Criados por Stan Lee e Jack Kirby em 1963, os X-Men começaram a engrandecer a maior empresa de quadrinhos do mundo. No início, não fez muito sucesso entre o público, mas com o passar dos anos conquistaram uma legião de fãs. Após infinitas edições de quadrinhos e mudança de escritores, a série começou a perder a lógica com personagens que ressuscitavam mais que o japonês Goku ou curando a paraplegia de Charles Xavier para depois deixá-lo paraplégico novamente – isso acontece umas quatro vezes. Então, para esquentar a curiosidade e abranger os consumidores, eis que surge a ideia de adaptar o maior grupo de heróis da Marvel para os cinemas. Assim, em 2000, X-Men: O Filme estreia arrecadando milhões de dólares e novos leitores para os quadrinhos. Após mais dois filmes sobre a série e um filme solo de Wolverine, a Twentieth Century Fox lança X-Men: Primeira Classe, um prólogo das adaptações anteriores que conta com uma proposta completamente renovada e muito mais atraente e interessante.
Enquanto Erik Lehnsherr perdia sua família em um campo de concentração na Polônia, Charles Xavier dormia tranquilamente em sua mansão. Erik passou anos sob tortura de Sebastian Shaw, um oficial nazista, a fim de que despertasse seus poderes mutantes de manipular metais. Após alguns anos, agora livre de Shaw, Erik começa a caça-lo ao redor do globo enquanto Charles termina sua tese da faculdade de genética. Depois de um envolvimento com o governo, Charles encontra Erik tentando destruir Shaw que revela ser também um mutante. Erik fracassa, mas ganha a amizade de Xavier que promete ajuda-lo a encontrar o ex-oficial nazista.
Novamente, Ex-Humanos…
O roteiro de Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e Matthew Vaughnn assume uma forma muito inteligente para a reinvenção da série. Os roteiristas optam em apresentar e desenvolver os fantásticos personagens em vez de encher os minutos de projeção com uma pancadaria desmiolada entre mutantes, vide o filme do Wolverine. O maior acerto são os diálogos perfeitos entre Erik e Charles. O modo que a história evolui a amizade entre os dois é muito interessante. Ela conta com crises, superações, confidencias e momentos especiais que tornam o processo convincente até para o espectador mais exigente.
A trama é tão bem construída que o desfecho do clímax é surpreendente conseguindo emocionar a plateia e leva-la a uma profunda reflexão sobre valores éticos e morais. O desenvolvimento da relação de Xavier com Erik é iniciado pelo contraste – este tão pesado e evidente que é digno do mestre de criar opostos (Frank Miller) – da vida que ambos levaram. Uma baseada no puro ódio e sede de vingança enquanto a outra explora a falta do contato materno e uma solidão suprimida por Raven. Além de ser uma história de amizade, o roteiro comporta-se como uma história de transformação e de origens. Praticamente todos os personagens da narrativa sofrem drásticas mudanças psicológicas, físicas e de opinião.
A situação histórica em que a narrativa se encontra é elaborada e condizente, além de se correlacionar com o personagem de Erik. Em plena crise dos mísseis durante a Guerra Fria, o filme lança questionamentos políticos e o comportamento dos governantes diante o medo de uma iminente Terceira Guerra Mundial. Assim como os homens, Erik projeta sua ira em um inimigo, mas a partir que este se ausenta, lança sua raiva contra os humanos. Ou seja, ele recusa de todas as maneiras encontrar a paz e a diplomacia.
Os princípios de aniquilação da raça inferior desprezada por Magneto são tão válidos quanto os utópicos entre mutantes e homens de Xavier. Ambos estão certos, mas um não viveu a vida do outro, o que leva a divergência de seus argumentos. Erik pensa o futuro do destino dos mutantes, já Charles vive os problemas do presente, ignorando os que estão por vir. Este enorme conflito entre os personagens revelam uma maturidade e complexidade jamais vista na franquia. Além das questões profundas acerca da psique dos personagens, o roteiro explora a juventude inserindo novos mutantes, a “primeira classe”.
Assim, a plateia encontra características inéditas da personalidade de vários personagens. Nunca o espectador conseguiu imaginar o letrado Professor X em uma pessoa tão viva, divertida e galanteadora como Charles Xavier de 26 anos. O roteiro abandona a figura patética e amorfa causada pela paraplegia para um personagem que se diverte, festeja, com tempo de “galinhar” com cantadas inteligentes, mas também centrado em seus objetivos e extremamente maduro. Já Magneto, perdido em sua obsessão por Shaw, passa a maioria de sua juventude caçando o oficial ao redor do globo no melhor estilo 007. Tão importante quanto Charles e Magneto, Mística é privilegiada neste filme.
