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Críticas

Crítica | A Múmia (1932)

As últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX ficaram marcadas pelas descobertas científicas e geográficas feitas ao redor do Mundo. O período é comumente relacionado à opulência intelectual oriunda da coragem de desbravadores que enfrentaram desafios inimagináveis nos mais diversos campos do conhecimento humano. No entanto, sob outra perspectiva, o período também originou um temor de que muitas dessas descobertas poderiam dar ao Homem um sentimento de prepotência, além de gerar consequências impossíveis de serem previstas. É no meio dessa ambiguidade que muitos dos monstros da Universal ganharam destaque, com uma menção especial para aquele que protagoniza A Múmia.

Desdobrando um argumento inicial concebido pelos históricos Richard Schayer e Nina Wilcox Putnam, o roteiro de John L. Balderston gira em torno da descoberta de uma caixa misteriosa e um corpo embalsamado feita por um grupo de arqueólogos britânicos nos desertos egípcios. Porém, a trama começa a se desenrolar somente onze anos depois, quando um outro grupo de arqueólogos recebe a visita de Ardath Bay (Boris Karloff, perfeito no andar pausado e na inexpressividade facial), um nativo que afirma saber onde se encontra a tumba de Ankh-Es-En-Amon (Zita Johann), a amante do homem que fora encontrado onze anos antes.

De acordo com a descrição da trama, a impressão que se tem é a de que o filme é uma história de suspense ou terror. Mas seria um erro pensar dessa maneira, pois, acima de tudo, A Múmia versa sobre os limites da curiosidade humana. Afinal de contas, no nosso afã por conhecimento, terminamos por trilhar caminhos desconhecidos onde não existe garantia de que o inexplorado é intrinsecamente bom. No meio do caminho, podemos despertar forças malignas ou naturalmente destrutivas cujos poderes são incontroláveis. Tendo em mente alguns eventos históricos, quem há de afirmar que todos os mistérios do universo estão esperando por nós para serem pacificamente descobertos?

Sublinhada ao longo de toda a narrativa, essa arrogância do Homem é contundentemente exemplificada logo na primeira cena. Como os minutos iniciais são dedicados ao despertar do monstro, os três personagem mostrados no começo - com a exceção da Múmia, é claro - não foram concebidos como pessoas e sim como conceitos. É difícil não enxergar no jovem que abre a caixa misteriosa uma representação da curiosidade humana, com a sua intempestividade e inconsequência; na figura do arqueólogo mais velho, a curiosidade científica; e, por fim, na imagem do sujeito supersticioso, a cautela daquele que estudou os segredos metafísicos do Universo. O fato de esses personagens desaparecem posteriormente da narrativa confirma ainda mais essa interpretação.

Entretanto, não é só de comentários ácidos sobre o orgulho humano que a narrativa de A Múmia se alimenta. Curiosamente, o filme também é sobre Amor, ou mais precisamente, sobre a história de um sujeito que, impedido pela morte de consumar o seu sentimento, espera 3700 anos para rever a sua amada. Uma espécie de Romeu e Julieta do mundo dos mortos, a trama surpreendentemente comovente extrapola até mesmo a concepção amorosa de Shakespeare. Para o bardo inglês, a morte de ambos os seus personagens era uma maneira de uni-los pelo laço da finitude. No roteiro de Balderston, nem mesmo a mortalidade é capaz de juntar os amantes. Para que isso aconteça, é preciso esperar o decorrer de milênios e a existência de uma dimensão espiritual onde o coração continue a bater.

Do ponto de vista técnico, é essa história de amor que possibilita ao magistral e injustamente esquecido Karl Freund (um gigante do Expressionismo Alemão), juntamente com o talentoso montador Milton Carruth, compor os momentos mais bonitos do filme. O primeiro deles acontece na primeira metade da história, quando, através de uma transição complexa e condizente com a narrativa, a câmera, que estava focando o rosto do sarcófago de Ankh-Es-En-Amon, faz um movimento lateral e encontra a face da heroína romântica, a intrépida Helen Grosvenor (também interpretada por Zita Johann). O segundo, ainda mais impressionante, surge no terceiro ato e consiste em uma sequência de imagens que narram a história da Múmia. Aqui, o que mais chama atenção é a composição muito similar às do cinema mudo, com uma leve manipulação do frame rate e a introdução de uma trilha grandiloquente. Vale lembrar que o longa foi lançado três anos depois do advento do som nos filmes. Ou seja, esse instante é tanto um retorno ao passado do protagonista quanto ao do próprio Cinema.

Aliás, é preciso destacar o trabalho de Karl Freund como um todo. Desde os enquadramentos extremamente elegantes, até os movimentos de câmera belíssimos (a grua que parte do chão e coloca os olhos do espectador sobre as águas cultivadas pelo protagonista é de encher o coração de júbilo) e narrativamente econômicos (ele monta a maior parte das cenas através da movimentação da câmera), passando pela maneira com que emprega o silêncio, o que deixa a história muito mais intimista (a opção de não mostrar a descoberta do sarcófago na primeira cena não só cria um paralelo entre o sentimento de curiosidade dos personagens e dos espectadores, como é essencial para evitar a espetacularização), todas as escolhas do cineasta se mostram corretas e excepcionais.

Apaixonante, romântico e ácido, A Múmia é o melhor filme de monstro da Universal. A sua história é tão impactante que nos anos seguintes foram realizados remakes e sequências. E faz sentido que as coisas tenham se dado dessa maneira, afinal, a capacidade de amar dos humanos, assim como a sua interminável estupidez, são atemporais. No entanto, por mais que essa bela história tenha sido adaptada ao longo dos anos para diferentes gerações, nenhuma dessas adaptações consegue superar o charme dessa obra-prima de Karl Freund.

A Múmia (The Mummy, EUA – 1932)

Direção: Karl Freund
Roteiro: John L. Balderston
Elenco: Boris Karloff, Zita Johann, David Manners, Arthur Byron, Edward Van Sloan
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 73 min 

https://www.youtube.com/watch?v=6IzLO9AN6Hc

 Leia mais sobre os Monstros da Universal


by Redação Bastidores

Crítica | A Múmia (1999)

O interessante desse remake não oficial do clássico de 1932, que foi escrito e dirigido por Stephen Sommers (Van Helsing e G.I. Joe) é como foi um grande sucesso de maneira inesperada. E o motivo para esse sucesso é simples: ele faz de maneira muito eficiente um filme de aventura do mesmo molde de Indiana Jones. Além do terror, com os vários sustos que ocorrem durante a projeção. Mas da franquia que se trnasformou depois, com duas continuações (O Retorno da Múmia e A Múmia: Tumba do Imperador Dragão) e um spin off (O Escorpião Rei) podemos afirmar que esse primeiro é o melhor. Entrega o que promete de maneira muito eficiente.

Só lembrando da sinopse: A história se passa em 1926, quando os irmãos Evelyn (Rachel Weisz) e Jonathan Carnahan (John Hanna) descobrem  uma importante pista para Hamunaptra, a cidade dos mortos. Para ajudar a irem a cidade perdida, os irmãos chamam Rick O’Connel (Brendan Fraser), um aventureiro americano que conhece a localização da cidade. Ao chegarem, por conta de uma maldição acabam ressuscitando Imhotep (Arnold Vosloo), um sacerdote do faraó que foi almadiçoado após traí-lo participando do seu assassinato e tendo um caso com a sua mulher favorita, Anck-Su-Namun (Patricia Velásquez). Ao ressuscitarem Imhotep, os aventureiros precisam achar um jeito de matá-lo o mais rápido possível, antes que fique invencível e governe o mundo.

Bom, o roteiro segue apenas alguns pontos em comum com o longa de 32: a múmia se chamar Imhotep e ter como objetivo reaver o seu grande amor, que também se chamava Anck-Su-Namun e o fato de seus poderes aumentarem a partir do tempo. Mas Stephen Sommers muda um pouco: ao invés de fazer um filme tenso, ele decide fazer uma aventura com influências da literatura pulp e com pitadas dos filmes de aventura de 1930. É só prestar atenção da caracterização de Rick, que lembra o típico herói aventureiro dessa época, além de Fraser em alguns momentos se inspirar em Errol Flynn. Mas o que Sommers faz com habilidade é como tanto no roteiro quanto na sua direção ele mistura esses elementos clássicos com elementos modernos na linguagem cinematográfica.

Estes vão desde o tipo do humor do filme á cenas mais grotescas com Imhotep, algo que vai se perdendo durante a franquia ao exagerar em elementos mais modernos como câmera lenta, aceleração de frames e excesso de efeitos especiais. Mas como Sommers propõe ao expectador um bom filme de aventura matinê, ele entrega isso com muito excito. Além de ter bons sustos durante a projeção e ótimos alívios cômicos vindo do imenso carisma de Brendan Fraser.

Além de funcionar no sentido narrativo, A Múmia é um filme que não deve em nada na parte técnica. Além de uma reconstituição de época muito bem detalhada, não só da década de 30, mas principalmente do Egito Antigo onde se passa o prólogo. A maioria dos efeitos especiais do longa funcionam até hoje, principalmente quando Imothep está se regenerando que ele não é apenas uma múmia que tira as faixas, mas que mostra elas junto com os músculos e seus órgãos degenerados. É realmente assustador e angustiante. Até o jeito que ele anda lembra a versão de 1959 da Hammer, em que a múmia era o lendário Christopher Lee.

