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Críticas

Crítica | Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer

Crítica | Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer

Com Spoilers

Em 1992, ano em que foi exibido no Festival de Cannes, Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer foi duramente vaiado pelo público presente. É difícil dizer quais foram os motivos por trás dessa recepção tão hostil, pois, assim como há a possibilidade de que muitos que estavam na platéia eram fãs do programa de televisão original e ficaram decepcionados com a ausência de respostas concretas, a chance de que algumas pessoas desconheciam por completo o material fonte e não entenderam nada do que estava acontecendo é tão plausível quanto a primeira opção. No fim, o que podemos afirmar é que o longa não agradou gregos nem troianos.

É bem verdade que, tanto no caso de um dos motivos ter reinado sobre o outro quanto na chance de as duas razões terem atuado em conjunto, ambas as reações são justificáveis. Aos que buscaram no filme um ponto final para as questões que ficaram em aberto na série, a experiência de assisti-lo é uma constante decepção, pois quase tudo é trabalhado de maneira enigmática e simbólica. E, àqueles que viram o longa sem conhecer o seriado, a estrutura narrativa da história, que começa com um prólogo longuíssimo, passa por alguns flertes indevidos com a linguagem televisiva e termina com uma indefinição de atos, pode ser insuportável.

No entanto, deixando de lado essas ressalvas pertinentes e compreensíveis e admitindo que é essencial ter visto as duas primeiras temporadas da série para apreciar totalmente o filme, Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer é um conto devastador e cinematograficamente poderoso sobre o fim da inocência. As idiossincrasias de David Lynch e o charme irresistível da maioria dos personagens colocaram um véu sobre a questão mais alarmante de toda a série: o caso de incesto, pedofilia, estupro e assassinato perpetrado por um pai, Leland Palmer (Ray Wise).

Na maneira de agir de Laura Palmer (Sheryl Lee) estão contidas todas as consequências provenientes do crime abusivo que lhe era cometido desde a infância. Ter relações sexuais forçadamente ainda numa idade tenra acaba por impedir o desenvolvimento natural da inocência e dá vida, precocemente, a uma sexualidade torta que se exterioriza das maneiras mais estapafúrdias e contraditórias possíveis. Porém, ao mesmo tempo, aprisiona a pessoa numa espécie de infância eternamente interrompida, já que o desenvolvimento normal de uma biografia supõe a finalização de etapas e momentos históricos. 

Sendo assim, não é casual que a protagonista oscile abruptamente entre a inocência e o devasso. Em um momento, ela é uma linda criança cujos olhos brilham frente às promessas de um horizonte luminoso, em outro, ela se afunda perdidamente numa espiral de vícios e hábitos auto destrutivos. Nessas transições, Sheryl Lee, com muita destreza, contrasta o seu olhar bondoso com gestos insinuantes do seu avantajado e bonito corpo, numa atuação visceral e comovente. A vontade do espectador é de entrar naquele mundo e tirá-la a todo custo do caminho de perdição que ela está percorrendo e cujo melancólico fim já é conhecido.

Todavia, não podemos nos esquecer de que boa parte dos eventos que acontecem no universo de Twin Peaks ganham vida através da interferência de seres sobrenaturais. São demônios e anjos travando batalhas no interior dos personagens. Acima do humano, o que rege a ordem de eventos são os entes malignos, que buscam insaciavelmente por novas vítimas, e os bondosos, que, em ações pontuais e redentoras, trazem um pouco de luz e salvação para aqueles que são andarilhos espirituais e que tateiam no escuro em busca de um interruptor. Em outras palavras, é a eterna luta entre o Bem e o Mal.

Essa dicotomia, insolúvel até o fim dos tempos, é plenamente refletida nas estruturas narrativa e emocional de Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer. No filme, visual e tematicamente, tudo existe na forma de opostos. Laura Palmer é loira e Donna Hayward (Moira Kelly), morena, assim como Mike (Gary Hershberger) e Bobby (Dana Ashbrook), respectivamente. Estes, por sua vez, possuem o mesmo nome de dois seres que habitam o Black Lodge. Dentro de Laura e Leland Palmer, existem o beato e o diabólico. No mundo em que a protagonista abraça o Mal, Donna é representada por Ronette Pulaski (Phoebe Augustine). Bobby é o namorado problemático, e James (James Marshall), o ideal. Há o vermelho e azul, a luz e escuridão e a morte e o renascimento. 

Também é importante perceber como esses opostos se duelam o tempo todo na narrativa. Sempre que Laura se relaciona e conversa com James, minutos depois, ela está interagindo com Bobby. No momento em que está dançando nua na boate, após ver que Donna corre o risco de cometer os mesmos erros, ela interrompe o ato sexual e parte para salvar a sua amiga. Quando Leland age como um louco por causa das mãos sujas da filha, no instante seguinte, ele está arrependido e pede desculpas. E, nos breves segundos em que Laura está feliz, rapidamente, ela abraça a negatividade.

Já do ponto de vista técnico, essa dualidade é somente um dos elementos que possibilitam Lynch de compor momentos estética e sonoramente ricos, que vão desde uma cena cuja iluminação, totalmente azulada, se dá porque o personagem interpretado por Kiefer Sutherland havia perguntando sobre a Rosa Azul segundos antes, até as sequências que começam a partir de uma canção sobre o sentimento de se perder no Mundo e terminam numa boate em que as cores e o comportamento dos presentes remetem ao Inferno, passando pela repetição de sons elétricos sempre que o Mal está agindo. Entretanto, é essa dualidade que dá a oportunidade para Lynch construir a mais impactante rima visual do filme: vejam como, na cena em que Laura e Donna estão conversando, o comentário emitido pela primeira acerca do sentimento de queda que lhe aflige é reiterado pelo ângulo contra-plongée e a lenta aproximação da câmera, que imitam essa queda. Depois, notem como, no final, quando anjos vêm resgatar Laura, o ângulo se repete, mas, desta vez, a câmera se afasta, indicando que, em vez de cair, agora, ela e sua alma estão subindo aos céus (num final inteiramente cristão).

Criando também um bonita rima entre a inocência da protagonista e a de Dale Cooper (Kyle Maclachlan),  Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer é um filme para os fãs do seriado. Quem assistiu às duas primeiras temporadas do programa sentirá completamente os dramas do longa. E é um mérito de Lynch e Robert Engels (o co roteirista) o fato de terem dobrado as informações que já haviam sido dadas nos episódios e transformar a triste jornada de Laura Palmer num evento cheio de descobertas e novos mistérios. Não sabíamos que precisávamos de uma pré-sequência até ver este lindo filme.

Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk With Me, EUA – 1992)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch e Robert Engels
Elenco: Sheryl Lee, Ray Wise, Moira Kelly, Dana Ashbrook, James Marshall, Frank Silva, Grace Zabriskie, David Lynch, Miguel Ferrer, David Bowie, Chris Isaak, Kiefer Sutherland, Mädchen Amick, Peggy Lipton, Eric DaRe, Harry Dean Stanton, Kyle Maclachlan
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 135 minutos


by Redação Bastidores

Crítica | O Jovem Frankenstein

Quando alguém hoje menciona o nome de Gene Wilder, deve bater uma saudade dos fãs nostálgicos que logo remetem à alguns de seus filmes clássicos como A Fantástica Fábrica de Chocolate ou Banzé no Oeste. Mas infelizmente pouco vejo mencionarem o simplesmente soberbo e,  ouso dizer, o melhor filme que Gene Wilder já participou que é aqui o excelente O  Jovem Frankenstein.

E talvez o filme venha cair mesmo como uma agradabilíssima surpresa. Afinal, é tão raro, especialmente hoje, vermos um filme descaradamente de paródia de outro, mas que realmente se comprova como algo de qualidade, ou nesse caso aqui, nada menos do que um grande senhor filme! Quem poderia dizer ou imaginar que um filme "desse tipo" poderia se igualar e, ouso mesmo dizer, superar o clássico em que se baseia. Talvez exatamente por nunca terem tido o privilégio e honra de terem alguém como Mel Brooks na direção e Gene Wilder co-roteirizado e sendo o ilustre protagonista. E acreditem, tudo isso conta como algo MUITO relevante!

Na trama nos deparamos com o professor Dr.Frederick Frokenstein, (NÃO FRANKENSTEIN!) Interpretado por Wilder. E o jovem professor está cansado de viver e trabalhar na sombra da fama do famoso avô, até que recebe um convite para passar uma temporada no antigo Castelo do mesmo. E lá, descobre antigos documentos de uma antiga experiência de trazer um ser humano a vida. Que o instiga a fazer o experimento e se provar um cientista melhor ainda que seu avô. Mas você já sabe onde isso pode e vai terminar!

Seguindo essa trama, o filme pode quase realmente ser considerado não só uma recontextualização do clássico Frankenstein de James Whale, como também uma verdadeira continuação do mesmo e da sua continuação também excelentíssima A Noiva de Frankenstein. Primeiramente por claro lidar com o neto do protagonista original, e também por ambos Brooks e Wilder nunca realmente tratarem o filme como uma simples paródia, e sim uma narrativa bem direta e coesa início meio e fim desenvolvendo sua história e personagens com uma lábia humorada de puro ouro!

