Em um passado não muito distante, o melhor piromaníaco de Hollywood, Mr. Michael Bay foi cotado para dirigir um projeto milionário. Em 2007, o projeto inspirado nos brinquedos da Hasbro originais de 1984 é lançado. Os fãs de Transformers deliram com os efeitos visuais espetaculares, mas só. O filme não tinha nada a mais para oferecer, entretanto era divertido garantindo um bom passatempo. Embalado pelo sucesso espontâneo e o imenso lucro de bilheteria, a DreamWorks e Paramount resolvem reatar a parceria que originou o primeiro filme. Logo, em 2009, os espectadores encontram A Vingança dos Derrotados. O filme também foi um sucesso de bilheteria, porém a paciência dos críticos de mundo afora havia se esgotado com as idiotices de Bay e detonaram o filme classificando-o como “O Pior Filme da Década”. Enfim, até o próprio Michael Bay confessou que o filme era uma porcaria sem tamanhos e prometeu que sua redenção estaria na última parte da saga robótica.
Bem, não foi exatamente isso o que aconteceu…
Nossa corrida espacial foi em resposta a um evento. Um objeto voador não identificado colide com a superfície terrestre da Lua. Rapidamente, o presidente John Kennedy ordena a NASA arquitetar uma missão tripulada até nosso satélite. “Temos que chegar antes dos russos”, esbraveja o presidente. Em 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin aterrissam na Lua e vão investigar o obscuro objeto. Voltando ao presente, os Autobots reforçam sua parceria com os humanos fornecendo tecnologia e auxílio em combate. Porém, uma missão em Chernobyl muda o destino do futuro de nosso planeta. Agora, os Decepticons contam com um plano infalível para dominar os homens. Novamente, a esperança da salvação da humanidade reside nos Autobots e no jovem Sam Witwicky.
A Última Metamorfose
O roteiro é do abismal Ehren Kruger. O roteirista deve sofrer de amnésia, pois a história que escreveu é completamente incoerente com a cronologia da série. Lembrem-se, caros leitores, da narrativa do primeiro filme. Sim, o melhor da série, aquele que contava com o sub plot desnecessário dos hackers. Segundo o agente Simmons, o ENB-1 havia sido descoberto, completamente congelado, no séc. XIX. Então como Megatron havia contatado seu parceiro em pleno séc. XX? E porque se ocupar em encontrar o Cubo ou ajudar o Fallen quando o plano maléfico deste filme cairia como uma luva no conflito do primeiro filme?
Entretanto, Kruger tem lapsos de criatividade interessantes. A idéia de situar o início da trama em plena corrida espacial é original, porém não consegue se equiparar ao cuidado que os roteiristas de X-Men: Primeira Classe tiveram ao encaixar a narrativa na Crise dos Mísseis. Também consegue melhorar alguns personagens que eram chatíssimos em filmes anteriores, como o Wheelie. Até alguns personagens novos conseguem se destacar. Dutch e Jerry Wang são exemplos disto. O roteirista apresenta o novo bichinho de estimação de Soundwave. No primeiro filme, era o escorpião. No segundo, aquela espécie de lince metálico. E, agora no terceiro, entra em cena o melhor deles. O urubu Laserbeak é o mais carismático e cruel dos três. Kruger apresenta pela primeira vez um antagonista humano. O roteirista propõe uma história interessante a Dylan que desperta a atenção do espectador.
Kruger mantém acertos dos filmes anteriores. Por exemplo, a maneira que Bumblebee se comunica. Antes ele utilizava o rádio a fim de se comunicar e alguns movie quotes. Aqui, Bee passa a usar somente movie quotes sendo o mais expressivo “Missed it by that much” do seriado Get Smart de 1965. O roteirista também remove as piadas apelativas como a do “saco transformer”, mas as que tomam lugar mal conseguem arrancar um sorriso torto do espectador. Existe um arco conspiratório bem elaborado, mas pouco explorado em seu roteiro. Kruger também muda a imagem de Optimus Prime. Finalmente, o líder autobot recebeu um caimento bad ass em suas atitudes menos tolerantes. Outro aspecto positivo do roteiro são os novos antagonistas. Shockwave e Driller garantem as melhores cenas de ação do longa inteiro.