Novamente o roteiro elabora mais questões, entretanto, estas um pouco mais superficiais, porém importantíssimas para a personagem. Raven é vaidosa e se traveste com a aparência de outra pessoa para que ninguém fuja assustado de sua forma original grotesca. No início, seus conflitos e questionamentos são típicos de uma mulher adolescente preocupada com a rejeição. Tudo muda quando conhece Hank McCoy, o Fera, que também tem uma mutação que afeta a estética de seu ser levando sua expectativa de um possível romance às alturas. Outra reviravolta surge quando Erik, o “mutante orgulhoso”, incide na vida do grupo. Ele tenta entender o porquê que uma criatura tão majestosa desperdice seu potencial em conflitos meramente mundanos. Esta insistência de Magneto em mudar o comportamento de Mística deixa claro ao espectador uma paixão e fascínio pela mutante. Consequentemente, também revela que Mística é uma personagem instável de fácil manipulação.
De Primeira Classe
A música composta por Henry Jackman é a mais inspirada de todos os filmes da franquia, inclusive superando John Powell. Todas possuem um tom triunfante, de que uma revelação que está pra acontecer, de algo que não se pode mais esconder casando perfeitamente com a proposta do filme. Se o espectador aguçar os ouvidos durante a sessão é bem capaz que a música acabe entrando em sua memória, mas ela vai passar completamente despercebida caso a plateia não preste atenção.
Muitos críticos dizem que quando a trilha sonora é perfeita, ela é imperceptível formando uma relação de dependência do filme para com ela e vice-versa. A última vez que escutei uma trilha tão boa foi em Tron: O Legado conduzida brilhantemente por Daft Punk.
O tema principal do filme composto por Jackman é muito interessante, mantendo as características que listei acima. O compositor não se limita a utilizar somente violinos em suas músicas. A variedade de instrumentos é enorme. Ele compõe com o auxílio de violoncelos, tambores, pianos, trombones, coros, etc. O que mais se destaca em sua banda sonora é utilização jovem de guitarras que, na maioria das vezes, tem o som de suas cordas completamente distorcido.
Além do tema principal, Jackman capricha muito no tema de Magneto. Completamente imponente, expansivo, agressivo, rápido, forte e grave, combina com a personalidade ríspida do vilão. A música é tão boa que é escolhida para fechar o filme com chave de ouro. A trilha também conta com a ajuda de Edith Piaf – a cantora favorita de Sebastian Shaw revelando certa ironia.
Para equilibrar o complexo arco dramático garantido por Xavier, Magneto, Shaw e Mística, os roteiristas apresentam os novos mutantes que garantem o necessário alivio cômico. Destrutor, Banshee, Fera, Angel e Darwin divertem o público com piadas interessantes. Até mesmo os antagonistas integrantes do Clube do Inferno têm mais carisma do que todos side-kicks de Magneto na trilogia anterior. Sebastian Shaw, Emma Frost, Azazel e Maré Selvagem garantem a vilania necessária para conduzir o desfecho da narrativa. O roteiro também oferece várias curiosidades sobre os X-Men, além de contar com duas referências aos filmes anteriores, sendo uma delas impagável.
Porém, mesmo com tantas qualidades surpreendentes para um filme de super-heróis mutantes, o roteiro apresenta algumas falhas. O que incomoda bastante são as soluções forçadas para a resolução das decisões de Mística. Na metade do filme, Emma Frost desaparece por um tempo considerável de cena transparecendo certo descaso dos roteiristas com a personagem. A história também dá uma nova dimensão de falta de personalidade nos comparsas de Shaw. Enquanto o antagonista é satisfatoriamente desenvolvido, Azazel é totalmente alegórico e Maré Selvagem não tem uma única fala durante o filme todo. Outra coisa que pode incomodar alguns fãs dos quadrinhos é a total falta de fidelidade do filme com a história apresentada pelos gibis. Entretanto, a nova versão é extremamente lúcida e muito mais interessante que o emaranhado confuso das HQs.
O Primeiro Rei da Escócia
O elenco do novo X-Men é muito superior aos da trilogia anterior. Se você pensa que Hugh Jackman, Patrick Stewart e Ian McKellen fazem falta, está muito enganado. James McAvoy, Michael Fassbender e Kevin Bacon seguram o filme com suas maravilhosas e inspiradas atuações.
McAvoy redefine a imagem de Charles Xavier que cada espectador carrega em suas memórias conferindo uma dimensão e profundidade jamais vista. Ele se dedicou de corpo e alma para o papel impressionando a plateia. O ator aproveitou a condição física do personagem para uma marcante expressão corporal, principalmente pelo gesto da telepatia. Seu sotaque britânico espontaneamente natural dá outro nível aos diálogos. Sua atuação elegante e complexa conquista rapidamente a atenção do público que anseia por mais outra cena com sua participação.
