questionar o tempo como um fenômeno linear quando ele pode ser simultâneo. Estamos presos nessa percepção linear, mas os humanos da quinta dimensão podem ver o tempo do mesmo modo que você vê uma avenida em totalidade se estiver em um ponto mais alto. Logo, questionar como a humanidade evoluiu até o estado de quinta dimensão é entrar em um raciocínio ilógico. Seria como tentar encontrar o ponto de início de um círculo perfeito: simplesmente não há como.

Nolan já tinha se inspirado em trabalhos de M.C. Escher que trabalham justamente com grafias de loop temporal. Isso foi visto em A Origem explicitamente. Não existe início ou fim dentro do loop, ele apenas existe.

Conheça Pipa Crash.

Mas que raios é a Quinta Dimensão?

Na nossa percepção de espaço-tempo, vivemos em quatro dimensões: largura, comprimento, profundidade e tempo (as dimensões reconhecidas oficialmente pela Física). Desse modo, estamos presos a uma noção linear de tempo. Nunca voltando ao passado, nem viajando ao futuro, mas vivendo sempre o presente que se torna passado e futuro em questão de segundos.

Já para seres pentadimensionais, poderiam ver todo o universo e sua história em apenas um olhar, mas seria praticamente impossível focar em pontos individuais no tempo devido a quantidade massiva de informação. Um espaço 5D é extremamente difícil de imaginar e bugará sua cabeça com toda a certeza. Como um usuário do reddit explicou, há como fazer esse exemplo através de uma analogia com um cubo.

Para isso, começamos em 4D. O cubo 4D é o bendito tesserato que tanto falamos aqui. Para vermos o tessarato, já temos que o representar em 3D e, como sabemos, enxergamos apenas em duas dimensões (sim, antes de me chamar de louco, veja esse vídeo). Não vemos nem mesmo um cubo por inteiro. Sempre vemos o cubo pelos lados, projetados em nosso plano de visão. Logo, se vemos quadrados nos lados de um cubo, um tessarato teria cubos em seus lados.

Quando colocamos isso em um espaço tridimensional, os cubos são distorcidos e mudam de forma conforme o tesserato se movimenta. Isso mesmo acontece com os cubos, já que não vemos quadrados, mas sim formatos similares ao de diamantes quando movemos e rotacionamos o cubo. Lembrando, isso tudo para ver um cubo 4D!

Logo, um “cubo” em 5D teria tesseratos como seus lados. Em Interestelar conseguimos ver uma representação disso durante o segmento do Tesserato, após Cooper cair no buraco negro. A representação 3D de um espaço pentadimensional é algo como aquilo: vemos o quarto de Murph no topo, nos lados, nas diagonais, em praticamente todos os cantos, simultaneamente.

Uma forma 5D é gigantesca, com cada lado constituído de formas 4D que cada lado é um cubo. Tudo isso é projetado em 3D para que Cooper explore.

Como havia dito, não há viagem no tempo em Interestelar. Há apenas o influenciar do passado através de ondas gravitacionais. Novamente, temos que abstrair nossa mente para imaginar o espaço em 5D. Ondas nesse espaço não são coisas dinâmicas em constante mudança, não são geradas ou recebidas. Elas apenas existem, conectando passado ao futuro.

Até mesmo contando com o efeito quântico randômico, muitos teóricos quânticos usam princípios que conectam passado e futuro juntos. Em uma escala macroscópica, como é com Interestelar, a maioria do efeito randômico é cancelado, deixando um universo amostral comportado.

Voltando aos loops temporais, podemos dizer que Cooper foi chamado para o espaço e então acabou criando as circunstâncias do próprio chamado. Ou que ele já havia criado o chamado e apenas o atendeu no passado. Em 5D, o passado e o futuro de Cooper estão interagindo de um modo que desafia nossa compreensão 3D. E só porque é esquisito, não quer dizer que seja errado ou impossível. Um dos motes do filme é a exploração e em Interestelar fica claro que a descoberta de novos mundos necessita a constante alteração da nossa perspectiva, contrariando qualquer conceito, por mais que seja familiar à nossa percepção.

Espero que todo esse texto tenha ajudado a entender um pouco melhor porque não existem furos ou paradoxos nessa viagem magnífica que Christopher Nolan nos trouxe, além de permitir uma melhor consciência do final do filme.


