em , ,

Crítica com Spoilers: Homem Aranha: Sem Volta para Casa | O Ultimato do Homem Aranha no Cinema!

Bem, eles o fizeram, eles finalmente fizeram. Foram necessários dois filmes solo medíocres e três boas participações nos três maiores filmes-evento da franquia até então, além de fazer um filme-evento também aqui; eles FINALMENTE fizeram em Homem Aranha: Sem Volta para Casa um verdadeiro filme do Homem-Aranha dentro do MCU, interprete isso como você quiser!

E antes de mais nada, não, não tem nada a ver remotamente com a quantidade de participações “surpresa” de personagens e elementos que traz aqui, enquanto na verdade tudo se deve à que direção eles finalmente tiveram a quantidade mínima de coragem, para levar o personagem do Homem-Aranha/Peter Parker agora interpretado por Tom Holland, em um verdadeiro caminho de crescimento e formação do herói que ele interpreta!

Um Novo Começo

Provavelmente os fãs cegos de seus filmes provavelmente ficaram decepcionados, ou nem sequer prestaram atenção ao fato de como os criadores por trás desses filmes, desde o diretor Jon Watts, os roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers, a Kevin Feige e sua equipe de executivos; mostraram ouvir muitas das críticas que muitos fãs e público fizeram aos dois filmes de Holland como o personagem, sobre como não se sentiam ser filmes do Homem-Aranha. Com isso dito, o enorme gancho deixado na cena pós-créditos de Longe de Casa assume um significado totalmente novo.

Embora parecesse que eles estivessem apontando para um reinício para o Homem-Aranha no MCU, e seguir para um caminho totalmente diferente, como seus filmes anteriores já estavam levando-o fora do comum ao Homem-Aranha do que você poderia imaginar; enquanto na verdade, cria-se aqui um caminho para dar um ‘retcon’ suas próprias idéias, mas não se sentindo como um retcon gratuito apenas para se livrar de tudo que não estava funcionando, é antes um recomeço dentro de sua própria lógica, o fazendo com razão e dentro do contexto, para valorizar e engrandecer adequadamente o personagem e sua história!

Tanto é assim que basicamente todos os elementos e personagens adolescentes presentes nos dois filmes anteriores, que foram usados principalmente para o alívio cômico idiota de sempre, são reduzidos a uma cena casual aqui e ali (graças a Deus), completamente resumidas só no primeiro ato, que flui que é uma beleza. Não perdendo mais tempo com personagens que apenas serviam como alivio cômico idiota, e decide foca no peso do que está acontecendo com Peter, entregando tudo dentro de um espectro intimo e pessoal.

Uma das maiores surpresas de um filme que aparentemente se vende sob o efeito de nostalgia – o que certamente é o caso aqui; é na verdade como o próprio filme do Homem-Aranha do MCU finalmente mostra ser muito mais equilibrado e até instigante(?!) naquilo que visa contar.

Não traz nada de revolucionário para se destacar dentro mesmo estilo pasteurizado e estéril dos filmes anteriores dirigidos por Jon Watts, e sim joga seguro dentro de suas próprias convenções de construção de antecipação e narrativa comuns e, ao estabelecer grandes ameaças para o personagem de Peter e todos ao seu redor, o filme se torna muito mais envolvente do que qualquer coisa que vimos antes vindo dessa equipe criativa.

Para chegar a isso, Sem Volta para Casa parte de uma grande premissa que define um set-off muito pessoal, estabelecendo um cenário muito familiar definido na revista Spider-Man: One More Day, onde em vez de Peter fazer um pacto direto com o diabo – também conhecido como Mephisto – para resolver sua perda (a morte da tia May), mas com um enorme custo pessoal; enquanto aqui esse papel pertence à figura mística mais sábia do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que apenas joga um balde de água fria de realidade em cima de Peter quando ele pede um feitiço para resolver o problema de sua identidade sendo revelada ao mundo.

