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Críticas

Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra (Com Spoilers)

Logo de cara, após o término da longa e prazerosa projeção de Planeta dos Macacos: A Guerra, a sensação de ter assistido algo especial já é quase factual. A jornada que havia assistido até ali já deixava isso muito claro - quase a mesma jornada que essa nova fase da franquia Planeta dos Macacos no cinema trouxe para o público de hoje. Desde o primeiro filme, quando fomos apresentados ao personagem César, de Andy Serkis, já era perceptível que ele e sua história eram algo muito especial, não tão diferente da grandeza que já vimos antes em diferentes formas na clássica franquia.

Falo aqui com tanta ênfase, mas é realmente o sentimento que o final de Guerra, e o filme como um todo, te deixam ao fim; com a sensação de termos assistido a algo realmente grandioso. O final de uma épica e emocionante jornada que se iniciou humildemente lá em 2011 com o lançamento do surpreendente Planeta dos Macacos: A Origem, e depois viria conquistar a todos mostrando seu alto valor dramático e complexo misturado com pura diversão em 2014 com Planeta dos Macacos: O Confronto, e finalmente fincou sua marca aqui com Planeta dos Macacos: A Guerra. O filme desafia convenções e expectativas inevitáveis que o público em geral e os fãs da velha franquia e nova trilogia virão a ter, prometendo entregar algo recompensador e de alta qualidade! Ele cumpre as promessas que a bela pestana aberta do final de O Confronto deixou para o futuro, e a inevitável guerra que estava para se iniciar entre os macacos evoluídos de César e os últimos humanos remanescentes.

Com dois anos passados e inúmeras perdas para ambos os lados, um velho César, com o coração pesado em dor e arrependimentos para com seu antigo aliado Koba e os conflitos resultantes, lidera agora uma guerra que vai ocasionar o fim de uma das espécies. Até que ele se vê incumbido de uma verdadeira missão quase messiânica: liderar seu povo para um novo lar, longe do conflito humano. Mas, após um contra ataque violento da misteriosa figura do Coronel de Woody Harrelson, que acaba friamente tirando a vida da esposa e filho mais velho de César, este completamente destruído por dentro se vê rumo à vingança contra seu novo declarado inimigo. As consequências de seus atos serão maiores do que ele será capaz de suportar.

A discrepância entre os três filmes é percebida quando o rumo que Guerra tomará nos é apresentado. Talvez este seja um dos (muitos) motivos pelo qual a nova trilogia na franquia resultou tão bem até agora. Cada filme possui uma personalidade própria mesmo compartilhando do mesmo DNA; enquanto Origem fora uma pequena introdução para a jornada de César e a gênese da derrocada humana graças a suas arrogantes criações, Confronto foi sobre o frágil balanço da relação conflituosa entre humanos e macacos e sobre César precisar provar seu posto de líder de seu povo. Agora, em Guerra, temos a história de vingança pessoal de César e o confronto das suas responsabilidades para com seu povo contra esse temível novo inimigo.

Tendo essa noção, me atrevo a dizer aqui algo que muitas vezes vejo críticos usarem de forma presunçosa para definir certos filmes (na maioria blockbusters), mas não há maneira melhor de fazê-lo. Planeta dos Macacos: A Guerra é um filme mentiroso. Ou pelo menos teve um marketing mentiroso, nos enganando direitinho para acreditar que este filme se tratava de um blockbuster de ação recheado de épicos confrontos entre militares humanos e macacos com metralhadoras. Vertente essa que sim tem presença no filme... nos cinco (ótimos) minutos iniciais. Nas duas horas restantes de projeção encontramos essa trajetória dramática e pessoal do protagonista César, ao mesmo tempo lidando com os fantasmas do seu passado e com as responsabilidades de líder. Talvez frustrante para os mais adeptos do cinemão puramente entretenimento, e um bom manjar para os interessados em um cinema feito à moda antiga. E isso tudo se deve ao seu talentosíssimo diretor e a total liberdade criativa que lhe fora concedida.

Um símio diretor

É claro, sempre existirão aqueles que dirão que Matt Reeves é apenas um diretor de blockbuster contratual e que pouco possui de marca pessoal ao entregar sua visão. Só que Guerra é a exata prova do extremo contrário disso. Em recentes entrevistas para promoção do filme, Reeves enfatiza constantemente o quanto ele assistiu à clássicos ao lado do roteirista Mark Bomback para chegar ao melhor resultado possível nessa obra. Em outras palavras, ele foi beber da fonte do cinema clássico americano para fazer seu milionário blockbuster.

Isso me lembra uma constante comparação que ouvi, sobre como Dunkirk de Christopher Nolan emulava muito do cinema mudo na forma com que ele compusera as cenas entre os personagens e as sequências de guerra. O mesmo não se aplica aqui, claro, mas é tão interessante notar como Matt Reeves traz sim vários toques dessa linguagem visual primordial do cinema em sua nova abordagem na franquia, em pequenas doses, ao longo do filme. Temos constantes (bons) diálogos, mas são nos pequenos momentos silenciosos presentes onde brilham as emoções entre os personagens. Nas pequenas interações, as sutis trocas de olhares e singelos gestos. Nem preciso enfatizar o quão refrescante e quase divino é assistir a isso feito em um suposto blockbuster de ação e aventura. Talvez tal e qual Logan desse ano, o filme de Reeves não é sobre a ação e sim sobre seus personagens.

Uma coisa interessante na forma que Reeves dirige algumas dessas cenas mais íntimas é o seu extenso uso de zoom in em closes bem fechados nos rostos dos personagens. Uma técnica que pode talvez ser confundida com o que Jonathan Demme fez em Silêncio dos Inocentes, ao criar a intensa sensação de claustrofobia e medo colocando o espectador na fuça do Hannibal Lecter. Enquanto aqui, na verdade, temos uma forte influência de Sergio Leone sobre Reeves, ao filmar os rostos próximos da visão do espectador e entre os próprios personagens. Leone já usara isso de forma soberba em Era uma vez no Oeste, entre outros seus, e Reeves o replica, mas sem nunca copiar. A técnica leva à criação desse nível de intimidade e calor humano (ou macaco) imersivo, permitindo ao público adentrar ao drama e a esses pequenos momentos tão sutis.

O melhor exemplo disso é a primeira cena, quando conhecemos a Nova da jovem Amiah Miller e inicia-se o laço entre ela e Maurice. A cena é composta para ser sentida de forma muito natural, onde em cada take a câmera se aproxima mais e mais dos rostos de ambos os personagens com cortes suaves. Reeves sabe medir o timing certo entre cada relance de olhar que deve ser capturado. Em uma cena como essa, é no constante silêncio que floresce uma relação primal, pura e íntima, que nem os mais bem escritos longos diálogos conseguem capturar. É uma sensibilidade diretorial tão rara de se encontrar hoje em dia e tão fascinante de se assistir desenrolar.

Falando em Maurice, que personagem fascinante! É tão louvável ver como em um filme sobre a jornada de César, Matt Reeves consegue criar arcos fechados muito funcionais também para outros personagens em volta do protagonista. Maurice nunca brilhou tanto na trilogia quanto aqui, e Reeves o engrandece em níveis tocantes que habilmente se costuram com a narrativa do personagem desde o primeiro filme.

O espectador sempre o viu como o parceiro leal e inseparável de César. Talvez sejam reveladas aqui camadas que sempre estiveram presentes, mas nunca realmente exploradas sobre ele. Tanto em Origem quanto em Confronto, Maurice realçava seu receio com humanos, seu medo das crueldades das quais eles são capazes - algo que se conecta fortemente com o personagem do doutor Zaius do filme original, outro sábio orangotango. Com César, Maurice sempre ouviu e viu que os humanos tinham sim um lado bom e capaz de coisas puras. O olhar penetrante de Karin Konoval, a atriz que interpreta Maurice, revela esse raio cintilante de curiosidade sobre querer compreender o ser humano - isso já mostrado em suas interações com o personagem de Kodi Smith Mc-Phee em Confronto, e ainda mais aqui em sua relação com Nova.

Uma relação paternal e primal, onde Maurice talvez finalmente enxerga o lado mais puro dos humanos, tão sutilmente desenvolvida, mas que nunca passa despercebida. Em uma das cenas mais bonitas do filme vemos o gorila Luca e a jovem humana trocando gestos de afetos e sorrisos, com Maurice apenas observando com tanta admiração e curiosidade a criação de laços com o pequeno grupo de missionários desgarrados. Ela, aprendendo a se comunicar em sinais como eles só por naturalmente os observar. As interações levam, a certa altura do filme, a personagem à perguntar para Maurice se ela é uma macaca. A resposta de muitos seria a irônica porém factual de que sim, ela é bondosa e pura, sem um pingo de ódio ou preconceito em seu olhar e atos, ela transcende o homem. Mas não! Maurice a olha, pensa talvez exatamente isso, mas diz que ela é o que é, Nova, não importa sua espécie. Um ato de amor, respeito e carinho que ambos construíram ao longo do filme. Ironicamente aqui, é ele e Nova que voltam a mostrar essa fé e bondade para o espírito rachado de César, mas mais sobre isso depois.

Outro personagem que também recebe um interessante arco é o jovem Bad Ape (Macaco Mau) de Steve Zahn, o alívio tragicômico do filme. E digo tragicômico no sentido de como Reeves teve culhões de colocar em um filme tão dramático, meditativo, trágico e sombrio, uma surpreendente leveza de humor por meio desse personagem. O risco de se tornar uma distração irritante nível Jar Jar Binks é tremenda, mas o diretor e ator driblam isso com eficácia e o equilíbrio perfeito de tom na composição de sua personalidade. Não só sua existência já revela que há sim a possibilidade de mais símios inteligentes como eles existirem ao redor do mundo, como também mostra que ele mesmo é um reflexo do tratamento "doméstico" do homem. César fora criado sempre como um jovem bebê, um filho na sua família no primeiro filme original, já Bad Ape diz que aprendeu a falar e agir observando os humanos e a forma como eles o tratavam. De tanto ouvir a frase "macaco mau" sendo-lhe proferida, ele apenas a adotou como seu nome.

Enquanto César mais e mais age e fala como um homem devido a sua evolução, Bad Ape apenas replica o que aprendeu com os humanos, não só por usar vestimentas da espécie, mas pela predominância da apreensão, nervosismo e receio em sua personalidade. Com César e sua trupe, ele aprende a coragem e lealdade. E, assim como Maurice, Bad Ape descobre como valorizar seu lado primata após tanto tempo vivendo em medo como um humano. Se de início ele cobre todo o seu corpo com casacos para esconder sua faceta primata, no final ele se curva e urra tão livremente como o macaco que ele aprendera a ser e sem medo algum de assim se assumir no meio dos seus, mais e mais dominantes no planeta.

Ape-pocalypse

Mas mesmo tendo o total foque dramático em alta perspectiva no cerne do filme, ainda é muito gratificante notar como Reeves comanda a ação com um senso de realismo bem palpável, mas sem nunca perder o senso de pura diversão escapista. Não que ele não tenha comandado de forma semelhante e excelente em O Confronto, mas tanto a icônica cena do tanque quanto a luta final entre Koba e César iam mais para o lado da diversão e entrega emocional para a história do que realmente o realismo da situação, coisa que ele aparenta querer preservar bem aqui.

Isso já se nota na fantástica sequência de batalha na introdução do filme, com Reeves mostrando uma excelente construção de plano fechado seguindo os soldados de armamento pesado e altamente treinados de perto ao topo do campo da batalha que está prestes à começar. O diretor já demostra a distorção de convenções que vai praticar ao longo do filme. De primeira, o público pensa o óbvio: os macacos estão preparando uma emboscada para os humanos, que vão cair feito patinhos. O intenso tiroteio se inicia, surpreendendo, e vários símios são metralhados e arremessados em explosões sem piedade. Pensamos que Reeves vai optar por um plano sequência mirabolante no intuito de impressionar, mas ele é sutil quanto a isso e usa um plongé sobrevoando a batalha, quase que nos afastando do calor do massacre que vemos de forma agonizante.