Onde é claramente notável e tão louvável ver a grande admiração e paixão que ambos os criadores aqui nutrem, não só pelos filmes de Frankenstein de Whale, como todos os filmes de monstro que a Universal produziu em sua era de ouro. E que de forma alguma os desrespeita aqui e sim os idolatra na forma com que constroem o inteligentíssimo roteiro que não só reconstrói a história original de forma leal e mantendo sua própria visão autoral da mesma, e implementa o rico e satírico humor sem se desfazer ou prejudicar os elementos de terror e mistério tão classicistas que Brooks invoca na narrativa e em sua direção, onde ele move sua câmera aqui como se estivesse filmando um filme de arte macabro, trabalhando em conjunto e em perfeita sintonia técnica com a ESTONTEANTE fotografia preto-e-branca de Gerald Hirschfeld que printa de forma quase perfeita a saturação e profundidade de campo de um filme expressionista Alemão, que nem os bons e velhos clássicos filmes de monstros fizeram de forma tão brilhante.

Mas claro, o sucesso do filme não seria o mesmo sem a sempre ilustre e soberba performance de Wilder com seu charme usual e tamanha convicção no papel que é capaz de te fazer rir quando você menos espera e de forma instantânea. E ele ainda é acompanhado no elenco junto de um HILÁRIO Marty Feldman como o rouba-cenas Eygor e seu refinado humor britânico brilhando nos seus olhos esbugalhados assustadores, mas sempre arranca uma risada a qualquer momento que está em cena. E claro, Peter Boyle entregando sua própria versão do monstro de Frankenstein, intimidador, doce e bem safadinho. Ah, e por favor não esquecer de uma cameo GENIAL de Gene Hackman como o camponês cego, personagem tirado de uma das cenas mais tocantes de A Noiva de Frankenstein, que aqui recebe um tratamento absurdamente hilário.

Detalhe especial dessa cena é como ela consegue ser uma representação perfeita de todo humor que podemos encontrar no filme, tanto na narrativa de diálogos e tiradas certeiras, como também o rico humor visual que mistura adereços e situações tragicômicas de forma perfeita. Que quase relembram os bons tempos de Abott e Costello e a época que eles também se desventuraram a cruzar com as icônicas criaturas em sua série de filmes, assim como Wilder e Brooks o fazem aqui de certa forma.

No final, essa é aquela rara comédia feita com um esmero e dedicação que quase não mais são feitas hoje, tanto técnicas quanto criativas, refletidas em um inspiradíssimo roteiro e nada menos que excelente direção juntos de um elenco que garantem altas e genuínas risadas do início ao fim de forma engajante e inesquecível!

O Jovem Frankenstein (Young Frankenstein, EUA – 1974)

Direção: Mel Brooks
Roteiro: Gene Wilder, Mel Brooks
Elenco: Gene Wilder, Peter Boyle, Marty Feldman, Madeline Kahn, Cloris Leachman, Teri Garr, Kenneth Mars
Gênero: Comédia
Duração: 106 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=ZL9Q_0JtMNA


by Raphael Klopper

Crítica | A Múmia (1959)

Bom, já que a produtora inglesa Hammer fez a sua versão de Drácula em 1958, óbvio que iriam fazer outra versão de um monstro clássico da Universal. A escolhida foi A Múmia (The Mummy). Mas o que foi feito foi outra versão da história diferente do filme de 1934, que foi estrelado por Boris Karloff. É uma produção honesta e muito bem executada.

O longa começa no Egito, no ano de 1895. Os arqueólogos Stephen Banning (Felix Aylmer) junto com o seu filho, John (Peter Cushing) e com o seu amigo Joseph Wemple (Raymond Hutley) descobrem a tumba da princesa Ananka. Como John está com a perna quebrada, ele não vai na descoberta da tumba. Ao entrarem, Stephen e Joseph acabam acordando Kharis (Christopher Lee) um sacerdote que foi almadiçoado a ser o guardião da princesa. Kharis está sendo controlado por Mehemet Bey (George Pastell), um egípcio que não aceita que a tumba da princesa seja profanada por “infiéis”. Três anos depois, Mehemet leva Kharis para a Inglaterra para que cumpra a sua missão e mate os profanadores de Ananka.

Em termos de roteiro, essa versão é mais completa que a de 34, por ter motivações que criam mais empatia. Os personagens são bem desenvolvidos e mais críveis. Outro ponto bem forte do texto, que é assinado por Jimmy Sangster - que fez vários filmes da Hammer com o diretor Terrence Fisher, entre eles Drácula e Frankenstein – é como ele é objetivo. O filme não fica enrolando o espectador, ele é bem direto ao ponto, ao mesmo tempo, em que há um desenvolvimento muito interessante dos subtextos dos personagens.

Mas o objetivo de qualquer filme da Hammer não é fazer uma dramaturgia incrível. É reler um clássico do terror, atualizar e deixar da manca eira mais divertida possível e isso A Múmia faz com mérito. Muito se deve a presença das duas grandes lendas da produtora: Christopher Lee e Peter Cushing. Mesmo com poucas cenas em que solta a sua poderosa voz, Lee consegue criar uma presença monstruosa por conta do seu olhar. Destaque para a maquiagem que o deixa mais ameaçador. Outro mérito está no diretor utilizar planos mais abertos e conjuntos que deixam em evidência os quase dois metros de alturas de Christopher Lee.

Já Peter Cushing, que era famoso em filmes da produtora por interpretar papéis de cientista louco ou de caçador de vampiros, interpreta ao o herói do filme. O ator mostra que tem uma ótima presença de tela, mas incomoda o fato que mesmo na situação mais aterrorizante o personagem não perder a compostura de lord inglês. Sempre calma e de maneira educada mesmo com um monstro matando o seu pai e seu amigo de infância. Mas por conta da presença de Cushing, isso não se torna um problema grave, mas incomoda.

Enfim, essa versão de A Múmia é uma das mais divertidas. Para quem gosta de cinema de terror, sabe que os filmes da Hammer tem sua importância para o gênero, principalmente os estrelados por Christopher Lee. Esse filme é diversão garantida.

A Múmia (The Mummy, Reino Unido – 1959)

Direção: Terrence Fisher
Roteiro: Jimmy Singster
Elenco: Peter Cushing, Christopher Lee,Yvonne Furneaux, George Pastell, Raymond Hutley e Felix Aylmer
Gênero: Terror
Duração: 88 min


by Redação Bastidores

Crítica | Coração Selvagem

Com Spoilers

Quando nos deparamos com uma filmografia "peculiar" como a de David Lynch, é talvez facilmente reconhecível o seu estilo absolutamente autoral, que o segue desde os primórdios sombrios de Eraserhead até o mundo alucinógeno da atual temporada de Twin Peaks. É sádico, único, e, não importa quantas vezes ele se repita, Lynch sempre manteve sua linguagem 99% original, tanto no que se refere à construção de uma narrativa intrigante quanto à criação de um mundo dominado pela insanidade. Mas, talvez, eu esteja me prendendo demais ao estilo que ele emprega em suas mais conhecidas e melhores obras. Só assistam a Cidade dos Sonhos, Eraserhead, A Estrada Perdida, Império dos Sonhos e outros para entenderem o que falo e serem levados pela jornada surrealista que nos leva por dentro do subconsciente humano.

Claro que Uma História Real ou O Homem Elefante, duas belíssimas obras, podem ser uma exceção a essa "regra". São estudos de personagens focados 100% nos dramas pessoais que assolam seus protagonistas e surpreendem pelo seu senso de positividade, apesar de possuírem tons pesados e bucólicos. Sendo assim, quando vemos um filme como Coração Selvagem, já sendo familiar ao estilo pessoal do diretor e conhecendo suas escapadas e transgressões, vemos um filme que se encaixa perfeitamente bem no meio dos dois lados da moeda. Atenção! Com isso, não busco enfatizar que o filme se trata de uma obra-prima avassaladora ou sequer o melhor filme do diretor, mas se trata sim de uma obra que merece ser melhor analisada e apreciada. É o filme que  sintetiza as duas vertentes que podemos ter no diretor, tudo refletido na jornada pessoal do seu casal de protagonistas.

 

Diferente, mas o mesmo de sempre = O perfeito Lynch

Um incêndio com um forte senso de beleza explode na tela; logo depois, um assassinato sanguinolento acontece do nada; meses se passam e vemos esse jovem casal de rebeldes apaixonados fugindo pela estrada e sendo perseguidos pela louca mãe da jovem e por tenebrosos criminosos. Logo de cara, você se depara com todos esses elementos e já sabe que está frente a um filme totalmente lynchiano. Sua estranha fixação por fogo, carros e a estrada, e a constante cor vermelha passando pela tela; personagens assustadores e bizarros; o amor proibido entre um casal de jovens; e claro, a trilha sonora nada menos que soberba e variada em suas diferentes tonalidades.

Mas, em vez do diretor seguir o caminho "esperado" dele, fica claro que  o que está acontecendo é a fuga desse casal de apaixonados rumo ao desconhecido, e o filme não os deixa de acompanhar por quase nenhum momento, ao mesmo tempo que não resiste em querer costurar um ar de mistério sombrio significantemente confuso envolta do passado do casal e do histórico criminoso da mãe Marietta, interpretada soberbamente por Diane Ladd. Por que ela odeia tanto o Sailor de Nicolas Cage? Por que Marcelle Santos, de um temível J.E. Freeman, o criminoso contratado por ela, mata seu inocente amante (Harry Dean Stanton) no meio disso tudo sem razão aparente? Quem raio é esse outro mafioso interpretado por William Morgan Sheppard, cercado de mulheres nuas e que age como líder de um culto secreto? Para onde Sailor e Luna estão indo?