Ainda no começo do filme, Doutor Estranho, depois de falhar no feitiço de apagar a memória do mundo inteiro de que Peter Parker é o Homem-Aranha – arruinado por Peter e seu nervosismo juvenil; dá ao moleque esse “meta-comentário” sobre como ele sempre esquece que Peter não é nada além de uma criança – o mesmo comentário que muitos dos detratores da interpretação de Tom Holland apontam.

Sempre falando que ele comporta mais como um Menino Aranha do que um Homem-Aranha, sempre irritantemente ingênuo e petulante, mimado e dependente de tudo e todos para tudo que enfrenta, mal tendo que fazer um mínimo esforço para conseguir agir por conta própria contra uma ameaça.

O mais perto disso foi quando ele perde brevemente o apoio de Tony Stark em De Volta ao Lar – por ter literalmente agido por conta própria, o que não dá em nada, pois no final do filme ele já está voltando a bancá-lo em tempo integral. E ser atropelado por um trem depois de ter sido enganado pelo vilão em Longe de Casa, mas que logo em seguida ele é resgatado e vai de jatinho privado para o clímax e com um novo suit personalizado. Era sempre como se Peter Parker tivesse se tornado repentinamente o filho adotivo de Elon Musk, com grandes poderes, mas sem quaisquer responsabilidades!

Todo um resumo de erros que se refletiram em seus filmes anteriores, que pareciam estarem muito mais preocupados em tentar se conectar com o resto dos filmes MCU que aconteciam em simultâneo e definir suas tramas com base nisso, e a idéia de fazer filmes teen “coming-of-age” que pareciam interessantes em suas propostas de gênero, mas sobrecarregadas com todos os piores elementos MCU, desde o humor galhofa, o festival megalomaníaco de CGI, e a pior parte: fazer todos os vilões sendo indivíduos frustrados relacionados a Tony Stark, e oh, a ênfase IRRITANTE em tentar para promover Tom Holland como o novo Homem de Ferro do MCU e levar seu legado adiante.

Mas em uma reviravolta surpreendente, Sem Volta para Casa meio que admite tudo isso por meio da frase do Doutor Estranho, e a bota em prática ao buscar desenvolver o enredo simples, mas eficaz, executado de forma inteligente!

Um Retrato de uma Geração

Se cada Homem-Aranha é um reflexo de seu tempo, Tobey Maguire sendo mostrado ainda como um resultado reminiscente da criação original de Stan Lee e Steve Ditko naquele mundo do pós-guerra que se formava na Geração X, no indivíduo em busca de estabilidade em sua carreira e também na vida pessoal; Andrew Garfield refletia muito a Geração Y, a geração do entusiasmo vívido, ávidos pela inovação e pelos desafios das transformações, não importando tanto a estabilidade, e sim a paixão, a ousadia, a experiência – o que lhe veio a custo pessoal;

E agora Holland carrega aquele imediatismo da Geração Z, impulsionado por avanços tecnológicos comunicativos, tendo tudo entregue de mão beijada sem nenhum esforço. E dentro desse mesmo universo atual, onde conflitos e opiniões irrompem em divisões mais esporádicas, parece absolutamente adequado que o mundo fique completamente dividido na opinião social sobre o Homem-Aranha/Peter Parker como uma persona pública, literalmente sendo cancelado por uma história muito mal explicada exposta na mídia sensacionalista – perfeitamente e apropriadamente representado na participação de J. Jonah Jameson aqui, atuando quase como um sexto vilão do filme. (agora como que a Marvel conseguiu os culhões para meter essa em um de seus filmes, nunca vou conseguir conceber, apenas aplaudir!)

E com isso, Sem Volta para Casa se mostra predisposto a contar essa história, de aprendizado e debate entre gerações. Nesse palco de modernidade onde outrora ícones, sendo cancelados pelas mídias sociais, e com muitos baseando suas opiniões seguindo o efeito manada.