É um perfeito jogo de xadrez, os humanos fazem seu movimento e usam seus armamentos pesados e modernos contra os macacos e pensam logo que estão em vantagem. Em um corte, um dos soldados símios grita, à cavalo, e nós pensamos que ele está indo alertar César. Não está: da intensa fumaça florestal, o mesmo personagem agora lidera uma cavalaria de macacada como verdadeiros apaches indo para a batalha, surpreendendo os humanos com uma chuva de flechas que os dizima facilmente. Cinco minutos de pura glória de ação, vimos como os humanos e os macacos lutam, de maneira perfeita.

Talvez seja mesmo um tanto frustrante não podermos ver mais disso no decorrer do filme, mas, como disse, Guerra não é sobre as batalhas e a ação em si, e sim as consequências das mesmas, representada em seus (ricos) personagens. A cena inicial serve praticamente para resumir os dois anos de intensa guerra que César vem enfrentando com o misterioso Coronel e sua facção militar Alpha Omega. O resto do filme, é a jornada de sobrevivência e vitória da mesma.

Essa percepção recai no consciente do público ao começarmos a acompanhar César mais de perto. Sua missão não é a de um líder de guerra, um general em busca da vitória contra os adversários. Ele tem, na verdade, papel de um guia, um messias para seu povo, tentando levá-los para longe da guerra na luta pela sobrevivência. Isso se torna explícito quando descobrimos, mais tarde, o intuito psicopático do Coronel: construir seu insano muro para se defender do outro exército humano, que são contra suas medidas extremistas e genocidas (qualquer semelhança com a realidade de hoje é pura coincidência aos olhos dos mais cegos). Tais situações mostram como César realmente é a força pulsante que molda e desenvolve a narrativa, e tudo e a todos que a cercam desde o primeiro filme.

Uma Força da Natureza

A trilogia É César e sobre César, e tudo que se deriva disso. Talvez seja exatamente por isso que Origem foi o filme que trouxe a franquia de volta a vida de modo tão refrescante, com riqueza ao se afastar aos poucos da visão protagonista humana, para focar na jornada que o primata César inicia desde seu primeiro batimento de vida quando lhe é recebida a dádiva da inteligência. Tudo que se construiu até agora nesse universo fora por sua causa. Em Origem seu nascimento quase milagroso ocasionou a criação do LZ 112, que veio a ser o vírus que exterminaria a raça humana, e o mesmo que ele usou para libertar seus irmãos símios da opressão. Em Confronto, todo o risco do início de guerra entre os humanos sobreviventes e os macacos é um peso que César tem que carregar nas costas. Enquanto tenta apaziguar as relações com o humano Malcom de Jason C. Clarke, pois via nele o lado bom da humanidade, precisa ao mesmo tempo controlar o ódio mortal que movia Koba contra os humanos e ocasionou em sua traição e derrocada de César como líder. Agora, finalmente em Guerra, César em sua fase idosa e madura, enfrenta as consequências de uma vida inteira e da própria existência de duas espécies, tudo elevado ao nível psicológico mais íntimo possível.

Ele não é nenhum líder de guerra como o seu próprio nome sempre sugeriu. Serkis, na criação psicológica e emocional do seu personagem, inteligentemente sempre o construiu como essa figura simbólica, talvez infalível, o líder perfeito. Uma amálgama de "O Príncipe" de Maquiavel ou "O Leviatã" de Thomas Hobbes, o líder justo em um mundo injusto, que aqui lentamente o corrói por dentro.

Reeves parece ter entendido isso tão bem que já ajudara na construção desse conceito com Bomback em Confronto, e a desconstrução do mesmo agora em Guerra. Elevando essa figura do líder outrora perfeito e justo, agora quebrado com a moral em balanço, caracterizado como um pistoleiro errante em uma jornada movida a vingança, carregado de dor e amargura como Clint Eastwood em Os Imperdoáveis ou Josey Wales - O Fora da Lei. Esses detalhes garantem um primeiro ato inteiro onde parece estarmos assistindo um Western revisionista meditativo com macacos a cavalo, que é simplesmente uma imagem sensacional de se assistir.

O melhor estilo Faroeste pode ser visto na cena onde o grupo de César se encontram em uma vila abandonada e veem um humano carregando uma pilha de lenha. Quando este vai sacar a arma, um tiro rápido e certeiro o atinge do nada, enquanto César sai detrás de um celeiro com um semblante de prazer seco no rosto pelo que acabou de fazer. E logo descobrimos que o homem era o pai de Nova, o novo peso moral que César terá que carregar. A referência também surge em cenas paisagísticas BELÍSSIMAS onde vemos o grupo cavalgando pelas florestas frias e as montanhas geladas que quase lembram O Regresso de Alejandro González Iñárritu ou O Grande Silêncio de Sergio Corbucci. Mais uma vez Reeves tratando suas influências cinematográficas para a construção temática e dramática do seu ambicioso longa, mas não para por aí.

Desde seu nascimento é notável como César foi tratado e criado como um verdadeiro milagre. Ele foi a vida que venceu a morte que assolou sua pobre mãe, e dos seus genes se iniciou a nova espécie dominante. Reeves parece voltar a abordar isso fortemente, ao ponto de ser um bom reflexo do desenvolvimento do personagem até então, indo por caminhos verdadeiramente messiânicos ou uma certa releitura de uma parte bem conhecida do antigo testamento. A criação de César em Origem pelos humanos quase se forma um retrato da infância rica e próspera de Moisés em meio da casta, ou espécie, superior, seguido de seu afastamento e exílio da mesma.

Confronto foi a sua prova como líder perante seu conflituoso povo, assim como Moisés o teve que fazer. Já agora em Guerra, se trata de sua jornada rumo ao Êxodo, a se tornar o guia de todo seu povo para longe dos conflituosos humanos guerreando violentamente entre si. Mas como disse, este não é o mesmo César sábio e puro em suas intenções, a dor e o ódio dominam mais e mais seu coração e o cegam de suas reais responsabilidades. Sua fixação em encontrar o Coronel se torna sua doença espiritual, enquanto Koba, seu irmão aliado, ainda assombra seus amargos e ressentidos sentimentos.

Nunca estivemos tão investidos com seu personagem como aqui. Dê a César o que é de César e é exatamente o que Reeves finalmente pode entregar ao personagem - sem precisar se preocupar com outros núcleos narrativos humanos um tanto distrativos como nos filmes anteriores. Guerra é acima de tudo, também, um ótimo estudo moral e psicológico do personagem macaco mais humano que a franquia já teve. Quando César comete os erros, tão humanos, que vão literalmente contra sua natureza, sentimos sua derrocada interna e que ele se aproxima mais e mais de um destino incerto. Eis que entra o Coronel na história!

A Guerra

E se vocês pensavam que Kong: A Ilha da Caveira foi o blockbuster com mais influência de Apocalypse Now de Francis Ford Coppola que alguém viria a fazer, esperem até conhecer o Coronel de Woody Harrelson e sua unidade militar pessoal desgarrada. E nem estou falando da fabulosa carequinha que, claro, lembra o semblante psicótico nu de Marlon Brando como general Kurtz, e sim tudo que lhe remete as insanidades de guerra que seu arco evoca.

Com muitos apontando que é nesse ponto onde o filme perde muito de seu ritmo e foco, o que acontece é o absoluto contrário. Reeves se alonga sim por um bom tempo nesta metade do segundo ato, mas estamos tão investidos na narrativa e com todos os personagens que sinceramente não vejo um tico de ritmo quebrado e uma história LONGE de ser tediosa. Foi o momento para qual César estava sendo construído até então e finalmente entrega as caras sombrias da Guerra que estampa o título do filme.

É tão gratificante ver como Reeves não tem medo ou pudor algum de lidar na cara dura com temas de escravatura, militarização exacerbada e com semblantes de holocausto quando nos submete a uma boa meia hora de filme onde vemos a intensa tortura que o povo de César está passando nas mãos do Coronel. Temas que rememoram o pior da humanidade e sua história de guerrilhas vazias, tanto um histórico americano quanto universal. Já falei do tal muro que o Coronel inóspito e movido a insanidade e medo coloca os macacos para construir e manter os "invasores" que divergem de suas opiniões e ideais?! Qualquer semelhança com a realidade está mais do que descancarada, nunca em um nível forçado e sim completamente eficiente.

E é exatamente isso tudo que o Coronel representa aqui, assim como Kurtz em Apocalypse Now, ele é um produto do medo e ódio causado pela guerra que se reflete em suas ações frias e cruéis que levam ao sofrimento de César, que só iria se intensificar agora. O embate entre ambos nunca parte pro clichê físico e sim o bem escrito diálogo que se sucede.

Quando finalmente vemos herói e vilão frente a frente em cena, a psicopatia do personagem de Harrelson já é estampada. Começando a fazer menções a Napoleão e a Kuster e seus rivais históricos, onde procura proferir uma conexão de nemesis entre ambos, os opostos perfeitos. Um tanto forçado na cara esse momento, mas que funciona ao realmente fazer o espectador sentir a palpável rivalidade entre ambos, ainda melhor representada no intenso diálogo que marca o meio do filme - facilmente visto e julgado como pobre expositivismo como pude reparar por muitos, mas é tudo tão bem salientando dentro da narrativa e nas convicções de seus personagens, e no próprio universo da franquia!

Quando o Coronel revela o extermínio contra os humanos que perderam a habilidade de falar devido à evolução do vírus símio, que ocasionou na sua guerra com a outra facção humana, já indica que este é o ápice do fim do que resta da humanidade. Ainda no fim, eles continuam em guerra e a se matar, o que claro vai levar à sua inevitável queda e o início do domínio primata, tal e qual aconteceu no filme original, não é mesmo?!

O Coronel é tão ciente disso que tanto admira quanto teme César e os seus. Não é por nada que ele deixa possuir alguns macacos desertores em seu exército, ele os quer por perto tanto para provocar a moral de liderança quebrada de César quanto ter alguns dos seres fortes e superiores sob seu domínio. Junto de César, o espectador consegue formar um quadro bem nítido do Coronel nessa cena, e ambos os atores dão um show de atuação. Principalmente Serkis, que com puras expressões transita Cesár entre indiferença, medo, pena e depois ódio para com seu rival. Até Harrelson meio que abandona um pouco seu manto de Kurtz silencioso, misterioso e temível quando começa a dialogar e se torna o bom e velho Woody que conhecemos, mas sempre investido no papel e totalmente intimidador.

E assim se iniciam os longos momentos de tortura emocional e psicológica de César ao ver seu povo, mais uma vez submetido à opressão humana. Criando-se uma dinâmica de filme de guerra de prisão estilo Ponte do Rio Kwai de David Lean, onde vemos César constantemente exigindo água e comida para o seu povo, que lembram bastante o relacionamento do Coronel Nicholson de Alec Guinnes com o Coronel Japonês Saito de Sessue Hayakawa. A guerra sendo travada psicologicamente e moralmente entre os dois líderes. Onde mais uma vez, desde Origem que vemos César encarcerado e sofrendo pelas mãos dos humanos e lutando para libertar seu povo. Você já me ouviu balbuciar aqui demais as comparações e ligações com os filmes anteriores, mas eis o fato que se prova de como Guerra é o ápice do excelentíssimo desenvolvimento de personagem que submeteram César em sua jornada até então. Agora presenciamos o seu inevitável fim. Mas a esperança é a última que morre em um épico!

Sim, mesmo nessa intensa e extensa sequência totalmente Apocalypse Now do filme, Reeves não deixa de ascender o espírito messiânico do épico bíblico à la Dez Mandamentos que ele traz pra esse filme. O momento de tortura e ruptura de César, também é o de sua salvação.

Um dos mais belos e tocantes momentos do filme se sucede quando vemos Nova outra vez em cena, dando água para César quase que milagrosamente, um semblante direto à Ben Hur, que no momento de sua pouca fé e derrocada esperança, um pequeno ato de bondade tão puro lhe desperta o espírito a tanto tempo perdido dentro dele. E momentos antes quando César se ergue em revolta no meio da tortura de um pobre símio e se põe em seu lugar, uma estrondosa trilha de Giachinno toca ao fundo (mais sobre essa depois) e todos macacos juntos se revoltam juntos contra a opressão que lhes é embutida pelo Coronel. É a perfeita versão primata de EU SOU SPARTACUS, aqui representada em: MACACOS, JUNTOS, FORTES!