Michael Fassbender é outro espetáculo em cena. Tão competente quanto McAvoy, constrói um Magneto mais ameaçador e interessante do que o apresentado por Ian McKellen. Novamente, a linguagem corporal do ator é extremamente significativa. Ao contrário dos gestos leves de McKellen, Fassbender explícita a ira do personagem quando começa a levitar os metais com movimentos extremamente pesados e brutais. Para reforçar a falta do amplo domínio dos poderes do personagem, o ator utiliza várias expressões faciais de esforço físico e mental. Mas a magia acontece quando os dois contracenam. Em determinada cena, revelam o sincronismo e a química perfeita que acontece entre eles. Destaque para o clímax em que a força da atuação dos dois é monstruosa garantindo uma das melhores cenas que já tive o prazer de assistir em toda minha vida.
Kevin Bacon é a cereja do bolo. O ator que andava desaparecido por um tempo das telonas volta com força total apresentando uma de suas melhores performances. Seu Sebastian Shaw é muito carismático e cruel. Bacon arrisca bastante sua atuação – ele pende para o lado caricato em muitas cenas, mas o resultado é muito bom. Conhece o seu ponto forte e o usa diversas vezes. Muitas de suas falas são reforçadas por expressões faciais muito singelas que podem passar despercebidas aos olhos desatentos. O destaque de sua atuação fica por conta da magnífica cena de abertura do filme.
Jennifer Lawrence apresenta o lado doce e agradável de Mística, mas nada em sua atuação chega a destacá-la em momento algum. Porém é perceptível que a atriz se esforça durante as cenas e, assim, sua atuação progride ao decorrer do filme. January Jones é medíocre. Emma Frost poderia ter maior impacto em sua primeira aparição se não fosse a infeliz escolha de escalar esta atriz para o papel. Durante o longa inteiro, Jones mantém a mesma cara azeda, apática e pouco atraente para uma personagem que possui características completamente opostas as apresentadas pela atriz. Nos quadrinhos, Frost tem o marcante traço de usar sua sensualidade para atingir seus objetivos. Jones até tenta explorar este lado da vilã, porém a falta de firmeza de sua atuação compromete o desenvolvimento da personagem.
Enquanto humano, Nicolas Hoult apresenta um interessante Hank McCoy, mas após a transformação do personagem sua atuação perde força. Rose Byrne, Oliver Platt, Jason Flemyng, Edi Gathegi, Lucas Till e Zoe Kravitz completam o elenco.
Fotograficamente Mutável
Os dois primeiros filmes da série não possuíam um tratamento fotográfico aceitável. Isso só foi acontecer a partir do terceiro filme que apesar de narrativamente fraco, conta com um visual belíssimo. Aqui, o diretor de fotografia Jason renova o visual da série com muita competência.
É interessante notar as diferenças da cinematografia britânica com a americana. O inglês indicado duas vezes ao Oscar privilegia as sutis distorções nas imagens causadas pelo inteligente manejo de suas lentes. No melhor estilo “kubruckiano”, o cinegrafista aumenta de forma bizarra objetos em primeiro plano. Com estes efeitos de distorções visuais, é capaz de aumentar as dimensões físicas dos cenários na imagem quando na realidade o espaço é bem menor do que o apresentado pela ilusão. Às vezes, também utiliza a técnica a fim de aproximar os personagens da plateia. O melhor exemplo disto seria a tomada em que a câmera desliza sobre o capô de um carro. Neste plano, a distorção nas bordas da tela é muito visível.
Sua modelagem de luz agrada todos os gostos. Ele evita manter tons e cores por muito tempo. As cores que o cinegrafista satura em determinadas cenas sempre possuem um significado. Em determinada cena que se passa em um bar, reforça fortes tons amarelados. Isto acontece para enfatizar a cena que é extremamente física, além de marcar o nojo de Erik pelos clientes que estão no bar. Na abertura do filme, a escolha de tons frios, acinzentados e sombrios misturados com a chuva e a lama casam perfeitamente com a hostilidade do campo de concentração. Já na câmara principal do submarino de Shaw, satura exageradamente o branco do cenário, reforçando a insanidade do antagonista.
Enquanto na casa de Xavier, as cores voltam a ser amistosas e mornas devolvendo o conforto aos personagens. Também gosta de utilizar a contraluz dando um sentido mais artístico ao recurso utilizado diversas vezes sem o menor sentido por cinegrafistas americanos. Além disto, usa muitos desfoques em sua cinegrafia. O mais interessante da fotografia do filme são os criativos reflexos que Matheson encaixa em diversos objetos. Existe um plano no final do filme que é fantástico. Com o efeito inteligente do reflexo de espelhos planos cria um plano gigantesco, complexo e infinito.