Então, quando o Doutor Estranho simplesmente pergunta: por que Peter não tentou sequer conversar com os diretores do MIT que descartaram o pedido dele e de seus amigos, antes de fazer a atitude impulsiva de pedir uma solução mística para seu problema – a saída mais fácil novamente; evoca um simples pedido de comunicação e de diálogo para compreensão, antes de agirmos sem pensar sobre nossas emoções e criar uma espiral de repercussões ainda pior.

E essas repercussões aqui são o que movem a história do Homem-Aranha/Peter, no seu querer de mudar sua situação e fugir do problema por uma saída cósmica fácil, ele vai encontrar sua mais preciosa lição, pois a saída fantástica que não será mais a fuga fácil. Haverá consequências e responsabilidades a enfrentar, e você já sabe onde os grandes poderes entram aí!

Com seus erros finalmente tomando forma e prejudicando sua trajetória, sai seu apadrinhado do homem mais rico do universo que o patrocinava e sustentava com armaduras de alta tecnologia e o levava em grandes aventuras para enfrentar ameaças intergalácticas com os Vingadores – o senhor Stark sequer nem é mencionado pelo nome no filme!

Agora sem essa figura, ele não mais vai sair por aí viajando pela Europa ou vivendo uma vida de fartura, ele enfrenta finalmente uma passagem da adolescência para a vida adulta. Se a princípio à custo das pessoas de sua vida ficarem prejudicadas só por conhecerem Peter e seu segredo, e ter que lidar com a realidade dos fatos, como também aprender a enfrentar as consequências para encontrar uma solução.

Ainda que de forma muito breve conforme suas próprias ações alcançam uma escala “multiversal”, porque quando os vilões de outras realidades começam a aparecer, Peter se vê carregando um dilema moral nas mãos, o bem maior do equilíbrio interdimensional da existência, à custa das vidas condenadas dessas figuras trágicas que formam sua galeria de inimigos trazidos aqui.

O Quinteto não tão Sinistro

A princípio parecia realmente parte de uma tendência da Sony em todos os seus filmes do Homem-Aranha, em ter que provar que você pode sim encaixar mais de três vilões em um filme do Homem-Aranha e realmente fazê-lo funcionar. E de todos os filmes do Aranha recheado de vilões – mais especificamente Homem-Aranha 3 e O Espetacular Homem-Aranha 2; este é definitivamente o melhor para lidar com todos eles dentro de um contexto coeso.

E com esse levante de recomeço tomando forma aqui, tentando encontrar um encerramento em proporções épicas e gratificantes, não sei se a Marvel apenas decidiu ouvir os pedidos dos fãs ou apenas admitiu para si mesmos que eles estavam tendo reais dificuldade em tentar criar novos inimigos memoráveis para o Homem-Aranha nestes seus últimos filmes.

O Abutre de Keaton e o Mysterio de Gyllenhaal foram bons e fizeram seu trabalho bem o suficiente para deixar uma impressão, mas longe do mesmo efeito icônico duradouro que essas encarnações anteriores conseguiram, e agora lembram você de como eles eram ótimos, enquanto outras são melhoradas!

O Duende Verde de Willem Dafoe é o melhor vilão do Homem-Aranha na tela desde 2002 e ele ainda o é! De dar calafrios e aterrorizante exatamente como ele já o era no Homem-Aranha de Raimi, com Dafoe sendo o ator estupendo que sempre foi, e colocando corpo e alma no papel que vai da mente perturbada e sofrida de Norman Osborn sofrendo com a sua própria existência e o mal que habita dentro de si na sua relação de Dr. Jekyll e Hyde com a persona do Duende Verde transpirando uma deliciosa crueldade sádica, sabendo exatamente onde e como atingir Peter Parker: NO CORAÇÃO – como ele já bem dizia;

Enquanto Alfred Molina meio que repete seu arco de ir de vilão a herói redentor no final, o que é legal ver o personagem lutando para manter sua honra e ideais acima de tudo, assim como ele estava no final de Homem-Aranha 2, o que se faz sentir como uma progressão natural nesse sentido e não apenas reciclagem, e Molina arrasa como de costume, indo do psicótico de coração frio de Doc Ock e o bom homem de Otto Octavius. É só uma pena ver muito de sua presença após sua incrível introdução na cena da ponte, sendo reduzida a cenas cômicas, mas ele consegue brilhar aqui e ali (principalmente no clímax);