Outro fator que ajuda a criar o clima do filme é a trilha primorosa de Jerry Goldsmisth. Ela muda muito bem o tom do filme, vai da aventura ao terror de maneira construída, nunca abrupta. Ela vai de temas mais épicos com sons de metais e ópera á temas mais calmos de amor. É um forte elemento que ajuda a dar todo o tom do filme.

O elenco está muito bem escolhido. O grande destaque é Brendan Fraser com o seu enorme carisma e presença. Fraser tem um ótimo timing cômico e presença de tela. É como se a câmera realmente quase perseguisse o ator de como ele é bom de ser visto. Rachel Weisz se mostra uma atriz com uma personalidade muito forte e que escapa do estereótipo da mocinha indefesa. Por mais que a personagem foi se transformando mais badass de acordo com o andamento da franquia, esse filme mostra que apenas com a sua inteligência e por conta do charme de Rachel Weisz a personagem já era interessante por si só. John Hanna está ótimo como o alívio cômico do filme, um personagem que não pensa direito nas suas ações e só pensa nas riquezas. Arnold Vosloo se mostra muito ameaçador como Imothep, o ator tem uma boa presença e é intimidador. Ele não cria o monstro apenas como um ser que urra todo o momento, mas como vai se regenerando e ficando com a aparência humano, Vosloo mostra muita tensão a partir do olhar.

Enfim, A Múmia é um filme que funciona até hoje. Tem algumas coisas que ficaram datadas, mas no geral é um filme muito divertido. Quem procura uma boa aventura, não vai se decepcionar.

A Múmia (The Mummy, EUA – 1999)

Direção: Stephen Sommers
Roteiro: Stephen Sommers baseado no argumento de Stephen Sommers, Lloyd Fonvielle e Kevin Jarre, baseado no roteiro original de John L. Balderson, Nina Wilcox Putnam e Richard Schayer.
Elenco: Brendan Fraser, Rachel Weisz, John Hanna, Arnold Vosloo, Patrícia Velásquez, Kevin J. O’Connor, Oded Fehr e Erick Avari
Gênero: Aventura, Terror
Duração: 125 min

https://www.youtube.com/watch?v=h3ptPtxWJRs

 


by Redação Bastidores

Crítica | 007 - Cassino Royale

Eu me recuso a aceitar Daniel Craig como James Bond.

Foi assim que o meu eu de 11 anos reagiu à notícia do novo casting para 007 - Cassino Royale, filme que reformularia toda a franquia do agente secreto e apresentaria algo novo após alguns anos de desgaste. Acostumado com toda a presença e charme da era Pierce Brosnan, assim como todos os outros Bonds do passado, a troca bruta de perfil foi algo que não bateu fácil para mim, e também para a maioria do público - que usou o pouco de internet disponível na época para lançar uma campanha negativa contra a escalação do ator.

Tamanha minha teimosia e preconceito com o ator loiro de olhos azuis, que acabei recusando o convite de meu tio para assistir ao filme nos cinemas. James Bond havia morrido para mim. Porém, quando a curiosidade enfim bateu e acabei assistindo o filme em casa, percebi que havia cometido um dos maiores erros de minha vida em não assistir Cassino Royale nos cinemas. Havia perdido a chance de contemplar não só o melhor filme de 007 de todos os tempos, mas também a estreia do Bond definitivo do século XXI.

Depois de um bom tempo criando histórias inéditas para o personagem, a dupla de roteiristas Neil Purvis e Robert Wade voltou para a gênese de Bond ao propor uma adaptação livre do primeiríssimo livro de Ian Fleming, Cassino Royale. Partindo daí, vemos o início da carreira de James Bond (Craig) na agência do MI6 e como conseguiu sua famosa licença para matar, tendo realizado dois assassinatos com execução profissional. Sua primeira missão oficial é a de neutralizar o misterioso Le Chiffre (Mads Mikkelsen), um banqueiro de terroristas que planeja encher a mão em um jogo de pôquer de alto valor no cassino titular. Contando com a ajuda da bela analista Vesper Lynd (Eva Green), Bond precisará ganhar o jogo para capturar o terrorista.

A Supremacia Bond

É aí que você pensa no absurdo da premissa: a missão de Bond é ganhar um mísero jogo de cartas? Ironicamente, uma promessa tão inofensiva acaba revelando desdobramentos impressionantes, mas também ganha um revestimento muito denso graças ao roteiro de Wade, Purvis e a revisão de Paul Haggis. Com o jogo ficando apenas para o segundo ato, acompanhamos a investigação pessoal de Bond nos núcleos iniciais, e é maravilhoso ver como a dupla trabalha muito bem a escalação dos eventos; com pequenas pistas nos levando a acontecimento maiores, usando bem o artifício de uma mensagem críptica que aparece nos celulares de todos os antagonistas que o protagonista acaba perseguindo. É um recurso batido, claro, mas sua execução é eficiente e ajuda a manter as engrenagens da história movendo-se para frente, e evitando uma exposição muito verborrágica - vale notar como o primeiro ato do longa é muito mais silencioso e pautado no suspense, tal como um longa de espionagem deveria ser.

O universo do vilão também é uma das criações mais acertadas e relevantes da dupla, sendo algo que é digno de um antagonista de Bond, mas que também insere-se de forma crível e realista dentro do mundo real. Le Chiffre consegue seus lucros ao apostar contra ações de empresas em alta, orquestrando então ataques terroristas a estas a fim de garantir um retorno financeiro maior. É um plano muito engenhoso e que funciona por sua lógica, como muitíssimo bem expresso pela M de Judi Dench: "No 11 de Setembro tivemos um atentado, mas no dia 12 alguém ficou rico". É uma ameaça inteligente e que faz sentido para o Bond moderno, e o fato de Le Chiffre ser um sujeito frágil, vulnerável e que está sendo mais pressionado por sua "clientela peculiar" do que pelo serviço secreto o tornam ainda mais fascinante - com a presença daquela cicatriz no olho que é a piscadela - sem trocadilhos - ao clássico vilão Bond dos anos 60. Um desempenho formidável de Mads Mikkelsen.

Para esse universo moderno e perigoso, um novo Bond era crucial para o funcionamento de Cassino Royale. E é aqui onde eu desejaria ter uma máquina do tempo para retornar ao passado e arrastar minha versão juvenil para os cinemas e estapeá-la pela falta de fé, já que a performance de Daniel Craig como James Bond é nada menos do que sensacional. Inclusive, acredito que Craig seja o ator que entregou a melhor atuação dentre todos os outros, sendo eficiente ao transmitir toda a variedade emocional do personagem, e seu crescimento como um sujeito frio e ríspido para um homem perdidamente apaixonado, apenas para enfrentar um trauma que enfim molda sua persona definitiva. O ator traz todo o sarcasmo e egocentrismo que o papel requer, especialmente em sua ótima dinâmica com Eva Green.

A fisicalidade de Craig também é um ponto de destaque, visto que realiza algumas cenas de ação diante da câmera, uma exigência do ator de forma a rebater toda a negatividade circundando seu casting. Porém, é na dolorosa cena da tortura, com Bond nu e amarrado a uma cadeira retalhada, onde o ator definitivamente brilha. Com o sádico Le Chiffre esmurrando seus genitais com uma corda de tapete, vemos no rosto do ator o maior esforço do personagem, ao tentar dominar a situação mesmo sem qualquer tipo de vantagem - literalmente despido de qualquer oportunidade. A forma como Craig apela para o absurdo e o humor é simplesmente sensacional, provocando o vilão ao lhe pedir que cuide de sua "coceira" nos países baixos, rendendo uma das frases mais impagáveis do filme: "Agora o mundo inteiro vai saber que você morreu coçando meu saco!".

Como podemos ver, Craig era a melhor escolha para esse Bond reinventado. Inclusive, os roteiristas enxergam diversas oportunidades para brincar com a mitologia do personagem, apresentando-nos aos elementos que vão lentamente construindo sua figura icônica. Por exemplo, este é o primeiro filme da série a não se iniciar com a famosa vinheta do cano da arma, que é brilhantemente incorporada à história durante uma sequência do filme, - servindo como um elegante gancho para os créditos de abertura, que trocam as silhuetas de mulheres voluptuosas por assassinos e cartas de baralho, além da radical canção "You Know My Name", do grande Chris Cornell. Aliás, ainda sobre essa sequência, temos o incrível plano onde Daniel Craig caminha em direção à câmera, e olha diretamente para ela enquanto a música vai encerrando-se, em uma decisão ousada e que praticamente olha na cara de todos aqueles que questionaram sua escalação: sim, eu sou o James Bond.

Outros elementos certeiros vão aparecendo ao longo da projeção. Vemos Bond ganhando o famoso Aston Martin DB5 durante um jogo de cartas no primeiro ato da narrativa, uma tomada que leva seu tempo e paciência para esbanjar a primeira vez que o vemos usando um luxuoso smoking que tornaria-se uma de suas marcas registradas e até o primeiro encontro com Felix Leiter (Jeffrey Wright), um agente da CIA que sempre fora conhecido como um dos aliados do personagem nos longas anteriores, e também a criação de seu martini especial - com a genial resposta à pergunta "batido ou mexido?". Porém, é com a cena final que realmente sentimos o arrepio. A sensação de estar vendo um mito nascer, quando o protagonista olha para outro personagem - e através dele, à câmera - e pela primeira vez solta o famoso "Bond, James Bond", precedendo a entrada do antológico tema musical de John Barry. Nesse momento, Bond renascia.

