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Crítica | Beau Tem Medo coloca Joaquin Phoenix em odisseia bizarra

Com a recepção marcante de seus dois primeiros filmes de terror psicológico, Hereditário e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite, o cineasta Ari Aster se tornou um dos nomes mais fascinantes da nova geração de Hollywood. Novamente ao lado da badalada A24, Aster oferece seu projeto mais desafiador e estranho com Beau Tem Medo, que troca o horror escancarado para se tornar uma espécie de ataque de ansiedade de 180 minutos. Definitivamente não é uma experiência das mais agradáveis.

A trama do filme, mantendo todas as surpresas ocultas, começa quando o problemático Beau (Joaquin Phoenix) se programa para fazer uma visita à casa de sua mãe (Patti LuPone). Ao longo do caminho, Beau acaba enfrentando uma série de imprevistos bizarros e surpreendentes.

Seguindo o exemplo de filmes como Depois de Horas, a proposta de Beau Tem Medo está pautada em um homem com objetivo mundano e linear. O desenvolvimento do roteiro se diverte nas infinitas possibilidades de obstáculos que aparecem ao longo do caminho, onde Aster apelará tanto para o terror profundo quanto um senso de humor dark, tal como o filme de Martin Scorsese. Toda essa proposta funciona lindamente durante o primeiro ato do longa, onde Aster explora o cotidiano aparentemente mundano de Beau, criando terror e constrangimento através de situações simples – como um vizinho que o acusa falsamente de fazer barulho ou o medo diário de andar por sua calçada absurdamente violenta.

O problema começa durante a jornada em si. Ainda que Aster traga bons personagens e situações (com destaque para o casal aparentemente amistoso vivido por Nathan Lane e Amy Ryan), a experiência vai sendo prejudicada pela longa duração. Levando em conta a proposta do longa de apostar na constante ansiedade e constrangimento, uma duração que encosta nas 3 horas oferece diversos problemas de ritmo – e pessoalmente considero o segundo ato extremamente inchado e cansativo, especialmente quando Aster investe em uma longa sequência teatral que não passa de uma simples alegoria. Mesmo com o ótimo trabalho técnico e a combinação inspirada de live-action e animação 2D (com participação da dupla chilena Cristobal León e Joaquín Cociña), é o tipo de material que poderia ser eliminado.

O que leva Beau Tem Medo para seu terceiro ato, que certamente arrancará as mais variadas reações do público. Será simplesmente impossível esboçar uma resposta indiferente ou simplista às decisões e visualizações de Aster em seu climax, que oferece uma das imagens mais grotescas (e, pessoalmente, ridículas) que vi numa tela de cinema em muito tempo.

Não há um parâmetro objetivo para julgar Beau Tem Medo. Mesmo com uma performance muito forte de Joaquin Phoenix, o novo filme de Ari Aster é uma odisseia de erros e acertos, que variam entre ótimas representações do medo cotidiano e as neuroses do dia a dia, até o senso de absurdo e ridículo de suas maiores ambições. Sem dúvida, uma experiência.

Beau Tem Medo (Beau is Afraid, EUA – 2023)

Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Elenco: Joaquin Phoenix, Patti LuPone, Nathan Lane, Amy Ryan, Stephen Henderson, Richard Kind, Parker Posey
Gênero: Suspense
Duração: 179 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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