Muito do Electro é realmente refeito por motivos de… né?! Mas parece sim o mesmo personagem, até mesmo mantendo seu visual azul inicial antes de mudá-lo, e deixando Jamie Fox mais solto no personagem, não tendo que se ater à frases forçadas e enfadonhas para deixá-lo soar intimidador e imponente como no seu último filme vergonhoso, atuando com seu próprio carisma, e o faz funcionar bem.

É só meio estranho ver Thomas Haden Church em sua forma completa de areia em 95% do seu tempo na tela aqui, mas dado que eles gastaram uma boa grana para rejuvenescer ambos Molina e um pouco Dafoe, talvez não tenha sobrado muito dinheiro para deixar Church com seu mesmo visual. Mas também porque o ator não pôde estar no set durante as filmagens, então ele apenas gravou sua voz e quando ele mostra sua forma humana no final é apenas uma cena reutilizada, a mesma coisa aconteceu com o Lagarto de Rhys Ifans!

E é bom que eles conseguiram manter a lógica que ele havia sim se redimido no final de Homem Aranha 3 e que de primeira não age como um vilão e sim até ajuda Peter à capturar o Electro. Então sua virada mais tarde para o time dos vilões bandidos é abrupta, mas se integra dentro da lógica de sobrevivência, já que ele está em um universo completamente diferente, sem ninguém em quem confiar, então é claro que ele se juntou ao Duende enlouquecido que diz que eles não são aberrações que precisam de cura;

Enquanto Lagarto de Ifan já brinca mais deliberadamente com a breguice dos quadrinhos de sua própria existência, com seu plano persistente de transformar todos em lagartos ainda soando propositalmente bobo. Mas até mesmo ele tem um momento de arrepio no grande momento de virada no segundo ato do filme que ressoa com o que Peter acaba enfrentando;

Sinal que mostra como todos acabam sendo tratados como os verdadeiros vilões do Homem-Aranha costumam ser, e principalmente se atendo com a maneira como Raimi os retratou em seus filmes: como verdadeiras figuras trágicas, todos eles, alguns mais outros menos. E todos em pé de igualdade narrativa, tendo pelo menos um breve momento para brilhar. Impecavelmente simples, mas eficaz, assim como o filme em que estão!

Um Épico Aranha

Todos os filmes do Homem-Aranha, pelo menos até a aventura adolescente de baixa escala de De Volta ao Lar, foram grandes eventos épicos próprios, e Sem Volta para Casa se faz parecer exatamente assim de novo! O espetacular filme do Homem-Aranha em grande escala que os fãs estavam esperando por todas as suas vidas, mas é também onde o filme encontra alguns de seus maiores defeitos … e também algumas de suas maiores qualidades, a maravilhosa bagunça que um filme MCU sempre entrega, mas mais divertido e emocionante do que o normal, o suficiente para torná-lo bem memorável no final!

A ação em si consegue ser espetacular em diversos momentos, a luta Doutor Estranho vs Homem-Aranha na dimensão espelhada é facilmente uma das melhores lutas do Homem-Aranha na tela, além da melhor e mais criativa coisa que Jon Watts já dirigiu até hoje, a par com a cena de alucinação Mysterio em Longe de Casa. E embora seja bem legal ver Doc Ock de volta em ação na cena da ponte assim como todos os vilões, as lutas ficam com aquele visual falso e emborrachado que parece difícil de engolir depois de um tempo.

A luta com o Duende brilha memorável pois é um estilo tirado diretamente do filme de Raimi, com boa ênfase na brutalidade física e na pura trocação franca de socos, a primeira em particular com eles atravessando paredes e tetos é puro quadrinhos. Enquanto que a última é meio decepcionante, não só por ser curta, mas também por causa da tela falsa em torno deles tornando tudo artificial e tirando todo o peso dela, algo que se espalha em uma bagunça visual caótica no clímax também.