A própria figura de César pendurado na cruz em X e o golpe mortal de seu ferimento no final vindo de uma seta atirada pelo soldado Preacher de Gabriel Chavarria é outro semblante bíblico, dessa vez à Jesus e sua morte pela lança do centurião. Aliás, note como nesse terceiro ato inteiro, que tem início logo após a retomada de força e fé de César, como há outras das várias quebras de convenções e clichês que Reeves realizou nesse filme inteiro.

Para além do fato de em um filme inteiro de quase duas horas e meia de projeção, sendo este um blockbuster milionário vendido como ação, temos apenas duas grandes sequências da mesma e que nunca são o foco de maior atenção, embora Reeves comande ambas com firmeza e imenso profissionalismo. Essa última com um escopo gigantesco com direito a helicópteros, lança torpedos e um imenso exército com tanques e blindados formando o cenário de batalha dignas de um verdadeiro blockbuster, mas sendo apenas um pano de fundo para o conflito interno que os macacos enfrentam dentro da prisão.

Assumindo assim uma faceta totalmente inspirada em Fugindo do Inferno de John Sturges, vemos o mirabolante plano dos macacos se sucedendo para fugir da prisão em meio do conflito sendo o grande clímax do filme, sem um pingo de exageros grandiloquentes ou mortes esperadas e gratuitas. É mais uma vez Reeves aplicando a sutileza, tanto que o confronto final entre César e o Coronel é nesse enclausurado e sombrio ambiente com o feel claustrofóbico totalmente de Apocalypse Now, onde vemos a derrocada da nova subespécie do Coronel, mudo e babando como um animal enquanto César mais e mais humano recupera sua razão e pureza, sem descer ao nível violento de nossa espécie.

Mais uma vez vemos essa subversão do convencional com o "início da morte" de César ter vindo das mãos de Preacher, o típico personagem de jovem soldado medroso que o público remeteria como o lado bom da humanidade ou dos soldados do Coronel. Aquele que ajudaria César ou os Macacos em algum momento, cansado da crueldade do Coronel e por ter visto bondade em César quando este lhe poupou a vida no início do filme, mas não. Cede ao medo e o ódio e está pronto para matar César quando Donkey, o gorila traidor e que fora caracterizado como vilanesco, salva a vida de César no último momento, arrependido de ter traído sua espécie e, assim, recuperando sua natureza. O humano cede ao medo e ódio, e os macacos se salvam devido sua honra e lealdade, mesmo nos piores momentos.

Em sequência, César salva a todos explodindo o muro do Coronel, o símbolo da opressão humana - o que ocasiona num inesperado Deus Ex Machina com o surgimento de uma enorme avalanche que literalmente dizima o vasto exército humano invasor e salva os restantes macacos. Quer maior metáfora que essa pra Moisés abrindo o mar vermelho para seu povo e o fechando em cima do exército opressivo que os perseguia? Nem Ridley Scott fez melhor em Exodus: Deuses e Reis!

Terão aqueles que dirão que argumentos como esse fazem a defesa do indefensável, mas apenas estou salientando o que Reeves construiu tão bem no filme que ele queria fazer e posso afirmar que acerta em tudo a que se propõe.

Aliás, talvez seja uma comparação xula a que farei aqui, mas se Logan foi o encontro do cinema Western clássico e o road movie setentista com o moderno gênero de Super-heróis, talvez Planeta dos Macacos: A Guerra seja um casório apaixonado, arrojado por Reeves, entre o grande cinema épico clássico com o blockbuster moderno de hoje. Uma junção de influências cinematográficas que o diretor tanto admira e cresceu assistindo desde o Western e o épico, os adaptando de forma sensacional e até nostálgica para o público de hoje. Tudo isso ainda com ecos fortes dos clássicos Planeta dos Macacos.

 Um Planeta dos Macacos

Imagino como seria a reação de Pierre Boule ao ver a repercussão e transformação que a adaptação de sua obra tomou. Nem vou me ater a falar da importância que o filme original teve pois este fala por si mesmo. Mas algo tão notável, tanto no filme de 68 quanto suas mal vistas continuações, foram como tiveram a coragem de espelhar temas e situações derrocantes da humanidade de suas respectivas épocas, que ainda podem ser vistas como problemáticas sociais até hoje. As consequências da guerra nuclear e corrida armamentista no original; fundamentalismo religioso e sistema de classes em De Volta ao Planeta dos Macacos; a tensão racial em ambos Fuga e Conquista do Planeta dos Macacos; a crise farmacêutica, opressão animal e epidemia de vírus em Origem; e militarismo e confronto étnico e religioso em Confronto.

A premissa de macacos subdesenvolvidos dominando humanos foi apenas usada como contexto para criar um reflexo da nossa fraquejante humanidade, um alerta para nossas próprias mazelas ao mundo e ao meio social que vivemos. Matt Reeves parece ter sido uma bênção pois compreendeu tudo isso que a subestimada franquia representa desde os primórdios e a ajudou a se atualizar tão excelentemente nos dias de hoje. Assim como no original, Guerra, e os outros anteriores da nova trilogia recuperaram esse espírito e mostraram como o cinema blockbuster pode e consegue ser tão cinematograficamente e artisticamente rico. Tanto em garantir o escapismo e diversão com ação, e o bom e velho nos fazer refletir sobre nós mesmos. Um filme que é tão bom quanto (se não melhor) que grande original de Franklin Schaeffler.

Outro trabalho que precisa de forte destaque aqui, e que também ajuda no despertar do espírito da franquia, é a EXCELENTE trilha sonora do sempre tão promissor Michael Giacchino. Talvez não uma trilha propriamente "memorável" eu diria, mas a excelência de seu trabalho se encontra mais na construção desta. Não esquecer claro do ótimo trabalho que Patrick Doyle realizou em Origem ao conceber uma sinfonia tão leve e estrondosa nos momentos certos na construção do início de uma longa jornada que seria a vida de César. E Giacchino claro que se estreava nessa franquia em O Confronto e entregou uma boa e excitante trilha para um ótimo blockbuster, mas não um de seus melhores trabalhos como ele viria a realizar em Guerra.

Se a brava Fox deu carta branca para Reeves pra fazer o filme que quisesse (o que geralmente eles vem fazendo muito pelo visto), ele a dá para Ghiaccino realizar suas ambições aqui com sua nova sinfonia. Nunca vi o compositor em um modus operandi tão experimental como ele se apresenta, constantemente trocando entre ferozes percussões tribais para a melodia leve e sutil nos momentos dramáticos do filme, e a sinfonia épica e estrondosa em seus momentos finais. Destaque de como ele consegue deixar o filme exatamente quieto e silencioso quando necessário e com pequenos tons em alguns diálogos sem estragar ou formar uma distração sonora, e sim um bom implemento. Um trabalho que ouso dizer que muito se assemelha (se não supera) ao trabalho de Jerry Goldsmith no Planeta dos Macacos original. A influência é quase clara para os fãs da franquia original e Giacchino aqui faz total jus a ela com pouco esforço em um tom tão classicista e ao mesmo tempo atual e difícil desgostar.

E existe (por alguma razão) quem reclama de como a franquia se tornou um caro caça níquel quando abandonou um de seus marcos que fora a ESTONTEANTE maquiagem símia que criara os personagens nos filmes clássicos, e preferiam o uso de computação gráfica atualmente. Bom, não sei mesmo do que reclamam quando o que temos aqui com o trabalho de efeitos da Weta é nada menos do que extraordinariamente perfeito. Nunca os macacos e o próprio César estiveram tão realistas na trilogia quanto aqui. As ricas e detalhadas expressões faciais; os pelos divergentes em cores e convencendo na pelagem seca e molhada; as lágrimas escorrendo dos olhos de cada um são tão palpáveis (tirando as nossas durante alguns momentos). Estou começando a pensar que eles vem usando macacos subdesenvolvidos verdadeiros nesses filmes e tudo está sendo mantido em sigilo de estúdio.

Um Futuro incerto, mas promissor

Fica sempre a dúvida, no final, se haverá mais a partir daqui. Em um tempo onde vemos franquias com infindáveis continuações e universos compartilhados sendo criados a cada esquina, eis que tivemos aqui uma trilogia redondinha com seu início meio e fim coesos como principais focos de cumprimento de seus criadores, ainda mais depois de um final tão digno e emocionante dado a César aqui. 

Em uma pequena sequência César leva seu povo pelo deserto rumo a sua terra prometida, numa cena que quase me remeteu a um filme de John Ford, e encontra seu fim ao lado do amigo Maurice com um diálogo rápido, puro e sincero sobre o legado deixado, um momento pessoal e uma morte íntima - Reeves finalizando o filme com um plano focado no céu. Seria um chamativo para a vinda do Taylor de Charlton Helston do filme original conectando ambos os filmes, ou seria apenas uma pequena referência? Seria a jovem Nova a mesma Nova que Linda Harrison interpretara no filme original? Seria o jovem filho de César, Cornelius, o mesmo chimpanzé Cornelius que Roddy McDowell interpretou no filme original? Seja o que for acontecer, não me importaria de ver uma nova reinterpretação desse universo, mas o que temos aqui de conclusivo está mais que perfeito. 

Mas vou tentar me amenizar aqui nessas últimas linhas, por mais que meu lado fã esteja queimando em felicidade. Mas de fato Guerra talvez não seja mesmo uma OBRA-PRIMA AVASSALADORA ALTAMENTE MARCANTE que a voz do hype sempre dita em filmes que geram o valoroso boca a boca. Está claramente longe de ser perfeito e um real marco. 

Mas eu também disse a mesma coisa após ter assistido Mad Max: Estrada da Fúria, e hoje o considero facilmente um dos melhores filmes de ação que o cinema já concebeu, sem pensar duas vezes. Só o tempo dirá o que poderemos dizer de Planeta dos Macacos: A Guerra no futuro, mas com o filme ainda fresco e se remoendo em minha memória, posso sim afirmar que é algo de pura excelência o que Matt Reeves entregou aqui. Um filme que faz perfeito jus ao legado da clássica franquia e o honra em grande louvor em um dos melhores (se não o melhor) filme Planeta dos Macacos já feito! E um verdadeiro entretenimento soberbamente concebido com alma, qualidade e muita humanidade!

Planeta dos Macacos: A Guerra (War for the Planet of the Apes, EUA – 2017)

Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves, Mark Bomback
Elenco: Andy Serkis, Toby Kebbell, Judy Greer, Woody Harrelson, Steve Zahn, Ty Olsson, Amiah Miller, Karin Konoval
Gênero: Ficção Científica, Drama, Thriller
Duração: 140 minutos

https://youtu.be/DqkzzMYQI5g


by Raphael Klopper

Crítica | Diário de um Banana 4: Caindo na Estrada

A franquia Diário de um Banana talvez seja uma das mais indecifráveis da história do cinema hollywoodiana - mas não, não estou falando de um plot complexo ou de personagens bem construídos, e sim da necessidade dos produtores executivos em continuar o legado do protagonista Greg Heffley para iterações e mais iterações. Na quarta “odisseia” de um garoto constantemente bombardeado pelos obstáculos da infância - incluindo uma família desequilibrada e uma sequência de reviravoltas impossíveis -, o diretor David Bowers, por incrível que pareça, nos entrega um produto essencialmente infantil e que, apesar do desnecessário excesso escatológico, consegue arrancar algumas risadas.

O filme é baseado na série de livros assinado por Jeff Kinney, e está passando por seu primeiro reboot. A decisão dos estúdios 20th Century Fox em trocar o elenco completo vem em boa hora, considerando que os personagens principais estão presos em um microcosmos e precisam manter as mesmas características físicas e psicológicas através dos inúmeros romances. Jason Drucker encarna Greg e consegue entregar, ainda com sua inexperiência cinematográfica, uma perspectiva própria do universo pueril - a pseudo-maturidade da transição para a adolescência, a qual cega a criança perante à realidade em que vive e à sua idade, colocando-o num patamar de pura crença adulta e negação de sua posição. Apesar da coerência em relação ao público-alvo, esse fator restringe-se à superficialidade e não precisa de aprofundamento. Afinal, este não é o ponto da obra.