São perguntas que se intricam uma em cima da outra e as respostas nunca são claras. Talvez não importem, mas o porquê de Lynch dar tanta ênfase a elas quando a jornada tão divertida e descolada de Sailor e Luna deveria estar sendo o foco principal? É um tropeço narrativo do diretor caindo em seus próprios "exageros"? Não mesmo! O filme é bem comedido. Se não tivesse o nome de Lynch como diretor, esse filme podia passar risco de ser confundindo com um filme mais surreal dos irmãos Coen, não só por algumas bem pontuadas tiradas de um inesperado humor negro, como também algumas personificações como a do clássico Boby Peru, de Willem Dafoe, em seu look mais asqueroso de todos os tempos, e talvez o mais engraçado também!

Um filme tão divertido que se engrena emocionalmente de forma pulsante pelo seu casal principal, com ambos Laura Dern e Nicolas Cage em suas melhores formas. Enquanto Cage parece incorporar sua própria versão jovial rebelde e tão cheia de um flamejante coração digno de um Elvis pós-moderno, Laura Dern é a pura doçura, sensualidade rebelde e a pureza jovial personificadas em uma só pessoa. Facilmente dois dos melhores personagens que Lynch já criou, e um dos casais mais apaixonantes do cinema, com ambos nutrindo uma carinhosa química, sendo tão diferente um do outro, mas se mantendo unidos debaixo da crença de um só sentimento! Então, por que Lynch busca trazer uma tonalidade tão sombria e misteriosa para uma história de amor tão pura e simples?

Porque é uma narrativa movida por personagens encarregados dessa carga bizarra e misteriosa, assim como o grande Veludo Azul, e, coincidentemente, ambos filmes lidam com os temas sombrios deturpando a inocência de formas bem similares. Só que, enquanto em Veludo Azul o seu lado surreal parecia ter algum “sentido” impregnado no desenvolver da narrativa, em Coração Selvagem tudo parece formar um mistério em cima de outro mistério. Esse é seu cinema, o cinema dos simbolismos. Nada pode significar tudo, e o que não tem sentido pode tomar forma de algo talvez brilhante(?!). Basta tentar arduamente ver o que Lynch busca querer dizer em meio de tantos bizarros simbolismos e caracterizações ou será realmente que ele quer dizer algo?

O Mágico de Oz lynchiano

Não é muita novidade para os fãs do diretor e para os fãs do filme o quão notável é sua fixação pelo clássico O Mágico de Oz. Suas inúmeras referências e bizarras homenagens podem ser encontradas em quase todos os seus filmes, mas a influência em Coração Selvagem talvez seja a mais estampada e descancarada. Mas, afinal, o que raios pode O Mágico de Oz ter haver com uma história tão bizarra quanto essa? Estruturalmente, talvez, nada, porém, não são só em certas bizarras caracterizações que encontramos as semelhanças e influências da clássica história no filme de Lynch.

O Mágico de Oz, em seu core, é uma história de descobrimento, uma aventura rumo ao que podemos encontrar no outro lado do arco íris de nossas vidas, e talvez Coração Selvagem seja exatamente uma história sobre isso. Assim como Dorothy e sua trupe, Sailor e Luna buscam algo na sua infindável viagem pela estrada. Um lar? Redenção? Apenas continuarem indo pela estrada de tijolos de ouro até serem completamente felizes em seu amor proibido, enquanto são perseguidos pelas sombrias forças do mal do mundo que já engoliram sua mãe e a transformaram na bruxa má do Oeste, e o pior mal que a bruxa do Oeste tem a invocar aqui são os pérfidos sentimentos de inveja, ciúme, fixação e ódio inexplicáveis que ela tem por Sailor e o amor dele para com sua filha.

Até a jornada do casal compartilha certas semelhanças: o tornado aqui pode ser o incêndio que inicia o filme e que mais tarde descobrimos que foi o mesmo incêndio que destruiu a casa de Luna e matou seu pai, e com ele toda sua vida sofrida nas mãos de mafiosos e estupradores, fazendo-a conhecer Sailor, que era o motorista de um deles, o demoníaco Santos; a jovem que eles cruzam no acidente de carro na estrada com um sério ferimento na cabeça pode simbolizar o homem de lata ou o leão que eles não puderam salvar, chegaram tarde demais; o Boby Peru e a gangue liderada por Juana, personagem de uma tenebrosa Grace Zabriskie (que possuí um olho cego assim como a Bruxa do Oeste), podem simbolizar os macacos voadores, escravos do puro mal; e a figura do Mágico de Oz aqui pode tanto ser talvez em Marcelle Santos, o covarde que se esconde por detrás de Marietta e age por trás dos bastidores, ou o Mr. Reindeer, o mafioso sexual que contrata os tenebrosos criminosos.

E Sailor, aqui, pode ser o espantalho, o primeiro amigo, o primeiro amor de Dorothy - Luna. Seu primeiro e único amor e guia em um mundo onde ela só conhecia o mal. E com ele busca encontrar seu lugar para além do arco íris ou a estrada de tijolos de Ouro, enquanto a jornada de Sailor é exatamente encontrar seus sentimentos, seu coração (como o Homem de Lata), que tanto teme assumir as responsabilidades e ter que amadurecer e, talvez, perder sua liberdade individual, simbolizada em seu estiloso casaco de cobra. Ao mesmo tempo que luta com seu lado selvagem, que pode explodir a qualquer momento, um sinal de sua insegurança e auto-depreciação, como o Leão covarde talvez.

E, no final, um dos mais lindos que alguém verá, quando ambos se reencontram, e o universo cercado de carros perigosos e a morte e a violência sempre presente, está o amor entre ambos, simbolizados em seu filho, a pureza, que sempre esteve ali ao lado deles e pouco notaram, como o cão Totó, foi sempre o amor que eles buscavam mas sempre tiveram batendo forte dentro de cada um. E o mundo selvagem, pervertido e insano tentou tirar isso deles.

Uma simples história de amor!

Coração Selvagem talvez possa se resumir de forma forte a isto: é uma viagem rumo ao amadurecimento emocional. Sobre como o que é puro e bom nesse mundo tenta ser deturpado pelo mal que pode estar em qualquer lado e canto. Como Luna diz em um belo momento do filme: “O mundo é selvagem por dentro e tão estranho por fora (...) Queria que você cantasse Love Me Tender. Queria estar em algum lugar além do arco íris.”.

Ao mesmo tempo em que é uma ode de Lynch à música, à juventude e ao amor selvagem, tudo personificado em um de seus filmes mais bizarros e dos mais puros de coração. O que mais você pode exigir dele aqui? Já repararam que esse texto faz muitas perguntas, assim como o próprio filme as levanta. Talvez no final basta apenas aceita-lo do exato jeito que é, que nem Luna aceita Sailor, que nem os fãs aceitam seu grande David Lynch. Não é perfeito, mas assim como seu casal imperfeito, é deveras belíssimo e apaixonante!

Coração Selvagem (Wild At Heart, EUA – 1990)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Elenco: Nicolas Cage, Laura Dern, Diane Ladd, Harry Dean Stanton, Willem Dafoe, Isabella Rossellini, Crispin Glover, Grace Zabriskie, Sherylin Fenn, Sheryl Lee, David Patrick Kelly, Freddie Jones, 
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 125 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=R0xwTSxZnHg

 


by Raphael Klopper

Crítica | Colossal

Depois de Godzilla, filme lançado em 1954, estabeleceu-se no Japão o conceito conhecido como "kaiju". Numa tradução literal, seria algo como "besta estranha". Em sua categorização, encaixam-se os monstros cinematográficos que acordam de uma espécie de longo sono e destroem Tóquio. Uma série de acontecimentos foram importantes para o surgimento desse gênero tão característico do país, mas um foi essencial: a Segunda Guerra Mundial. Deixando de lado as movimentações que aconteceram dentro da indústria cinematográfica japonesa, foram as bombas nucleares despejadas em Nagasaki e Hiroshima que deram a esses monstros um caráter histórico muito mais importante.  De uma maneira metafórica, eles passaram a ser vistos como representações físicas dos pesadelos econômicos e sociais enfrentados pelo país depois de 1945.

Sendo assim, a ideia que move Colossal, filme escrito e dirigido pelo talentoso Nacho Vigalondo e que é uma homenagem norte americana a esses filmes de monstros japoneses, se revela muito poderosa e pertinente. Afinal de contas, a história, cujo desenrolar gira em torno de Gloria (Anne Hathaway), uma jovem alcoólatra que decide retornar para a cidade natal e lá descobre ter o poder de fazer surgir um kaiju em Tóquio, é perfeitamente condizente com o sentimento que deu início ao próprio gênero. Da mesma maneira com que as armas humanas deram vida aos monstros arrasa-quarteirões, neste novo longa metragem do diretor espanhol, são os vícios auto destrutivos do Homem que os fazem surgir.