Mas que é meio que desculpado por questões de… nostalgia, quero dizer, é simplesmente impagável e excitante de ver vocês sabem quem juntos em cena. E isso vale para o resto do filme também, que sobrevive às suas próprias falhas nesse quesito e nível de empolgação, mesmo que tudo pareça não apenas falso, mas sem peso, e isso é triste para uma história que evoca muito mais peso do que nunca, especialmente para um filme MCU.

Como de costume, a culpa é da própria tendência de trabalho do estúdio, em querer contratar diretores como Jon Watts, que não tem nenhum senso de estilo e apenas faz o que é necessário dele nos bastidores, atendendo aos pedidos dos executivos e colocando tudo na tela.

A sorte dele aqui é que o roteiro é em sua maioria sustentável com um bom enredo e bem amarrado. Bom… isso se você não pensar muito nos furos que deixa em sua própria lógica, que fica mais fragmentada do que a colisão do multiverso ao redor deles. Recheado de conveniências narrativas apenas para deixar a trama que querem contar acontecer, como fazer Ned do nada ter o poder de abrir portais tal como um Mago, mas você ignora essa parte porque se não, não teríamos nossos três Homem Aranhas juntos!

A montagem também às vezes é uma bagunça, deliberadamente lenta em alguns momentos, mas completamente instável e picotada em outros. E a cinematografia com aquela textura acinzentada com cor de esgoto dos filmes de Russo ainda está muito presente aqui, e é um completo desserviço aos personagens que são trazidos aqui. Watts ainda tem alguns momentos de inspiração quando evoca tomadas que parecem ter saído direto das páginas dos gibis e com todo um drama visual convicto, ainda que de forma tão breve. Mas, novamente, ele sobrevive a tudo isso quando traz certos alguém para a mesa … e pro telhado…

Três Aranhazinhas subiram pela parede

Sim, eles estão de volta, e como foi bom ver aqueles dois novamente, um dos melhores “crowd-pleasers” que eu já testemunhei! Embora muitos tenham apontado como Tobey está com a aparência de cansado e só ali pelo dinheiro – embora definitivamente seja verdade, mas ele também só está realmente fazendo o trabalho que lhe foi pedido, interpretando a figura mais velha e sábia da sua versão tímida do Peter Parker/Homem-Aranha, alguém já vivido e cheio de experiências interagindo com essas versões mais jovens e entusiasmadas.

E quando ele se abre sobre seu passado, você pode sentir o peso de seus filmes exalando em sua expressão e todas as emoções transpirando dele, tanto quanto você sente de Andrew, que também está IMPECÁVEL aqui, roubando a cena cheio de uma palpável excitação no papel que ele claramente ama tanto quanto os outros dois

Também se apresentando como resultado direto de seus filmes anteriores, uma figura triste por tudo que ele perdeu, mas lentamente aprendendo a se recompor. Então, quando ele salva MJ de cair como muitas pessoas teorizaram, não é apenas um fan-service, mas também um ponto de redenção, não apenas de sua dor pela perda de Gwen, mas também de sua própria interpretação do Homem-Aranha, uma ótima interpretação, que só foi encoberta por dois filmes não tão bons. Mas aqui, ele finalmente tem a oportunidade de brilhar alto ao lado das outras encarnações já consagradas!

Você é espetacular”, diz Tobey, e isso vindo do melhor Aranha até hoje, já é consagração o suficiente!

Até mesmo suas interações breves, mas comoventes, com seus respectivos vilões parecem uma progressão de seus respectivos filmes e histórias. Desde Andrew e Electro meio que alcançando um entendimento mútuo sobre si mesmos como humanos que eles mal tiveram a chance de ter em seu filme – e com um aceno interessante para a existência de um certo Homem-Aranha negro. E entre Tobey e Doc Ock de Molina, ambos agora almas velhas, e Octavius mostra um genuíno orgulho em ver Peter totalmente crescido como um homem de respeito, e se é tão emocionante como parece e soa, se deve claro aos seus filmes respectivos que tem suas forças sendo refletidas aqui!