O Orgulho de Buster Keaton

Mas claro, James Bond não é James Bond sem suas cenas de ação. Felizmente, a maestria do roteiro adulto e sólido vem acompanhada de uma direção igualmente forte e memorável, com o diretor Martin Campbell retornando à franquia após sua ótima introdução de Pierce Brosnan com GoldenEye, em 1995. Aqui, Campbell revela-se ainda mais amadurecido e ambicioso, já revertendo a expectativa do público ao trocar a "cena grandiosa de abertura" por um segmento quieto, silencioso e brutal, ao retratar o primeiro assassinato de Bond com uma briga violenta, física e desajeitada; acompanhando bem o fato de que o protagonista estar cometendo seu primeiro homicídio ali. A escolha de Phil Meheux de dois filtros na fotografia também é certeira, com a luta no banheiro ganhando um preto e branco mais contrastado e com um grão sujo e incômodo - exacerbado pela câmera na mão -, enquanto sua segunda execução ganha um P/B mais clean e equilibrado nos níveis de preto, e mais elegante graças aos planos fixos. Em outras palavras, só pela fotografia já observamos a evolução de Bond de matador bruto a executor calculista e certeiro.

Porém, quando pensamos na ação de Cassino Royale, é uma cena específica que vem à mente de todos nós: a perseguição de parkour em Madagascar. Se Campbell ousou em começar o longa de forma contida, ele oferece uma sequência absurdamente espetacular alguns minutos depois, quando Bond persegue a pé um fabricante de bombas pela cidade africana, atravessando uma floresta, um canteiro de obras e uma embaixada internacional. É uma sequência que impressiona pelo realismo e a nítida percepção de não termos efeitos visuais envolvidos em peso, como se enxerga nas acrobacias inacreditáveis do free runner Sebastien Foucain, que escala paredes, pula de guindastes e outras manobras que eu nem saberia como descrever, sendo a antítese perfeita para a brutalidade de Bond: quando o bandido passa pelo buraco de uma parede de drywall, Bond simplesmente a atravessa.

É importante também como a câmera de Campbell, ainda que captando todos esses eventos espetaculares, jamais perde o foco de Bond, e em sua evolução como personagem ali; sendo justamente esse um dos melhores atributos dessa cena (e também das outras sequências de ação do longa). Antes de pular de um guindaste para o outro, há dois curtos planos em que Bond observa com um certo medo a distância entre os dois pontos, e é isso tipo de humanidade que investe o espectador na ação, que além de tudo é bem orquestrada, montada e distribuída, além da trilha sonora de David Arnold ser arrasadora em seu uso dos tambores africanos. É um atestado muito arriscado de se fazer, mas eu não acho um absurdo declarar esta como a melhor cena de ação de todos os tempos. É uma aula em todos os quesitos imagináveis.

Com uma cena dessas, é muito difícil para qualquer diretor se superar com as 2h de projeção restantes, mas Campbell não deixa a bola cair. Uma tensa cena de stalking que é movida apenas pela trilha de Arnold desenrola-se quando Bond segue um potencial terrorista dentro de uma exposição do corpo humano até um lotado aeroporto de Miami, desembarcando em uma excepcional perseguição de carros pela pista do aeroporto, contando com uma ótima iluminação noturna. A terceira grande set piece é praticamente o oposto ao trocar as sombras da noite pelas vibrantes e saturadas cores de Viena, onde Bond literalmente desaba um prédio em Viena durante um conflito com criminosos no clíamx do longa, em uma imagem altamente simbólica ao trazer Vesper "enjaulada" em um elevador que segue em direção às águas que vão engolindo a estrutura. Ambas as sequências seguem o mesmo nível técnico da perseguição em Madagascar, sempre mostrando Bond se machucando, se esforçando e até falhando miseravelmente em certas ações.

Os Brutos também amam

Campbell certamente sabe lidar com o espetáculo, mas também fico impressionado com seus momentos de sutileza. A começar pelo jogo de cartas em si, que no papel é um evento sem a menor empolgação ou valor cinematográfico, já que são apenas... pessoas jogando cartas, e não há diálogos para movimentar suas ações - além do Mathis de Giancarlo Giannini agindo como o "coral grego" ao explicar para o público o que movimento e jogada significa. Felizmente, o diretor sabe como tornar o jogo dinâmico, ao estabelecer um verdadeiro duelo de olhares entre Bond e Le Chiffre, constantemente trazendo enquadramentos em close do rosto dos dois, sabendo também como valorizar a chamativa cicatriz do vilão. A trilha de Arnold novamente torna-se fundamental, com as batidas incessantes das cenas de ação dando espaço para cordas lentíssimas e misteriosas, além da montagem de Stuart Baird ser muito precisa ao utilizar fusões para demarcar a passagem de tempo - visto que a duração do jogo estende-se por diversas noites.

Como um jogo de pôquer não é capaz de sustentar uns bons 30 minutos de projeção, por mais bem executado que seja, o longa é sábio em oferecer diversas situações e imprevistos ao longo da jogatina. Por exemplo, quando Bond é derrotado por Le Chiffre, Campbell oferece um plano estático onde todos os jogadores vão lentamente saindo da mesa, com Bond praticamente colado à cadeira enquanto observa as fichas à sua frente, como se tentasse entender o que diabos aconteceu; uma cena muito reminiscente de um dos planos finais de O Poderoso Chefão Parte II, onde Francis Ford Coppola retratara o isolamento de Michael Corleone de forma similar. Em um exemplo mais agressivo, temos a intensa sequência onde Bond é envenenado por Le Chiffre, e a fotografia opta por lentes grande angulares que exacerbam o desespero do personagem ao buscar ajuda para livrar-se da substância. É uma amostra de como o estilo de Campbell, assim como Bond na primeira cena, varia entre o operático e o claustrofóbico, vide a brutal cena de luta de Bond contra dois assassinos em uma escadaria, que termina com uma execução extremamente ousada para um filme de censura PG-13.

Então, paralelamente ao jogo de pôquer mais empolgante do mundo, temos duas cenas que nunca antes poderíamos imaginar em um filme de James Bond. A primeira é logo após a intensa briga do protagonista pelas escadas do cassino, com Bond limpando seus ferimentos e o sangue escorrendo por sua testa em frente a um espelho. É um momento de extrema vulnerabilidade que o personagem poucas vezes havia tido, e a câmera na mão que quase despenca enquanto Campbell foca nos olhos cansados de Craig só auxilia para criar esse desconforto e aproximação com o agente secreto. A segunda vem pouco tempo depois, trazendo uma delicadez ímpar ao mostrar Bond abrindo a porta de sua suíte apenas para encontrar Vesper sentada no box do banheiro, com o chuveiro ligado encharcando seu belo vestido. O protagonista então se junta à ela, abraçando-a a e confortando-a após a violência que os dois foram forçados a encarar durante a briga nas escadas. Em um único plano longo, Campbell acaba criando uma cena tão íntima e delicada que merece ser colocada como um dos melhores momentos de toda a franquia.

E é dessa cena que o romance entre Bond e Vesper é finalmente iniciado, e graças ao ótimo texto do trio e a performance enigmática de Eva Green, temos um arco amoroso que oferece muito mais do que se aparenta. A lição final de Bond lhe é dada da forma mais impiedosa, com a lealdade de Vesper sendo colocada em dúvida durante o terceiro ato, e ainda que esta porção do filme aparentemente seja arrastada, é crucial na intenção de criar uma falsa fantasia e a esperança fraudulenta de que Bond poderia ter uma vida normal ao lado de sua amada.

Cassino Royale é um grande filme. Não só o melhor exemplar dos 24 filmes de James Bond, mas também uma das melhores obras de ação e espionagem já produzidas no cinema recente, com Daniel Craig liderando uma reinvenção pesada e brutal para o agente secreto mais famoso da História, contando com um roteiro magistral e uma direção que oferece o melhor que o gênero de ação tem a oferecer. Uma carta vencedora.

007 - Cassino Royale (Casino Royale, Reino Unido - 2006)

Direção: Martin Campbell
Roteiro: Neil Purvis, Robert Wade e Paul Haggis
Elenco: Daniel Craig, Eva Green, Mads Mikkelsen, Judi Dench, Jeffrey Wright, Giancarlo Giannini, Caterina Murino, Simon Abkarian, Jesper Christensen, Sebastien Foucan
Gênero: Ação
Duração: 144 min

https://www.youtube.com/watch?v=GV_18deeAXk


by Lucas Nascimento

Crítica | Frankenstein (1931)

Sempre que se fala em Frankenstein, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é a imagem do monstro de pele esverdeada com pregos no pescoço e criado por um cientista louco. Essa imagem se deve a este filme aqui, Frankenstein, de 1931, pois o monstro idealizado no livro homônimo de Mary Shelly é totalmente diferente. O visual que deram a ele no cinema foi tão marcante que, hoje em dia, praticamente, qualquer representação do personagem é inspirado no filme, enquanto a do livro é totalmente desconhecida. Não que o livro seja ruim, muito pelo contrário, mas não estamos falando dele e sim do longa de 1931, que entregou ao Mundo e ao Cinema um terrível monstro fictício, marcando a vida de muitas pessoas.