Porém, o lado Kruger do roteirista prevalece diversas vezes. A história não tem consistência ou profundidade. Tudo é tão raso que o espectador não se importa com nenhum dos personagens. Isso também vem da invulnerabilidade dos protagonistas. Aparentemente, Sam pode ser esmagado por uma nave de trezentas toneladas e sair sem um arranhão. É notável perceber como Ehren se esforça em criar uma história para encaixar as mirabolantes sequências de ação. Infelizmente, o roteirista enche a primeira hora de projeção com cenas irrelevantes para o desenvolvimento da história. Se todas as cenas do trabalho de Sam fossem excluídas, o desfecho do filme continuaria o mesmo. O roteirista também não cumpre o meu desejo mais solícito – minha felicidade seria tamanha se Starscream esmagasse com toda a sua força os insuportáveis Judy e Ron Witwicky, vulgos, pais de Sam. As cenas com estes personagens também são descartáveis. Infelizmente, Ehren não se esforça em aprofundar as relações entre os personagens. O relacionamento de Sam com Carly é no mínimo forçado e inconsistente.
Seu roteiro sofre com o mal da previsibilidade aguda. É impossível acreditar em algum momento nas inúmeras tramóias em que o roteirista ameaça detonar um personagem importante. Ele também não se importa em oferecer cenas épicas para a morte de alguns Decepticons e Autobots evidenciando o caráter “comercial” exploratório de sua história e seu descaso com os fãs destes personagens. Além disto, Kruger tem a constante mania de sumir com alguns dos milhares personagens da narrativa sem dar a mínima satisfação. Isso é muito evidente com Brains e Wheelie no fim do filme. Como sempre temos as significativas frases de efeito. Até que algumas são inspiradas como “You may lose your faith in us, but never in yourselves. From here, the fight will be your own…”, mas outras são simplesmente deploráveis. Por exemplo, “Whoa, little mexican standoff we got here…”. Mas esses detalhes nem se comparam com os absurdos que o roteirista impõe durante o clímax da obra.
Após muitos minutos de tortura chinesa, o espectador encontra o clímax de uma hora de duração que demora uma eternidade para passar. Para encher esse tempo, Kruger faz um ciclo vicioso e perene de plot twists. São inúmeras as reviravoltas que o clímax possui. Obviamente a paciência do espectador também vai diminuindo a cada reviravolta encontrada. Além da repetitividade imposta com essas reviravoltas, o roteirista explora diversas soluções rápidas e fáceis para vários conflitos do clímax sendo o maior deles o diálogo ridículo entre Carly, nova namorada de Sam, com Megatron. Ehren também tem a mania de descrever o que se passa na tela, duvidando da visão do espectador. Por exemplo, quando uma ponte abaixa, três personagens gritam simultaneamente que ela está abaixando. Quando os personagens caem, alguém já proclama “We’re falling D:”. Optimus ainda ordena os Autobots a mirar nos Decepticons como se isso já não fosse óbvio. O roteirista ainda tem a astúcia de insinuar uma relação Batman & Coringa entre Optimus e Megatron.
A certa altura do fim do filme, eu já não agüentava mais a pancadaria desenfreada entre pedaços de sucata. Já não me importava mais se o planeta acabasse estuprado pelos Decepticons. Só queria que uma bomba H caísse no meio do set para que tudo explodisse e o filme finalmente terminasse com alguma mensagem cósmica da caixa-preta de Optimus Prime.