Essa perfeita compreensão do que os kaijus representam enquanto figuras monstruosas acaba se tornando o grande atrativo de Colossal. Se os monstros não dizem nada sobre nós, eles são inúteis. É como se fossem uma consequência da criatividade humana, mas totalmente desprovida de sentido. Para que gerem algum tipo de reação no público, eles precisam ser mais do que ameaças prontas para serem abatidas. E isso o filme de Vigalongo evita completamente. Sabemos desde o início que o primeiro deles a surgir só o fez por causa de uma ação de Gloria. Depois disso, eles darão as caras mais vezes somente em razão dos gestos inconsequentes da protagonista e do personagem interpretado por Jason Sudeikis.

Nesse território de eventos, em um desdobramento lógico, o filme chega a uma conclusão óbvia, porém, nunca ultrapassada: os verdadeiros monstros são os seres humanos. Sem exceção, todos os personagens que compõem a narrativa mostram ter características negativas em algum momento. Dentre essas características, a que mais chama atenção por sua intensidade é o alcoolismo de Gloria. Desde Farrapo Humano, de Billy Wilder, não há um filme norte americano que trate essa questão com tanta força quanto Colossal. Ver uma estrela como Anne Hathaway cambaleando por causa do álcool é, no mínimo, impactante. Aliás, no filme, há um contraste entre uma atmosfera mais leve (nesse sentido, a escolha de Jason Sudeikis foi bem pensada) e outra muito mais soturna que acaba desarmando o espectador, deixando-o emocionalmente vulnerável, o que, por sua vez, é algo quase sempre positivo.

No entanto, se opondo às boas escolhas feitas no começo, as decisões tomadas por Vigalongo no restante do longa terminam sendo extremamente decepcionantes. Claramente, uma vez estabelecida a sua ideia e o universo do filme, o diretor não sabia como terminar a história. Assim, o que lhe restou foi inventar uma mudança de atitude brusca por parte de um dos personagens, que, para ser justificada, teve de ser inventado também um motivo para a existência dos monstros que não era somente desnecessário (a alegoria do impulso destrutivo do homem como ponto de partida para o surgimento de monstros era suficiente para explicar a história), como insatisfatório, já que deixa ainda mais perguntas no ar.

No fim, Colossal tem um encerramento indigno de sua proposta e realização iniciais. Numa época em que reina produções descerebradas como o próprio Godzilla, de Gareth Edwards e Kong: A Ilha da Caveira, o filme de Vigalongo é um sopro de vida e consciência. Por isso, é uma pena que o seu terceiro ato seja tão desastroso. A história contada pelo longa merecia um fim muito melhor.

Colossal (Idem, EUA – 2016)

Direção: Nacho Vigalondo
Roteiro: Nacho Vigalondo
Elenco: Anne Hathaway, Jason Sudeikis, Tim Blake Nelson, Austin Stowell, Dan Stevens
Gênero: Fantasia, Drama
Duração: 109 min

https://www.youtube.com/watch?v=MU6YXhgLEN4


by Redação Bastidores

Crítica | O Homem Elefante

Quando você faz o filme certo, recebe as oportunidades certas. Com David Lynch foi assim. Após experimentar ferrenhamente no surrealista Eraserhead, Lynch foi agraciado com sua primeira produção vinda de um estúdio hollywoodiano. No caso, a Paramount. Mas O Homem Elefante não é sua primeira obra-prima apenas porque Lynch é sim um gênio do Cinema, mas principalmente por causa de um nome muito conhecido, mas que você não fazia ideia de que estava envolvido com essa obra: Mel Brooks.

Brooks já estava de olho em Lynch desde a estreia de Eraserhead no circuito fechado em 1977. O produtor, diretor e ator consagrado pelas comédias que o alçaram ao estrelato é uma das peças principais na história da produção desse drama biográfico. Brooks foi o produtor executivo da obra, mesmo não assinando um bendito crédito do filme – na época, ele temia que as pessoas associassem o drama com uma comédia por conta do seu nome estar enraizado no gênero.

Não fosse por Brooks na produção de O homem Elefante, Lynch não teria sua primeira obra-prima. O produtor peitou os executivos da Paramount exaustivamente para conseguir garantir toda a liberdade que o diretor precisava, apenas concordando que dessa vez Lynch realmente precisava contar uma história com todos os pingos nos is. A junção do rei da comédia com Lynch que viria a ser um mestre surrealista rendeu nada menos que um dos melhores filmes da História do Cinema.

O Médico e o Monstro

Ao contrário do muitos possam imaginar – por se tratar de um filme de David Lynch, O Homem Elefante talvez seja a sua obra mais acessível pelo teor narrativo clássico. O roteiro de Lynch, Eric Bergren e Christopher De Vore adapta o livro de memórias do médico Frederick Treves, o responsável por encontrar o dito Homem Elefante, Joseph Merrick – no filme, o personagem é nomeado como John.

Acompanhamos Treves (interpretado por um ótimo Anthony Hopkins) se aventurando em um pequeno circo itinerante no século XIX. Lá, na área reservada às atrações chamadas Freaks (aberrações de circo), descobre um lugar que promete exibir o Homem Elefante. Tomado pela curiosidade, o médico negocia com o dono da criatura para conseguir vê-la. Firmando negócio, Treves adentra o calabouço e lá conhece a aberração. Fascinado pela criatura, pede para que o homem permita levar o monstro para o hospital central de Londres a fim de examiná-lo.

Pagando a quantia certa, Treves leva o Homem Elefante para descobrir a natureza dos males que afligem o ser. Porém, diagnosticando os tumores que deformam o rapaz, Treves acaba descobrindo que a criatura não é um animal imbecil completo, mas sim um homem chamado John Merrick dotado de plenas faculdades mentais. Logo, a relação torna-se mais complexa e uma amizade passa a florescer. É a chance de o Homem Elefante ser apenas um Homem, abandonando a vida decadente repleta de agressões físicas e psicológicas submetidas pelo seu “dono”. Uma chance de conhecer a alegria pela primeira vez na vida.

Basicamente, o texto de O Homem Elefante é baseado em contrastes para mostrar o melhor e o pior que a humanidade oferece no tratamento de excluídos e deformados. São diversas passagens que acompanham o desenvolvimento de John Merrick em voltar a ser humano, após ser tratado como lixo por tantos anos. Muito disso vem pelo domínio visual de David Lynch sobre sua encenação e da atuação espetacular de John Hurt sob quilos de maquiagens para encarnar o amedrontado deficiente.

Desse modo, temos três linhas de desenvolvimento competentes para as três pontas da narrativa. A primeira e a melhor, trabalha na jornada de John em descobrir a felicidade, mesmo que esta seja constantemente interrompida pelos abusos do porteiro noturno do hospital que explora e assedia o protagonista. Depois, há todo o conflito psicológico de Treves que não consegue se decidir se ele é um homem bom ou mal, pois também, em primeiro momento, explorou a condição bizarra de seu paciente para conquistar prestígio na comunidade médica.

E a terceira, a mais simples, mas não menos perturbadora, envolve a relação parasitária de Bytes, o homem que explorava a condição de Merrick anteriormente para lucrar. Como disse, por ser uma obra de estúdio, concessões foram feitas, mas creio que foram para o melhor. O roteiro de O Homem Elefante frisa esses paralelos entre Bytes e Treves explicitamente, além dos diálogos com Merrick expressarem os sentimentos do protagonista com clareza, seja sua felicidade ou desgraça. Não existem meias palavras, mas ainda assim, a obra não descamba para o brega em momento algum tal força possui a imagem.

Mas nisso também entra o mérito dos roteiristas e da direção de Lynch em saber como iniciar essa jornada. Até encararmos totalmente John, sem ele estar encoberto pelas sombras ou por objetos, leva um bom tempo, despertando uma curiosidade mórbida em todos os espectadores. Desse modo, Lynch realiza um bom experimento extra filme que raramente existe no cinema comercial. Ele transforma o espectador em um personagem da história, sem o menor julgamento. Podemos virar tanto os curiosos sádicos ou as pessoas que, posteriormente, vão até John para conhecer quem é o homem por trás da deformidade física.

Não posso falar por todos, mas acredito que a maioria dos espectadores se concentrem na esfera boa e otimista que o roteiro toca. Na cena mais bela do filme, na qual John visita a casa de Treves e conhece sua esposa, temos outra experimentação que transpõe o espaço fílmico. Curioso pelos retratos de crianças e familiares dos Treves, John mostra o pequeno retrato de sua mãe para Sra. Treves e diz que nunca entendeu como pôde nascer tão horrendo quando é filho de uma moça de face tão angelical. Revela seu desejo de conhecê-la para mostrar quem realmente é e ser amado como nunca foi. Nisso, sra. Treves desanda a chorar e, com quase toda a certeza do mundo, você também se emociona com a dor do personagem.

Um jogo claramente simples. E essa simplicidade é quem comanda O Homem Elefante. Pouco a pouco, a figura do monstro é desconstruída para erguer um verdadeiro homem com desejos (Lynch materializa essa construção do ser e viver através da maquete de St. Phillips), sonhos, frustrações, cultura e, principalmente, gentileza. Essa é uma das poucas características que não é explicitada em diálogos, sobre como John, um homem renegado pelo mundo, é capaz de ter um coração puro e abraçar cada oportunidade bondosa que surge. Por esses muitos contrastes, o personagem se torna muito complexo e afável. Nossa empatia nos força a celebrar cada vitória de John, assim como nos deixa aterrorizados pela ameaça e crueldade do mundo externo.