O filme trata da ambição de um homem, Dr. Henry Frankenstein (Colin Clive), que deseja se colocar no mesmo patamar de Deus. Com isso ele tem a horrenda ideia de criar vida a partir de restos de cadáveres e do poder dos raios da chuva. No entanto, para o espanto de todos, o corpo que ele construiu realmente vira um ser animado, porém, ele age totalmente pelo instinto e por um pouco da inteligência que aparenta ter.

Tem uma cena aqui que merece extrema atenção: estou falando do momento em que o monstro se encontra com uma garotinha perto de um lago. Ela o acalma e tenta se comunicar com ele, e este aparenta gostar da companhia dela, porém, alguns segundos depois, ele a joga no lago pensando que ela iria flutuar sobre a água como as pétalas de uma flor, mas ela morre afogada. É muito interessante que eles tenham optado por mostrar a morte de uma criança como o pivô para a caça ao monstro. Isso é extremamente corajoso. Todavia, isso também mostra que a criatura pode ter assassinado as outras pessoas inocentemente, pois, no caso da garota, ele nunca teve a intenção de machucá-la, mas, por causa da falta de intelecto, ele acaba matando-a. Isso nos deixa com uma certa pena dele, pois, no fim das contas, ele não queria fazer mal algum.

A obra é marcada pela forte influência do Expressionismo alemão, que pode ser notada, por exemplo, na cena de abertura, onde são mostradas imagens distorcidas de variados objetos de teor sinistro, e na cena em que o Dr. Frankenstein rouba os cadáveres do cemitério. O uso dela aqui foi muito bem-vinda, pois assim se conferiu um clima mais sinistro e sobrenatural ao filme.

Como já havia mencionado na introdução e volto a mencionar aqui, o filme sofre diversas alterações em relação ao livro homônimo escrito por Mary Shelly, como a aparência do monstro, o nome do Dr. Frankenstein, vários personagens ausentes e outros criados exclusivamente para o filme, a localidade dos eventos e por aí vai. Porém, nada disso é um desmérito, pois, apesar das alterações, toda a motivação do Dr. Frankenstein é a mesma, e tudo que o filme apresenta de novo é, no mínimo, deleitável.

O monstro de Frankenstein é interpretado por Boris Karloff, que consegue fazer um inigualável trabalho de atuação. Toda a movimentação desengonçada do monstro, as suas expressões, os seus gemidos, é tudo muito convincente, chegando a dar medo. A maquiagem ficou a cargo de Jack Pierce, que, obviamente, fez um esplêndido trabalho na caracterização do monstro. Colin Clive interpreta o Dr. Henry Frankenstein, o cientista que deu vida à horrenda abominação que aterroriza o filme. Logo de início podemos notar que ele não é alguém que está com o juízo perfeito, desde os seus olhos esbugalhados até a sua estranha entonação de voz, que tornou clássica a frase "It's alive!"

A trilha sonora é praticamente inexistente, o que acaba atrapalhando o filme. Muitas cenas ficam sem emoção, salvo apenas algumas em que a mixagem realmente bastou para criar o clima certo, mas, em outras, como na cena onde o monstro aparece pela primeira vez com vida, é bem sentida a falta da trilha sonora.

No fim, Frankenstein é um filme extremamente marcante e corajoso. Famoso pelas excelentes atuações de Colin Clive e Boris Karloff, e por todo cuidado no trabalho dos cenários e da maquiagem, além dos excelentes enquadramentos proporcionados pelo talentoso diretor James Whale.

Frankenstein (Frankenstein, EUA – 1931)

Direção: James Whale
Roteiro: Garrett Fort, Francis Edward Faragoh
Elenco: Boris Karloff, Colin Clive, Dwight Frye, Mae Clarke, Edward Van Sloan
Gênero: Terror 
Duração: 71 min 


by Ayrton Magalhães

Crítica | Drácula (1931)

Assombrando a imaginação de muitos por séculos, os vampiros são figuras mitológicas fascinantes. Hoje em dia, eles são facilmente adaptados para o teatro, cinema e séries de TV, porém, a qualidade da maioria dessas adaptações é baixíssima, e muitos criadores vêm deturpando toda a sua mitologia, o que considero uma afronta. Entretanto, no século passado, elas tinham uma qualidade que não se vê hoje em dia, como a adaptação feita por Tod Browning da obra homônima de Bram Stoker, que é, sem sombra de dúvida, um dos melhores filmes já realizados sobre vampiros.

A narrativa se inicia com a chegada de um advogado, Renfield (Dwight Frye), na Transilvânia. Ele foi lá para finalizar um contrato de aluguel de uma propriedade em Londres pertencente a um homem nativo da cidade, o Conde Drácula (Bela Lugosi). Porém, antes de ir, algumas pessoas o alertam que o conde não é um homem bondoso. Chegando no castelo do misterioso ser, ele logo descobre que a figura assustadora é um vampiro. Após deixar o pobre Renfield desmaiado e hipnotizado, o Drácula, com a ajuda do advogado, consegue embarcar em um navio que tem como destino a cidade de Londres. Quando chegam ao porto da cidade, só há um membro com vida no navio, o protagonista Renfield, que, encontrado num estado aparente de loucura, é enviado a um manicômio. Enquanto isso, Drácula consegue sair do navio, partindo em busca de novas vítimas na cidade inglesa.

Antes de prosseguir, preciso comentar a respeito do cenário do castelo do Drácula, que, de primeira, já nos dá uma ideia de que as intenções dele não são das melhores. Ele é sujo, com teias de aranhas espalhadas por todas as partes, ratos e outros animais pequenos podem ser vistos, além do visual totalmente sinistro das partes internas do castelo, tudo muito bem colocado para dar um ar mais aterrorizante à cena.

Por ser uma adaptação do livro escrito por Bram Stoker, obviamente haveriam bastantes alterações, mas, por sorte, as mudanças aqui não foram tão drásticas assim. As maiores mudanças estão em relação à criação de um novo personagem, que é o advogado Renfield. No livro, quem vai ao castelo do Drácula e sofre com as inúmeras bizarrices que encontra lá é Jonathan Hacker, um dos personagens centrais do livro e que está presente no filme, porém num papel sem relevância alguma. Pode se considerar que Renfield é a reinvenção de Jonathan Hacker para as telas, só que, obviamente, com outro nome e como um personagem bem risível, o que é uma mudança totalmente desnecessária.

Uma coisa que não poderia faltar aqui e, graças a Deus, não faltou, foram os elementos da mitologia vampiresca, como o medo que eles possuem de crucifixos, alhos, além do fato de não refletirem no espelho e a sua famosa transformação em morcego. No entanto, houve um elemento que faltou e sem motivos aparentes. Estou falando das suas famosas presas. Elas não estão presentes em nenhuma cena do Conde, e isso é estranho, pois fica claro que ele suga o sangue das pessoas com elas.

Os responsáveis também apostam na completa falta de uma trilha sonora. Ela é apenas colocada em pequenos momentos durante o filme, como na introdução. Mas, devo admitir que ela não fez muita falta por conta do incrível trabalho de mixagem de som, que encaixou satisfatoriamente ruídos de animais e pessoas nas cenas para dar uma tensão maior, porem em outras cenas como na primeira aparição do Conde, ela realmente fez falta.

Bela Lugosi é um espetáculo à parte. Ele entrega um Drácula carismático e macabro, com uma forte presença em cena. Ele adota movimentos de mãos e olhares exclusivos para dar uma persona maior ao personagem, como na cena onde se levanta do caixão, na qual o movimento que ele faz nas mãos é logo percebido, ou a cena onde ele hipnotiza alguém, e a sua face é de extremo terror, mérito também dos seus olhos esbugalhados. Ele também adota um sotaque de alguém típico da Europa Central, condizendo perfeitamente com a localidade onde se encontrava no início do filme. Toda essa dedicação que ele teve pelo papel é até hoje celebrada.

O restante do elenco, apesar de não ter o mesmo resultado que Bela Lugosi, ainda consegue entregar algo digno, como Dwight Frye, que interpreta o advogado Renfield e traz uma atuação bem caricata para o personagem, combinando perfeitamente com a sua proposta, que era a de um homem aparentemente louco e submisso às ordens de um ser sobrenatural. Podemos perceber isso em sua face marcada por longos sorrisos e olhos esbugalhados, que conseguem convencer o público que realmente se trata de um personagem enlouquecido, além de dar um ar macabro à sua volta. Também temos o brilhante Dr. Van Helsing, interpretado por Edward Van Sloan, que, apesar de entregar uma atuação aquém do esperando, não compromete em nada o personagem ou a trama e ainda consegue ter os seus bons momentos.

No fim, Drácula é um excelente filme que merece todos os elogios que vem recebendo desde que estreou no século passado. Claro que não é um filme perfeito, pois apresenta alguns pontos negativos, mas nada que realmente  estrague a experiência. É realmente uma pena que não se façam mais filmes de vampiros como antigamente.

