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Crítica com Spoilers | Thor: Amor e Trovão é o filme mais insignificante da Marvel!

Eis um fato: a única razão para o Deus do Trovão ser o único entre os Vingadores a ter um quarto filme solo, privilégio que nem sequer Robert Downey Jr. como Homem de Ferro ou Chris Evans como Capitão América tiveram (Evans muito menos se levarmos em conta o fato de que seu terceiro filme foi praticamente assaltado pra se tornar um Vingadores 2.5) tiveram em sua estadia no universo compartilhado.

E cuja a presença de Chris Hemsworth ainda ativo e com mais energia que nunca no papel, se deve a pura e simples razão de que seus dois primeiros filmes são tão mal lembrados como o mais fraco que o MCU teve para oferecer em seu panteão, que eles tinham que saudar essa dívida!

A chance veio quando Thor: Ragnarok se provou tão bem sucedido e que basicamente ressuscitou a imagem do personagem, indo do Vingador que ninguém se interessava para um dos favoritos em pouco tempo. Simplesmente porque se falharam em encontrar o tom certo nas suas fantasias que tentavam se levar dramaticamente sérias em meio a um bando de piadas que arruinavam qualquer tentativa em resultados frustrantes – mas longe de ser todo esse poço de ruindade que hoje muitos clamam.

Então partiram em tornar tudo na galhofona assumida sob a tutela de um dos novos diretores queiridinhos de Hollywood, Taika Waititi, que ainda traz um ou outro traço da fantasia medieval e mitologia Vinking em meio a tudo. Agora se ele cumpriu em entregar resultados tão bons quanto da última vez, bem…

Melhor que Ragnarok?

Se você viu e gostou do último filme, então com certeza a receita completa está aqui para seu deleite ainda se manter intacto, só imagine tudo em dobro. Seja o humor desenfreado ou a liberdade criativa que Waititi claramente possui aqui. A reação divisiva que vem recebendo por parte do público, e os críticos do Rotten Tomatoes, parece ser pouco haver com a qualidade do filme em si e sim haver com o quanto ele parece fugir um pouco a proposta usual da Marvel.

Se há algo que o filme realmente fuja é não perder tempo em apresentar o que quer ser: uma comédia romântica de ação e uma aventura punk rock apatetada pelo espaço. E no que tange a isso, vai bem direto ao ponto de sua proposta! Não perde tempo em exposição barata e explicações exageradas, estabelece o que tem de ameaça e objetivo sem demoras e já pula direto na nossa aventura espacial que é razoavelmente divertida como todo o filme do MCU a se esperar.

O filme em si funciona tal como Guardiões da Galáxia vol. 2 foi para seu filme antecessor e como um projeto em si no meio de todo o universo compartilhado:  não se conecta em quase nada com os outros filmes e foca apenas em sua história sem trazer peso algum para o restante do MCU.

Alguns tiraram isso como uma falha o que na verdade deveria ser sua maior proeza, ainda mais nesse aparente desgaste que a Marvel está começando a enfrentar, e ter a chance em tentar realmente em ser algo próprio e único é algo sem dúvidas a se louvar! Mas infelizmente Thor: Amor e Trovão não é um Guardiões da Galáxia vol. 2 que, para aquele que vos escreve, ainda é o melhor filme produzido da Marvel sob o comando de Kevin Feige, enquanto que o mais novo filme do Thor…é apenas o bem mais do mesmo!

Muita piada, pouco Amor

Não esperar que o filme fosse uma comédia seria uma dupla redundância, seja porque é um filme do MCU e porque é um filme de Taika Waititi, então nada de errado aí. O que há de errado talvez seja a superabundância quase abusiva de piadas aqui. Isso provavelmente vai agradar aqueles que não se importam com mais nada vindo da Marvel além de seu puro cinismo autoconsciente.