Socialites, gritos e robôs
Shia LaBeouf conquistou Hollywood no primeiro Transformers. A naturalidade de sua atuação capturava a atenção do espectador quase que imediatamente. Reprisando o papel pela terceira vez, LaBeouf mantém a atuação energética, mas infelizmente não encontra espaço para inovar. A maioria do tempo, Shia grita com toda a potencia de suas cordas vocais “Bee!” ou “Optimus!”. Às vezes, o ator repete recursos de filmes anteriores como o divertidíssimo grito afeminado. A expressão facial do ator se resume aos diversos olhares expressivos. Shia leva ao pé da letra expressão corporal. Diversas vezes, o ator utiliza o corpo inteiro para revelar seu descontentamento, tristeza e surpresa. A tremedeira é uma característica amplamente utilizada pelo ator. Assim, com algumas expressões faciais bem arquitetadas, Shia torna o clímax um pouco mais verossímil. Ao menos o nervosismo que o personagem transmite é bem convincente. O timing cômico do ator também continua expressivo.
Megan Fox não retorna. Spielberg a demitiu após ela ter comparado Michael Bay com Hitler. Então, eis que chega Rosie Huntington-Whiteley, a modelo da Victoria’s Secret. Antes de conhecer o rosto da garota, o espectador conhece sua vasta bunda e suas pernas torneadas. Enquanto a “atriz” está no primeiro e no segundo ato, se sai consideravelmente bem. Afinal, as cenas destes segmentos exigem apenas a pose de socialite e o sotaque inglês da moça de beleza clássica encantadora. O horror chega ao terceiro ato. Bay pede para que a menina comece a atuar porque aquele é o suposto momento dramático do filme. Então Whiteley atua. E que conceito errado de atuação que esta garota tem. Rosie parece completamente perdida no cenário. As expressões que ela constrói são tão bizarras semelhantes àquelas quando alguém sofre de disenteria. Às vezes Huntigton, sem saber o que fazer para a câmera, esbugalha os olhos quase os fazendo saltar para fora das orbitas enquanto grita desesperadamente – “Sam!!”. A boca entreaberta, lugar comum de várias atrizes de hoje em dia, ataca novamente na atuação da garota.
John Turturro volta com uma atuação mais contida e menos caricata. De vez em quando o ator consegue divertir, mas graças à participação reduzida do personagem na história, Turturro não tem seus momentos levando a crer que ele está deslocado da narrativa. John Malkovich, quase laranja no segundo ato, é um talento desperdiçado no elenco estelar do filme. O ator explora mais sua veia cômica com expressões e gestos exagerados. Quem rouba a cena é o sempre ótimo Ken Jeong. Pela primeira vez tive a chance de conferir o ator explorar diversas expressões faciais fantásticas. Toda a sua atuação e caricata e completamente divertida – consegue fazer as piadas ruins de Ehren Kruger ter graça. O ator também distorce sua voz diversas vezes para reforçar seu apelo cômico.
Alan Tudyk é outro ator que merece destaque. Com expressões bem definidas acompanhadas de seu sotaque alemão, o ator consegue arrancar a melhor piada do filme. Frances McDormand também é outro talento desperdiçado. Sua participação é pouco relevante e sua personagem é chata. McDormand não explora muita coisa. Mantém a mesma expressão na maioria do filme. Fora isso, o que Bay pede para a mulher fazer beira o ridículo. Em um momento do filme, a atriz começa a gritar loucamente com um robô de CGI revoltado. Simplesmente deplorável.
Josh Duhamel e Tyrese Gibson são alegóricos. Estão lá para mostrar seus bíceps e só. Já Patrick Dempsey se esforça para criar profundidade em seu personagem insistente. Peter Cullen, Hugo Weaving e Leonard Nimoy, o eterno Dr. Spock, destacam-se com o trabalho de vozes eficientes. Cada um com sua voz profunda e rouca. Kevin Dunn e Julie White completam o elenco. Destaque para Buzz Aldrin em sua participação especial.