Artigo | A História Real de Dunkirk

Ao caminhar pelas ruínas do Forum em Roma, observar o imponente Arco do Triunfo em Paris, ou mesmo ao passear pelas antigas ruas do Centro Histórico de Ouro Preto, é quase impossível não se sentir admirado e assombrado pelo peso da História que lugares tais como estes carregam. Infelizmente, por conta da sangrenta história da Europa, em muitos destes lugares marcantes o peso é devido às marcas da guerra – morte, sangue, sacrifício e horror. Nossas mentes estão repletas de imagens da Segunda Guerra Mundial. Devido ao escopo e escala deste horrendo conflito, os filmes, livros, fotos e reportagens frequentemente nos lembram de épicas batalhas deste conflito, especialmente das atuações dos EUA nos Teatros da Europa Ocidental e do Pacífico.

No entanto, se caminhássemos pelas pálidas e plácidas praias de Dunquerque, é possível que passássemos despercebidos do peso da História que este lugar carrega. Talvez por se passar no período anterior à entrada dos americanos no conflito e por não ser a típica história de guerra – uma desesperada evacuação em vez de uma corajosa ofensiva – o milagre de Dunquerque (como ficou conhecido o evento) é um dos mais marcantes e importantes eventos da Segunda Guerra Mundial. Fosse seu resultado diferente do que ocorreu, certamente estaríamos hoje num mundo bem diferente.

Motivados pela estreia de Dunkirk, novo filme do bem-sucedido diretor Christopher Nolan que vem recebendo inúmeros elogios da crítica e promete dar uma nova visão à pouco explorada história das areias de Dunquerque, nós do Bastidores decidimos mergulhar na história desse capítulo da Última Grande Guerra.

CONTEXTO HISTÓRICO

Após anos de tensão e de construir uma ideologia baseada no ódio revanchista, Hitler está preparado. Magistralmente, fez tudo ao seu alcance para contaminar o povo alemão com suas ideias distorcidas e levantou moral, financeira e militarmente uma nova sociedade, um novo paradigma de Alemanha que chama de Terceiro Reich. Suas ultimas ações lançaram a Europa à beira do abismo da guerra inevitável. Inglaterra e França assistiram impassíveis a anexação da Áustria e dos Sudetos, na esperança de evitar o pior. Mas quando Hitler audaciosamente invade a Polônia em 1939, não há mais escapatória, fica evidente que o Terceiro Reich só vai parar quando consumir toda a Europa Ocidental. A Europa está mais uma vez em guerra.

No entanto, mesmo após a declaração de guerra da França e Inglaterra, nada acontece. Durante quase um ano, entre 1939 e 1940, a guerra estava lá, mas não havia combate, estávamos no que mais tarde ficou conhecida como “Guerra de Mentira”. Numa atrasada e irresponsável ilusão, os Aliados aguardavam atrás do que julgavam ser um escudo impenetrável – a Linha Maginot – de fato uma defesa formidável, mas contra exércitos do Séc. XIX. Esperando uma nova invasão pela Bélgica à maneira da Primeira Guerra, as Forças Expedicionárias Britânicas (BEF), o Exército Francês e forças aliadas de Canadá, Bélgica e outros países ficaram chocadas quando Hitler invade pelo sul.

No antebellum, os estudiosos e inventivos generais alemães desenvolveram um novo paradigma de Guerra, a Blitzkreig. E Hitler decidiu empregar este método nos insuspeitos Aliados, quebrando qualquer resistência debaixo das esteiras de suas divisões mecanizadas Panzer. Quando Churchill substitui o inepto Chamberlain como Primeiro Ministro da Inglaterra, em 10 de Maio de 1940, o cenário já é catastrófico. Os Exércitos A e B de Hitler, sob o comando dos Generais Fedor von Bock e Gerd von Rundstedt devastaram a Bélgica, e Holanda, não fizeram caso da Linha Maginot e encurralaram a BEF e boa parte do Exército Francês num corredor estreito até a costa. Os demais soldados franceses, isolados à oeste, mais tarde veriam Hitler posar para fotos diante da Torre Eiffel em junho de 1940.

Se mantivessem o ritmo, convergindo para à costa em Dunquerque, os alemães aniquilariam a BEF e os demais aliados, e apontariam seus rifles para o que pareceria então uma frágil costa inglesa do outro lado do Canal da Mancha. Os Britânicos chegam a falar em rendição incondicional. Seria o fim.

Mas, numa inexplicável e surpreendente virada nos eventos, os exércitos A e B não avançam. Berlin envia uma “Ordem de Parada” para as forças invasoras na França, que por três dias não avançam um metro sequer em direção aos Aliados encurralados. Sem saber, os alemães abriram espaço para o improvável, e deram a oportunidade para o Milagre de Dunquerque, o foco do novo filme de Nolan.