Mas ual, parece realmente que eles queriam quebrar alguma espécie de recorde mundial aqui. Depois da intro surpreendemente séria quando introduzem o Gorr de Christian Bale, e que parece indicar um filme bem mais lúdico, sombrio e dramático fora da curva do MCU, é IMEDIATAMENTE seguido com o Korg (Taika Waititi em pessoa, ou ser de pedra) com sua vozinha engraçadinha, contanto toda a história de vida de Thor como se fosse um trailer dentro do filme.

Daí em diante, as piadas usuais do diretor mal tem tempo para cessar. Até parece quase Waititi se vangloriando de quão engraçado ele é, usurpando da boa vontade e entregando não só piadas constantes a cada esquina, mas ainda ousa em usar de repetitivas e cansativas:

Eeja as cabras gigantes que berram que nem no meme da internet, ou o triângulo amoroso que se cria entre Thor e suas armas…é o tipo de humor que você ou é o tipo de pessoa, critico o que seja, que vai relevar como: ah ora, é só o filme se divertindo consigo mesmo, é uma galhofa assumida, nada de ofensivo; ou tomar pelo que elas realmente são: um show de horrores que parece tentar desesperadamente puxar o solavanco de suas piadas como sua única força motora regente à frente de tudo.

O que é estranho, pois Waititi ora ou hora parece querer sim falar algo, ou pelo menos criar algo que vai além da piada. Tentar sustentar uma aventura intergalática bem nos moldes Flash Gordon misturado com fantasia, mitologia e Vikings do espaço, e o mundo quadrinhesco à sua volta. Nada mal aí, mas tudo parece ser lidado com uma completa falta de consenso sobre exatamente o que quer!

Há liberdade criativa aqui para Waititi fazer o filme que ele queria, mas o seu filme parece um emaranhado de ideias que nunca parecem carregar nenhum interesse particular vindo de seu criador. Parece soar como implicância, mas é a piada pela piada, a galhofa pela galhofa.

Alguns apontam a sátira admitida do próprio genero de filmes de super-heróis como seu ponto foco, e se for esse o caso, nem a sátira em si parece feita com real devoção ou inteligência. Oras porque as piadas são o banho de usual de tiradas rápidas parecendo arrancadas de um sitcom mal escrito, querendo desestruturar a seriedade dos discursos vangloriosos do Thor e tirar sarro de tudo e todos e tornar personagens em completas caricaturas excêntricas.

Se tudo isso funcionava melhor em Ragnarok com piadas de humor situacional que, em boa parte, realmente funcionavam e te pegavam de surpresa com suas tiradas bem mais “bobalhonas inteligentes”, como também tinha um Jeff Goldblum de Grandmaster que era a entidade viva da excentricidade perfeita.

Enquanto que aqui somos obrigados a sustentar um Russell Crowe fazendo todos os esforços possíveis para ser engraçado e cruel ao mesmo tempo com seu Zeus, e acaba sendo apenas uma piada ambulante que mais irrita com sua irrelevância do que qualquer coisa, mas você sabe que vão tentar enfiar ele em alguma série do Disney Plus mais tarde.

Uma Comédia romântica…dramática?!

Ou quando tenta equilibrar tudo isso quando, e atenção ao TENTA, soar realmente dramático e equilibrar um coração no meio de tudo. Seja com a Jane Foster (Natalie Portman) confrontando sua mortalidade cada vez mais deteriorada com seu câncer terminal, ou o vilão Gorr querendo vingança contra a própria imortalidade conceitualizada pelos Deuses todo poderosos e que nada fizeram para lhe responder suas orações quando sofreu a perda mais dolorosa de sua vida.

Se um funciona mais que o outro se deve absolutamente ao que o ator consegue fazer com o material. Portman com certeza está no momento mais divertido que ela já interpretou essa personagem dentre suas últimas aparições, todas esquecíveis. Quando foca no seu lidar de seu câncer a transformação fisica é aparente e a liderança dramática ok, por pouco não vazia pela real falta de foco ou pressa pelo qual o filme passa por esses breves momentos iniciais.

