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Crítica | Afire traz uma bela reflexão sobre a natureza humana

Leon e Felix são dois amigos que viajam para um lugar afastado da cidade em busca de tranquilidade. Felix está determinado a criar seu portfólio, enquanto Leon pretende finalizar seu segundo livro. No entanto, ao chegarem na residência, encontram Nadja, que já está vivendo no local, e são obrigados a dividir a casa com essa inquilina desconhecida. É por meio desse encontro que se desenvolve a trama de “Afire”, longa dirigido por Christian Petzold.

As situações seguintes que ocorrem após o primeiro encontro de Leon com Nadja, incluindo, após longos dois dias de estarem vivendo na mesma casa, revelam as questões que Petzold deseja explorar e apresentar ao público. Leon é um homem imerso em seu próprio mundo, aparentemente indiferente ao que ocorre ao seu redor e desinteressado nas pessoas à sua volta. Ele parece concentrar-se apenas em si mesmo e na trama ficcional de seu livro. 

Como pano de fundo para a possível paixão platônica que Leon nutre por Nadja, há um incêndio de grandes proporções que consome a floresta onde se encontram. No entanto, o fogo se dirige para outra direção, sem representar risco para os residentes. O filme é o último capítulo da trilogia dos elementos de Petzold, composta por Em Trânsito (representando a terra) e Undine (representando a água), e, claro, Afire, representando o fogo.

O clima quente e seco, assim como o incêndio em si, simbolizam a paixão, um sentimento bastante presente na trama. Da mesma forma, o vento parece avançar como se estivesse prestes a desencadear uma tragédia a qualquer momento. Petzold, que não apenas dirigiu, mas também escreveu o roteiro da obra, explora temas como amizade, amor, arte e sexualidade, elementos fundamentais que permeiam a narrativa e que são cruciais para revelar os perfis individuais dos personagens.

O jovem escritor Leon é retratado como alguém que busca viver em seu próprio universo, imerso nas páginas de seu novo livro. Contudo, enfrenta um bloqueio criativo que o impede de conceber uma narrativa envolvente, como ilustrado pela leitura que faz de seu trabalho ao editor. Leon é caracterizado como alguém que não aproveita plenamente as experiências da vida, recusando convites para a praia e para compartilhar um vinho, optando por se isolar em vez de participar do convívio social.

O roteiro oferece momentos excepcionais, como a poética cena em que Nadja declama o nostálgico e romântico poema The Asra do escritor Heinrich Heine. O mesmo pode ser afirmado sobre a trilha sonora, destacando-se especialmente a belíssima In My Mind da banda austríaca Wallners, que encerra o filme com chave de ouro.

É claro que parte do público pode acusar o longa de ser parado, sem ação e com ritmo maçante, e isso de fato é verdade em algumas cenas. No entanto, essa ausência de ação não se torna entediante, e a história passa em um piscar de olhos, pois as interações entre os personagens cativam e prendem o espectador em seus dramas particulares dos. Afire certamente é um dos grandes filmes do ano e merece as críticas positivas que tem recebido.

Afire (idem, ALE – 2023)

Direção: Christian Petzold
Roteiro: Christian Petzold
Elenco: Thomas Schubert, Paula Beer, Enno Trebs, Langston Uibel, Matthias Brandt
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 102 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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