Drácula (Dracula, Estados Unidos – 1931)

Direção: Tod Browning
Roteiro: Garrett Fort
Elenco: Béla Lugosi, Dwight Frye, Edward Van Sloan, Helen Chandler
Gênero: Terror
Duração: 75 min

https://www.youtube.com/watch?v=VoaMw91MC9k


by Ayrton Magalhães

Crítica | Z - A Cidade Perdida

Histórias como a do capitão Percy Fawcett, reais porém indefinidas, habitam uma faixa cinzenta entre o documental e a ficção. Quando o jornalista e escritor brasileiro Antônio Callado lançou em 1953 a sua reportagem Esqueleto na Lagoa Verde, não poderia ter sido mais feliz na escolha do seu subtítulo: um ensaio sobre a vida e o sumiço do coronel Fawcett. Tendo em vista as inúmeras incertezas e recortes que uma história pode apresentar na sua narração, o nome de “ensaio” parece ser o mais adequado.

Callado acaba não conseguindo reunir fatos para reconstituir os últimos passos e o triste (ou feliz) fim do coronel inglês que veio para nossas terras em busca de seu Eldorado, a cidade perdida de Z. Dividido em duas partes, o livro estrutura de maneira labiríntica o que o jornalista ficou sabendo da expedição de Fawcett com base em bibliografia diversa e também com pesquisa in loco. Além da trajetória de Fawcett, seu flerte com o misticismo, sua vertente espiritual, Callado encontra espaço para escrever sobre a cultura indígena. Foi com base nessa experiência, inclusive, que escreveria Quarup, seu mais famoso romance.

Mais recentemente, o jornalista da The New Yorker, David Grann, escreveu uma extensa reportagem, que rendeu o livro Z - A Cidade Perdida, lançado em 2009. Foi com base em suas 350 páginas de não-ficção que James Gray fez o roteiro de seu novo filme.

De um ponto de vista estrutural, a narrativa fica muito bem delineada. Gray opta por mostrar apenas três expedições do coronel Fawcett à floresta amazônica, reduz o número de expedicionários para ressaltar as relações entre os personagens, omite os interesses de Fawcett pelo místico, assim como não se preocupa em dar espaço para a perspectiva dos indígenas - mas também não os vitimiza ou demoniza, com exceção de uma cena que beira essa atitude. James Gray, como um bom narrador neoclássico, sabe que é preferível obter a complexidade de um ponto do que gastar um filme com abordagens superficiais. E sempre com muita elegância.

Z - A Cidade Perdida, o filme, é o sonho de Gray, mais até do que o de Fawcett. É um ensaio ficcional que o diretor encontra para falar sobre fé, ainda que com um fundo racional. Esse Z (pronunciado “zeta”) é como diz Fawcett, a peça que falta no quebra cabeça (puzzle) da humanidade. Z traz em si toda uma carga misteriosa que possibilita ao diretor fazer uma abordagem intimista do seu personagem e de sua complexidade.

Desde o começo Fawcett (Charlie Hunnam) inspira simpatia, mesmo em sua posição. Um branco, militar, forte, experiente, mas que não tem seu trabalho reconhecido. O sobrenome da família foi manchado pelas estripolias do pai bêbado e isso o impede de adentrar os círculos mais restritos dos grupos militar e científico. Confiantes na força física de Fawcett e nas suas habilidades como explorador e cartógrafo, a Sociedade Real de Geografia faz uma proposta ao então major. Ele deve viajar para a floresta amazônica e mapear uma porção ainda desconhecida para sua civilização, na fronteira entre Brasil e Bolívia. Num primeiro momento, ele até pensa em recusar. Tem a sua esposa, Nina (Sienna Miller) e um filho pequeno, Jack. Mas, além das honrarias, lhe é oferecida uma oportunidade de limpar o nome de sua família.

Como Gray já havia mostrado em seu brilhante Era Uma Vez em Nova York, ele sabe trabalhar o conceito de época em seus filmes. James Gray não é apenas o cara que “faz filmes como eram feitos antigamente”. Essa expressão é um pouco problemática, especialmente quando serve mais como desculpa para elogiar um filme mais quadrado. Não é o caso desse diretor. Mesmo com pleno domínio da linguagem calculada do cinema clássico, seus filmes não pertencem ao passado. No caso de Z, a época do filme não é mero fundo para o desenvolvimento de uma dramaturgia tosca e anacrônica, como é comum aos longas “de época”. É visível a preocupação do diretor em retratar Fawcett como uma figura próxima, com ideais e pensamentos menos conservadores, mas sem esquecer que é, invariavelmente, um produto de seu tempo.

Z tem algo também de Herzog. Lembrando o clássico Fitzcarraldo, o filme mostra as dificuldades da floresta (refletidas no fazer das filmagens, no uso da película como resistência estética) que, desconhecida para os colonizadores, mostra-se indiferente frente aos seus dramas. Essa mesma indiferença, misturada com hostilidade (mais auto-preservação) reflete-se também no retrato dos indígenas. As composições de Gray ora se afastam, ora se aproximam dos personagens para mostrar determinado estado de espírito, tornar as situações claustrofóbicas ao ar livre – auxiliada pela trilha sonora com Ravel (Daphnis e Chloé) e Stravinski (A Sagração da Primavera). Mesmo assim, em nenhum momento o roteiro deixa ser seguir uma linha intimista bem clara. Nem mesmo na curta passagem de guerra, quando a câmera fica mais tremida (lembrando as passagens mais tensas de Amantes), Gray esquece da manter a firmeza da sua narrativa e das suas composições. É um micro-exemplo nessa floresta de surpresas e elipses que é o longa, que apresenta ainda belíssimos match cuts – corte entre planos espelhados, em que a forma de um objeto lembra a de outro. É lindo ver uma faixa de líquido escorrendo pela pia se transformar, num piscar de olhos, em um trem.

A paleta de cores puxadas para o verde, o amarelo e o marrom exibem um universo tropical quente e pesado, suado. De certa maneira, Gray parece evitar a todo custo que seus personagens percam a classe “inglesa”, civilizada. Mesmo em uma passagem em que os personagens estão num rio, não há nenhum torso nu. A antítese do artificial espetáculo de um filme como Expedição Kon-Tiki (2012), ou de outros blockbusters e seus block-modelos. Até mesmo os índios usam todos tapa-sexo e ver algum seio é muito difícil. Portanto, não é um embate de corpos, mas de mentalidades. Z é uma aventura menos em busca de glória do que de uma pesquisa arqueológica formatada em um estudo de personagem, representada de maneira pura, clara e sucinta.

O Percy Fawcett, muito bem interpretado por Charlie Hunnam (ainda bem que não por Brad Pitt, que ficou só nos bastidores com sua Plan B), é um personagem que ocupa o filme inteiro e que executa sua personalidade. Ainda que o filme possa ter alguns diálogos mais didáticos (a discussão da participação feminina, o conservadorismo da sociedade científica…), o caráter do protagonista se mostra paulatinamente em suas ações, escolhas, atitudes, olhares. Nos conectamos com ele por tanto tempo que quando os conflitos de sua vida particular vêm à tona, a quebra é mais forte. E como a busca de Fawcett tem algo, como princípio, quixotesco, sua busca e deveres como chefe de família tornam-se dilemas. Em seus últimos momentos, quando faz a expedição com o filho Jack (Tom Holland), esse aspecto toma corpo e traços de conclusão.

Onde imagens de arquivo caberiam como ilustração, Gray opta por mostrar um slideshow, não das fotografias reais, mas das fotos com os atores. É um recurso que funciona perfeitamente, e lembra as fotografias em preto e branco de Amantes (apesar de que neste filme a função era outra, mais marcada). A encenação é mais real graças à conexão do espectador com os protagonistas-atores. No filme de 2008, isso aparecia na virada em que Leonard passa a dar mais atenção para Sandra, antes de se conectar mais com Michelle, perto da metade do filme. Em Z - A Cidade Perdida, aparece mais perto do final, já na última expedição que Fawcett faz com seu filho Jack, em 1925. Mergulhamos enfim em uma outra câmera.

É a partir desse momento também que o desaparecimento dos dois se aproxima. Mas não fica qualquer sensação de falha, desastre. Quer dizer, de uma maneira ou de outra, todas as expedições de Fawcett até então deram errado em algum momento, sofreram muito pelo caminho, alguns companheiros chegaram a morrer e pouco foi achado da tal cidade. Mas quando pai e filho são capturados por uma tribo indígena, sabem que o destino deles ali se encerra, mesmo sem saber o significado do ritual por que passam (pela maneira como são carregados, seria um sacrifício?). Gray sabe que não interessa o objetivo, e sim o processo e sua simbologia. Por isso mesmo, fecha a história como começou, no seu primeiro plano, conectando as pontas do ciclo. O resto é “reflexo”, como diz a metáfora visual dos últimos segundos.

Essa ausência, o mistério e a obsessão é justamente o que moveu Nina – a loucura de Fawcett se manifesta materialmente nela após seu desaparecimento –, e depois seu filho Brian, Callado, Grann, o próprio Gray e todos nós espectadores que acompanhamos o que resta da sua história. Pelo menos, dessa história entre histórias do ensaio ilimitado que é a vida e o destino do Coronel Percival Harrison Fawcett.