Ele, sendo o herói da narrativa e um símbolo de perseverança, tem o objetivo claro de conseguir viajar até a convenção de videogames, tirar uma foto com seu ídolo youtuber e conseguir livrar sua reputação de “mão de fralda”, a qual viralizou através da internet, deixando-o conhecido por motivos embaraçosos. Já conseguimos perceber mais uma conexão feita por Bowers e pelo co-roteirista Adam Sztykiel, os quais conseguem estabelecer um paralelismo cronológico entre a obra de Kinney e a contemporaneidade, adicionando elementos da cultura do agora (como “memes”, o exponencial crescimento das redes sociais e a efemeridade da internet) e ainda mantendo uma relação sólida com sua audiência: as crianças, que já nascem inseridas em um mundo materialista e tecnológico.

Como este é um filme voltado para uma parcela específica, não espere que tudo siga uma lógica pura. Há elementos do fantástico disfarçados pelas saídas formulaicas do acaso - e a primeira delas é a estranha coincidência entre o desejo de Greg e o fato da família estar saindo em uma viagem que tem como parada momentânea a mesma cidade da convenção. A trama principal é uma grande road trip; desse modo, seguindo os padrões do gênero, temos a comédia escrachada como o principal ingrediente para a sucessão de eventos, a resolução de arcos e o crescimento dos personagens. À medida em que Greg narra a partir de sua visão o que aconteceu, somos apresentados às particularidades de sua família, dentro da qual cada integrante emerge na forma de um estereótipo diferente.

O choque entre idades, por exemplo, vem entre o personagem principal e seu irmão Rodrick (aqui interpretado por Charlie Wright). Um se encontra na fase de transição, enquanto outro mergulha de cabeça em seu momento rebelde e de constante desaprovação por parte dos pais. O principal problema é a falta de química entre os atores. Wright permanece em nuances exageradas, enquanto Drucker tenta manter a sanidade de cada uma das sequências montadas. É claro que, no fundo, os dois se amam: mas isso pode ser premeditado ao extremo, e os diálogos de superação, perdão e até mesmo vingança são extremamente previsíveis, até mesmo para as crianças - transformando Diário de um Banana em um desperdício em live-action e que repete o mesmo erro de outras narrativas semelhantes.

Talvez Alicia Silverstone seja a que encontra seu melhor lugar dentro do universo do filme. Encarnando a mãe Susan, ela consegue parecer o mais transtornada possível, utilizando-se de trejeitos pessoais como suas múltiplas expressões exageradas para colocar em tela a personificação de uma mãe superprotetora que constantemente tenta manter sua família unida. Mais uma vez, o ínfimo brilho é ofuscado pela falta de química com seu principal parceiro de cena, Tom Everett Scott (interpretando o patriarca Frank) que traz qualquer coisa, exceto uma boa performance. É claro que o casal funciona como paródia para os inúmeros pais que são vistos como vilões na perspectiva dos filhos e, apesar de algumas risadas espontâneas, eles simplesmente não funcionam.

A nova continuação dessa franquia é, como supracitado, estritamente infantil. Logo, não espere profundidade em seus temas principais, mas sim algo que permita às crianças uma perspectiva própria de seu mundo. O grande problema é estrutural e finca-se ao roteiro: cada virada é, por falta de outro adjetivo, estúpida, e se vale muito de elementos crus e escatológicos para fornecer o mínimo de movimento a uma viagem tão monótona quanto um passeio à igreja.

Mais uma vez, a previsibilidade de resoluções fala mais alto. Os problemas se resolvem; os personagens encontram uma maturidade emocional suficientemente convincente para reestruturar o equilíbrio familiar; todos encontram um final feliz. Nada de novo no front. Mas posso garantir uma coisa: o clã Heffley não teve sua última história contada - e podem ter certeza de que a longa lista de obras de seu criador original ainda vai ter adaptações únicas para o cinema. Infelizmente.

Diário de um Banana 4: Caindo na Estrada (Diary of a Wimpy Kid: The Long Haul, EUA – 2017)

Direção: David Bowers
Roteiro: David Bowers e Adam Sztykiel, baseado na obra de Jeff Kinney
Elenco: Jason Drucker, Alicia Silverstone, Tom Everett Scott, Charlie Wright, Owen Azstalos
Gênero: Comédia, Infantil
Duração: 91 min.


by Thiago Nolla

Crítica | Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

A história de Luc Besson com Valerian é extremamente pessoal. Tanto que não é por menos que Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é dito como o projeto da vida de Besson. Fã declarado dos quadrinhos de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, Besson batalhou por duros sete anos para conseguir trazer uma das histórias de seu herói de infância para as telonas.

O projeto é tão pouco modesto quanto o realizador. Besson investiu ao menos 180 milhões de dólares nesse blockbuster europeu, considerado o filme mais caro do continente até agora. Com essa pretensão, Besson eleva sua nova ficção científica a apoteose dos efeitos visuais cravando seu filme como um marco do gênero. Mas, infelizmente, as coisas saem dos trilhos com bastante facilidade.

Bradando quase 140 minutos, Valerian é uma das experiências mais monótonas e divisivas do ano. E não é por menos. Seu pior defeito é a narrativa e, sem ela, não existe filme que sustente uma projeção tão ostensiva.

Todo o conflito gira em torno de Valerian e Laureline descobrindo o que está acontecendo em Alpha, a cidade dos mil planetas. Uma zona radioativa surgiu no miolo da cidade e está expandindo. Cabe os dois agentes descobrirem como parar a ameaça que pode destruir toda a cidade. Mas a descoberta do casal revela segredos obscuros sobre a própria humanidade.

A Alma do Filme

Como fã de carteirinha e também o mais entendido do assunto, coube a Luc Besson a roteirizar a história deste Valerian. Nascido na nem tão falada escola Cinéma du Look, Besson pode ter a desculpa de ter seguido os preceitos dessa filosofia cinematográfica: pouca substância narrativa para potencializar ainda mais o visual majestoso.

Acontece que, estudando toda a sua bendita carreira, nenhum filme de Besson chega no extremo que aplica em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas. Na verdade, o texto do longa muito se assemelha ao comportado em Mad Max: Fury Road, BvS, Warcraft e outros blockbusters menos relevantes. É uma trama muito acelerada com pouco espaço para estabelecer os personagens, apostando na concisão e conceitos fortes. Geralmente, essa responsabilidade cai no colo do diretor, para pintar imagens fabulosas e complementar as lacunas deixadas pelo texto.

Já afirmei que é uma técnica muito arriscada que somente bons diretores conseguem fazer com qualidade. Duncan Jones, por exemplo, errou feio em Warcraft. Já Luc Besson, enquanto cria um espetáculo visual de ponta, falha horrivelmente até mesmo em criar uma aventura para inserir Valerian e Laureline.

O melhor que Besson pode oferecer está concentrado na introdução do filme. Mantendo a obra silenciosa por longos minutos, conhecemos a origem de Alpha, a cidade dos mil planetas, além de situar o conflito com os alienigenas Pearls do planeta Mul. Depois de fornecer as peças principais de um enorme mistério que se comporta exatamente como uma narrativa digna dos piores episódios de Scooby-Doo.

A apresentação dos protagonistas também não colabora muito. Praticamente não conhecemos nada além de que Valerian é um agente federal pegador (que nunca pega ninguém) com uma obsessão nata em se casar com Laureline que resiste às investidas do colega sabendo do histórico mulherengo do rapaz. Esse tema do casamento praticamente delineia toda a relação entre os dois, desde o minuto que são apresentados até o fim do filme. Logo, ficar acompanhando essa DR eterna sobre o casa ou não-casa dentro de uma trama espacial de perigos gigantescos é algo que destoa e te tira da atmosfera.

Além do conflito ser repetido à exaustão, nós nunca conhecemos Valerian e Laureline. Dane DeHann e Cara Delevingne também não colaboram em nada resultando em equívoco de casting tremendo. Apesar da dupla se esforçar, a figura simpática e debochada de Valerian não combina com as feições soturnas de DeHann, além da figura esquálida do agente não impor confiança durante as missões – nem preciso dizer sobre a completa falta de química nesse casal mais que apático.

Ambos não contam com qualquer substância, além do humor do protagonista e da força feminina de Laureline. Então, a tensão artificial que Besson cria vai para o espaço a partir do momento que se torna impossível criar uma empatia verdadeira pelos personagens. Afinal, com eles ou sem eles, não faz a menor diferença simplesmente porque não nos importamos com o desfecho da narrativa. Ao menos, ambos não chegam no cúmulo de serem irritantes, mesmo que sejam repetitivos.

Para ter noção, a personagem de Rihanna, Bubble, consegue ser dez vezes mais complexa que Laureline e Valerian! E olha que sua participação é restrita apenas em duas benditas cenas. O desfecho é totalmente gratuito, assim como a exposição de seus desejos, mas existe uma lógica perturbadora na inserção de suas atividades em Alpha.

Porém, ainda sobre Rihanna, é absolutamente assustador como a presença da artista na obra a torna completamente inchada. Essa sequência em especial desvia a dupla da missão de uma forma tão gratuita e abrupta que não faria a menor diferença deletá-la completamente do corte final. É como se o próprio Besson criasse conflitos ruins e inúteis apenas para mostrar mais detalhes daquele universo. Uma obsessão tão ruim a ponto de quebrar o ritmo e a lógica estrutural de seu texto.

Antes dessa sequência, também existe outra cena grande para justificar um pseudo deus ex machina a fim de unir os dois personagens, além de traçar jornadas individuais nas quais cada um visa salvar a pele do outro. Ou seja, são duas narrativas independentes dentro de uma maior, mas que somente uma faz algum sentido dentro da lógica do roteiro.

Mensagens da Maldade

Besson também tampouco se preocupa em estabelecer o vilão da obra. O lado antagonista é uma verdadeira porcaria que não incute o menor senso de ameaça. Até existe um personagem que parece indicar ser o verdadeiro vilão da obra, mas ele apenas jura vingança a Valerian e nunca mais aparece na narrativa. Totalmente bizarro.

Disse acima sobre o formato Scooby-Doo e não é por menos. O mistério guiado por uma investigação insossa desemboca na revelação de quem é o vilão do filme. Como também não há o mínimo investimento emocional, não há interesse no desfecho de tudo aquilo. Besson perde seu público na terceira vez que Valerian e Laureline estão discutindo sobre o casamento...

Existe também uma moral e alguma mensagem. Se você limpar toda a poluição que existe no texto, vai encontrar discursos contra genocídio e reflexões sobre a evolução da humanidade, sobre um estado utópico de perfeição que o homem quase nunca atinge, além de ser obrigado a receber lições “humanas” através de outros alienígenas.

Felizmente, ao menos, a narrativa não gira em torno de um bendito Macguffin, apesar dele existir na trama apenas movimento o divertido primeiro ato. De resto, há muito pouco para se salvar na história de Valerian. Há o alívio cômico de três aliens traficantes de informação que mais funcionam como Moiras dentro do contexto, mas nada que marque realmente.  

É estranho pensar em quão rico é esse universo que Besson apresenta, cheio de mitologias, culturas e costumes, mas que nesse filme se torna flácido, opaco e totalmente entediante.

Estilo, estilo e estilo

Luc Besson viaja em Valerian. Apresenta elementos que realmente nunca tínhamos visto antes em qualquer ficção científica, além de conferir muita elegância visual para cada enquadramento. É uma obra-prima visual que, por incrível que pareça, não cansa por sua beleza estonteante.

Mesmo com orçamento menor, Valerian parece ser o filme mais caro dessa temporada, mais caro até mesmo que Star Wars: O Despertar da Força. É uma administração de recursos avassaladora. Não demora praticamente nada para ficarmos embasbacados com a beleza estética de Valerian. Parece ser coisa de outro mundo.

No planeta paradisíaco, já temos a demonstração de uma computação gráfica muito adianta do que estamos acostumados. Tudo tem sua textura, brilho e polimento, banindo o efeito “borrachudo” tão presente em diversas outras produções. Se a WETA não ganhar o Oscar de VFX nesse ano, não sei quem conseguiria desbancar esse trabalho de tão absurdo que é.

É possível ver diversas raças alienígenas, construções estranhas e mecanismos criativos em ação na profundidade de campo. Tudo segue uma lógica riquíssima comportando extrema credibilidade para o universo. Besson realmente criou um mundo totalmente novo com frescor repleto de potencial.

