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Crítica | Cinderela Pop – O repetitivo conto da princesa

Era uma vez uma princesa que se apaixona pelo príncipe… e o resto já sabemos mais ou menos como termina. Os contos de fada tratam, em sua essência, de assuntos que quase sempre se repetem em suas diversas versões, mudando apenas a lição de moral ou as situações em que as personagens estão envolvidas. Esse é o mote de Cinderela Pop, produção dirigida por Bruno Garotti (Eu Fico Loko) e que tem como objetivo recriar a história clássica da Cinderela e a trazendo para os dias atuais. 

Na trama, Cintia Dorella (Maisa) é uma garota que se apaixona por um cantor famoso (Filipe Bragança) e precisa, para chegar ao seu objetivo de ser dj e reencontrar seu príncipe, passar por cima das maldades impostas pela madrasta má (Fernanda Paes Leme) e por suas duas filhas igualmente maldosas. É uma história bastante simples, óbvia e que nada tem de original em relação ao que outras produções do gênero já abordaram. 

A releitura do clássico conto da princesa é inspirado no livro de Paula Pimenta e de mesmo nome. Talvez justamente por isso que o diretor tenha ficado preso em não fazer nada de novo, seguiu o roteiro do que foi criado no livro e acabou por não dar o seu toque na criação de algo mais original. Pegue a produção da Disney, Encantada, em que a personagem interpretada por Amy Adams acaba indo parar no mundo real, é o mesmo conto da princesa que já conhecemos mas que não se repete e consegue trazer uma história nova e inspiradora, algo que não acontece em nenhum momento com Cinderela Pop, que além de ser repetitivo no roteiro ao recriar o desenho da Disney é também esquecível em relação a sua história. 

O pilar principal do longa é o conto de fada da garota e do garoto que se apaixonam a primeira vista, algo que poderia ser interessante se bem feito, mas que em Cinderela Pop acaba por mostrar o quão pobre é o roteiro. Não apenas por contar uma história que já estamos cansados de assistir, mas também por não trazer nenhuma mensagem relevante. O foco é apenas e inteiramente em contar o drama de Cinthia que não pode ser dj durante a noite porque o pai não permite que isso aconteça. Não há aprofundamento em relação a temas que poderiam ser importantes, como a amizade de Maisa com a sua amiga ou a relação complicada de sua personagem com a madrasta ou até mesmo a relação de pai e filha que é algo interessante de início, mas que depois se torna vazio. São temas interessantes, mas que não são bem trabalhados na trama, apenas abordados de modo superficial. 

O que deixa a narrativa menos sonolenta é o humor espontâneo que em alguns momentos parece segurar o filme com as tiradas e situações envolvendo Maisa e Filipe Bragança, mas a partir do segundo ato o diretor tenta focar em um drama envolvendo a protagonista e não consegue mais sair desse ponto do roteiro. O drama, por sinal, é algo realmente problemático, sempre que há uma tentativa de se fazer emocionar o telespectador, o filme acaba caindo em sua pior armadilha que são os personagens extremamente fracos e nas situações pessimamente exploradas. O filme perde a oportunidade de fazer com que o telespectador se emocione em diversos momentos, parece não saber se quer fazer humor ou drama.

Em Cinderela Pop, quanto ao elenco, se salvam apenas Filipe Bragança e Giovanna Grigio com papéis medianos, mas com ótimas atuações. Filipe Bragança interpreta o príncipe cantor que se apaixona pela personagem de Maisa e por já ter uma bagagem como ator tira de letra o que o papel pede. Já Maisa ficou com a árdua tarefa de interpretar a princesa, que na realidade é uma garota que sonha em ser dj nas noites. Por ser uma protagonista o foco quase que inteiro está em sua personagem. Há de se frisar que se sai bem em um primeiro momento, mas a partir do segundo ato, quando começa a se desenvolver sua protagonista é que começa a se perceber que Maisa não tem força para segurar a história sozinha, por isso, a presença de Fernanda Paes Leme ajuda bastante para que o filme não se torne um fiasco total. Maisa se sai bem quando é ela mesma, mas quando tenta ser algo diferente acaba tendo uma atuação sem sal. 

O elenco de apoio tem a missão de dar suporte para a dupla de protagonistas, mas o pouco tempo de câmera de todos acaba por não ajudar muito nessa questão. Fernanda Paes Leme faz a madrasta má e tem uma atuação bastante teatral, assim como todos os outros personagens. Marcelo Valle, o pai de Maisa no longa, também sofre dos problemas relacionados ao estilo de interpretação que marca a produção, teatral e novelesco, algo bastante problemático para um filme que tenta ser algo diferente do que já tem no cinema nacional.  Giovanna Grigio está ótima e mostra porque pode vir a se tornar uma das grandes atrizes de sua geração, pena que seu espaço no filme não seja do tamanho de seu talento. 

Questões como essas, da interpretação e da criação dos personagens, passam pela mão do diretor, que tem o trabalho de fazer com que a atuação do elenco seja a melhor possível e a de criar personagens que sejam os mais interessantes para segurar o público. As escolhas feitas em relação ao roteiro também atrapalham demais, ainda mais em relação a personagem de Maisa, que a partir do terceiro ato se torna totalmente obsoleta e perde espaço para o personagem de Filipe Bragança e de Fernanda Paes Leme. 

Cinderela Pop vai muito na onda das produções teens que tenta se segurar em suas personalidades pops do elenco, tanto da internet quanto da tv, mas esquece o mais importante que é a história. Tentar fazer algo de diferente em um gênero com tantas produções sendo lançadas é algo complicado, mas isso não impede e nem impossibilita com que faça algo que não seja nem piegas e nem monótono, algo que o diretor Bruno Garotti não consegue fazer com a produção. 

Cinderela Pop (idem, Brasil – 2019)

Direção: Bruno Garotti
Roteiro: Bruno Garotti, Flávia Lins e Silva, Marcelo Saback, Paula Pimenta (Livro)
Elenco: Maisa Silva, Filipe Bragança, Fernanda Paes Leme, Letícia Faria Pedro, Kiria Malheiros, Elisa Pinheiro, Giovanna Grigio, Miriam Freeland
Gênero: Romance, Família
Duração: 90

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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