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Crítica | A Sereia: Lago dos Mortos – Um filme sem encanto e sem roteiro

O telespectador que nunca ouviu falar do diretor Svyatoslav Podgaevskiy pode se considerar uma pessoa de sorte. O diretor russo tem em seu currículo produções de terror que ultrapassam o limite da ruindade. É dele o famigerado filme A Noiva em que a qualidade da história já era baixa. Em A Sereia: Lago dos Mortos o diretor retoma ao seu estilo de fazer de terror de baixo orçamento com roteiros ruins. 

A receita quanto a estrutura do roteiro é a mesma de A Noiva, uma protagonista que tenta descobrir os mistérios acerca da maldição, um ser grotesco que fica escondido durante toda a trama para só aparecer no final e um terror fraco e pessimamente explorado. Svyatoslav Podgaevskiy não aprendeu nada com os erros do passado e praticamente os repete em A Sereia. Tal fórmula chega a funcionar de início mostrando a sereia em ação, mas aí cai na mesmice de sempre com um festival de clichês sendo colocado em prática. 

Esses clichês levam o longa a se tornar óbvio, com um roteiro que se prende apenas no enigma sobre quem seria a sereia e qual o motivo da maldição existir. Toda a estrutura da história leva a apresentar os personagens e a os mostrar indo atrás da tal sereia, que ataca apenas os homens que ela seduz ou as mulheres que ficam em seu caminho. Nem mesmo o plot twist final foi bem construído, foi feito com uma pressa e sem ambição que definem a confusão que é o filme. 

Muitos diretores gostam de trabalhar com atores e atrizes que gostam ou tem alguma afinidade. Martin Scorsese fez inúmeros filmes com Leonardo Di Caprio, assim como Pedro Almodóvar adora colocar Penélope Cruz como protagonista de suas produções. Svyatoslav Podgaevskiy faz o mesmo ao usar novamente a atriz Viktoriya Agalakova em um filme seu, algo que já havia feito ao trabalhar com ela em A NoivaViktoriya interpreta Marina, a protagonista, e diferente de seu papel anterior, a atriz que mostrava ter um certo talento está mais solta em cena, não comete os mesmos erros de atuação que lembravam a de uma atriz iniciante. A direção ajudou também a tirar algo a mais da atriz. Viktoriya só precisa pegar uma personagem mais interessante e atraente para colocar seu trabalho em prática, algo que não acontece com Marina. 

Difícil apontar um personagem decente que fique na lembrança. Tirando Marina, todo o resto é bastante esquecível, praticamente alguns minutos após terminar de assistir ao longa é bastante provável que se esqueça de todos os outros personagens que apareceram no filme. Não é culpa do elenco em si, que foi mal escolhido e mal aproveitado. Há também uma culpa em toda a estrutura criada para esses papéis, o elenco secundário está lá para dar uma ajuda para a protagonista, mas todos são tão mal desenvolvidos e sem carisma que nem vale a pena prestar a atenção neles, fora que eles não conseguem sustentar a personagem principal em nada. 

Por ser uma produção de terror é de se esperar que o terror seja atraente e bem inserido, mas tudo não passa de pura decepção. A já mencionada obviedade do roteiro atrapalha muito no desenvolvimento do suspense, que em alguns momentos lembra o de filmes como Paixao Obsessiva e A Morte te dá Parabéns. O terror se segura  bastante nas aparições da sereia e apenas isso, nada de mais ousado criado, algo que deixa os fãs de terror bastante tristes, já que a ideia do longa tinha tudo para dar, pelo menos, alguns sustos. 

A vilã é extremamente mal utilizada e mal concebida. Por ser uma sereia há de se trabalhar o lado grotesco e sobrenatural por trás da personagem e da maldição, mas o diretor se confunde nessa elaboração, até mesmo se confunde na criação do aspecto desta vilã. Sua forma não lembra em nada ao de uma sereia e está mais parecido com um demônio, algo que torna o nome do longa totalmente incoerente com o que é apresentado.

Se é para apresentar uma sereia que pelo menos a criassem na forma que está no imaginário do público ou alguma coisa mais original. Algo que a série Siren consegue fazer com louvor ao trabalhar uma sereia de forma mais humana. Em A Sereia a vilã poderia ter muito mais força e presença em cena do que realmente teve. Um perfeito desperdício de uma personagem subaproveitada. 

Svyatoslav Podgaevskiy tem muito a crescer como diretor, tem boas ideias, mas as executada de maneira tosca e sem ambição. Não parece querer correr riscos apresentando elementos novos ou tramas que façam o telespectador entrar na história. Diferente do que ocorreu em A Noiva, o diretor teve melhoras significativas quanto a direção. Suas jogadas de câmera estão mais ousadas, assim como seus enquadramentos estão mais interessantes, mas ainda é pouco para fazer com que o filme se torne uma obra-prima ou pelo menos chegue perto disso. 

A Sereia: Lago dos Mortos (Rusalka: Ozero myortvykh – Rússia, 2018)

Direção: Svyatoslav Podgaevskiy
Roteiro: Natalya Dubovaya, Ivan Kapitonov, Svyatoslav Podgaevskiy
Elenco: Viktoriya Agalakova, Efim Petrunin, Sofia Shidlovskaya, Nikita Elenev, Sesil Plezhe, Igor Khripunov
Gênero: Fantasia, Horror, Romance
Duração: 90 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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