A cidade dos mil planetas também não decepciona. Alpha possui divisões diversas para abrigar diversas espécies alienígenas em sua extensão. E a riqueza de detalhes é capaz de te deixar sem palavras. Vemos castas sociais ordenadas através do figurino inventivo e belo para uma infinidade de criaturas. Até mesmo as mais difíceis e gelatinosas possuem visual trabalhado com afinco. Desde Avatar que não via tanta qualidade visual em um ambiente criado por computação gráfica.

O espetáculo visual é garantido. E em dois momentos específicos, Besson orquestra planos sequência fenomenais que injetam vida a um filme já meio moribundo pela história tediosa. A direção é bastante correta com domínio pleno na técnica para perseguições e cenas de ação diversas, mas em alguns momentos, em establishing shots aéreos, principalmente o da cena do Grande Mercado, Besson movimenta a câmera virtual tão rapidamente que o efeito judder fica insustentável deformando o CGI.

Besson também peca em recair em clichês de encenação tão manjados que surpreendem por figurar neste filme. O clímax em si é um desastre completo. Beesson divide a narrativa em três pontos de vista, sendo um deles bastante banal. As reviravoltas são telegrafas e bastante previsíveis e o pior clichê reside apostar toda a tensão em uma manjada contagem regressiva de uma bomba que pode explodir todos os heróis em cena. Quando vemos uma contagem regressiva e uma bomba em cena, já sabemos tudo o que acontecerá, inclusive quantos segundos restarão no fim da contagem...

Mas é possível perdoar todos os deslizes do terceiro ato truncado pela fantástica sequência do Grande Mercado. O conceito da cena é estabelecer o espaço de ação em duas dimensões. Uma é a física, centrada no deserto, e a outra é “virtual”, por falta de melhor nome. Besson estabelece regras claras de como o conceito funciona tornando de fácil compreensão para o espectador. O mais impressionante é ver a diferença de pontos de vista e como Besson utiliza recursos visuais para diferenciar um lugar de outro.

O que ocorre na outra dimensão pode afetar a segunda e vice-versa. Ou seja, se o herói morrer, ele morre nas duas dimensões. A perseguição interpolada desses espaços é praticamente o único momento que rende verdadeira tensão para o espectador. A inventividade de linguagem provocada pela montagem e excelente direção é digna de aplausos. Com certeza já entra em uma lista de melhores cenas do ano.

Infelizmente, é uma pena guardar comentários pífios para a trilha musical do grande Alexandre Desplat. Apesar de ser eficiente, os temas passam longe de ser memoráveis. Há até mesmo trechos do tema que se assemelham demais a uns timbres do tema de Homens de Preto.

Cidade do Amor e do Ódio

Acredite, não há prazer em criticar ferrenhamente uma obra. Ainda mais uma que é extremamente perceptível enxergar o esforço do realizador em trazer a melhor versão possível de uma antiga paixão de infância. Sete anos de produção não são brincadeira e destronar uma obra que deveria ser um monumento do gênero é uma tarefa inglória. Crítico nenhum é maior que um filme, por pior que ele seja.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas não é um desastre completo ou uma obra que ofenda seu intelecto como já tivemos neste ano. Mas também está longe de ser um filme bom que realmente te entretenha. Acho essa relação entre filme e espectador uma variação completa. Vai depender muito da sua bagagem com essas obras, mas pelo que o longa apresenta e nessas falhas graves de desenvolvimento dos protagonistas, é perfeitamente plausível que não exista empatia.

O que temos é um filme magnifico de tão belo, mas completamente insosso na narrativa, com punhados inteiros que não servem para absolutamente nada. Quando a narrativa estaciona em um desses pontos, realmente é difícil tirar algum divertimento do parque de diversões de Luc Besson.

Para ser a história que inspirou George Lucas a criar Star Wars, Luc Besson conseguiu tornar Valerian em uma das experiências belíssimas mais esquecíveis do ano. Uma bela lembrança de que a estética é uma peça importante de uma obra, mas que nunca a torna espetacular.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valerian and the City of a Thousand Planets, França - 2017)

Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson, baseado na obra de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières
Elenco: Dane DeHaan, Cara Delevingne, Rihanna, Clive Owen, Ethan Hawke, Herbie Hancock, Kris Wu, Rutger Hauer
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 137 min

https://www.youtube.com/watch?v=hG-euPafiUI


by Matheus Fragata

Crítica | O Estranho que Nós Amamos

Sofia Coppola sempre teve uma visão única em seus filmes. Seu mais novo trabalho, O Estranho que Nós Amamos, é uma das maiores provas disto - tanto que conquistou a premiação de melhor diretora para ela em Cannes. Ainda que a diretora esteja acostumada em fazer adaptações – As Virgens Suicidas é baseado em livro homônimo de Jeffery Eugenides e The Bling Ring foi inspirado em um artigo de Nancy Jo Sales -, a nova estreia é acompanhada de outro fator determinante para sua análise, além do livro de Thomas Cullinan que serve de inspiração para o roteiro: a existência de outro filme baseado na mesma obra, dirigido por Don Siegel e estrelado por Clint Eastwood.

A história base continua a mesma: durante a Guerra Civil Americana, um cabo da União é encontrado gravemente ferido no meio da floresta por Amy (Oona Laurence), uma jovem de 12 anos que faz parte de um internato dirigido por Martha Earnsworth (Nicole Kidman). Preocupada e comovida com a situação do cabo, chamado John McBurney (Colin Farrell), ela o carrega de volta até a casa onde vive com outras mulheres. Simpatizantes dos Confederados, elas vivem em uma situação de isolamento total, distante de suas famílias e fugindo da realidade da guerra até que ela termine. Entre professoras e alunas todas passam a conviver com o homem cuja personalidade e motivação são incertas, e suas vidas se transformam.

É nas estrelas do filme que encontramos a primeira mudança. O grande chamariz da versão de Siegel é o galã anti-heroico que conquistava as telonas da época, Clint Eastwood. Já a versão de Sofia Coppola e seu casting minucioso (que manteve sua parceria vindoura com Kirsten Dunst) revelam que seu filme segue outra direção, dando mais valor aos papeis femininos da história. A própria diretora assumiu, em diversas entrevistas, querer retratar a visão feminina da guerra e dos acontecimentos do livro. Mas ver o filme não é necessário para fazer estas são constatações. Na prática, o que muda?

Ao fazer o filme, Siegel preferiu seguir um caminho visceral, colocando diretamente e claramente ainda no trailer quais eram suas intenções. John é retratado como um prisioneiro daquelas mulheres, privadas e sedentas por contato masculino. Elas são ao mesmo tempo sedutoras para com ele, e traiçoeiras entre elas, trocando até tabefes dignos de efeitos sonoros altíssimos. Nada bobo, John se aproveita dessas seduções e abre caminho para conquistar a companhia – e muito mais - de todas elas. Outros homens, os soldados confederados principalmente, também fazem aparições mais importantes, entrando em conflito direto com John e trazendo violências mais explícitas ao roteiro.

O Estranho de Coppola, por outro lado, é muito sutil. A começar pela linguagem cinematográfica – ainda que ela tenha mantido ambientes escuros, suas sombras são mais suaves que as do primeiro filme. Quando aparecem, são bem usadas com significados. Muitas das vezes as faces dos personagens estão apenas parcialmente iluminadas, principalmente nas conversas entre o cabo e as professoras Martha e Edwina – isso quando John não participa de diálogos inteiros com a cabeça virada para o lado, só metade do rosto exposta. Uma das poucas cenas em que essa regra é quebrada é em uma interação honesta entre a ainda severa Martha e o soldado.

Ao decorrer do filme, percebe-se que esta é uma estratégia para mostrar que nós conhecemos pouquíssimo das intenções e motivações de cada personagem, algumas reveladas em momentos de ingenuidade e desejo, no caso de Edwina, outras mantendo-se apenas insinuações e dúvidas até os plot twists acontecerem.

Afinal, não é difícil deduzir, em determinado momento da trama, que John é um cafajeste – mas a profundidade dessa falha de personalidade leva tempo para ser explícita, e outras questões referentes à sua falta de caráter só aparecem mais tarde. John é colocado, efetivamente, como um estranho desconhecido, algo que não acontece da mesma forma com o personagem de Eastwood.

A única personagem que tem seus objetivos óbvios desde o início é Alicia. A garota de 18 anos é interpretada por Elle Fanning e demonstra um fascínio sem igual pelo soldado, inspirada pela descoberta de sua sexualidade. Olhando sempre de trás de mechas de cabelo e muitas vezes de baixo para cima, ela parece estar frequentemente analisando alguém com desdém ou tramando seu próximo passo, determinada em tê-lo para si.

A narrativa também é acompanhada por muitos planos abertos e raros closes – criando um distanciamento entre o espectador e o que ali acontece. Certos momentos evidenciam ainda mais nossa posição externa à trama, como quando John chega a casa pela primeira vez. Ali, vemos ele sendo carregado de longe desde a floresta enevoada. Depois as vemos carregando John para dento da casa por fora barras de ferro do portão - uma alusão clara ao aprisionamento dessas mulheres, mesmo que voluntário.

Outras cenas que apontam para esse aprisionamento, e mais ainda a ânsia pelo fim da guerra e pela liberdade, são as passadas na varanda. Uma das meninas se encontra ali observando o horizonte através de uma luneta. Essas cenas se repetem várias vezes no decorrer do filme, como se a casa fosse um barco em alto mar e ela estivesse procurando terra e salvação em meio à tempestade que acontece entre quatro paredes – talvez um soldado que a leve embora, ou apareça anunciando o fim da guerra. E mesmo ali, não a acompanhamos na observação – estamos sempre de frente, vendo-a e não o que ela vê, ás vezes mais próximos, ás vezes muito distantes.

Drama Histórico Negando a História

Para aqueles que assistiram o filme anterior ou leram o livro, a única ressalva à obra pode ser a escolha de Sofia Coppola em empregar apenas atrizes brancas para os papéis. Mesmo antes da estreia oficial, a diretora foi fortemente criticada por essa decisão, que não é fiel à história original.

A justificativa de Coppola foi a preferência por retirar a presença de escravos da casa para focar a história no núcleo feminino, por consequência removendo o papel de Hallie, uma escrava negra que também cai nas graças de John. Considerando a narrativa criada, a mudança não retira sentido dos acontecimentos - quem nunca viu a versão de Siegel provavelmente não sentirá falta.

Polêmicas à parte, no geral, o filme é muito bom. É uma história lenta, sem frenesi, com momentos precisos de reviravolta e agitação. É um daqueles filmes com que nos envolvemos facilmente, primeiro por sua beleza – o cenário principal é uma mansão histórica construída em 1846 que reaviva a arquitetura grega em seus detalhes, em Louisiana, e também a casa da atriz Jennifer Coolidge, em Nova Orelans – e então por seus mistérios. Um drama histórico que nos estimula a desvendar o destino de cada um dos personagens e nos recompensa quando prestamos a devida atenção – já que tudo está dito desde o início, se não em palavras, em imagens.

O Estranho que Nós Amamos (The Beguiled, 2017 – EUA)

Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola, baseada no livro de Thomas Cullinan
Elenco: Colin Farrell, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning, Oona Laurence, Angourie Rice, Addison Riecke, Emma Howard, Wayne Pére, Matt Story, Joel Albin, Eric Ian
Gênero: Drama
Duração: 93 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=2gZvq43GgKE


by Redação Bastidores

Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

Prequels são assuntos complicados. Pergunte a George Lucas com sua questionável trilogia sobre a origem dos acontecimentos de Star Wars, ou até mesmo a Peter Jackson em sua insuportável viagem ao passado dos personagens de O Senhor dos Anéis em O Hobbit, e terá ciência de que é algo muito difícil tornar interesse por uma história cujo final nós já sabemos. E não só isso, mas manter o interesse do espectador nos personagens e naquela história, indepentende de seu rumo. Então quando a Fox anuncia que trabalhará em um prequel de Planeta dos Macacos, onde o desfecho da história está literalmente no título, a reação imediatamente é negativa.

Porém, assistindo a este Planeta dos Macacos: A Origem, temos um raro ponto fora da curva: um prequel excelente, que conta uma belíssima história e cuja conclusão já sabida pelo espectador é apenas um mero detalhe. Um filme que tem vida própria e que inicia sua própria jornada não só para fazer jus a sua franquia original, mas para superá-la.