Z - A Cidade Perdida (The Lost City of Z, EUA – 2016)

Direção: James Gray
Roteiro: James Gray
Elenco: Charlie Hunnam, Robert Pattinson, Sienna Miller, Tom Holland, Edward Ashley e Angus Macfadyen 
Gênero: Drama
Duração: 141 min

https://www.youtube.com/watch?v=6aWpLX3gxaI


by Redação Bastidores

Crítica | Mulher-Maravilha (Sem Spoilers)

Clique aqui apra ler nosso texto COM SPOILERS

O caminho do universo cinematográfico da DC foi turbulento, para dizer o mínimo. 2016 trouxe um verdadeiro pesadelo para a Warner Bros quando Batman vs Supernan: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida foram trucidados pela crítica especializada, e arrecadaram menos do o esperado - atrasando também  o desenvolvimento da empresa e o rumo das narrativas, deixando-os ainda mais confusos na intenção de montar sua Liga da Justiça e estabelecer uma franquia equiparável à concorrente Marvel Studios.

Com os dois soldados abatidos, todos os olhos viraram-se para o próximo lançamento da DC: Mulher-Maravilha, a primeira vez que a maior super-heroína de todos os tempos ganharia sua estreia nas telonas. Não é apenas uma chance crucial para salvar a reputação da editora nos cinemas, mas também para um importante símbolo de representatividade no cinema de ação, cada vez mais marcado pela presença feminina. Felizmente, o longa de Patty Jenkins é bem sucedido em ambas as suas propostas, e garante o maior acerto da nova fase da DC nos cinemas.

A trama nos leva às origens de Diana Prince (Gal Gadot), nascida como uma Amazona na mítica Ilha de Temiscira, ligada à mitologia de Zeus e vivendo isolada do mundo dos mortais. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine), acaba invadindo seu paraíso ao fugir de soldados alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Recebendo a ajuda da princesa amazona, os dois partem para a frente de batalha, onde Diana desconfia da influência de Ares, o Deus da Guerra, como causa central do conflito entre os homens.

Se fossemos estabelecer uma comparação, este Mulher-Maravilha é um misto entre Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador, ao trazer a abordagem cômica à mitologia do primeiro e o contexto da Guerra Mundial do segundo. Porém, Patty Jenkins consegue alcançar um resultado superior a esses dois filmes da Marvel, contando a boa e velha história de origem de super-herói, em um longa divertido e aventuresco na linha de um Indiana Jones. É um equilíbrio muito eficiente entre humor e drama, com o arco de Diana sofrendo drásticas transformações ao ter seu ponto de vista de encontro com a realidade sombria do século XX: a protagonista é ingênua e otimista durante o primeiro ato, e esse desenvolvimento cru é um dos grandes acertos do roteiro de Allan Heinberg - que partiu do argumento em conjunto de Zack Snyder, Geoff Johns e Jason Fuchs.

É um filme mais leve e descontraído do que os antecessores, preocupados demais com os aspectos sombrios e soturnos de seus personagens, ou na tentativa de torná-los engraçadinhos demais (Esquadrão, sim), e o grande adjetivo para Mulher-Maravilha é equilíbrio. Com começo, meio e fim, o filme traça uma história simples e que se resolve bem ao longo de seus 141 minutos, trazendo uma estrutura e coerência que os dois antecessores peneram para alcançar - é bem claro que a montagem do filme é eficiente o bastante para cuidar de uma trama totalmente linear. Há muito do Superman de Richard Donner aqui, na forma com que lida com os elementos fantásticos e também pela performance de sua protagonista - que até usa um traje "civil" similar ao de Christopher Reeves.

O que nos leva à Gal Gadot, que surpreende em seu primeiríssimo papel como protagonista. Confesso que eu mesmo tive minhas dúvidas quanto a capacidade da atriz em liderar um longa desse tamanho, mas fiquei aliviado em testemunhar seu imenso carisma e expressividade de nas diferentes facetas que o papel exige. Gadot varia do cômico para o confuso e curioso com incrível naturalidade, sendo auxiliada também por sua beleza exótica espetacular e toda a fisicalidade durante as cenas de luta. Por fim, a atriz também convence durante as cenas mais dramáticas, fruto de uma explosiva química com o ótimo Chris Pine, que torna a relação dos dois um dos elementos mais interessantes e fortes em uma produção do gênero até agora - em outras palavras, nada descartável ou genérico como os arcos de Natalie Portman ou Rachel McAdams em produções da Marvel, por exemplo.

Com uma atriz carismática segurando perfeitamente o protagonismo, eis que temos a entrada de Patty Jenkins no universo da DC, uma das poucas mulheres a embarcar no gênero de super-herói na função de direção, e o resultado não poderia ser mais satisfatório. Jenkins estabelece um universo coeso e colorido, com as imagens embasbacantes da ilha paradisíaca oferecendo um contraste gritante como uma Londres toda cinzenta e preenchida pela névoa e fumaça das indústrias, já trazendo um bom paralelo para a jornada de Diana em um trabalho muito competente do diretor de fotografia Matthew Jensen. E nunca pensei que fosse dizer isso de um filme da DC, mas o 3D realmente funciona e oferece certa profundidade à maioria das cenas com planos abertos.

Quando as cenas de ação começam, Jenkins surpreende ao trazer lutas excepcionalmente bem coreografadas e filmadas, com uma mise em scéne simples, mas que explora com perfeição os movimentos da protagonista e também das demais guerreiras amazonas. Há, sim, um excesso de slow motion em diversas cenas - uma herança de Zack Snyder, provavelmente - mas admito que o efeito é usado pontualmente para ressaltar alguns golpes realmente memoráveis. Só a imagem da Mulher-Maravilha defletindo balas em plena Terra de Ninguém do campo de batalha é o suficiente para impressionar, mas também fiquei surpreso com a criatividade no uso do Laço da Verdade como uma verdadeira arma de guerra ou a batalha entre as Amazonas a cavalos contra alguns soldados alemães na praia - incluindo um genial foreshadowing para uma ação que ocorreria em outra batalha, e tudo só melhora quando o compositor Rupert Gregson-Williams traz de volta o magistral tema em violoncelo elétrico de Hans Zimmer para a personagem, dosando-o sabiamente nos momentos certos.

Claro, não é um filme perfeito. Ironicamente, a DC que sempre beneficiou-se de ter a melhor galeria de vilões dos quadrinhos acaba patinando justmanete nesse quesito aqui. Marcados principalmente pelas figuras de um general alemão (Danny Houston) e uma química maligna (Elena Anaya), o núcleo antagonista é de longe o mais fraco do filme, mas ambos os intérpretes parecem ter ciência do aspecto cartunesco de seus personagens - diversas vezes os vemos trocando risadas maléficas ou exagerando no sotaque carregado, enquanto outros antagonistas menores exibem características físicas nada sutis, como um marcante bigode que parece ter saído de um desenho da Hanna-Barbera ou algo similar aos vilões de Caçadores da Arca Perdida.

Quando chegamos no grande Ares, a situação melhora, especialmente pela natureza de sua revelação e o interessante discurso sobre a natureza da maldade no Homem, que rende um honesto diálogo onde Steve Trevor explica para Diana que os humanos não preicsam ser ruins apenas por causa de uma interferência mitológica, mas que seria algo enraizado a eles mesmos. Uma linha narrativa muito fascinante, mas infelizmente o embate entre o Deus da Guerra e Diana acaba prejudicado pelo excesso de CGI. Porém, é algo muito melhor do que as porcarias de Doomsday em BvS e... Aquele irmão esquisito da Magia em Esquadrão Suicida, e que também compensa pela bela catarse da protagonista ao final do conflito.

No fim, Mulher-Maravilha é o primeiro grande acerto do universo DC nos cinemas. Oferece um longa mais amarrado e coeso do que seus antecessores, além de trazer o perfeito equilíbrio de humor, heroísmo e todos os temas dramáticos que os heróis da editora carregam consigo. Nas mãos de Gal Gadot e Patty Jenkins, o futuro do gênero nunca pareceu tão promissor.

Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA - 2017)

Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Allan Heinberg, argumento de Jason Fuchs, Zack Snyder e Geoff Johns
Elenco: Gal Gadot, David Thewlis, Connie Nielsen, Robin Wright, David Thewlis, Danny Houston, Elena Anaya, Lucy Davis, Ewen Bremer, Doutzen Kroes, Saïd Taghmaoui, Eleanor Matsuura, Mayling Ng, Samantha Jo, Eugene Brave Rock
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 141 min

https://www.youtube.com/watch?v=I6Gj8Fvukk4

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by Lucas Nascimento

Crítica | Julieta

Nos últimos anos, Pedro Almodóvar oscilou entre ótimos filmes (Volver e A Pele Que Habito) e algumas obras irregulares (Abraços Partidos e Amantes Passageiros). Com mais de 30 anos de carreira, o cineasta estava num daqueles momentos críticos pelo qual todo artista genuíno passa: consagrado e com um estilo próprio, o diretor tinha de encontrar uma maneira de se reinventar sem perder as características que o transformaram em um dos nomes recentes mais venerados da sétima arte. Para a felicidade de seus fãs e de vários cinéfilos ao redor do mundo, Almodóvar não só conseguiu superar as dificuldades, como entregou uma legítima obra-prima.