Síndrome Snyder
A fotografia de Amir M. Mokri respeita as exigências do diretor. Isto é um fato. Qualquer diretor de fotografia que trabalha com Michael Bay sabe que a fotografia será dirigida pelo próprio. Assim, Mokri repete as cores favoritas de Bay. A iluminação amarelada acompanha os dois primeiros atos do filme para então chegar ao ameaçador terceiro ato. Ali as cores ficam subitamente sombrias, acinzentadas e levemente pálidas – a escolha comum para retratar ambientes hostis.
A clássica iluminação azulada também marca presença. Bay costuma utilizar o azul em cenas que acompanham os militares. Isso não muda aqui. O azul é bem significativo nas partes que se passam na Lua. Lá acontece a melhor modelagem de luz e sombras do filme inteiro. A contraluz ofuscante aparece em várias cenas sem o menor propósito, mas é eficiente em deixar a imagem mais bela. As imagens que aproveitam a iluminação incrível do pôr-do-sol retornam. Bay é diretor de texturas. Respeitando as exigências do diretor, Mokri satura em excesso diversas cores do cenário a fim de aumentar o contraste com os personagens. Quando Bay usa closes nas faces dos atores, não é para deixar a expressão mais nítida, mas sim para focalizar as gotas de suor, as feridas, a sujeira dos entulhos, o sangue, etc. com o intuito de patriotizar os personagens.
Entretanto, Mokri também tem seus devaneios de criatividade. O cinegrafista arrisca ao saturar exageradamente o branco em algumas cenas. O efeito quase cega o espectador, porém é interessante. Outras vezes, utiliza tonalidades avermelhadas ou violetas garantindo uma atmosfera diferente para alguns cenários. Os reflexos são extremamente raros em sua fotografia e quando aparecem não são significativos. Ele também usa alguns flashes de luz inteligentes, além de jogar poeira e fumaça no cenário.
Mokri e Bay cometem o mesmo erro que Larry Fong e Zack Snyder cometeram na fotografia de Sucker Punch, só que aqui em carga menor. Durante à hora final do filme, o espectador encontra uma imagem mais estonteante que a outra. O apelo visual é tão forte e crescente que acaba se tornando cansativo. É difícil encontrar um plano mal feito ou feio neste novo Transformers. O lance deste filme é o visual inacreditável. Não existe moderação no encaixe das imagens belíssimas. É uma seguida da outra sem parar. Vou repetir a analogia que fiz na crítica de Sucker Punch – “É como comer seu doce favorito por uma hora interminável. Cedo ou tarde, você acaba enjoando…”
Além da excelente, mas cansativa fotografia, o filme tem outro atrativo a oferecer. E estes são os efeitos visuais deslumbrantes. Logo no início do filme, eles marcam presença. A equipe de CGI caprichou ao construir Cybertron em plena guerra. A complexa arquitetura do planeta logo chama a atenção evidenciando a criatividade da direção artística das animações. A recriação da Lua e do seu “lado oculto” é igualmente fantástica. Até mesmo o visual de alguns personagens é alterado. Bumblebee conta um visual diferente. Megatron aparece completamente deformado, no interior e no exterior, por causa da batalha anterior no Egito. Fora isso, a concepção visual de Sentinel Prime é marcante. Até mesmo as expressões dos robôs é melhor definida. É difícil acreditar que este filme não leve o Oscar de melhores Efeitos Visuais de 2011.
Eles não deixam de surpreender o espectador durante as metamorfoses, agora mais detalhadas do que nunca, quando Bumblebee resgata Sam no meio do ar, na destruição em massa causada por Driller – o segmento do arranha-céu é de cair o queixo, na colisão metamórfica entre dois Decepticons e Ironhide; no cuidado minucioso dos danos causados na carroceria de Optimus, entre vários outros efeitos inacreditáveis. Porém, a Industrial Light and Magic decepciona na modelagem virtual dos homens. Quando os dublês não se arriscam, os bonequinhos virtuais dos atores fazem o trabalho que no caso são feitos com certo desleixo. A direção de arte também é competente. A recriação da geografia da Lua e da paisagem devastada de Chicago é belíssima.