 

OPERAÇÃO DÍNAMO

A Operação Dínamo talvez seja um ponto de virada fundamental que muitas vezes é ignorada pelas aulas de História sobre a Segunda Guerra Mundial. Sem condições de resgate, os 400.000 homens encurralados em Dunquerque não guardavam esperanças de serem salvos.

O mistério apontado sobre a pausa do avanço nazista pode ser respondido pela promessa de Hermann Goring que conseguiria fazer a Inglaterra se render apenas com o extermínio dos homens através da poderosa força aérea alemã: a Luftwaffe.

Mas obviamente não foi isso que aconteceu. Em 26 de maio de 1940, o Ministro da Guerra britânico, Anthony Eden, deu as ordens para que a retirada acontecesse imediatamente. Diversos generais e figuras importantes da Guerra não acreditavam que seria possível o sucesso do resgate por conta dos bombardeios intensos da Luftwaffe no local, massacrando diversos soldados acuados na praia.

O deslocamento que seria visto então seria algo sem precedentes. Até hoje, a Operação Dínamo é a maior de resgate feita em toda a História. A evacuação começa de fato no dia 27 com a participação de um cruzador, oito destroieres e outras 26 embarcações. Um chamado emergencial foi expedido: toda a ajuda aliada seria bem-vinda. E os modestos cidadãos ingleses atenderam ao chamado.

Apenas no dia 31 de maio, cerca de 400 embarcações civis cruzaram o Canal da Mancha em busca de salvar a vida de seus conterrâneos. No mesmo dia, a Luftwaffe bombardeou intensamente a cidade ainda com a presença de civis. Cerca de 1000 pessoas morreram nesse dia. Como o suprimento de água foi explodido, os incêndios provocados pelas bombas não puderam ser extinguidos tornando a situação ainda mais insuportável para os homens que ainda não tiveram a sorte de serem evacuados.

Para combater a força aérea alemão, a RAF foi convocada. Cerca de 3500 aeronaves partiram para a batalha, mas como o conflito estava concentrado no centro do Canal, muitos bombardeios alemães nas praias foram bem-sucedidos. Isso marcou uma ferida psicológica nos homens acuados em Dunquerque, acreditavam que a força aérea britânica nada estava fazendo para ajudar. A verdade é que sem os esforços constantes da RAF naqueles dias, muitos mais teriam sido exterminados pelas bombas aéreas da Luftwaffe.

 

No dia 28 de maio houve um enorme revés para o cerco de proteção em Dunquerque. O exército belga se rende, deixando um furo gigantesco no bloqueio leste. Para preencher o vazio, foram ordenadas que diversos soldados ingleses retornassem ao posto para repelir forças terrestres nazistas. Nessa altura, o perímetro era de 11km em terreno pantanoso, uma verdadeira sorte para ajudar a impedir a travessia dos Panzers nazistas.

Com as docas e portos totalmente destruídos pela Luftwaffe, o Capitão William Tennant ordenou que duas estruturas rochosas naturais que se estendiam até uma boa distância da praia fossem utilizadas como molhes. Através deste improviso que mais de 220 mil homens conseguiram ser evacuados. Nas embarcações civis, menores, que chegavam até a proximidade da praia, quase 100 mil foram salvos.

Mas os custos também foram altos para que o milagre fosse realizado. Para firmar o perímetro, 68 mil soldados foram mortos na blitzkrieg até a ordem de hiato. Durante a evacuação, 3.500 morreram e outros 13 mil ficaram feridos. Não só o custo humano foi drástico. As perdas em maquinário e explosivos foram severas para a reserva do exército britânico. Foram abandonados mais de 2 mil rifles, 20 mil motocicletas, 65 mil veículos diversos, 68 mil toneladas de munição, 147 mil toneladas de combustível e quase todos os 445 tanques enviados para a França se perderam.

Para cada sete soldados resgatados, ao menos um se tornou prisioneiro dos nazistas. A maioria foi tratada com desumanidade, passando fome, sofrendo agressões diversas e assassinatos. Boa parte deles foram transferidos para a Alemanha sendo obrigados a trabalharem na indústria e agricultura alemã até o final da Guerra – lembrando que isso ocorreu em 1940, logo, ao menos quatro anos de escravidão.

 

O LEGADO DE DUNQUERQUE

A Segunda Guerra Mundial é o alvo preferido dos revisionistas históricos, e muito se pergunta até hoje por que Berlin enviou a Ordem de Parada, que possibilitou o milagre. Talvez Hitler quisesse chegar em Paris o quanto antes, uma derrota moral pesadíssima para os Aliados. Possivelmente, estava confiante demais na sua blitzkrieg após as incontestáveis vitórias-relâmpago em 1939 e 1940. Também é possível que esperasse negociar um acordo com os Aliados antes de voltar sua atenção para Stalin (outro movimento de Hitler até hoje questionado à exaustão: por que invadir a União Soviética?). Jamais saberemos, e só nos resta recorrer aos “e se...”. E se não houvesse milagre? Certamente a Guerra teria caminhado de forma bem diferente, e possivelmente o mundo seria hoje um lugar bem mais sombrio.

