Bandersnatch é a mais nova entrada da incrível antologia distópica Black Mirror – e prometeu revolucionar o modo como assistimos a uma série. Utilizando uma série de códigos e referências a videogames e jogos de computador, o filme episódico, ao estilo de White Christmas, ganhou notoriedade e grande expectativa por ser interativo, ou seja, por trazer o público um passo mais próximo da história e de seus personagens.
Através de uma estruturação já conhecida, a audiência tem a missão de decidir para qual lado ou qual decisão o protagonista toma, colocando-o em diversos caminhos que, eventualmente, culminam em um trágico fim, próprio da produção como já a conhecemos. E ainda que as possibilidades sejam “infinitas”, o Bastidores resolveu fazer um breve artigo explicando os múltiplos finais do longa-metragem, sempre partindo da perspectiva do nosso “herói” conturbado Stefan (Fionn Whitehead).
Para tanto, é preciso entender que a ideia de livre-arbítrio não exatamente existe neste cosmos. Apesar de nós controlarmos um personagem, Black Mirror deseja que você siga por um determinado caminho, até mesmo colocando coadjuvantes que nos incitem a fazer o que eles mesmos desejam. Porém, é sempre interessante acharmos que temos algum controle, então aqui temos os cinco finais possíveis e suas variações para Bandersnatch:
1. STEFAN DESTRÓI SEU COMPUTADOR
Em determinado momento, Stefan alcança um ápice de estresse acerca de seu jogo, trancando-se em seu quarto por várias semanas para terminar seu trabalho e enviá-lo a empresa. É claro que a pressão acerca de realizar um produto com grande capacidade de vendas não é para qualquer um e, num ataque que nós mesmos escolhemos, ele joga chá ou até mesmo quebra o teclado de seu computador, um na presença do pai, que logo lhe diz “o que você fez? Era o seu trabalho” e outro clamando pelo pai, desabando em seu colo e desistindo do que realmente desejava.
As escolhas estão bem claras e, apesar de poderem dar margem para outros acontecimentos, é game over para o público. E, além disso, a essa altura da narrativa, Stefan já começa a desconfiar de que há alguém por trás de suas decisões e de que sua realidade não passa de uma mentira.
2. STEFAN MORRE
É claro que Black Mirror jamais nos deixaria com uma sensação de otimismo – afinal, este não é nem de longe a ideia da série distópica. Explorando as múltiplas consequências da dependência da tecnologia e a frágil condição psicológica dos seres humanos, era mais que óbvio esperar que uma tragédia acontecesse. E, nesse caso, o personagem de Whitehead é a vítima da vez.
Após brigar com seu pai, Stefan é levado até a terapeuta e podemos escolher entre fazê-lo entrar ou seguir a misteriosa figura de Colin (Will Poulter). Caso optemos por esta decisão, ele o segue até seu apartamento e ambos utilizam uma droga alucinógena chamada MDMA, cujas vibrantes sensações abrem os olhos de ambos para um mundo infinito. É a partir daí que Colin começa a dizer para seu novo colega de trabalho que a ideia de livre-arbítrio não existe e que, no momento em que algo acontecer a eles nesta realidade, imediatamente não acontece na outra, negando até mesmo o nosso poder sobre nós mesmos. Logo depois, ele diz a Stefan, na beirada de um parapeito, que um deles deve pular – e adivinhe só? Stefan é uma das escolhas mais populares! Só que, diferente do que esperávamos, o garoto morre de verdade, o game é finalizado às pressas e recebido pifiamente pela crítica, caindo no esquecimento.
Em outro caminho criado pelo filme, Stefan alucina após ler um livro e sonha com seu passado, descendo para o cofre que seu pai mantém em segredo. Entretanto, ele não sabe de que tudo não passa de uma ilusão e, acordando abruptamente do delírio, morre no divã de sua terapeuta, marcando mais um game over.
3. STEFAN ENLOUQUECE
Após ter certeza de que está sendo observado por uma força maior e todo seu suposto controle não passar de uma mentira, Stefan tem um gigantesco e assustador breakdown, saindo de seu quarto após “mandarmos um sinal” para ele pela tela do computador. Tentando manter o pai longe do que acontece, podemos escolher se ele o mata ou não. Caso optemos pelo homicídio, ele logo o atinge na cabeça com um cinzeiro, matando-o na hora e livrando-se do corpo de suas maneiras diferentes: cortando-o em pedacinhos, conversando com a backstory de outro personagem da produção, ou enterrando-o.
Se ele o enterrar, Colin é mandado para visitá-lo e temos a opção de matá-lo também ou deixá-lo ir sabendo de toda a verdade. Em outra das possibilidades, ele liga para sua terapeuta e a ameaça de morte por conspirar com o pai, ambos sabendo de tudo o que acontecia desde o princípio. Tanto nesta concepção quanto naquela, Stefan é preso e o game ou é lançado com a medíocre avaliação de duas estrelas e meia, ou é descartado e leva a empresa à falência, passando o resto dos dias na cadeia.
Agora, se Stefan o cortar em pedacinhos, mergulha numa cíclica prisão de loucura na qual termina o jogo e ganha uma avaliação máxima dos críticos, apenas para ser descoberto pelas autoridades e internado. E isso não é tudo: anos depois, uma outra designer decide reviver os acontecimentos do passado, apenas para descobrir que também não é fruto de seu próprio livre-arbítrio, e sim do público, sedento por controlar mais vidas.
NADA DAQUILO É REAL
Em uma das bizarras realidades paralelas, Stefan visita sua terapeuta para lhe contar sobre uma possível força do Destino que controla suas ações e decide por ele o que deve fazer, impedindo-o de ter uma vontade própria. Logo depois, a especialista tenta analisar as coisas de maneira lógica e diz a ele, num tom retórico, que se estivessem numa espécie de jogo, as coisas teriam um pouco mais de ação pela pura e simples ideia de entreter aqueles que escolhem.
A partir daí, as coisas mergulham em uma série de sequências de ação inesperada, na qual Stefan e sua terapeuta lutam até a morte, com badulaques, golpes de caratê e até mesmo uma possível fuga pela janela. E justamente nesse momento que uma voz desconhecida grita “Corta!” e se aproxima dele, dizendo que agora está na hora da cena de luta. Sem entendermos nada, e aparentemente nem mesmo o personagem, ele é chamado de Mike pela diretora e entra em parafuso, tentando compreender o que se passa. A cena termina com ela pedindo por um médico e o restante da equipe observando Stefan/Mike com estranheza.
STEFAN ACEITA OS TERMOS DA EMPRESA
É claro que já exploramos inúmeras variações de como o game fracassa, mas no caso essa é a mais rápida forma de terminar Bandersnatch. Após visitar a empresa de Colin, Stefan recebe a oferta de trabalhar para eles com sua própria mesa e sua própria equipe – e podemos tanto aceitar quanto negar a proposta. Caso aceitemos, ele termina às pressas seu trabalho, entregando-o em setembro para uma avaliação e recebendo um péssima crítica. O prospecto de game over é bem claro e, mesmo chegando a um triste final, somos lançados para o começo da jornada de novo para escolhermos por um novo caminho.