Tendenciosa até o final
A música de Steve Jablonsky almeja a grandeza. Várias composições são inspiradas e algumas utilizam distorções digitais muito bem inseridas como na variante do tema principal do filme “There is no Plan”. A música ajuda bastante a reforçar a atmosfera envolvente e hipnotizante do filme. Existem composições bem sombrias e carregadas de uma pegada forte nos instrumentos. O grito dos trombones, a bateria compulsiva e o violino forte são orquestrados brilhantemente por Jablonsky em “Im Just the Messenger”.
Entretanto, em outras, Jablonsky carrega o sentimentalismo com leve coro de violinos que expressão profunda tristeza. A música a qual me refiro é a “The Fight Will Be Your Own”. Às vezes, o compositor usa corais proporcionando temas épicos. Sua música tendenciosa é eficiente e cumpre seu papel. Ela ajuda o espectador a vibrar pelos Autobots e encaixa perfeitamente nas cenas de ação. Porém a cara de pau do compositor fica comprovada no momento que plagia abusivamente “Mind Heist” de Zack Hemsey. Para os desavisados, a música de Hemsey acompanhava todos os trailers de A Origem.
A trilha licenciada sempre foi expressiva na franquia e aqui a história não muda. Novamente, Linkin Park compõe outra música exclusiva para o filme. Paramore também marca presença. O maior problema das músicas licenciadas é que elas raramente têm a ver com a cena tornando muitas partes do filme meros videoclipes. Isso é fácil de notar quando toca “All that you are” de Goo Goo Dolls enquanto Sam trabalha.
Já a mixagem e a edição sonora são perfeitas. A barulheira infernal do terceiro ato comprova isso. É impressionante escutar nitidamente o estilhaçar dos cacos das vidraças, o som das pancadarias explosivas travadas entre as duas facções e o barulho das transformações robóticas dos veículos.
Um demônio eficiente
É um demônio sedutor este Michael Bay. Primeiro, aparece arrependido dos erros do passado prometendo coisas fantásticas em seu novo projeto. Depois lança trailers excelentes explodindo a expectativa de muitos. Mas isso não me afetou desta vez. Minha decepção com “A Vingança dos Derrotados” foi tamanha que parei de acreditar nas mentiras do cineasta. Sua direção neste caso melhorou a ponto de conter as piadas abusivas do roteiro, mas pedir atuações e construção narrativa em um filme de Bay é o mesmo que pedir um Camaro SS para o Papai Noel.
Por ser um demônio, Bay sabe fazer uma coisa muito bem, talvez até seja o melhor nisso – atear fogo nas coisas. Depois de devastar Washington e as pirâmides de Gizé, o diretor resolve mandar Chicago pelos ares. Até que as explosões empolgam, mas depois de assistir a ducentésima quinta explosão, o espectador começa a cansar. As sequências de ação também são outro aspecto positivo do diretor. Com cenas extremamente complexas em sua realização, Bay prova que é possível fazer qualquer coisa no cinema. O segmento dos homens-esquilo voadores é uma prova disto. A cena recebe um tratamento mínimo de efeitos visuais. Aquilo que o espectador vê é totalmente real.
O cineasta orquestra cenas extremamente vertiginosas e belas de se ver causando uma hipnose assustadora. Seu cérebro literalmente desliga e é muito difícil tira-lo do modo automático tanto que tive que assistir ao filme duas vezes para entender algumas coisas. A escolha infeliz de manter as cores escuras dos Decepticons ainda prejudica a franquia. Consequentemente, os cenários sombrios e os robôs tornam-se uma coisa só deixando difícil compreender as pancadarias nervosas.