Aliás, outra boa característica do texto é exibir diversas classes sociais tendo contato com o protagonista. Vemos que independente de cultura e riqueza, homens e mulheres tem o potencial de infligir maldade e bondade em John. Mas Lynch não trabalha com ambiguidades aqui. Cada personagem é taxado de bom e mau logo de cara, seja pela intenção ou pelas atuações que não abrem margem de interpretação. Há certo tralho para mostrar Bytes como uma alma perturbada, mas as ações o definem como antagonista.

Um Gênio colocado à prova

Quem viu Eraserhead sabe que há sim alguma narrativa no meio de tanta experimentação de linguagem. Por isso, apostar que Lynch dominaria a arte da narrativa clássica logo em seu segundo filme seria uma jogada arriscada para muita gente – tanto que o estúdio procurou desesperadamente Terrence Malick para dirigir o projeto. Mas Lynch nunca foi um homem convencional e, aqui, contrariou todas as apostas contrários.

Não só sua direção aprimora e refina o roteiro, mas também consegue ter passagens totalmente surrealistas que se comunicam com clareza pelo espectador. A abertura do filme é um desses segmentos – Mel Brooks brigou feio para preservar as passagens surrealistas da obra. Nela, vemos uma mulher, a mãe de John, sendo atacada violentamente por elefantes (é possível inferir que ela tenha sido violentada pela tromba do animal). Seria a gênese do monstro, um híbrido entre homem e elefante. As fusões do rosto da mulher com dois elefantes deixam a ligação clara, além do horror dela com toda a situação.

De modo onírico, já é transmitido para o espectador que a mãe de John desistiu dele por sua deformidade. Ela mesma seria uma vilã da obra, ainda que romantizada pelo protagonista como um poço de virtudes. Mas isso é subjetivo e subvertido pela ponta oposta da obra, o segmento surrealista que fecha o filme. Nele, temos a mesma mulher com olhares carinhosos, consolando alguém enquanto determina que ninguém morrerá. As passagens dos dois sonhos podem muito bem representar a percepção de mundo que John tinha. No começo, tudo horrível, hostil e violento (as reações mais comuns de terceiros ao enxergarem John) para no fim virar algo transcendental, belo e de significância divina e misteriosa.

O surrealismo também marca o encantamento de John em sonho e realidade. No único sonho explicitado no texto, vemos um pesadelo no qual ele se olha no espelho e só enxerga um elefante. Nem mesmo em sua própria mente, há paz e conforto. Depois, o inverso – novamente, contraste. A breve passagem se dá na realidade quando John aprecia uma peça de teatro pela primeira vez na vida. As criaturas fantasiadas e pirotecnias se misturam em fusões com os olhares maravilhados do protagonista, ligando não somente um fascínio e paixão, mas também uma realidade alternativa na qual John não seria uma aberração de circo, mas um ator prestigiado.

O domínio imagético de Lynch não fica restrito apenas na sua zona de conforto surrealista. O Homem Elefante é uma obra completa em todos os sentidos. Lynch tem seus méritos partilhados com John Hurt e Christopher Tucker (criador da maquiagem). Mesmo debaixo de tantos prostéticos, Hurt consegue transmitir uma sensibilidade fascinante. Toda sua atuação é consistente, mantendo as dificuldades de caminhar e respirar em toda a obra. Porém, o mais fascinante não são esses detalhes, mas sim todo a evolução também transmitida na atuação de Hurt.

No começo, vemos o medo de John que sempre está curvado, olhando para baixo, sem falar, se fingindo de idiota. O conquistar da confiança e amizade entre Treves e John leva certo tempo e, pouco a pouco, Hurt volta a ficar humano, ereto, demonstrando emoções mais complexas. O ator deixa de fazer as vezes de um animal acuado e traumatizado para virar um poeta em movimento, com gestos elegantes e expressivos, mostrando um lado da psique do personagem que não é colocada em diálogos. No fundo, mesmo sabendo que é horrendo, John se sente belo como verdadeiro lorde britânico culto, educado e apreciador da hora do chá.

Sem dúvida alguma, é uma das atuações mais impactantes e humanas que podemos testemunhar no Cinema.

Poucos sabem, mas não somente David Lynch conferiu humanidade para o Homem Elefante. Ele também resgatou um dos melhores cinegrafistas do Cinema de volta para a atividade. Parado por duas décadas, Freddie Francis não fotografa absolutamente nada. Lynch tinha medo que Francis não desse conta do recado, mas era o nome favorito para a produção. Depois de receber um conselho honesto de um produtor – “ninguém se torna um vencedor sendo um bundão”, Lynch decidiu tirar Francis da aposentadoria (e realmente tirou, pois Francis só parou de trabalhar depois de voltar à ativa quando morreu).

A escolha de filmar em preto e branco foi outro perrengue que rendeu dor de cabeça a Mel Brooks com a Paramount. Mas as dificuldades foram superadas – depois de tudo isso, só tenho medo de imaginar como é entrar numa discussão com Brooks -, e o filme acabou finalizado em P&B.

Por conta disso, O Homem Elefante recebeu um dos looks mais interessantes de fotografia em P&B do cinema americano. A começar, a escolha era pertinente para retratar o período vitoriano da Londres do século XIX. Mas ao contrário das grandes obras monocromática da Era de Ouro, Francis e Lynch não glamourizaram o efeito. Aqui, ele é cru, sem filtros, vaselina ou meias de nylon para conferir ares angelicais. Todo o visual rudimentar se assemelha a observar uma fotografia muito antiga em movimento, com todas imperfeições deterioradas.

Ou seja, a foto consegue refletir diversas coisas, mas realmente se trata de uma representação depressiva do sofrimento do protagonista e da pobreza do espírito humano. Também pela fotografia e a abordagem com uma criatura estranha, os diretores flertam com a iluminação do expressionismo alemão. Em particular, mais voltada à visão de Fritz Lang em Metrópolis. Apesar não investir tanto em luzes tão duras, baixas e sombras cruas, vemos Lynch homenagear Lang nas sequências que separam os atos da narrativa.

Essas quebras acontecem sempre com imagens de arquivo, ainda mais deterioradas que a imagem do filme em si. Nelas, vemos fábricas, fornalhas e homens infelizes trabalhando em condições ainda rudimentares de anos pós-Revolução Industrial. A associação com o trabalho de Lang é imediata, mas as imagens conferem complexidade para os verdadeiros monstros que infernizam a vida de John. Através dessas imagens, Lynch mostra uma vida tão miserável e vazia que a única forma daqueles homens se sentirem mais poderosos ou felizes é causar a miséria alheia em um monstro inofensivo. Toda a síndrome de exploração e pequeno poder é sintetizada no personagem do porteiro que apenas é outro covarde.

Assim, Lynch mostra que a miséria do Homem e tão profunda que três pessoas perfeitamente normais se aproveitaram, em algum momento, para benefício próprio, de um deficiente. Em termos de linguagem, Lynch mantém pleno domínio na sua decupagem preocupada, após revelar o rosto de John, em preservar muitos close-ups valorizando a maquiagem, a narrativa e os atores.

O motivo dessa predominância é bastante belo, também conversando com um ponto do texto que é primordial para o personagem: os retratos. Desse modo, com John colecionando retratos de seus diversos amigos, Lynch também coleciona retratos valiosos do elenco. Um dos frames, inclusive, guarda o sonho mais íntimo do protagonista: dormir como uma pessoa normal – ele dorme sentado porque poderia se asfixiar durante o sono por conta da deformidade caso dormisse deitado.

Já em termos de movimentação de câmera, o diretor não arrisca por dois bons motivos: a história se trata de um drama estacionário deprimente e Lynch visa simular o visual de filmes pertencentes a uma fase marcada pela imobilidade da câmera. Logo, todo a postura da câmera, mesmo bastante descritiva, é íntima ao máximo com o assunto. Assim como Treves e nós, ela se torna confidente de John aos poucos. Tanto que quando o personagem cai em desgraça pela segunda vez, toda a postura é subvertida. Os pontos de vista tornam-se reclusos e solitários, quase nunca se aproximando de John. É como se o próprio instrumento cinematográfico se horrorizasse com a crueldade praticada, observando tudo de longe, com a maior frieza possível.

O Pecado Original

Mesmo sendo uma das obras mais valiosas do cinema americano, é consideravelmente difícil assistir a O Homem Elefante. É um filme que leva tão a sério seus contrastes que se torna uma obra belíssima, mas profundamente triste e depressiva. Lynch vai a fundo para mostrar o quão profundo é o poço da decadência do desejo humano. Mas também mostra o quão elevado pode ser o espírito de uma alma tão sofrida como a de John.

No fim, essa obra-prima de David Lynch é também uma bela alegoria do Pecado Original. Isso é mostrado em tela, inclusive, logo no começo do filme com Treves adentrando o circo itinerante. Vemos na profundidade de campo os dizeres The Fruit of the Original Sin com uma maçã mordida e um bebê deformado preservados em um tonel de formol.