Os efeitos visuais não são de todo ruins, mas também quase nunca surpreendem. O que chama a atenção do espectador não é a qualidade visual do efeito, mas sim a física que os animadores criaram para eles. O comportamento dos redemoinhos de Maré Selvagem é belo e o efeito visual do clímax merece reconhecimento pela incrível modelagem dos inúmeros elementos que acontecem simultaneamente na cena. O figurino tem seu mérito por resgatar o visual clássico da série: as eternas cores do amarelo e preto.
A direção de arte trabalha cenários inacreditáveis como a recriação de Las Vegas dos anos 60, a câmara e o escritório de Shaw, o campo de concentração, a sala que os mutantes se reúnem na CIA, o interior do cassino e o bar em que Erik faz uma visita são meros exemplos da perfeição dos cenários. A maquiagem recria o visual de Mística, mas fica devendo na reprodução de Fera. Ele ficou simplesmente bizarro.
Vaughn Gogh
Matthew Vaughn subiu rapidamente ao estrelato pelo sucesso estrondoso de seus dois filmes anteriores, Stardust: O Mistério da Estrela e Kick-Ass: Quebrando Tudo. Com este filme, Vaughn volta a trabalhar com o universo que mais gosta – o dos quadrinhos. O diretor mostrou-se bem eclético na direção visto que Kick-Ass é um filme ultraviolento enquanto este é muito mais leve. Novamente, o inglês acerta em cheio na direção dos atores principais da película. A ambientação vintage, moda seiscentista do filme, criou uma atmosfera única conferindo a identidade visual que todo diretor almeja em sua carreira.
O aspecto mais interessante de sua direção é o enquadramento de seus atores dentro do plano. O diretor evita a todo custo os planos conjuntos – aqueles que enquadram dois ou mais atores a partir do busto ou da cintura. Estes planos devem compor 25% do filme. O diretor prefere isolar seus atores no centro do plano forçando-os a fazer um pseudo monólogo, além de exigir mais da atuação do elenco.
O diretor também aproveita as chances que o roteiro lhe oferece, por exemplo, os inúmeros locais que o filme se passa. Assim, mantém um ritmo muito bom em seu filme. Poucas vezes o diretor abre as imagens do filme. Quando deixa os planos bem abertos, faz com a finalidade de mostrar o gigantismo dos efeitos visuais ou da paisagem. O cineasta apresenta também o uso bem violento da câmera nervosa. O resultado é único quando ele começa a tremer compulsoriamente a imagem.
Às vezes, Vaughn desliza na estética do filme. O visual dos poderes Shaw é ridículo e tosco, desassociando a figura maléfica do antagonista. O gosto duvidoso do diretor também aparece na edição do filme. Ele opta por dividir a tela em várias imagens consecutivas sobrecarregando o espectador com muita informação. Esta escolha foi absolutamente desnecessária já que não adiciona nenhum dinamismo a mais para a cena, somente atrapalha o andamento do filme. A sorte é que isto acontece poucas vezes.
Porém o diretor compensa com momentos de tirar o fôlego. Logo no início do filme, recria perfeitamente a cena que abre X-Men: O Filme com uma carga dramática bem maior. E logo na cena seguinte consegue causar um impacto na plateia apenas com a construção inteligentíssima do segmento que aposta no contraste do visual arrebatador do cenário junto da iluminação da fotografia. Depois, no clímax, surpreende novamente o espectador com a simples inserção de um slow motion fantástico que multiplica a dramaticidade assustadora da cena. A forma que ele conduz o clímax é magistral, principalmente por parte da edição originalíssima que o diretor cria. Ali seu toque é certeiro, intercalando a imagem silenciosa e agonizante da moeda com a da sinapse do grito ensurdecedor e desesperado de McAvoy.
A extinção da mediocridade
Com X-Men: Primeira Classe, Matthew Vaughn finalmente provou que filmes de super-heróis têm capacidade de abandonar a visível mediocridade que condenam inúmeros filmes dos personagens da Marvel. Logo, este novo X-Men é equivalente à qualidade de Batman Begins. O cuidado de toda equipe com o conjunto da obra é memorável. O filme é recomendado a todos os públicos. Mesmo que você não seja fã de quadrinhos, deveria dar uma chance a este filme. Os poucos defeitos que possui não atrapalham que ele assuma o pódio de filmes adaptados das HQs da Marvel. Com o marketing mais genial da história, o filme inaugura um ar completamente novo para a legião de mutantes. Espero que o próximo filme tenha uma narrativa tão encantadora e inteligente quanto esse. Só dou as minhas boas vindas a esta nova trilogia que promete. E muito.
X-Men: Primeira Classe (X: First Class, EUA – 2011)
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn, Sheldon Turner, Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Laurence Belcher, Michael Fassbender, Bill Milner, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence, Beth Goddard, Morgan Lily, January Jones, Zoë Kravitz, Jason Flemyng, Nicholas Hoult
Gênero: Ação, Aventura, Ficção científica
Duração: 131 min.