Julieta (Emma Suárez) está prestes a sair de Madri e ir para Portugal para viver ao lado de Lorenzo (Darío Grandinetti), seu namorado, quando um encontro inesperado com uma figura de seu passado traz à tona sentimentos e pensamentos há um bom tempo enterrados. Decidida a acertar as contas com a própria história, ela escreve uma longa carta endereçada a Antía (Blanca Parés), a filha que não vê há doze anos, na esperança de que as pontas soltas no relacionamento das duas sejam enfim atadas.

Adaptado de alguns textos da escritora canadense Alice Munro, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, é um dos inúmeros acertos que permeiam a última obra do experiente cineasta espanhol. Poderosa e emotiva, a história, que Almodóvar transformou em uma única a partir de três contos distintos, percorre com enorme destreza caminhos ardilosos: ao investir em narrações e flashbacks, o filme corria o risco de soar redundante boa parte do tempo, mas, como um mestre em pleno domínio de sua arte, Almodóvar alterna de maneira brilhante os dois recursos; outra armadilha da qual a obra escapa com louvor é a de parecer extremamente expositiva nas cenas em que a protagonista narra para a filha momentos nos quais ambas estavam presentes, mas a opção de dedicar esses instantes à verdadeiras descrições de estados de espírito se mostra correta e enriquecedora. Por fim, começar a história com o primeiro encontro entre Julieta e Xoan (Daniel Grao), mostrar trechos da época em que a filha era apenas um bebê e fazer com que Antía estivesse longe no dia em que um evento central da trama ocorre não só servem para evitar a já mencionada exposição, como contextualizam a história e dão a esta uma dimensão muito maior.

Sutil nos temas que apresenta, o texto de Almodóvar também é maduro o suficiente para saber que nem tudo precisa ser explicado. Reparem, por exemplo, como a interação entre Julieta e Marian (Rossy de Palma) se transforma ao longo dos anos. Inicialmente hostil, uma vez que Marian, por ser governanta e ter presenciado os sofrimentos enfrentados pela esposa de Xoan durante os últimos dias de vida, recepciona a nova inquilina como se fosse uma invasora, a relação se torna aparentemente mais fértil e pacífica depois de um tempo. No entanto, quando Antía já está mais velha, Marian finalmente deixa a casa. Embora a justificativa dada seja a de que a governanta teve de sair para cuidar do marido doente, o rompimento pode ter ocorrido tanto pelos vários percalços que as duas tiveram de percorrer para estabelecer um vínculo saudável quanto pela possibilidade de Julieta, após ter visitado os pais quando Antía ainda tinha dois anos e notado que a enfermidade que acabou por deixar a mãe presa numa cama tinha levado o pai a encontrar conforto nos braços da empregada, ter visto nos olhos de Marian a mesma reprovação com a qual olhou para a nova amante de seu pai (o que é, inclusive, uma rima temática inteligentíssima). Notem também que não há uma resposta definitiva para o desaparecimento de Antía: ela pode ter sumido por causa da jornada espiritual que empreendeu depois de um tempo num retiro, como pode ter ido embora após descobrir alguns segredos do passado escondidos pelas pessoas ao seu redor. Essas ambiguidades, ao invés de incomodar e gerar uma sensação de incompletude, deixam o filme mais complexo e fincado na realidade.

Igualmente brilhante na direção, Almodóvar exibe um rigor técnico e um controle da mise-en-scène de encher os olhos. Não há em Julieta um plano fora do lugar, um movimento de câmera impensado ou algum objeto deslocado (no entanto, esse rigor nunca deixa o filme engessado, pelo contrário, a concentração com a qual a narrativa é construída é que dá à história a sua fluidez). Tudo que está em cena tem o propósito de levar a trama adiante e enriquecê-la. Até mesmo o simbolismo é usado de forma prática. Percebam como a tempestade presente no segundo ato do filme é ao mesmo tempo uma metáfora visual da briga entre Xoan e Julieta e um elemento que afetará profundamente a vida dos personagens e como a revelação do conteúdo misteriosamente colocado dentro de um envelope serve para ilustrar a fragmentação interior de Julieta e Antía.

Relevante também em seus aspectos técnicos, o filme tem nas cores trabalhadas pelo figurino e design de produção uma de suas principais forças. Enquanto no início as roupas usadas por Julieta são majoritariamente azuis, depois da noite em que dorme com Xoan, ela passa a vestir vermelho constantemente. Representando a paixão que nasce dentro da personagem, o vermelho também simboliza a impregnação do marido em sua vida, já que é a cor que Xoan veste tanto no primeiro encontro entre os dois quanto em outros momentos da história.

Outro destaque é o trabalho realizado pelo montador. Antigo colaborador de Almodóvar, José Salcedo teve pela frente a difícil tarefa de conferir a um filme repleto de saltos no tempo uma lógica cronológica que pudesse ser facilmente acompanhada pelo espectador. E ele não apenas é bem sucedido no emprego orgânico e inventivo de algumas elipses, como brinda o espectador com um momento que admito ter me segurado para não aplaudir de pé. Estou falando da cena em Antía enxuga os cabelos de uma Julieta ainda jovem (a personagem na juventude é interpretada por Adriana Ugarte), quando, após um corte imperceptível, é revelado ao público o rosto envelhecido de Emma Suárez. Além de extremamente elegante, o recurso é usado para ilustrar o envelhecimento precoce e exponencial de Julieta.

Contido e rigoroso, o novo filme de Pedro Almodóvar aponta para o começo de uma nova fase na vida do diretor. Conhecido pelos excessos, o cineasta de Julieta é um artista cujas arestas no estilo foram aparadas sem que nenhum elemento que o caracterize tenha sido negligenciado. O melodrama, as cores intensas, a música dramática, o universo feminino: tudo está lá. Mas, em vez de chamarem atenção para si mesmos, eles servem como apoio a uma história contada sem a menor solenidade e perfeitamente dirigida. Com o novo filme, Pedro Almodóvar deixa de ser um cineasta admirado pelos seus contemporâneos e começa a entrar no rol dos grandes gênios do Cinema. Para um diretor que ainda está em plena atividade e que tem ainda bastante anos pela frente, isso representa um feito e tanto.

Julieta (Idem, Espanha – 2016)

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Darío Grandinetti, Daniel Grao, Inma Cuesta, Roosy De Palma
Gênero: Drama
Duração: 99 min


by Redação Bastidores

Crítica | Miami Vice

Me pergunto como deve ter sido a reação que muitos tiveram com esse pequeno filme já cult de Michael Mann em sua época de lançamento, já que este aparentemente sofreu uma certa rejeição por parte de ambos crítica e público, que continua bem divisiva até hoje. Será que deve ter sido por terem o encarado como um mero thriller policial "mal filmado" com desenvolvimento de personagem vazio e melodramaticamente falando 'exagerado ou cafona'?! Enquanto no meio dos fãs do diretor vejo uma reação totalmente inversa e completamente calorosa, com alguns até o chamando do melhor filme do diretor ou um dos melhores da década passada, ou até o melhor filme policial em anos. Eu presumo que talvez venha a ser o típico caso ame ou odeie?! Mas por que deve ser assim? Talvez o filme seja exatamente tudo aquilo que se propôs ser e não deve ter falhado em tal.

Não é de hoje que se é conhecida a fama que Michael Mann tem de ser um diretor completamente meticuloso e talvez um perfeccionista por natureza. O comando dele de sua câmera enxotada nos cantos claustrofóbicos, perseguindo os personagens a todo o tempo já denota o quanto ele está em controle em cima de seus fantásticos atores e da narrativa que ele aqui se propõe. Sim talvez seja mesmo o caso de uma história de justiça vs crime envolvido com o amor criminoso e a violência brutal das ruas que já se viu incontáveis vezes, ainda mais abordadas por Mann. Os fãs podem vir a me crucificar por dizer isso, mas Michael Mann basicamente quase faz os mesmos filmes e as mesmas histórias de novo e de novo, com muitas diferenças claro, mas constantes leves semelhanças e certas repetições, mas isso não é algo negativo por assim dizer.

Ainda mais tendo em conta o quanto ele mostra como consegue morfar tecnicamente e narrativamente de filme pra filme, sempre usando novos estilos, jogadas de câmera diferentes, a forma que ele monta e filma seus icônicos e enervantes tiroteios sempre de forma diferente e SEMPRE de forma absolutamente precisa, assim como dirige seus pequenos momentos contidos e contemplativos entre os personagens e a maneira com que constrói a narrativa e história deles mesmo lidando com temas similares. Assim sempre mostrando uma evolução e modernização e seu tão fantástico estilo, mas sempre soando familiar e mantendo sua marca de autor.

E talvez tenha sido com Miami Vice que ele chegou o mais próximo em anos de se fazer um novo tipo de filme policial moderno, e até mesmo uma nova forma de cinema contemporâneo diferente. Que não segue os caminhos narrativos previsíveis, e que se constrói e remodela de forma coesa mas sempre diversificada, mostrando ter uma linguagem técnica totalmente autoral na forma que lida com a construção de trama e o desenvolvimento dos personagens.