No decorrer do filme inteiro observamos justamente as consequências da desobediência ao sagrado: a imperfeição humana – figurativa nos coadjuvantes desprezíveis e literal no físico do bom homem John, do sofrimento humano – em praticamente todos os personagens, e da existência do mal profundamente enraizada no Homem. Ao fim, observamos uma criatura dita como profana e tosca tornar-se imaculada pela sua bondade que ajuda a edificar a bondade e evitar a tentação nos poucos homens bons.

O Homem Elefante (The Elephant Man, EUA – 1980)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch, Christopher De Vore, Eric Bergen, Frederick Treves, Ashley Montagu
Elenco: Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft, John Gielgud, Wendy Hiller, Freddie Jones, Dexter Fletcher, Hannah Gordon
Gênero: Drama Biográfico
Duração: 120 min


by Matheus Fragata

Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

Algumas histórias simplesmente nunca envelhecem, mas é preciso encontrar um novo motivo para contá-las novamente. Tendo na figura clássica de Drácula um dos maiores personagens fictícios já concebidos na História das Artes, o vampiro de Bram Stoker já ganhou diversas adaptações e releituras ao longo dos anos, desde obras mais literais e tradicionais - vide o excelente esforço de Francis Ford Coppola em 1992 - até versões mais radicais e que beiram o ridículo, como em Van Helsing ou... Er, Drácula 3000.

Dessa forma, é instigante que Drácula: A História Nunca Contada vire seu olhar para as origens históricas da figura que inspirou a criação do personagem, oferecendo uma virada fantasiosa e que justifique a lenda criada a seu redor. Mesmo com essa premissa interessante, o resultado é uma das tentativas mais desastrosas e risíveis de se levar o mito de Drácula aos cinemas.

A trama começa com o pé em fatos, ao nos apresentar ao príncipe Vlad (Luke Evans), que ganhou notoriedade pela postura sangrenta e brutal em suas lutas para conquistar o poder. Quando o poderoso exército turco liderado por seu irmão de criação, Ahmed (Dominic Cooper), bate à sua porta ameaçando seu reino, Vlad recorre às sombras ao fazer um pacto com um misterioso vampiro (Charles Dance), que lhe concede poderes sobrenaturais que possam ajudá-lo a derrotar seus inimigos.

O quê? Não tenho absolutamente nada contra tomar liberdades criativas em relação a fatos históricos em prol da história, até porque a única veracidade no roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless é o fato de que Vlad de fato existiu, e também tinha a fama de empalar seus inimigos durante a batalha. Tirando isso, o que resta é uma história risível que parece mais próxima de um filme de super-heróis genérico do que algo realmente digno do terror de Drácula, visto que o personagem de Luke Evans vira praticamente um mutante após seu pacto sinistro. Visualmente, é algo tão capenga e bizarro que é impossível não esconder o riso, com Vlad transformando-se em uma horda de morcegos para locomover-se mais rápido ou sua visão adulterada que parece ter saído de um videogame, deixando todos os oponentes em imagem negativa.

O grande problema é como todos os eventos acontecem. Não há o menor peso ou desenvolvimento a nenhum deles, com Vlad ganhando seus poderes e imediatamente saindo para uma batalha, sem o menor senso de reflexão ou contemplação de suas habilidades sobrenaturais: as coisas simplesmente acontecem, e com uma velocidade assustadora que impossibilita qualquer apego ou identificação com os personagens ou a atmosfera que o diretor Gary Shore tenta estabelecer. Toda a cena em que Vlad e o Vampiro conversam na caverna sofre para apresentar as "regras" da maldição, com a revelação pífia de que Vlad precisará resistir três dias sem ceder-se ao sangue humano - algo que, como bem sabemos, ele obviamente não será capaz de cumprir.

Pior ainda é tudo o que acontece no ato final do longa, que consegue inventar a "batalha entre irmãos" mais forçada e sem drama do cinema recente, além de apostar nas soluções mais bizarras e contraditórias possíveis - com Vlad transformando membros de seu exército em vampiros, apenas para se autodestruir na exposição ao sol. E outra, como este Drácula visava iniciar o universo compartilhado da Universal que agora tem uma nova chance com A Múmia de Alex Kurtzman, os minutos finais são de testar a paciência do espectador ao tentar arranjar um jeito de levar Vlad para o mundo contemporâneo, tal como o Capitão América nos filmes da Marvel Studios. Ridículo.

Toda essa história ridícula infelizmente não fica mais atraente sob a visão de Gary Shore, que consegue diminuir o impacto dos valores de produção caprichados em uma condução sem graça e que seria digna de um SyFy Channel da vida. Claramente preocupado com a possibilidade de pegar uma censura R, Shore oferece batalhas que incomodam pela limpeza e a ausência de sangue, usando também de cortes rápidos e movimentações de câmera grosseiras a fim de disfarçar a violência presente ali, entregando algo que parece cirurgicamente castrado - afinal, sangue e Drácula não têm nada a ver, certo? Seu uso de efeitos visuais também é igualmente genérico, com alguns bons conceitos (como a cena de luta toda do ponto de vista de uma lâmina) sendo prejudicados pela execução ruim.

Nesse show de horrores, posso dizer apenas que Luke Evans é um ator esforçado, e traz uma performance muito melhor do que o filme merecia, realmente tentando ilustrar o desespero e a angústia do protagonista - mesmo que a direção e o roteiro não ofereçam nada. E, claro, a ideia de se colocar Charles Dance como um vampiro sinistro por si só já merece aplausos, e o ator oferece uma tremenda presença em seus poucos minutos de participação. Porém, é até bom que este filme tenha sido descartado pela Universal, pois eu enxergo com clareza que Dance tornar-se-ia o que Bill Nighy é para a franquia Anjos da Noite.

Risível demais para um longa sério e pretensioso demais para uma paródia, Drácula: A História Nunca Contada é uma ofensa à criação de Bram Stoker, sendo uma das tentativas mais genéricas e forçadas de se estabelecer uma nova mitologia. Levando em conta tudo o que está na tela, não é de se espantar que essa história nunca fora contada. E nem deveria ter sido.

Drácula: A História Nunca Contada (Dracula Untold, EUA - 2014)

Direção: Gary Shore
Roteiro: Matt Sazama, Burk Sharpless
Elenco: Luke Evans, Sarah Gordon, Dominic Cooper, Art Parkinson, Charles Dance
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 92 min

https://www.youtube.com/watch?v=UBd_x0KOCFU

Leia mais sobre os Monstros da Universal Pictures


by Lucas Nascimento

Crítica | Baywatch: S.O.S. Malibu

Apesar de uma audiência massiva que a sustentou por 11 temporadas, Baywatch ou S.O.S Malibu como a série é conhecida no Brasil, não era uma pérola de narrativa, atuação ou valor de produção. Entretanto, pelo carisma de David Hasselhoff, Pamela Anderson e outras inúmeras beldades que passaram no icônico slow motion que definia o seriado, salvaram a produção a ponto de entrar no imaginário coletivo. Querendo ou não, Baywatch tornou-se parte intrínseca do imaginário americano.

Essa nova onda vinda com Anjos da Lei, diversos estúdios decidiram “redescobrir” seriados antigos e moldá-los para um novo formato nos cinemas. No caso de Anjos da Lei, a aposta foi mais que certeira rendendo dois excelentes filmes. Porém, outras empresas já morreram na praia ao ressuscitar obras que deveriam permanecer no passado. Isso aconteceu com O Cavaleiro Solitário e, recentemente, com CHIPS – filme que nem chegou a estrear por aqui. Agora é a vez de Baywatch ser presenteado com uma porcaria de primeira linha.

A tempestade perfeita

A narrativa de Baywatch é pífia. Tão rasa que frequentemente e literalmente, tudo pausa, para termos uma tentativa cômica frustrada por alguns bons minutos. Aqui, acompanhamos as seletivas para novos trainees na equipe lendária do Baywatch, os salva-vidas de Emerald Bay. O viciado e apaixonado pelo ofício, Mitch Buchannon, abre três vagas para novos integrantes. No teste, passam apenas o ex-medalhista olímpico problemático e bad boy Matt Brody, o gorducho nerd Ronnie e a crânio sabichona Summer Quinn (a qual vira interesse romântico de Brody).

Os três novos recrutas vão auxiliar uma investigação secreta de Buchannon sobre uma suspeita de tráfico de drogas que está degradando o paraíso litorâneo da Flórida. E é isso. Acredite que até o filme entrar nesse núcleo destinado à investigação custa uma eternidade, ao menos 40 minutos. Esses problemas de ritmo e sequenciamento narrativo não são os únicos problemas desse “roteiro”.

Os preceitos mais básicos de narrativa são jogados no lixo pelos roteiristas de Baywatch que mais se comporta como uma coletânea de esquetes cômicos esdrúxulos amontoados numa tigela decadente de história – para encaixar as “frenéticas” cenas de ação e um clímax ridículo. Não há qualquer cuidado em amarrar essa investigação, pois muita coisa é presumida pelos personagens que agem apenas na base do palpite. A ligação de um evento para guia-los até a vilã pode facilmente ser considerada risível pela enorme preguiça em construir algo minimamente coerente.

Enquanto não chegamos nessa investigação que rende as melhores cenas do filme, somos obrigados a aguentar uma rixa interna em um conflito forçado entre Buchannon e Brody. Sobre todos os personagens, já aviso que o espectador não encontrará nada além dos estereótipos mais básicos.