A edição de Bay é cheia de altos e baixos. Regularmente, o diretor usa cortes mais dramáticos e significativos. Por exemplo, a brilhante sequência de Laserbeak na casa de um comparsa. O truque eficiente da edição também se repete quando Chicago é sitiada. Porém as coisas boas param por aí. Mike sofre de TOC, pois transfere os planos em um ritmo que dificilmente chega aos cinco segundos. A montagem também é confusa e, algumas vezes, despreparada. Em uma cena, o espectador vê Sam e seus amigos falando que precisam chegar ao arranha-céu. Logo depois os homens-esquilo dão um baile aéreo. Após isso, Sam já chegou à torre. Resumindo, durante o clímax a edição dá saltos expressivos diversas vezes.
Bay também encontra oportunidade de reciclar tomadas de A Ilha na fantástica cena da rodovia. É impressionante notar que Mike ainda insiste em recursos amplamente explorados em seus filmes anteriores. O militarismo exacerbado e a angulação baixa das câmeras a fim de engrandecer os personagens ainda são traumas que Bay não conseguiu superar. Todavia, O diretor inova na introdução do filme colando várias imagens originais de noticiários de 1969 sobre a chegada do homem à Lua. Em outras imagens, adiciona um filtro televisivo para dar o ar retrô. A verdade é que o maior atrativo deste Transformers é o 3D. A partir deste ano, os filmes que utilizam este recurso serão divididos entre A.T. e D.T. (antes e depois de Transformers). Bay prova-se ser um verdadeiro gênio ao utilizar o efeito.
O diretor lança cacos, engrenagens, papel, sangue gráfico, Sam, balas, etc. na plateia que vai ao delírio com o efeito alucinante e cinético. Além disto, proporciona uma noção de profundidade muito inteligente e bem superior a de Avatar. Graças ao 3D estereoscópico, o diretor encontra um significado para seus slow motions deslocados. Desacelerando a imagem, dá a oportunidade de o espectador correr os olhos por toda a imagem e desfrutar de sua riqueza visual. Entretanto, o efeito pode causar dor de cabeça após o término da sessão graças à longa duração da fita. Isso também acontece porque seu olho muda, involuntariamente, a distância focal para deixar a imagem nítida a cada cinco segundos. Mike também arrisca com novos movimentos de câmera inspirados. Às vezes o diretor usa planos holandeses, já em outras prefere apresentar a imagem através da visão dos personagens com subjetivas interessantes.
O Lado Sombrio do Cinema
Transformers: O Lado Oculto da Lua funciona como uma lindíssima caixa vazia. A embalagem é fantástica, porém assim que o consumidor tenta vasculhar ávido por algo a mais em seu interior, não encontra nada. Com atuações medíocres, o filme ganha pela estética impecável. A diversão virá eventualmente, mas a enrolação das reviravoltas contidas no clímax consegue cansar até mesmo o espectador carregado a base de Duracell. As sequências de ação mantêm a megalomania característica do diretor e impressionam.
A pancadaria metálica é garantida, mas a experiência disto não adicionará muita coisa em seu intelecto tornando o filme algo fugaz. Mesmo sabendo que ele é previsível, essencialmente chato e narrativamente fraco e ainda quiser conferir, faça um favor a si mesmo e assista em 3D no IMAX. O visual que já era belo fica incrível e o barulho infernal torna-se ensurdecedor, porém já ficou provado que a base de qualquer filme não é sua qualidade visual, mas sim seu roteiro. O efeito alucinógeno e a tontura vão embora a poucos minutos assim como a lembrança de algum diálogo interessante da fita. A recíproca é triste, mas verdadeira.
A qualidade do filme começa a cair assim que o nome Transformers aparece na tela.
Transformers: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark of the Moon, EUA – 2011)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger
Elenco: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey, John Malkovich, Frances McDormand, John Turturro, Ken Jeong, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, Peter Cullen, Hugo Weaving, Leonard Nimoy, Buzz Aldrin, Alan Tudyk
Gênero: Ação
Duração: 157 min