Inspirando-se no quarto filme da franquia (A Conquista do Planeta dos Macacos, de 1972), a trama mostra os eventos que levaram os símios a dominarem o planeta, começando com os experimentos de um cientista (James Franco) obcecado em encontrar a cura para a doença de Alzheimer, conduzindo uma série de experimentos em chimpanzés. Tendo na figura do chimpanzé César (Andy Serkis) a chave para solucionar o problema, o símio acaba desenvolvendo uma inteligência muito mais avançada do que todos poderiam imaginar, algo que pode colocar em risco a própria humanidade.

Planeta dos Macacos: A Origem é uma grande surpresa. Na minha opinião tinha tudo para dar errado, mas felizmente o resultado é mais do que satisfatório. A começar pelo roteiro de Ricka Jaffa e Amanda Silver, que traça perfeitamente a saga dos personagens e cria diálogos e situações eficientes que sucedem em contar bem a história – mesmo que não escape de algumas incoerências (como uma explicação mais elaborada no vírus ALZ 112). De quebra, ainda há muito respeito pelo original (atenção a uma importante notícia de jornal) e diversas referências empolgantes que trarão um sorriso aos fãs do original, com destaque para muitas frases marcantes ("Tire suas patas de mim, seu macaco imundo!") ganhando novos contextos aqui. Fan service, bem entregue.

Com um roteiro consistente em mãos, o diretor Rupert Wyatt respeita o material e elabora diversas táticas visuais para adaptá-lo às telas, mostrando-se um talentoso contador de histórias que sabe bem quando equilibrar o drama (é tocante a cena em que Cesar olha assustado a seu redor após proteger seu mentor) e a ação – aqui, um espetacular ataque na ponte Golden Gate. Wyartt também mostrou habilidade em trabalhar com efeitos visuais impressionantes na época, mas que hoje demonstram uma certa artificialidade. Wyatt também é inteligente em sua movimentação de câmera, como no sutil movimento onde um dos cientistas segura uma bebida para atrair um chimpanzé, apenas para que tenhamos um zoom out que revele um segurança com uma coleira esperando para capturá-lo.

Encarregados pela Weta – a empresa de Peter Jackson que trabalhou em O Senhor dos Anéis, King Kong, Avatar, entre outros – os efeitos digitais que criam os diversos sídios do filme garantem a eles um realismo assombroso. Chimpanzés, gorilas e orangotangos enchem as telas e têm todas as suas feições e movimentos espelhados pelo CG, que conta com a tecnologia de captura de performance, que  ajuda a fortalecer a sensacional performance de Andy Serkis. Inclusive, todas as cenas em que acompanhamos apenas o núcleo dos macacos merecem aplausos pela resolução visual sem diálogos ou exposição, utilizando de enquadramentos bem colocados e até linguagem de sinal para estabelecer uma ligação entre os diferentes símios. É quase um filme mudo protagonizado por macacos, algo que Matt Reeves elevaria ainda mais com sua continuação, 3 anos depois.

Serkis, especialista em personagens computadorizados, mostra mais uma vez que tais performances merecem reconhecimento de premiações. Perfeito como o macaco Cesar, ele utiliza como grande trunfo os olhos (humanos ao extremo), que servem para o personagem expressar-se de forma bem subjetiva, e a captura de performance mantém o impecável trabalho do ator, que desde sempre vem merecendo uma indicação ao Oscar. Será que a Academia enfim quebrará esse tabu com o lançamento de Planeta dos Macacos: A Guerra?

Mesmo com Cesar na linha narrativa principal, os humanos também conseguem brilhar. James Franco traz uma das raras performances de sua carreira onde o melodrama está precisamente na medida, criando um laço fortíssimo com o símio Cesar, enquanto John Lithgow acerta ao explorar corretamente a doença do pai de Will. Do outro lado, Freida Pinto serve apenas como enfeite e muleta narrativa para avançar alguns eventos, e Tom Felton repete o estilo malvado do Draco Malfoy de Harry Potter, ganhando destaque por trazer de volta os icônicos bordões de Charlton Heston.

Entre os valores técnicos, a direção de arte é criativa no design dos laboratórios e nas terríveis jaulas onde os macacos ficam aprisionados. A montagem é ágil e bem coordenada – principalmente nas cenas de ação – e a trilha sonora de Patrick Doyle é excelente, empolgando nos momentos mais radicais a passo em que funciona também nos mais dramáticos.

Alcançando o efeito de reboots como Star Trek e Batman Begins, Planeta dos Macacos: A Origem é um ótimo retorno à franquia original – não incluo aí o fraco remake de Tim Burton – e um dos melhores blockbusters do ano, repleto de agradáveis referências e uma trama bem equilibrada e cheia de conteúdo para refletir. Parabéns Fox, continue assim.

Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA - 2011)

Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Amanda Silver e Rick Jaffa
Elenco: Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, Tom Felton, Brian Cox, David Oyelowo
Gênero: Drama, Ficção Científica
Duração: 105 min

https://www.youtube.com/watch?v=tb-xfRR-ig8&ab_channel=Telecine


by Lucas Nascimento

Crítica | O Planeta dos Macacos (2001)

Crítica | O Planeta dos Macacos (2001)

Fatos são fatos, não é de hoje o infame trade de estúdios de buscarem realizar remakes de clássicos consagrados para angariar uma graninha fácil e talvez iniciar uma potencial nova franquia. E Planeta dos Macacos teve esse destino sendo realizado bem aqui no também infame filme do consagrado Tim Burton. E lhes juro, que o filme não consegue passar mesmo de um perfeito caça níquel vazio que busca um novo tipo de sucesso, não importa quão boas sejam suas intenções.

Aliás, não duvido nada que de fato há sim um leque de boas idéias e intenções por parte dos diretores e roteiristas que são convocados para realizar remakes com essa proposta que praticamente esse filme criou, o de "reinventar" ou "reimaginar" o clássico original, ou franquia, em novos percursos e caminhos sem claro buscar desrespeitar o original (um apelido bonito para remake). Ou pelo menos foi essa a desculpa que Tim Burton deu na época quando fora contratado após o projeto ter sido passado de mão em mão, indo desde Oliver Stone, James Cameron, Peter Jackson e o próprio Michael Bay. Afinal esse seria um remake para um dos maiores clássicos de todos os tempos, merecia ser um evento, merecia um diretor consagrado para acertar bem no trabalho!

E assim foi o trabalho de Burton, afirmando o quanto o filme original de 68 de Franklin Schaffner o marcou fortemente como cineasta, e que sua versão tentaria se afastar em novos caminhos e nunca desrespeitar o seu legado. E pode-se dizer que ele o assim faz. Inofensivo e de certa forma despretensioso em suas ambiciosas, porém um tanto esquecíveis intenções. Na verdade o filme é sequer lembrado hoje seja só pelo simples motivo de ter o nome de Tim Burton estampado em cargo da direção, porque de resto...

Bem, vamos por partes aqui!

Um Novo Começo?

A trama logo de cara já busca se afastar o tico possível da do filme original quando nos deparamos com uma central espacial de exploradores da Nasa que treinam macacos para serem astronautas, quando uma estranha tempestade eletromagnética é identificada e o pequeno chimpanzé do Capitão Leo Davidson de Mark Wahlberg é mandado para averiguar e é sugado por ela. Davidson segue logo atrás para salva-lo e se vê arremessado no espaço contínuo para um planeta primitivo onde humanos são dominados por Macacos. E agora se vê na missão de fugir do planeta enquanto enfrenta uma temível perseguição do cruel general Thade de Tim Roth e seu exército, ao mesmo tempo que descobre misteriosos segredos sobre a origem do Planeta.

Como podem ver, nada não familiar com a trama original, mas com algumas mudanças significativas como inserir viagem no tempo e a suposta revolução dos humanos contra o domínio macaco liderados pelo errante herói americano. E ainda revestido de várias referências e call backs para o filme original como releitura de frases ("Tire suas mãos imundas de mim, seu maldito humano!"), incluindo a breve cameo de Charlton Helston como o pai macaco de Thade proferindo sua clássica frase do filme original, só que direcionado de forma pejorativa aqui para o destino dos humanos ("Maldito sejam vocês para o inferno!" - tradução livre minha).

Mas nada que isso seja algo de propriamente negativo do filme, mas o que me desagrada aqui é como tudo é lidado de forma tão fraca e até preguiçosa.

Burton é um exímio diretor e nunca vou deixar de gostar dele ou o vangloriar por seus melhores e autorais trabalhos. Mas parece que Planeta dos Macacos não era mesmo algo que servia para ele vir a dirigir. Não que ele estivesse com ânsia ou não bem intencionado ao comandar o filme, o que até parece que ele estava sim. Trouxe um elenco de estrelas para os papéis de símios; o visual do filme é ótimo; o trabalho de maquiagem de Rick Baker para os macacos é EXTRAORDINÁRIO, ainda mais do que em todos filmes originais ouso dizer; o ritmo é até bem coeso sem nunca se apressar ou se alongar demais. Mas nada me convence de o que se tem aqui é uma história fraca sendo preguiçosamente mal contada!

O aprecio técnico é notável e louvável, mas a essência por dentro dela é quase vazia e oca, capaz de provocar ecos de boas idéias desperdiçadas.

Uma embalsamada confusão

Pra começar é interessante como o roteiro realmente sugere a idéia de existir mesmo um planeta em cenário distópico, que não é a terra, sendo o lar dos símios exercendo domínio sobre os humanos. E mesmo assim, as suas origens sendo relacionadas com influência do homem (só que sem armas nucleares dessa vez), envolvendo as realidades paralelas que a linha do tempo difusa é distorcida (cooperem comigo).

Cuidado com spoilers aqui mais a frente. Pois aparentemente quando o Davidson de Walhberg adentra na tempestade eletromagnética, ele é enviado para anos no futuro desse planeta, onde a nave original com a tripulação havia adentrado também a sua procura e caído no mesmo planeta, milhares de anos antes dele chegar. O que aparentemente ocasionou na revolta dos macacos "mais inteligentes que o normal", subjugando os humanos e iniciando uma nova linha de evolução e domínio.

Conseguiu seguir o raciocínio? Não lhe culpo, nem muito menos o filme se preocupa em querer explicar como o fator da viagem temporal presente no filme funciona, deixando mais para base de própria interpretação ou apenas preguiça de roteiro. Preguiça essa que ainda se reflete em construir uma linha de narrativa quase sem graça alguma.

E isso logo de início, assim que Davidson põe os pés no planeta e vemos a versão de Burton para a "intensa" caça dos macacos por escravos humanos, com um uso irritante de planos fechados enclausurados nas cenas de ação no meio de uma montagem bem dinâmica e energética. E ao próprio decorrer do filme onde o diretor nem sequer se atreve a valorizar em cena um tico dos cenários de fundo, estes também bem sem inspiração se limitando a uma floresta savana, uma cidade/castelo e um deserto árido apenas funcionais. Não que o filme original tivesse o melhor cenário de todos, mas a direção sempre valorizava o espaço e entregava um escopo grande e épico de forma bem sutil e natural para o árido planeta dominado pelos símios.

O que me leva a outro problema também presente na narrativa. O que exatamente estabelece a origem dos macacos aqui? No filme original ocasionava-se da auto destruição dos humanos após anos de corrida militar, com os macacos subdesenvolvidos criando uma nova linhagem de evolução e criação na terra. Sempre carregada de um intenso e complexo mistério, que viria a ser explicado esmiuçada parcialmente nas continuações. Enquanto aqui tal origem se limita a apenas um breve diálogo dizendo que os macacos eram "mais espertos do que pensavam", o que ocasionou uma revolta entre eles subjugando os humanos e iniciado a nova hierarquia. Ok que o filme não precisa exatamente se auto explicar de forma expositiva a todo o tempo, mas as idéias deixadas implícitas sobre domínio e evolução são entregues de forma tão fraca o que deixa o resultado final apenas confuso.

Afinal, alguém realmente entendeu o que raio é o final do filme? Era o planeta em que Davidson estava era mesmo a terra o tempo todo, e o que ele só fez foi avançar nas linhas temporais diferentes até o momento em que Thade voltou a exercer domínio sobre o planeta e extinguir a raça humana por completo? Está longe de ser como no subestimado Fuga do Planeta dos Macacos de Don Taylor onde o conceito de viagem no tempo lá fora, em minha opinião, inteligentemente bem empregado na história e sucitando a origem dos símios dominantes a partir do casal Cornelius e Zira voltando no tempo. Enquanto aqui, é mais jogado na história, e quase sem nexo algum.