Brody é o único que tem alguma relevância e motivação externa para entrar na equipe de Baywatch – não dá para dizer que a motivação de Ronnie em pegar a personagem CJ seja lá muito criativa. Brody é ex-medalhista olímpico que caiu em desgraça após um evento brega nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Essa crise existencial do personagem é interessante, mas os roteiristas insistem em apenas adicionar camadas desprezíveis para um anti-herói que já é bastante difícil de sentir empatia. É como se Zac Efron encarnasse o mesmo personagem de Vizinhos, só que em uma versão ainda mais burra, estúpida e egoísta. Ao menos, pela sua atuação, há bons contrastes de seu choque e despreparo em notar que a profissão de salva-vidas é algo bastante sério – a sequência que dá origem a essa reação é ridiculamente ruim.

Outro foco sobre seu desenvolvimento é a tentativa de uma jornada do herói básica e bastante deteriorada. Todo o conflito que move a relação entre Buchannon e Brody é sobre a inaptidão do coadjuvante em conseguir trabalhar em grupo. Sobre não saber fazer parte de um time e todas essas coisas que você já viu oitocentos filmes antes desse. Bom, a novidade é que não tem nada de novo. Esse conflito consegue sim, porém, humanizar um pouco o personagem e ao menos confere um nítido desenvolvimento nessa bagunça. Logo, o personagem mais imbecil é também o mais bem escrito (uma das muitas ironias involuntárias dessa pérola). Aliás, há um mistério sobre o passado de Brody que nunca é revelado, mas é apontado diversas vezes ao ponto de se tornar um furo, já que se trata da motivação de Brody em entrar no Baywatch.

Infelizmente, o restante do elenco também sofre na mão dos roteiristas. Nunca tinha visto um rol de personagens femininas tão inúteis como vemos aqui. Até mesmo a inteligente e determinada Summer é esquecida rapidamente só retornando para concluir a tensão sexual furada que forçam com Brody – as piadas recorrentes aqui focam nos peitos da atriz Alexandra Daddario (inclusive, a primeira delas é extremamente deslocada da cena). Depois temos Stephanie e CJ Parker (outrora papel de Pamela Anderson, aqui encarnada por Kelly Rohrbach), personagens que os roteiristas realmente não têm a menor ideia do que fazer com elas, pois elas nem mesmo conseguem virar alvo de piadas ruins. No fim, servem como par amoroso dos outros dois personagens masculinos.

Já o outro personagem, Ronnie, ganha alguma função no final do filme, explorando o lado tecnológico e nerd. Mas, em maioria, os roteiristas insistem em piadas envolvendo pintos e outros recursos que apostam em demasia na performance medíocre de Jon Bass (o ator mais parece uma versão nova bizarra de Danny McBride). Na verdade, esse talvez seja o cerne dos problemas de Baywatch: seu elenco. Não temos humoristas trabalhando aqui e o timing pessoal deles é péssimo para emplacar até mesmo as piadas mais elaboradas – como a de Buchannon chamar Brody com diversos apelidos (a piada envelhece rápido).

Já no lado antagonista, temos a vilã Victoria Leeds, tão mal escrita quanto o restante da obra. Seu plano maléfico não tem a menor justificativa plausível, além de ficar, gradativamente, cheios de furos tampados com informações vomitadas em exposição xucra. O modo de operação da vilã se torna burro demais principalmente pelo fato de matar seus oponentes do modo mais estúpido possível dando brechas para qualquer investigador amador ver que os acidentes montados por ela são mesmo assassinatos.

A caricatura péssima da Priyanka Chopra também não ajuda a conferir nenhuma camada para a personagem. Chopra assume uma pompa incoerente com tudo, sempre posando de sabichona, vestida para matar, sem o menor resquício de sutileza e preparada enquanto a personagem cai nos truques e roteirismos mais forçados do gênero. As conveniências e facilidades para o grupo de Buchannon entrar em colisão com a vilã são tantos que extrapolam o limite do bom senso de qualquer espectador.

Nesse roteiro cheio de piadas sobre pintos, peitos, vômitos e referências torpes, com uma infinidade de personagens irritantes e inúteis (destaque especial para o pior policial de todos os tempos), uma vilã bizarra que não sabe em qual filme pertence e uma história que se estende mais do que o necessário com reviravoltas que conseguem ofender a sua inteligência, tudo se resume a um festival de vergonha alheia de duas horas. Não existe carisma de Dwayne Johnson que salve esse filme.

Afogando Gordon

De longe, esse é o pior trabalho de Seth Gordon que já havia dirigido obras consideravelmente engraçadas (pelo menos em algumas partes) como Quero Matar Meu Chefe e Uma Ladra Sem Limites. Em ambos trabalhos anteriores, Gordon sabia manter tom e consistência ao longo de toda a obra, sem tentar almejar mais do que o texto propunha.

Claramente esse não é o caso aqui em Baywatch. Isso é bastante nítido logo no começo da obra, em seus créditos iniciais. Vemos belas imagens de Emerald Bay até um desafortunado banhista espancar sua cara nas rochas costeiras. Rapidamente então, em contra plongée e na contraluz, vemos Dwayne Johson correr em câmera lenta para salvar o dia ao se atirar no mar! Carregando o homem ferido nos braços, vemos o título em letras garrafais explodir ao fundo embalado pela trilha musical cheia de graves eletrônicos. Claramente algo brega e cafona para não ser levado a sério. Pensei então que veria uma boa paródia ao decorrer da obra.

Mas isso não acontece, pois Gordon nunca decide qual bendito tom ele assumirá no restante da obra. Portanto, temos um ora um filme policial, ora um melodrama, ora uma comédia pastiche, depois drama novamente e assim vai até o filme acabar. Essa inconsistência de tom é nitidamente exibida na confusão feita pelo elenco como na já mencionada péssima performance de Priyanka Chopra.

Em termos visuais, há sim cenas montadas com um descuido irritante, mas no geral, Gordon trabalha na gramática cinematográfica correta. Mesmo que não seja nada substancialmente bom ou inspirado, ao menos não chega a ser uma porcaria até nisso como no caso do também péssimo O Chamado 3. Na verdade, as belas vistas litorâneas potencializadas pela fotografia saturada salvam um pouco o sufoco que é aguentar a obra em sua totalidade.

Baywatch também tem um motivo ilustre para se orgulhar: entrará na lista de piores efeitos visuais já vistos em um blockbuster com toda a certeza. Caso tenha coragem de conferir essa bomba, terá o prazer de rir involuntariamente na cena de um resgate da equipe em um barco pegando fogo. Sem dúvida, em toda essa década, esse será o pior efeito simulando fogo, faíscas, fumaça e detritos de incêndios que você verá em uma obra hollywoodiana. É algo tão primário que parece ter saído das versões mais rudimentares do After Effects. Até as introduções flamejantes de Tela Quente colocam os efeitos visuais de Baywatch no lixo.

Esse festival de vergonha alheia é retomado no clímax com um show de fogos de artifícios “lutando” contra um péssimo helicóptero de CGI digna de um GTA de PlayStation 2. Além de aprovar algo tão ridículo a ponto de te tirar do filme, Gordon não consegue realizar sequer uma boa sequência de ação. Há tentativas de movimentos de câmera interessantes como um que acompanha Brody saltando de uma moto para salvar uma mulher que está afogando.

Nota-se, então, que houve, em algum momento, o mínimo de interesse de Gordon pela obra, mas assim como o público, o interesse foi embora no fim do primeiro ato.

Nem o campo sonoro se salva. O uso histérico da trilha original e das canções licenciadas em absolutamente todas as cenas de ação também é um equívoco de Gordon. Se ele já usa excessivamente a montagem e a encenação equivalentes de propagandas sedução-fascínio e videoclipes latinos, as músicas só colaboram em tornar sua visão sobre a obra ainda mais enlatada. A condução delas também se faz presente para prejudicar o filme ao evidenciar muito mais as já mencionadas mudanças tonais bipolares.

Bayflop

Baywatch: S.O.S. Malibu é uma das comédias mais falhas e inexpressivas que já tive a tristeza de ver. Com ao menos 5% das piadas conseguindo tirar um sorriso falso do meu rosto, fica absolutamente impossível apontar que esse filme tenha o dom da boa comédia (sei que a graça é um conceito abstrato – pode ser que você se divirta, mesmo que eu ache improvável). Por uma infinidade de motivos, Baywatch consegue tirar a paciência de quem assiste.

A proposta de bom divertimento é subvertida a tal ponto que a poltrona do cinema vira uma cadeira iron maiden já que o filme parece interminável em suas duas horas – até Silêncio, com três, passa mais rápido do que a sensação provocada pela montagem rudimentar do filme “bronzeado”. Entretanto, Baywatch não é o pior filme desse ano – esse trono ainda está reservado para outra obra já mencionada no texto. Mas, acredite, esse filme se esforça ao máximo para conseguir o lugar mais alto do pódio.