Esse filme tanto é o terceiro filme de Holland como também o terceiro filme do Homem-Aranha de Andrew que ele nunca teve, e o quarto de Tobey foi cancelado; todos com igual importância e tendo uma continuação direta desde a última vez que os vimos, e a partir do momento em que aparecem na tela, eles instantaneamente tornam-se co-protagonistas ao lado de Holland, e suas interações são impagáveis. Um banquete fan-service completo com certeza, mas quase impossível tirar o sorriso enorme do rosto durante esses minutos!

O Que é ser o Homem Aranha

E com essas gerações se reunindo, você tem essa celebração dos direitos do Homem-Aranha da Sony como uma propriedade intelectual sendo jogada na tela grande, também como uma forma de esconder mais um filme atual que abordou a tendência de se apegar na nostalgia que franquias recentes que trouxeram de volta rostos familiares de filmes ou histórias anteriores, para reprisar seus antigos papéis, onde você costuma ouvir frases familiares e trilhas sonoras clássicas, e aqui não é diferente!

Mas de novo, e ao contrário de fracassos como A Ascensão de Skywalker que deve ser o pior desses filmes recentes a se pautarem tão fortemente em nostalgia para esconder seu fracasso artístico, enquanto que Sem Volta para Casa consegue ter sucesso sem as despesas do protagonista muito bem claro da história, enquanto tudo recebe o tempo adequado para fluir aqui.

O primeiro ato desencadeando o conflito de Peter consigo mesmo e enfrentando as consequências de sua existência enquanto tenta limpar seu nome perante a justiça – com a ajuda muito bem-vinda do retorno de Charlie Cox como Matt Murdock; o momento em que os vilões aparecem e a pequena excursão para apanhar cada um; o grande conflito de diferenças com o Doutor Estranho que leva Peter a tentar ajudar os vilões a encontrar uma cura, apenas para o pior deles se aproveitar do melhor de sua moral ingênua – e a tia May pagando o preço por isso; e então a última hora que se torna a versão live-action do Aranhaverso, e é glorioso!

E todo esse festival nostálgico vem, não só como uma nostalgia gratuita feita para ocupar lugares nos cinemas e arrecadar bilhões na bilheteria, mas sim como uma ode homenagem a tudo o que veio antes do Homem-Aranha no cinema, tudo misturado em um só. A narrativa de ritmo lento dramático dos filmes de Raimi/Maguire; os conflitos vingativos e o charme espirituoso dos filmes de Garfield e a meta autoconsciência de Homem-Aranha no Aranhaverso trazendo a roupagem das revistas em quadrinhos para vida na tela!

Falando nisso, a verdade é que esse filme não seria remotamente possível se não fosse pela existência da excelência de Aranhaverso, e o que aquele filme fez em revelar o mito que cerca a figura do Homem-Aranha! Sem Volta para Casa não só nos faz lembrar e reviver um pouco do passado lendário que seu herói teve na tela grande, como também toma um percurso familiar ao Aranhaverso fez, ao trazer em foco o personagem e o ícone que o Homem-Aranha é.

Este é o filme e a história do Homem-Aranha de Tom Holland, e o filme nunca se esquece disso para colocar a nostalgia em primeiro plano, mas também é uma história do próprio Homem-Aranha – sua figura mítica, que transcende uma encarnação, que compartilha um legado com múltiplas vivências e experiências, todas conectadas pelo trauma e a perda, mas também no aprender a se sobressair aos mesmos através da aceitação do fracasso para encontrar a luz que os inspira a seguir em frente com esse papel em suas vidas!