Dou crédito ao filme por ter coragem em terminar o filme em uma nota tão pesada e sombria em sua catarse, mas essa tentativa um tanto fútil de querer emular o efeito reviravolta mirabolante e inesperada do filme original, apenas deixa o final um tanto bizarro e vergonhoso. Ah, e ponha "vergonhoso" como perfeita definição de algumas caracterizações aqui.

Macacada Pistola e Humanidade sem carisma

Não bastava termos um ótimo elenco aqui reunido em papéis fraquíssimos, sem densidade ou propósito individual estabelecido, somos ainda obrigados a ver atores como Tim Roth; Helena Boham Carter e Paul Giamatti surtando que nem macacos animalescos aqui e ali, enquanto ainda tentam convencer que são símios humanóides inteligentemente evoluídos. Mas não que seja algo realmente irritante pois, embora pareça realmente ridículo, entrega certa personalidade a seus personagens, mesmo estes sendo os usuais clichês que pode se esperar. O Limbo de Giamatti sendo o (bom) alívio cômico; a Ari de Boham Carter a suposta realeza humilde defensora dos fracos e oprimidos; e Thade de Roth o antagonista extremista em seu ódio contra humanos.

E do outro lado da esfera temos o terrível elenco de humanos, que se limitam a Estella Warren fazendo a mesma expressão de garota tristonha e perdida, e Mark Walhberg como o suposto herói de ação aventureiro másculo sem demonstrar um pingo de carisma so longo de todo o filme. Ele não está ruim mas nem bom, apenas em uma nota sem graça alguma. E o resto...nossa, tem resto aqui?

Outra coisa que aparenta quase sem um ponto nexo coerente é o tom que o filme quer ter para si. Tanto na forma que, tenta, lidar com temáticas "políticas" de poderio e subjugação, quanto seu inevitável lado blockbuster.

Se de um lado temos o lado cineasta de Burton dando fisgadas de aparecimento quando este procura se assumir em sua direção como um filme B de ação e aventura, tentando se aproximar de alguma forma com os originais, e usando bizarras tiradas de humor quando vemos um casal símio prestes a se acasalar com uma das mais bizarras cenas de sedução que você verá na vida. E do outro temos símios humanóides dialogando sobre política e "direitos humanos".

Sem falar quando vemos o personagem descartável, mas legal, Attar de Michael Clark Duncan sendo caracterizado ao longo do filme como o comparsa leal de Thade, que mata a sangue frio dois personagens da turma dos mocinhos do longa (Karubi de Kris Kristofferson, é nem eu lembrava que ele tava nesse filme, e Krull de Cary-Hiroyuki Tagawa, o gorila velho rabugento do bem). E depois perto do final ele fica do bem quando os humanos e macacos se apaziguam após um evento "milagroso" com um macaco astronauta (não perguntem, apenas vejam), sem ressentimentos. Então o filme também está tentando ser moralmente complexo ou apenas outra das preguiças de escrita?

Uma realidade sombria felizmente alterada

Há quem defenda que o filme se propõe exatamente a seguir essa vertente galhofa filme B de ação e aventura, e até que pode funcionar em partes com isso. Mas porque raio então tenta ser sério, complexo e dramático em outros momentos? Seja como for, nenhuma das vertentes realmente me convenceram.

Bom, de certa forma você pode encarar o filme aqui como um bom passatempo para quando não se está fazendo nada. Mas é um tanto decepcionante ter que encarar um filme com potencial tão tediosamente feito. Pelo menos Burton voltou hoje a fazer o que ele é bom que é..., bem, não muita coisa (quase nada). E ainda bem que vimos a franquia se revitalizado com a nova trilogia de Macacos acompanhando a jornada de César e a criação do Planeta símio. Porque se não a franquia estaria aqui deitada na praia fraquejada sem rumo gritando aos céus: HOLLYWOOD SEUS MANÍACOS, VOCÊS NOS DESTRUIU. MALDITOS...MALDITOS SEJAM!

Não mais!

O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, EUA - 2001)

Direção: Tim Burton
Roteiro: William Broyles Jr, Lawrence Konner e Mark Rosenthal; baseado no livro de Pierre Boule
Elenco: Mark Wahlberg, Tim Roth, Helena Bonham Carter, Michael Clarke Duncan, Paul Giamatti, Estella Warren, Cary-Hiroyuki Tagawa, David Warner, Kris Kristofferson, Erick Avari
Gênero: Ficção Científica, Ação, Aventura
Duração: 119 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=GPgNrHqfTdY&feature=youtu.be


by Raphael Klopper

Crítica | O Filme da Minha Vida

Na vida de qualquer artista, sempre há um momento em que a própria biografia se torna o material necessário para a construção de uma nova obra. Para o romancista Antonio Skármeta, esse momento se deu na escrita do romance Um Pai de Filme. No entanto, é curioso perceber como uma trajetória particular consegue se transformar num conto universal, comovendo um coletivo de leitores, ou, mais do que isso, tocar fundo na alma de um único indivíduo, a ponto de fazer com que este, subjetivamente, conecte a sua jornada com a do livro. De certa maneira, é isso o que aconteceu com Selton Mello em O Filme Da Minha Vida, o seu novo longa-metragem como diretor.

Se passando na década de 1960 numa cidade interiorana do Rio Grande do Sul, o filme narra a história de Tony (Johnny Massaro). Depois de uma infância e adolescência felizes ao lado do pai Nicolas (Vincent Cassel) e da mãe Sofia (Ondina Clais), ao voltar do seu período de estudos na capital, ele descobre que o primeiro está prestes a abandoná-lo. Desconhecendo os motivos por trás dessa partida repentina, enquanto tenta superar o trauma abrupto, ele terá de enfrentar os ritos de passagem da vida adulta.

Como diretor, as influências de Selton Mello são muito claras. No primeiro filme, Feliz Natal, a abordagem realista de um drama familiar tinha suas raízes no cinema de John Cassavettes e Thomas Vinterberg. Já no segundo longa, o lindo O Palhaço, ele mergulhou profundamente em alguns filmes de Cacá Diegues e Federico Fellini. Agora, no novo O Filme Da Minha Vida, Fellini continua sendo uma influência (Amarcord é o primeiro título a saltar aos olhos), mas as obras memorialísticas de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso sendo a principal delas) tomam a dianteira. Além disso, há algumas referências literárias, como a obsessão tolstoiana pelo retrato da aldeia como pressuposto da universalidade.

Todavia, apesar de todos esses artistas, tão diferentes entre si, terem as suas marcas visíveis nos filmes do diretor, é possível enxergar uma unidade autoral percorrendo cada um dos longas. Pode-se dizer que são características do estilo cinematográfico de Selton Mello. Todos eles são esteticamente opulentos (até na abordagem documental de Feliz Natal há um cuidado com a composição visual), possuem uma narrativa melancólica, um ritmo compassado e personagens inseguros sobre a própria identidade, o que adquire uma proporção maior quando eles têm de enfrentar essa insegurança em momentos definitivos de sua jornada interior e exterior.

No caso de O Filme da Minha Vida, essas características se revelam amadurecidas, um mérito que se deve tanto a Selton quanto a Walter Carvalho, o diretor de fotografia. O primeiro está muito mais confiante nas suas escolhas (no ritmo do filme e na maneira de abordar a história), enquanto o segundo mantém a genialidade que revelou ter em tantas obras. Os tons quentes adotados juntamente com a direção de arte e o design de produção, a luz estourada e a iluminação soft são primordiais para criar a sensação de poesia e onirismo tão exigidas pela narrativa.

Aliás, como o filme não é apenas sobre os personagens mas também sobre os elementos integrantes da realização cinematográfica, esse lirismo e essa surrealidade obtidos através da fotografia de Walter Carvalho dão ao filme a atmosfera necessária para que o desenvolvimento do protagonista se confunda com a essência do Cinema. Afinal, o que é este senão uma mistura de magia, sonhos e fragmentos de uma determinada história? E o que constituem as nossas biografias senão as mesmas coisas? Essa intrincada relação entre a Vida e o Cinema não costuma vir para um diretor no seu terceiro longa. Essa precocidade de Selton Mello é um sinal importantíssimo do seu amadurecimento como cineasta.

O único destaque negativo fica por conta de um excesso de preciosismo técnico. Parece que cada segundo do filme foi concebido com a intenção de ser poético e esteticamente impactante. Nos primeiros minutos, isso incomoda e cansa. Porém, a partir do momento em que os personagens começam a atrair a nossa atenção, esse zelo em demasia deixa de ser um problema e passa até mesmo a auxiliar o nosso envolvimento emocional com a história. História esta que fará o espectador sair da sala completamente comovido.

O Filme da Minha Vida (idem, Brasil – 2017)

Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicatto
Elenco: Johnny Massaro, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Bia Arantes, Selton Mello, Ondina Clais
Gênero: Drama
Duração: 103 min.

https://www.youtube.com/watch?v=TDVegL5nfYs


by Redação Bastidores

Crítica | A Batalha do Planeta dos Macacos

Em A Conquista do Planeta dos Macacos, vemos como os primatas conseguiram se rebelar contra os humanos e os dominarem. Tudo isso graças a liderança do chimpanzé Cesar (Roddy McDowall), que havia nascido com o dom da fala. O filme foi comandado por J. Lee Thompson, e o estúdio ficou tão satisfeito com o resultado dele, que decidiram chamar ele de volta para dirigir a sequência, que se chamaria A Batalha do Planeta dos Macacos, que também contava com o retorno de Paul Dehn como um dos roteiristas. 

O filme começa mais ou menos uma década após os eventos do filme anterior, com Cesar, o filho dos macacos que vieram do futuro, liderando a sua espécie em um vale escondido e longe do que restou de antigas cidades, que foram destruídas por misseis nucleares. Contudo, neste vale não vivem apenas macacos, mas também humanos e ambas espécies parecem cooperar em perfeita harmonia, todavia, la existem alguns macacos, principalmente o General Aldo (Claude Akins), que não suportam a presença dos humanos.

Cesar em uma conversa com seu amigo humano MacDonald (Austin Stoker), acaba ficando curioso quanto ao destino que reversa os macacos. Com isso ele decide ir até a cidade humana com a ajuda dele, para recuperar supostas fitas contendo relatos gravados de Cornelius e Zira, seus pais, sobre o futuro da raça humana e símia e de todo o planeta.

Os problemas do filme já começam por aí, porque é muito absurdo toda uma cidade ter sido destruída, menos o local onde estão as gravações que o MacDonald mencionou, e também é muito conveniente ele ter mencionado essas gravações para Cesar após uma década de estadia com ele e ainda no momento mais aleatório possível. É muito ilógico e forçado isso, e ainda tem a seguinte incoerência, Cesar ficou surpreso com algumas coisas que seus pais falaram nas gravações, porem no filme anterior, o seu pai adotivo Armando, já havia mencionando muitas destas coisas para ele.

Outra coisa que pode muito ser considerada como forçada, e a evolução dos macacos em um considerável curto período de tempo. É deixado claro que os eventos deste filme se passam mais ou menos uma década após o anterior, só que é muito estranho que todos os macacos tenham evoluído bastante e aprendido a falar e a pensar como humanos em um pouco mais de dez anos. O orangotango Virgil (Paul Williams), até questões quanto a radioatividade e viagem na luz já domina, e há algum tempo atrás provavelmente nem sabia pronunciar uma palavra sequer.

Roddy McDowall retorna novamente como o personagem Cesar, porem ao contrário do último filme, aqui a única coisa que presta no personagem, é a atuação do Roddy. Aqui agora ele é o líder de sua espécie, contudo ele não apresenta autoridade nenhuma, na maioria das cenas ele fica apenas escutando os outros falarem enquanto fica calado, e ele também aparenta ser lerdo para tomar decisões ou para decidir agir, nem parece o mesmo Cesar do filme anterior.

O General Aldo, é claramente inspirado pelos clássicos valentões burros que agem apenas por instinto, a coisa é tanta que até tem uma cena dele numa escola desrespeitando o professor e outros alunos. Ele é um personagem totalmente genérico e desprezível, e com certeza um dos piores de toda a franquia. Paul Williams interpreta o orangotango Virgil, que é um dos melhores personagens deste longa, porem o roteiro força demais para dizer que ele é altamente inteligente como já havia mencionado.