Baywatch: S.O.S Malibu (Baywatch, EUA – 2017)

Direção: Seth Gordon
Roteiro: Jay Scherik, David Ronn, Thomas Lennon, Robert Ben Garant, Mark Swift, Damian Shannon
Elenco: Dwayne Johnson, Zac Efron, Priyanka Chopra, Alexandra Daddario, Kelly Rohrbach, Ilfenesh Hadera, Jon Bass, Rob Huebel, David Hasselhoff, Pamela Anderson
Gênero: “Comédia”, Ação
Duração: 116 min.


by Matheus Fragata

Crítica | Lobisomem (2010)

Já faz algum tempo desde que não vemos os lobisomens tradicionais. Tivemos a versão teen com Lua Nova, guerras com vampiros em Anjos da Noite, entre outros. Mas a clássica versão, passada na Inglaterra vitoriana, estava quase que esquecida. O remake de Joe Johnston até tenta seguir com respeito e capricho o filme da década de 1940, mas não consegue ir além de um suspense morno, sem emoção, com atores medianos e (muita) violência trash.

Na trama, o ator de teatro Lawrence Talbot (Benício Del Toro) viaja de volta para a mansão de sua família, para o funeral de seu irmão, morto por algum tipo de criatura noturna. Depois de também ser mordido por esta, ele se transforma no famoso Lobisomem.

Realmente, O Lobisomem não deu certo. Possui um tom bem sombrio, fotografia cheia de névoas e um visual muito interessante para sua criatura, que possui uma forma mais humana e é composta de maquiagem em vez de CGI, ou seja, à moda antiga. Agora, vamos falar do roteiro. É bem simples, começa de maneira tensa, mas ao longo do filme, começam a vir as reviravoltas previsíveis, os diálogos toscos e as situações clichês. Não seria tão ruim se o filme ao menos tivesse uma dose de emoção, seja nas cenas mais dramáticas ou no fraco elenco.

O elenco possui ótimos atores que se encontram em papéis ruins, careteiros e inexpressivos. Benício Del Toro até que não se sai tão mal, mas ele fez tantas caretas, que chegam até a ser engraçadas, quando deveriam ser trágicas. Anthony Hopkins não é aproveitado e fica com um dos papéis mais antigos: o pai que desafia o filho e que, consequentemente, entra em conflito com ele.

E cuidado Sam Raimi! O Lobisomem possui cenas de mutilação bem gore, que chegam a ser trash. Sério, qual o motivo de tanto sangue jorrando, tripas e cabeças sendo arrancadas? Não causa medo, não causa emoção, não causa absolutamente nada. E como é de se esperar de um blockbuster, o final do filme deixa suas portas bem abertas, de maneira muito preguiçosa, para uma sequência, mas aí já é muito improvável.

Resumindo, O Lobisomem é mais um remake que prometia muito, mas caiu em uma tempestade de situações clichês, atores fracos e muita violência trash. De bom mesmo, só o visual da criatura, que possui suas caprichadas transformações e o rosto coberto por uma arrepiante maquiagem. Mas ninguém merece mais lutas de lobisomens, certo?

O Lobisomem (The Wolfman, EUA – 2010)

Direção: Joe Johnston
Roteiro: Andrew Kevin Walker e David Self
Elenco: Benício Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving
Gênero: Terror 
Duração: 103 min 

https://www.youtube.com/watch?v=VDBZBjmfXqo


by Lucas Nascimento

Crítica | Veludo Azul

A sequência de abertura de Veludo Azul diz o que veremos durante toda a projeção: é mostrada uma cidade no interior dos EUA, tendo como trilha sonora a leve Blue Velvet de Bobby Vinton. Após mostrar um homem passando mal e desmaiando, a câmera fecha no gramado e vai se aproximando até vermos dois besouros lutando e se matando. Esse é o universo em que o longa de David Lynch se passa: por trás daquela artificialidade do american way of life tem um lugar aonde os seres são brutais e violentos, capazes de fazerem barbaridades.

O quarto filme dirigido por Lynch mostra o jovem Jeffrey Beamount (Kyle MacLachlan) que volta para a pacata cidade de Lumberton, após descobrir que o seu pai teve um ataque cardíaco. Durante uma caminhada, Jeffrey encontra uma orelha humana decepada no gramado. Intrigado pelo mistério, o jovem se envolve com Sandy (Laura Dern), a filha do detetive que está cuidando do caso e ambos decidem investigar por conta própria. Descobrem que esse mistério pode estar ligado a Dorothy Vallens (Isabella Rosselini), uma misteriosa cantora de cabaré que tem uma estranha relação com o insano Frank Booth (Dennis Hopper). Quanto mais Jeffrey se envolve com o mistério, mais perceberá que está preso em um mundo onde não há limite entre a realidade e o pesadelo.

 

O longa tem uma história que se fecha muito bem, já que essa é uma reclamação dos que não vão muito com a cara do estilo do diretor. É uma história com personagens que tem motivações e suas ações tem consequências, além de ter uma resolução do mistério do filme. Mas Veludo Azul é acima de tudo um filme de David Lynch, ou seja, por mais que haja uma narrativa sendo desenvolvida, o objetivo final é causar sensações pelo que está sendo visto. Essas ocorrem principalmente quando é mostrada a relação sado masoquista entre Jeffrey e Dorothy. Todo o arco do protagonista é referente a perda dessa inocência, tanto que há uma ambiguidade nas intenções de Jeffrey. Sandy uma hora pergunta pra ele: ”Você é um detetive ou um tarado?” e esse pergunta o próprio expectador faz já que não tem um motivo claro para o qual o protagonista se envolva nesse mistério. O que poderia ser um furo do roteiro é uma das perguntas mais fascinantes do filme.

Outro fator que merece destaque no roteiro de Lynch são as características de cada personagem e o que eles representam. Cada um pode ser considerado como se fossem símbolos de Jeffrey. Sandy mostra a ingenuidade e a inocência; Dorothy já significa o lado mais pervertido; enquanto Frank o lado mais sombrio e violento. Isso pode ser interpretado por conta do clima onírico que é característico na obra de Lynch, que faz com que esses personagens soem como caricaturas durante boa parte do longa. Mas por conta dessa atmosfera dada por Lynch, essas caricaturas não incomodam. Além de mesmo com essa interpretação não tira o fato de serem personagens muito bem escritos.

Uma característica forte que mostra como o filme é rico é o uso de cores. Há um uso muito grande de diferentes tons de azul e rosa. Tanto o azul pode significar tranquilidade daquele universo, quanto o rosa pode ser vista como uma cor que representa a pureza, não a toa, durante boa parte da projeção Sandy usa roupas rosas. Já quando o azul fica com o tom mais escuro ou há cores semelhantes, como o magenta, já demonstram um comportamento mais agressivo, que é a cor das roupas usadas por Dorothy. Já Jeffrey utiliza roupas marrons e brancas que mostram um pouco da sua natureza ambígua. Além dos figurinos, a direção de arte e de fotografia colocam essa lógica em todos os cenários do filme. Que vão de cor da parede a luz utilizada. E é sutil a utilização dessa lógica, não fica berrado durante a projeção. Além de ser um filme feito com elegância e classicismo difíceis de ser ver em tela.

Outro aspecto técnico que chama a atenção é o uso do som. Junto com a música de Angelo Badalamenti, ajudam a criar toda a atmosfera ameaçadora que há durante o segundo ato. O uso de sons dissonantes e abstratos lembram do clima onírico e a trilha de Badalamenti, inspirada em filmes noir, ajuda a dar criar o gênero do filme. É importante mostrar como Lynch utiliza a trilha como contraste entre o que está sendo visto e escutado. Só como exemplo: a agonizante sequência em que Frank espanca Jeffrey de maneira brutal ao som da bela In Dreams de Roy Orbinson. Esses elementos de imagem e som deixam Veludo Azul acima de um mero filme de mistério e vale salientar que todos ele são conduzidos por maestria pela excepcional direção de David Lynch.

O elenco se mostra muito afiado. Todos eles correspondem muito bem com os símbolos de cada personagem explicados acima. Os destaques ficam por conta de Kyle MacLachlan, Isabella Rosselini e Dennis Hopper. A forte presença e o olhar expressivo de MacLachlan fazem com que criamos uma forte empatia com Jeffrey, mesmo com sua ambiguidade moral. Rosselini se mostra muito forte ao deixar Dorothy com uma forte sensualidade ao mesmo tempo que é uma vítima constante da violência de Frank e a atriz mostra demonstra os resultados dessa violência no comportamento de Dorothy. Já Dennis Hopper interpreta um dos vilões mais repulsivos do cinema, não a toa vários atores recusaram interpretar Frank. É um sujeito extremamente violento, abusivo e explosivo e o jeito alucinado com que Hopper interpreta o deixa mais ameaçador. Além da grande aflição que dá quando ele tira um inalador do bolso, inspira e fica cada vez mais violento. É um dos principais trabalhos da carreira de Hopper.

Enfim, pra quem quer se aventurar no estranho mundo de David Lynch, Veludo Azul é uma bela porta de entrada. Não é dos longas mais experimentais de sua carreira, mas diz muito sobre a sua obra. É um longa rico e maduro que mostra que David Lynch é um dos grandes artistas do cinema norte-americano.

https://www.youtube.com/watch?v=k_BybDB_phY

Veludo Azul (Blue Velvet, EUA – 1986)

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Laura Dern, Isabella Rosselini, Dennis Hopper, Dean Stockwell
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 120 min


by Redação Bastidores

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