E quando ela se torna a Thor toda poderosa é legal, mas fica naquilo do…ok mas e daí? Toda sua transformação toma um peso existencial bacana de se explorar dramaticamente, mas quando vemos em ação em si, querendo criar uma catchprase ou tentando abraçar a vibe engraçadinha galhofa do humor de Waititi que todos os personagens compartilham e se torna se não só enfadonho, esquecível…

Mas Bale como sempre mergulha em um projeto pra entregar seu melhor, ele tá mirando no Oscar e provavelmente merece uma Palma de Ouro, não que sua atuação esteja entre suas melhores mas está no nível de qualidade que já se tornou um praxe de luxo a se esperar do ator que traz reais emoções para as suas cenas e que conseguem te abalar.

E POR ALGUM MILAGRE, nunca é interrompido ou lhe é cortada a tensão com alguma piadota, há sempre uma linha tênue em suas motivações e ações, e que sim te faz aceitar sua redenção final quando ele vai do cruel sedento de sangue para o pai traumatizado no piscar de olhos.

Sendo justo, o mesmo pode ser tido por toda a forma com que o filme consegue lidar com o que se tem de drama. Há um momento muito específico onde qualquer outro diretor na Marvel à mando de Kevin Feige teria feito o Thor perguntar em meio a uma revelação dolorosa: “Mas o que é que é Câncer mesmo?”; mas felizmente isso não acontece, o personagem, e todos os outros, são tratados com esse mínimo devido respeito e suas frustrações são sentidas.

Hemsworth não tá lá essas coisas nessas cenas e funcionando claramente melhor na comédia, mas suas interações com Portman são as melhores que seus personagens já tiveram porque dessa vez tem história o suficiente para se arrematar entre os dois e criar uma devida tensão dramática, e uma melancolia de algo que se foi inacabado e tem seu tempo se acabando aos poucos.

O filme realmente chega a ser legitimamente triste ao levantar isso, de que eles foram um dos casais do MCU que, apesar do que a qualidade dos dois primeiros filmes deram a aparecer, e a total ausência de Portman no terceiro, se amavam, mas tiveram tão pouco tempo para se desfrutar.

E o pouco que lhes resta agora é algo que Thor não quer perder por nada, não quer mais sentir um vazio inexplicável que só no amor ele agora parece encontrar as respostas de sua vida, e quer deixar Jane viva o mais suficiente possível. E ela também anseia pelo mesmo, mas não quer viver em seu estado para sempre sem algo de importante e memorável para ser deixado para trás.

O que torna o elemento da sua transformação no novo Thor essencial e você consegue compreender isso, sem forçação de barra alguma, ainda mais pelo desenlace surpreendente que se dá. Porém, tudo que se torna desconcertante quando você é lembrado que todo o resto do filme tenta ser essa sátira mal feita que só não é mais artificial que suas cenas de ação!

Feio que dói

Os reclames usuais no que tange à aquele tom acinzentado sem vida nos filmes da Marvel já podem soar ora como praxe ou pura implicância a essa altura, mas não dá como não vir a tona.

É até estranho falar disso de um diretor, mesmo que Thor Ragnarok não seja lá isento de suas falhas nesse quesito, mas conseguia ter um toque claramente inspirado nos traços de Jack Kirby, e trazia alguns bons momentos memoráveis fosse Thor VS Hulk, ou a Hela dominando Asgard sozinha ou a batalha final ao som de Immigrant Song de Led Zeppelin.

Aqui temos muito Guns N’ Roses, em basicamente quase todas as cenas de ação, o que nunca é demais, e até consegue criar um ou dois momentos que oras consegue ser o álbum Punk Rock em vivas cores que Waititi tanto quer criar, especialmente na sequência inicial com Thor libertando seu Van Damme interior contra todo um exército sozinho.