 

Se constrói em cima de tudo que você, como fã e público, conhecem do personagem, então, quando você tem os três Homens-Aranhas conversando e interagindo entre si em ótima química, citando eventos dos capítulos anteriores, as falas atuam menos como um mero intuito de causar nostalgia ao fazer o espectador lembrar de algo que ocorreu naqueles filmes e sim puro e simplesmente mostrar indivíduos falando casualmente sobre seus passados e vivências, compartilhando suas perdas e conquistas, mostrando que é um caminho que todos tiveram que percorrer – novamente a comunicação entre gerações.

Eles tão falando exatamente do HOMEM ARANHA em si, o papel, o fardo, o herói, as perdas que o moldam. É basicamente uma lição ao vivo sobre tudo que torna o herói um dos melhores que existe e tão rico por sinal. Não porque ele pode escalar paredes ou lutar contra monstros psicopatas, e sim porque o Homem-Aranha é a epítome definitiva dos quadrinhos da Marvel – heróis criados como humanos como nós, uma das razões pelas quais tantos o amam é o simples fato de que podemos realmente nos relacionar à ele.

E ele como essa obra de ficção, pode inspirar o melhor de nós, porque ele, um garoto do Queens, é apenas um cara do bem tentando fazer a coisa certa, pois é ele quem está disposto a pagar o maior preço, custe o que custar, porque é exatamente isso que ele faz! E este é finalmente o filme em que vemos Holland assumindo essa responsabilidade e se tornando o Homem-Aranha que conhecemos!

Com o filme conseguindo trazer esse peso emocional necessário por conta própria, sem depender totalmente da nostalgia e lhe permitindo sentir tudo, desde trazerem um peso emocional para a tia May de Marisa Tomei, que embora ainda se sinta apagada dentro do filme, está bem mais proativa na narrativa e sim basicamente servindo como o papel do Tio Ben na vida desse Peter, com suas lições valorosas de como ela apenas o ensinou a fazer o bem e ajudar aos outros, e você sente que é algo sincero, então quando a perda dela vem você realmente sente!

Até mesmo o romance entre Peter e a MJ de Zendaya é mais palatável aqui, algo que pareceu introduzido meio que do nada no último filme, e foi tratado apenas como um crush, enquanto que aqui os atores mostram sua química muito mais e sua conexão parece mais natural e, no final, bem palatável por causa de quão verdadeira é a sensação de perda!

Não é apenas um rito de passagem e uma passada de bastão entre diferentes gerações do Homem-Aranha, o que também definitivamente é e funciona e de uma maneira bem comovente; e sim a história de finalmente assumir os seus erros e viver com eles como uma lição de crescimento e evolução! Talvez não seja a história mais cheia de nuances e dramaticamente profundas nem complexas, mas já é um primeiro passo importante para a plena realização de seu herói sem nenhum caminho de volta para casa, mas em direção ao seu futuro!

Um Final Perfeito

Então, no final, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa se faz sentir como um triunfo gratificante, mesmo dentro de suas limitações. Não por nostalgia, mas por permitir que seu herói finalmente se sinta humano, e suas perdas e sacrifícios, tanto de partir o coração quanto emocionante! Esta certamente não será a última vez que veremos o Homem-Aranha da Holland, pois muitos outros filmes certamente o aguardam, mas a conclusão perfeita que se encontra aqui.

Na culminação de três franquias e gerações de Homem-Aranha se unindo em igual importância, e trazendo tudo o que torna o personagem um ícone, parece uma conclusão perfeita para tudo o que vimos dele até agora. Mas deixando você e os personagens de braços abertos prontos para muito mais!

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home, EUA – 2021)

Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna e Erik Sommers, baseado nos personagens da Marvel
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Marisa Tomei, Willem Dafoe, Jamie Foxx, Alfred Molina, Benedict Cumberbatch, Jon Favreau, Jacob Batalon, Tony Revolori, Thomas Haden Church, Rhys Ifans, Tobey Maguire, Andrew Garfield, Charlie Cox
Gênero: Aventura
Duração: 148 min

Avatar

Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

2 Comentários

Leave a Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é a terceira maior abertura de bilheteria da História