Este filme é responsável também por trazer de voltar um elemento que foi bastante criticado no segundo filme da saga, os humanos mutantes, no entanto eles não apresentam os poderes psíquicos, coisa que tenho certeza que agradou a todos. O arco deles aqui é até interessante tenho que admitir, mas também nada que eleve a qualidade do filme.

A Batalha do Planeta dos Macacos não é o pior filme da franquia, porém é um dos mais fracos. Ele acerta em pouquíssimas coisas e ainda traz uma das piores cenas de batalha de toda a saga. A direção ainda incomoda por deixar a câmera na diagonal em muitas cenas e colocar um prologo recontando a trajetória de Cesar também não foi uma boa ideia, bastava apenas iniciar o filme de onde o outro havia parado. E é assim que a franquia original dos macacos termina, com um filme terrível.

A Batalha do Planeta dos Macacos (Battle for the Planet of the Apes, EUA – 1973)

Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Paul Dehn, John William Corrington, Joyce Hooper Corrington
Elenco: Roddy McDowall, Natalie Trundy, Paul Williams, Austin Stoker, Claude Akins
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 93 min


by Ayrton Magalhães

Crítica | Death Note: Iluminando um Novo Mundo

O filme é uma continuação direta da história escrita e desenhada pela dupla Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. O longa dirigido por Shinsuke Sato (famoso por adaptações cinematográficas de mangás como Gantz e I Am a Hero) e escrito por Katsunari Amano conta eventos dez anos após a trama do mangá, anime e, consequentemente, dos filmes live-action da franquia.  

Na trama, seguidores de Kira acabam trazendo de volta o medo acerca dos cadernos da morte no mundo humano, capazes de matarem qualquer pessoa apenas escrevendo seu nome no caderno. Com essa nova ameaça, a polícia japonesa começa a perseguir todos os usuários do Death Note, que de acordo com as regras, só pode existir 6 cadernos ativos no mundo humano. Recebendo a ajuda do misterioso e excêntrico detetive Ryuzaki, a força tarefa comandada pelo investigador Tsukuru Mishima deve ir atrás dos assassinos e parar a nova sequência de assassinatos. 

Às sombras de Kira 

Apesar de não ser escrito pelo autor original da série, Tsugumi Ohba, a nova história criada para o filme tem todo o estilo e estrutura de um arco do mangá. E sim, é recomendável que você tenha familiaridade com a obra original, já que diversas regras e pormenores do roteiro são retirados dos eventos que ocorreram com Kira, L e os outros personagens principais da história original. A corrida estilo gato e rato entre os detetives e os novos assassinos segue a mesma fórmula da história original, sendo basicamente um terceiro arco da história de Death Note, onde as consequências geradas por Kira se mostram muito maiores do que o personagem em si.  

Aqui, o mundo de Death Note se expande. O filme tem a oportunidade de explorar o que aconteceria caso pessoas com outras índoles possuíssem o caderno da morte. Um exemplo é a primeira cena do filme, onde vemos um doutor em um país europeu pegando o caderno e se utilizando para matar pacientes moribundos. Algo muito interessante no papel, e que é executado de forma bem interessante até certo ponto, mas que nunca chega a realmente empolgar. 

O que falta aqui é a construção de tensão e o desenvolvimento de personagens em relação a história original. Ryuzaki, interpretado por Sosuke Ikematsu, tenta muito ser o novo L, com seus trejeitos, formas curiosas de tratar outros personagens e ao mesmo tempo ser extremamente calculista em seus atos. É assim, uma cópia do L que não ganha empatia o suficiente com o espectador para superar a sombra do personagem original. Outros personagens também são um Ctrl+C Ctrl+V de outros do original, formando assim uma repetição de temas e personagens, muito parecido com algo que ocorre até mesmo no próprio mangá original, com o segundo arco da história estrelando os detetives Mello e Near. Como em seu próprio universo, o novo mundo do filme ainda está às sombras de Kira e da história contada no mangá.  

Porém, ainda há méritos a serem destacados. A direção do filme é muito bem executada, com um estilo visual realista e sombrio que aproxima o espectador da ideia de um mundo dominado pelo medo, com pessoas utilizando cadernos para eliminar pessoas a seu bel-prazer. Nas tomadas aéreas e da cidade, o filme ganha uma escala maior.

O roteiro sabe utilizar muito bem essa identidade visual aliada com uma história criada especificamente para um filme para criar cenas impressionantes na tela grande. Uma das primeiras é uma intensa cena de perseguição onde os policiais perseguem uma das assassinas usuárias do Death Note. Com um belo uso de edição e intensidade na trilha sonora, a assassina corre pela multidão e utiliza seu olho shinigami para ir matando pessoas no caminho e assim ganhar distância de seus perseguidores. É uma das melhores cenas do filme e que mostram bem a criatividade e a qualidade da direção do filme. Pena que isso dura pouco. 

The Boring Note 

Após alguns eventos que acabam delineando bem a ameaça que os investigadores japoneses deverão enfrentar, seguindo as pistas atrás dos 6 cadernos na Terra, o filme desacelera e inicia um jogo cerebral entre os assassinos e os investigadores. O filme aqui acaba perdendo o ritmo e se perde em diversas cenas de exposição, que acabam tirando a importância dos personagens a favor de um plot exageradamente complexo e que provavelmente funcionaria mais em um mangá ou livro. 

A trilha sonora composta por Yutaka Yamada é também bem intensa e ajuda no clima. A parte visual do filme não deixa a desejar e entrega cenas com um estilo de fotografia forte e efeitos especiais dignos de uma produção hollywoodiana, com o destaque para os shinigamis, feitos em computação gráfica e inseridos nas cenas perfeitamente. Mas esse visual "Christopher Nolan" da produção acaba também a tornando um pouco genérica. Um visual que parece muitos outros filmes de ação e suspense americanos e que acaba não se destacando. 

Além disso, sua narrativa é em algumas partes bem preguiçosa. O fato de constantemente vermos flashbacks não só dos acontecimentos dos filmes anteriores, mas também de eventos que acabaram de ocorrer, repetindo e se tornando redundantes. Uma muleta para a falha de síntese do roteiro.

Veredito

Death Note: Iluminando Um Novo Mundo é uma boa tentativa de sequência aos eventos da história original. Porém, passa a sensação de um filme procedural, sem exatamente um motivo para existir, tirando o que poderia ser uma ótima ideia e a transformando em um filme de ação genérico.

Há sim uma boa produção e direção, misturada com um roteiro que ao menos respeita o material original e entrega um filme agradável aos fãs e esquecível para o resto do público, com um terceiro ato arrastado e personagens que basicamente são cópias carbono dos originais. O mundo de Light Up The New World não parece tão novo quanto pretende ser.

Death Note: Iluminando Um Novo Mundo (Death Note: Light Up The New World, Japão, 2016) 

Direção: Shinsuke Sato
Roteiro: Katsunari Amano
Elenco: Masahiro Higashide, Sosuke Ikematsu, Masaki Suda, Mina Fujii, Rina Kawaei, Sota Aoyama, Nakamura Shidō II, Erika Toda, Eiichiro Funakoshi
Gênero: Suspense
Duração: 135 min


by Redação Bastidores

Crítica | A Conquista do Planeta dos Macacos

Em Fuga do Planeta dos Macacos, os chimpanzés vindos do futuro, Cornelius (Roddy McDowall) e Zira (Kim Hunter), contam aos humanos, que após um vírus se espalhar pelo planeta, todos os cães e gatos morreram, contudo, o vírus não afetava diretamente em nada os humanos e nem os outros seres do planeta. Com isso, todos ficaram sem seus amados bichos de estimação, então logo as pessoas tiveram a ideia de adotar os primatas como substitutos deles. Porém, com o tempo, os humanos pararam de tratar os macacos como animais de estimação, e eles passaram a trata-los como escravos pessoais, obrigando os a fazerem todo tipo de serviço, e os torturando se não o fizessem.

Até que um dia, um macaco se cansou de receber ordem dos humanos, e disse a palavra “Não” para um deles, esta foi a primeira vez que um macaco falou na história, de acordo com Cornelius e Zira. E realmente tudo isto que eles falaram veio a acontecer, porem com uma pequena diferença, por causa da interferência deles no passado. O macaco que iniciou a revolução, já falava desde que nasceu, e era o filho dos dois, que se chamava Cesar.

 No final do filme anterior, vemos que Zira havia escondido Cesar em um circo, o deixando aos cuidados do gentil Armando (Ricardo Montalban), que era o dono do circo. Então 20 anos que se seguiram, realmente tudo o que Zira e Cornelius haviam falado aconteceu, os macacos viraram escravos dos humanos. Cesar, agora um macaco adulto, continua vivendo com Armando no circo dele. Armando faz de tudo para esconder da população, que Cesar é filho dos macacos que vieram do futuro. Tudo estava indo bem até que Cesar, ao ver um macaco sendo agredido, falou em voz alta, Armando fez o possível para convencer as autoridades que o macaco não havia falado, porém tudo acaba dando errado.

A primeira coisa a se pontuar, é que este se trata do longa mais violento e sombrio da franquia até agora. O filme contém várias cenas em que os personagens são submetidos a tortura, tanto psicológica quando física, e ainda em cenas bastante tensas e pesadas, mérito do diretor do filme, J. Lee Thompson, que soube construir um clima de bastante tensão ao longo do filme, inclusive usando técnicas que são bastante utilizados em filmes de guerra. Isso pode ser percebido principalmente nas partes em que os macacos entram em confronto com os humanos já perto do final. Mas o pior, é todo o rancor que os macacos sentem pelos humanos é bastante justificável. Durante toda a projeção do longa, vemos toda humilhação e agressão gratuita que os humanos fazem com os símios, chega a dar bastante pena deles de tão cruel que é.

Todavia, o filme apressa demais algumas coisas e não as desenvolve direito, aparentemente para chegarem logo a parte que realmente interessava, que era a da luta dos símios contra os humanos. Contudo essa pressa é bem sentida, e incomoda a ponto de sentirmos que faltou algo antes dos macacos saírem a luta. O roteiro do filme ainda sofre com algumas conveniências assim como o anterior, e situações bem forçadas, que são bem difíceis de engolir.

Como todos já devem saber, Roddy McDowall, que interpretou o chimpanzé Cornelius no filme anterior, retorna neste como Cesar, o filho de Cornelius. A sua interpretação está exemplar como sempre, porem neste ele a eleva ainda mais, possivelmente por causa do roteiro também que exige mais dele aqui do que nos anteriores. Roddy retrata muito precisamente todas as emoções que Cesar passa durante o desenrolar da trama, desde seu estranhamento com a posição dos macacos na sociedade até a sua tristeza ao saber da morte do seu amigo. Porém não é apenas a atuação dele que faz do Cesar um ótimo personagem. Ele tem toda uma jornada no filme, onde ele consegue presenciar e experimentar todo o sofrível tratamento que os humanos impõem aos macacos, sua raiva só vai crescendo à medida que o filme avança e todas as suas escolhas são bastantes sustentáveis.

Natalie Trundy retorna aqui também, porem com um novo papel, desta vez ela faz uma primata chamada Lisa, contudo tanto a personagem quanto a atuação dela, não são nada mais que aceitáveis, ela serve apenas como interesse amoroso do Cesar. Ricardo Montalban também retorna como Armando, o dono de um Circo e mentor de Cesar, o personagem é bastante gentil e é adverso a crueldade imposta aos macacos, e sua cena de morte deixa qualquer um triste, pois ele é uma boa pessoa, que se importa demais com Cesar e o protege como se fosse seu filho, até se suicidou para que ninguém soubesse de sua existência.

A Conquista do Planeta dos Macacos além de ser o filme mais sombrio da franquia, ainda é filme mais pé no chão também. Não há nada de viagem temporal ou humanos mutantes bizarros aqui, apenas a origem da ascensão dos macacos na terra. Mesmo não sendo um filme perfeito, asseguro dizer que ele é o segundo melhor filme desta quintologia, ficando atras apenas do original. 

A Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes, EUA – 1972)

Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Paul Dehn
Elenco: Roddy McDowall, Ricardo Montalban, Don Murray, Hari Rhodes, Natalie Trundy
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 88 min


by Ayrton Magalhães

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