Ou vira uma cena digna de Disney plus quando vemos um bando de crianças Asgardianas usufruindo do poder do Thor e se torna essa imagem da fantasia infanto-juvenil que um jovem Waititi deve tanto ter sonhado em fazer na sua vida, mas acaba sendo talvez o clímax mais ridículo em um filme da Marvel, perdendo só talvez para Capitã Marvel, mas felizmente não tão ruim assim. Mas aqui, meu Deus, Waititi parece ter se divertido fazer o filme mas que preguiça toda é essa de dar uma acabamento melhor em um filme que é claramente caro, mas é plasticamente feio em todos os sentidos.

Os bonecões se digladiando estão mais sem peso do que nunca em efeitos visuais parece que estão se degredando a cada novo filme; os backgrounds ora fora de foco ora o mais feio que o Green screen da Marvel já alcançou; e que ironicamente o momento do filme em preto e branco quando eles vão confrontar Gorr na dimensão Necromante, o filme consegue criar seu momento mais visualmente atraente e memorável.

Mais…do mesmo.

Podia ser mais do mesmo apenas nesse quesito e as decepções seriam poucas, mas o filme todo ainda sofre de uma sofrível reciclagem do mais do mesmo que vemos tendo em seus últimos filmes:

– O vilão que acaba se redimindo no final…como todos os vilões dessa Fase 4 até agora (sem contar as séries);

– Personagens que você nem lembrava mais que existiam voltando a dar as caras só pra criar um falso senso de continuidade coesa no Universo da Marvel;

– Personagens conceitos e locais novos que tão ali apenas como teaser do que está ainda porvir;

E ainda no final Thor se torna o mais novo membro da liga dos paizões solteiros, os velhos guerreiros mal-humorados a receber uma jovem para cuidar como sua filha adotada e pequena parceira. Se isso não se tornou cansativo ainda temos a fofura das crianças para agradecer…e que dão aqui a origem do título. Mas é realmente algo que te anima para um Thor 5? Tirando o Hércules magricela na pós-créditos que deixou o público no estado catatônico de: “é só isso?!”

É as mesmas piadas de sempre; os mesmos arcos de personagem subdesenvolvidos; idéias bacanas que mal tem tempo de se estruturar em algo que faça bom proveito delas pois mal equilibra seu senso de humor desenfreado, personagens coadjuvantes ou servem pra segurar vela como a Valquiria de Tessa Thompson ou ser uma amplificação do humor desgastante que afeta os protagonistas e não permite seu drama instigante soar memorável no final.

Se há um fiapo de relevância a se encontrar aqui no meio de toda a bagunça bem arrumada, talvez seja quando o filme tenta abordar sobre o poder de crenças e fés na existência, onde sua lição final se resume à: se Deus é um ser de ações onipotentes e sua fé trazem respostas silenciosas e sem satisfação, seja Zeus em sua covardia e todos os Deuses de diversas crenças aqui representados que nada mais do que apenas se alimentam de servidão cega;

Tenha fé então no amor, pois é só ela a força sim poderosa e verdadeiramente eterna que irá te trazer cura após a perda, conforto na solidão, perdão na redenção. Seja no amor pós vida, no amor de um amante, ou no amor de uma filha, verdadeiro e puro em ambos os casos e ambos aqui refletidos!

Poderia ser o suficientemente bonito, e até o é, mas nada que as marcas genéricas usuais da Marvel estejam presentes para tudo afundar em seu mais novo McLanche feliz gostoso, divertido mas que não sustenta fome alguma.

Muito trovão sem raios e pouco amor no coração!

 

Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, EUA – 2022)

Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi e Jennifer Katyrin Robinson
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Christian Bale, Tessa Thompson, Taika Waititi, Russell Crowe, Jamie Alexander, Kat Dennings, Chris Pratt, Dave Bautista, Karen Gillan, Sean Gunn, Bradley Cooper, Vin Diesel
Gênero: Comédia
Duração: 119 min

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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