Estudiosos do período discutem qual foi o real impacto dos eventos que se passaram no Norte da França em 1940. É bem verdade que os sobreviventes da BEF foram enviados para o Norte da África, não pisaram em solo europeu no restante da guerra. Mas também é verdade que muitos que embarcaram por suas vidas nas gélida e rasas águas de Dunquerque voltaram à França 4 anos mais tarde, desembarcando na Normandia no célebre Dia D para expulsar de vez por todas os nazistas da França.

O maior legado do Milagre de Dunquerque foi, sem dúvida alguma, o que os ingleses chamaram de “Espírito de Dunquerque”. Estes acontecimentos foram como uma bomba atômica moral para os ingleses, e foram explorados como tal pela mídia e propaganda de guerra da época.

A imagem do pescador inglês, abandonando suas redes em Dover e partindo em seu pequeno barco para o Inferno da Guerra do outro lado do Canal para resgatar seus compatriotas encurralados é parte indissociável do inconsciente coletivo dos Britânicos.

Símbolo máximo da solidariedade britânica em tempos de adversidade, o Espírito de Dunquerque carregou o esforço de guerra britânico pelas mais sombrias fases do conflito, incluindo as chuvas de bombas diárias sobre os civis  e o constante medo de invasão pelos alemães.

Apesar de dizer que “Guerras não são vencidas com evacuações”, Churchill foi extremamente feliz quando em seu famoso discurso “We Shall Fight...” (lembra de Aces High, do Iron Maiden?) chamou os eventos de “livramento milagroso”.

Thomas Jefferson uma vez disse que “a árvore da liberdade precisa ser regada com o sangue de patriotas”. No fim das contas foi o sacrifício de dezenas de milhares de ingleses, franceses, canadenses e belgas, incluindo civis, possibilitou a coordenação da operação de evacuação. Diante de todos os horrores da guerra, histórias como essas precisam ser contadas.

Em face da morte, uma evacuação é uma vitória esmagadora que brilha até hoje não só como uma história de sobrevivência, mas uma história sobre a vitória do espírito humano. Esperamos que em seu novo filme, Christopher Nolan capture com suas lentes, pinte um quadro vívido do Espírito de Dunquerque e honre a memória das boas almas que participaram do resgate.


Lista | Os 7 Melhores Seriados Animados do Homem-Aranha

O Amigão da Vizinhança é o produto melhor sucedido da Marvel até hoje. Detentor de mudanças drásticas de editorias que ditariam regras em todo o mercado, o Aranha não ficou limitado a apenas uma mídia. Demorou muito pouco para que o herói ganhasse uma série animada na televisão no ano de 1967.

Mesmo que as primeiras incursões não fossem maravilhosas, muita coisa interessante pode ser concretizada a partir do pioneirismo do seriado cafona. Agora, vamos passar um pouco pela história de cada um deles enquanto ranqueamos os desenhos do Aracnídeo.

7 – Homem-Aranha (1967)

O seriado é histórico. Não somente por ser o primeiro do Aranha, mas também pela criação de um tema musical tão icônico quanto o do Batman de Adam West transmitido na mesma época. Obviamente que, por conta dos anos que foi ao ar, não havia quase nenhuma exigência narrativa para cada capítulo – com exceção do Piloto que é praticamente um adaptação quadro-a-quadro de Amazing Fantasy #15, primeira aparição do Aranha.

A animação não tinha muito dinheiro para contar na produção. Logo, também era porcamente animada e desenhada. Por exemplo, somente os braços e cabeça do personagem continham as clássicas teias do uniforme. As cenas de movimentação pela cidade com as teias também eram repetidas em loop quase infinito. A graça é que rendeu diversos memes para a internet preservando a essência da galhofa do seriado, além de imortalizar um bom trabalho.

6 – Homem-Aranha (1981)

O seriado mais desconhecido do Cabeça-de-Teia com toda a certeza. Muito disso vem por conta de ter sido exibido ao mesmo tempo que outro mais popular conhecido no Brasil como Homem-Aranha e seus Incríveis Amigos. Esse durou apenas 26 episódios, mas tem diversos méritos. O principal, obviamente, é o salto estupendo na qualidade da animação e do traço completamente inspirado na arte de Romitão. O mais curioso é que era um dos primeiros seriados da história a optar por uma narrativa única ao longo dos episódios apostando nos embates do Aranha contra o Dr. Destino.