Estes que aqui estão longe de serem algo vazio ou dramaticamente cafonas. Mann quer puxar as emoções e construir suas personalidades e relacionamentos através dos pequenos gestos, nas singelas trocadas de olhar, na forma que interagem no mundo violento em que vivem e o trabalho tão perigoso e tão apaixonante para eles mesmos. Onde simples toques e pequenas conversas tão naturais condensam anos de trabalho, respeito e amizade que o filme nem sequer mostra, mas pede para o público se investir e sentir tudo que tem a dizer através do silencio do ambiente. Como o amor e a amizade podem se aflorar na mentira, e a parceria e verdadeira lealdade não é nunca questionada entre os mocinhos e sim demonstrada nas violentas ações em que comentem em nome da justiça por que tanto lutam. Enquanto os criminosos são figuras do puro mal da natureza humana em seus olhares: nazistas, traficantes, estupradores, invasores da pátria onde palavras de lealdade e respeito não existem ou são sentidas, e só merecem que a morte caia sobre eles.

O uso do digital desde seu excelente Colateral em sua filmagem está mais apurado aqui do que nunca, Mann dá uma vitalidade e voracidade que poucos diretores ousam mexer em digital, ainda mais como ele o usa aqui conseguindo captar uma verdadeira imersão do inicio ao fim dando um deleite visual diferente, caloroso, claustrofóbico, sujo, mas ao mesmo tempo belo e, acima de tudo, moderno!  Com a câmera de Mann se tornando tão íntima ao ponto de sentirmos cada toque de carinho, excitação e amor entre os amantes, o calor da amizade entre os parceiros e o choque de violência que se instala nos ferozes tiroteios, onde a violência explode sem pudores e o verdadeiro banho de sangue que é na realidade explode na tela sem poupar em nada. E Mann como sempre captura essas suas FANTÁSTICAS cenas de ação com uma ferocidade, energia, movimentação e controle que quase nenhum diretor consegue emular, se tornando verdadeiros terremotos de caos e morte no mundo dos personagens.

Estes que tomam vida e forma cheios de profundidade com tanta naturalidade graças ao elenco em total sintonia perfeita e seu diretor sabendo comandar cada um. Com os foques centrais sendo claro na dupla de Colin Farrel e Jamie Fox, ambos se tornando os protagonistas Michael Mannianos, os homens que amam o seu trabalho e são extremamente bons nele, com Fox completamente a vontade no papel e mostrando sua clara química com Mann na direção e total imerso na personalidade empática quando o vemos no seu cotidiano de policial gente fina, e intimidadora quando o vemos infiltrado e totalmente investido em seu trabalho com uma sede de violência prestes a explodir nos seus olhar. Enquanto Farrel faz talvez o mesmo tipo que Al Pacino foi em Fogo Contra Fogo, o policial que ama tanto seu trabalho que não conhece outra vida se não essa, mas o amor de suas amantes se tornam o peso da realidade nas vidas de ambos os parceiros, com destaque para uma curta, porém ótima Naomie Harris e uma SOBERBA Li Gong, a mulher que nasceu no mundo do crime dominado pelos homens e sobrevive nele por toda sua vida, e só o amor é capaz de baixar sua guarda e também ser engolida pela realidade violenta que rodeia a todos.

Então como podem ver, é apenas outro filme de Michael Mann sendo 100% Michael Mann, um filme policial que passa longe de ser apenas um bom entretenimento de ação, com excelentíssimas cenas do mesmo, mas também é um drama auto-contemplativo e que só oferece uma linguagem cinematográfica tão original e moderna, e dramaticamente forte ao mesmo tempo em que é feroz e brutal. Um dos filmes mais especiais de Michael Mann e que merece muito mais atenção e respeito do que recebe!

Miami Vice (Idem, EUA - 2006)
Direção: Michael Mann
Roteiro: Michael Mann
Elenco: Colin Farrel, Jamie Fox, Li Gong, Naomie Harris, John Ortiz, Barry Shabaka Henley, Ciáran Hinds
Gênero: Policial, Thriller, Ação, Drama
Duração: 134 min

https://www.youtube.com/watch?v=6WCKJ7KaIZY


by Raphael Klopper

Crítica | A Vida Após a Vida

Nem todos os cineastas conseguem estabelecer, desde o primeiro trabalho, a marca autoral que identifica todo o resto de sua obra futura. Se assim fosse, também não teria graça. No caso do estreante Zhang Hanyi, que chega às telonas com seu A Vida Após a Vida, suas referências estão muito latentes, ainda mais tratando-se de cinema oriental. A produção carrega o nome de Jia Zhangke (As Montanhas se Separam, Um Toque de Pecado, O Mundo), o que cria certa expectativa. Mas não que sua mão apareça. O estilo de Zhang pode ter costuras muito explícitas para alguns cinéfilos.

A Vida Após a Vida trata da história do espírito de uma mulher, Xiuyung, que, possuindo o corpo do seu filho, Leilei (Zhang Li), volta à Terra para resolver um assunto com seu marido, Mingchun (Zhang Mingjun). Ela pede que uma árvore, plantada no quintal da casa da família, seja mudada de lugar. Para isso, suas raízes não podem ser danificadas, ou a planta morrerá. Ela merece um espaço melhor.

O fato é que o terreno do filme é um mundo em transição, em viagem, ou melhor, em êxodo. O longa começa com uma cena em que Mingchun conversa com o seu tio, num lugar repleto de árvores, cada uma com sua referente homenagem. Na sequência seguinte, esse tio morre. É menos um indivíduo para o vilarejo, o que proporcionalmente é muito. Xiuyung também já deixou este lugar, porém, precocemente. Seu filho e seu marido não se dão tão bem, afinal, o pai é enraizado no campo, mas Leilei não quer seguir o cotidiano de Mingchun. Ele quer habitar um outro universo, no caso, a cidade.

Durante seus capsulares oitenta minutos, A Vida Após a Vida decididamente trata da mudança e do progresso tecnológico contando uma fábula cheia de misticismo e humor. Para isso, em termos de estilo e de ambientação, Zhang parece ter fazer uma mistura da mística naturalizada e dos planos abertos dos filmes de Apichatpong Weerasethakul (Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, Cemitério do Esplendor), mas com uma rigidez de movimentação de câmera que lembra a austeridade de Robert Bresson. E não afirmo que Zhang tenha conseguido aplicar em seu filme as qualidades que enriquecem a obra desses dois diretores, mas absorvido superficialmente suas preferências plásticas.

Isto é, no caso da influência diretor tailandês, podemos detectar a abordagem sobrenatural que não causa espanto, e que se manifesta nas cenas sem quaisquer recursos externos. A possessão, aqui, não é tratada de forma demoníaca ou algo do tipo, mas uma manifestação compreensível para todos os personagens. Quando Leilei sai do quadro e volta, minutos depois, já encarnando a alma de sua mãe, Mingchun não entra em dúvida. Nem nenhum dos outros personagens que ficam sabendo do fato. Assim como não há estranhamento em relação à reencarnação dos espíritos no corpo de animais, como cachorros ou pássaros. É uma marca da cultura oriental que dá uma lição de humildade na profusão teórica, segregadora (e ironicamente, cética) do Ocidente, que sacrificou, por exemplo, uma Joana D’Arc. Mas, até aí, o ponto de vista sobre transcendência, pouco tem a ver com as ideias de Bresson.

Além disso, na parte da composição dos quadros, percebe-se a preferência pelo afastamento da câmera e por planos fixos. Quando a câmera se move, os trajetos são sempre calculados, lembrando a rigidez do diretor francês já citado. O comportamento dos atores também lembra algo do francês, na inexpressividade de “modelo” que garante alguns ligeiros momentos cômicos.

Junto de uma fotografia pálida, que inspira certo tom de exuberância nas paisagens secas, A Vida Após a Vida tem um ritmo leve e que combina bem com as ideias da narrativa. Paira por todo o filme uma dificuldade de locomoção – manifestada com bastante destaque no incômoda morte da cabra. Aos poucos, tudo vai saindo de lugar – é o que atesta a cena em que operários locomovem um pedra como se ela fosse um enorme ser animado, ou ainda quando encontramos um rebanho caprino nas copas de uma árvore . Essa jornada de construção de laços com o Lar (a morada, a família, a terra…) carrega algo de fascinante, empático e ainda assim misterioso. Será que a nossa casa mesmo é na vida após essa vida? A situação de Xiuyung mostra que nem sempre dessa vamos para uma melhor, nem que a saída do velho automaticamente dá lugar ao novo. Mesmo assim, seu retorno é um belo gesto de resistência, de beleza em meio à extinção.

Nesta sua incursão nem tão original, A Vida Após a Vida guarda ainda um traço complementar que marca de vez a falta de amadurecimento do diretor. Há uma tentativa pouco estimulante (muito racional para o conjunto) de traçar um comentário metalinguístico sobre as redundâncias da jornada. O protagonista acaba carregando o filho nas costas e olhando para o espectador, enquanto aparece um letreiro na tela: a história é narrada por Leilei. Essa mistura da presença do sobrenatural em cena, sem artifícios, é confrontada por essa tentativa de impacto – mas não há espaço para essas ideias. Não chega a ser uma espinha de peixe, mas é uma gordurinha desagradável nesta refeição, no geral, bem preparada.

A Vida Após a Vida (Zhi fan ye mao, China – 2016)

Direção: Hanyi Zhang
Roteiro: Hanyi Zhang
Elenco: Zhang Li e Zhang Mingjun
Gênero: Drama
Duração: 80 min

https://www.youtube.com/watch?v=G9ClMHtcE_4


by Redação Bastidores

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