5 – Ultimate Homem-Aranha (2012)

A existência desse seriado consegue irritar profundamente muitas pessoas. O motivo principal foi a razão do cancelamento da melhor série do Aracnídeo até então. Nunca conseguindo chegar perto da qualidade anterior e com diversas piadinhas sem graça, Ultimate Homem-Aranha não consegue angariar muito amor por onde passa. O caráter bizarro da série com participações especiais de diversos outros personagens da Marvel e também por tentar se assimilar ao MCU geralmente são falhos, com histórias sem sal que raramente visam trazer desenvolvimento nítido para Peter Parker. Ainda ao ar, existem coisas bacanas, como a qualidade da animação que surpreende bastante.

4 – Homem-Aranha e seus Incríveis Amigos (1981)

É óbvio que a nostalgia tá batendo forte nesse caso. Lembro das noites que eu via a esse desenho na Fox Kids no final dos anos 1990 logo depois de outro desenho excelente do Aracnídeo. Apesar de preservar muita galhofa, o roteiro do seriado aproveitava muito seu diferencial: as participações especiais de outros heróis da Marvel. O mais interessante era o nível um pouco mais profundo para o estudo da vida pessoal do Homem de Gelo e Firestar, os incríveis amigos que dão título ao seriado. Ver Peter Parker lidar com outros superpoderosos de modo tão íntimo é certamente algo a ser lembrado.

3 – Homem-Aranha: A Nova Série Animada (2003)

Antes da MTV se tornar um antro de lixo, houve essa bela incursão de apenas 13 episódios com a técnica de animação cell shaded em CGI. O visual poderia ser estranho e muito difícil de aceitar na época e até hoje, mas o roteiro era muito bem escrito. A proposta era trabalhar o seriado como uma sequência direta de Homem-Aranha de Sam Raimi, filme de 2002.

Para não prejudicar os planos da Sony com os futuros vilões que surgiriam na trilogia, o seriado não era muito focado no combate do Aranha contra seus algozes, mas muito centrado em sua vida pessoal. Algo que viria ser melhor trabalho em seriados posteriores. O triangulo amoroso era debatido com intensidade. Infelizmente, ela viu seu melhor e pior momento em questão de poucas semanas com a audiência. Terminou cancelada e em outro cliffhanger – algo comum para os seriados do Homem-Aranha

2 – Homem-Aranha: A Série Animada (1994)

Apesar de ser a minha favorita, reconheço que seu merecido lugar é aqui. O seriado durou por bastante tempo conseguindo um grau de consistência raramente visto nessas animações de spuer-heróis. Conseguindo adaptar diversos arcos muito famosos dos quadrinhos do Aranha, rapidamente conquistou a atenção dos fãs. As adaptações faziam sentido e eram agradáveis, além de contarmos com participações especiais que preservavam a essência dos personagens como Demolidor e Justiceiro.

Entre muita pancadaria com o rol muito expressivo de vilões, os roteiristas conseguiam criar um senso de urgência muito eficaz por conta também do equilíbrio de vermos a vida pessoal de Peter e suas relações com Mary Jane e Tia May. Apesar de manter o público fiel, o seriado foi cancelado por causa de brigas internas de produção. Deixou um monte de gente órfã e bastante insatisfeita.

1 – O Espetacular Homem-Aranha (2008)

Apesar de não possuir o visual mais atraente do mundo, Espetacular Homem-Aranha é tudo o que Homem-Aranha: De Volta ao Lar tenta ser. O roteiro leve aborda a vida escolar do colegial de Peter. Seu tempo é dividido entre combater o crime, sacrificar desejos e conciliar a vida escolar. A relação com os colegas é muito bem definida, dando um peso nunca antes visto para cada ação do personagem. O senso de continuidade também é algo a ser notado. O herói agia e as consequências do ato reverberavam por ao menos episódios seguintes.

O arco favorito, obviamente, é o do nascimento do Venom, desde o uniforme negro até a origem do vilão. É muito bem escrito e acabamos completamente envolvidos com a jornada cheia de escuridão de Parker. Se nunca viu, veja! Infelizmente, esse ótimo trabalho de animação foi cancelado quando a Sony passou os direitos de volta para a Marvel dando origem ao desenho Ultimate Homem-Aranha, já mencionado na lista.

E para vocês? Qual é o melhor desenho do Aracnídeo? Apesar das posições, defendo aqui que todos esses seriados merecem a atenção de qualquer fã do Cabeça-de-Teia.