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Crítica com Spoilers | Vingadores: Ultimato – O Final Definitivo do MCU

Pode ser o décimo quinto exagero dizer o que milhares de sites e internautas já vêm dizendo (e vão por muito tempo dizer) sobre esse novo estrondoso sucesso da Marvel chegando nos cinemas, mas é um fato inegável, até para aqueles que nunca foram grandes fãs dos filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, em encarar o quando Vingadores: Ultimato chega para marcar o que é verdadeiramente o final de uma era para o cinema de quadrinhos e super-heróis, marcado talvez eternamente como um verdadeiro fenômeno cultural e popular moderno.

Escuso dizer de que trazer esse desenlace e a promessa de um “final” digno para esses personagens e sua longa história vem com um desafio e promessas que talvez nunca sejam capazes de suprir todas as altas expectativas que serão criadas, com exceção da legião de fãs fiéis que sempre amaram tudo que Kevin Feige e o Marvel Studios tiveram para entregar até hoje. Ainda assim, mesmo que com vários tropeços a apontar, Ultimato se mostra sim como uma digna aventura épica divertidíssima, com certeza a maior que o MCU já fez até hoje, e que traz consigo um desenlace digno para alguns de seus personagens mais importantes, enquanto ainda consegue deixar a porta aberta para os outros em seu futuro um tanto incerto depois de um desenlace tão bem fechado e uma despedida honrosa.

Criando o fim

Mas a questão é: o que os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, e os diretores Joe e Anthony Russo, a mesma equipe que veio realizando os mais importantes filmes do MCU desde sua estréia com Capitão América: O Soldado Invernal teriam em mente para conseguir tentar superar a trama de suspense dramático enervante e o inesperado (e positivo) trauma deixado pelo final de Vingadores: Guerra Infinita, e criarem em Ultimato uma continuação e conclusão para o mortal estalo de Thanos e a derrota dos Vingadores. Bom, viagem no tempo claro! Ou pelo menos, parte disso, pois se o que Ultimato tem em si, é muita coisa que quer contar e mostrar, validando bem as suas quase três horas de duração.

Em meio que também busca ser um filme que parece encaixar vários em um só ao mesmo tempo, e conseguindo criar uma identidade própria que não o faça parecer ser apenas um Guerra Infinita Parte 2. Se dividindo entre ser os minutos finais de Guerra Infinita, com aquela mesma sensação de um thriller incessante sem tomar um momento de fôlego; ser um drama de personagens traumatizados com suas perdas do passado e o medo do futuro vazio e desesperançoso em que vivem (Logan?!); um filme de assalto misturado com uma aventura de ficção cientifica com viagem no tempo; e no final ser o mais próximo que veremos de um O Retorno do Rei versão super heróis. Soa nada mal não é mesmo? Ao mesmo tempo em que é o filme da Marvel que você espera por essa altura, piadas, ação, fan-service incessante, o McLanche Feliz todo.

E se mostra ser uma mistura de tons até que bem eficiente, algo que os Russos já aprenderam a fazer depois da bagunça de Guerra Civil e como já tinham mostrado bem em Soldado Invernal e Guerra Infinita, embora que aqui em Ultimato ainda se deixam cair bem mais em diversos momentos cômicos, mas que em sua maioria é bem comedido com o tom mais rebuscado em seriedade que eles sempre tentam aderir em seus filmes na Marvel, ao mesmo tempo em que tentam manter o tom leve enquanto se aprofundam nos dramas dos personagens. Tarefa que sempre pareceu um desafio interno não só deles, mas como da maioria dos filmes do MCU, embora em filmes recentes como em, novamente, Guerra Infinita, tivemos um frescor de complexidade na forma com que Thanos fora apresentado e desenvolvido.

O mesmo tenta ser feito aqui em um filme que tenta mesmo ser um digno filme dos Vingadores, guardando todos os maiores sinais de ação blockbuster para o seu grande clímax no terceiro ato, e devotando as duas horas iniciais para as interações entre os personagens e a contemplação de seus legados ao querer explorar o melhor possível de todos os seus personagens em tela com mesma importância de protagonismo, com os destaques óbvios de sempre. Mas com a maior carga de complexidade e força dramática ficando a cargo de Tony Stark e a grande e honrável despedida que fazem do personagem aqui, aproveitando o melhor possível de todas as últimas horas, minutos e segundos restantes do personagem nesse universo, e com Robert Downey Jr. entregando outra de suas ótimas performances como o seu icônico personagem, mostrando um Stark preso ao que ele mais presa no momento, sua família, a única coisa que lhe resta e que teme perder depois de ter perdido e custado tanto à milhares de outros após enfrentar Thanos.

Com os Russos enfatizando muito da importância do personagem através de um ritmo quase que metódico em suas cenas, e adotando um uso de ângulos de câmera bem abertos revelando grandes espaços de vazios que habitam ainda na vida de Stark mesmo que ele já possua tudo, fortuna e agora criando uma família. Enquanto o chamado pelo destino que o sempre assombrou nos sonhos e suas visões do fim o chamassem de volta a vestir sua a armadura uma última vez e com uma última chance para os Vingadores além de vingar a terra, a possam reconquistar.

Uma carga emocional de sobra cujo personagem conquistou após anos habitando e se transformando nesse universo. Algo que os outros Vingadores também compartilham aqui, só que talvez sem a mesma ênfase de importância como o herói que a tudo iniciou, mas todos conseguem ter pelo menos um momento de importância dramática ao longo do filme provando o porque de suas presenças, ainda que a história que os reúne não seja tão bem rebuscada como poderia (e deveria) ser.

Algumas das razões pelo qual creio que Guerra Infinita conseguia ser um filme bem mais interessante, tanto na forma que lidava o gênero de super-heróis e o destino de seus personagens. Sendo um filme bem mais focado em ser uma verdadeira corrida contra o tempo, nos perfeitos moldes de Império Contra Ataca, dando a sensação de estarmos assistindo um enorme clímax de duas horas e meia, muito bem ritmado e mais ou menos coeso em seu alvo narrativo que era criar uma história de um vilão enfrentando os heróis mais poderosos do universo, em busca de alçar o seu destino e visão de um universo melhor.

Ultimato, no entanto é um filme bem mais “espaçoso” e vasto no tanto de informações que tem de suprir. Que tende andar muito na beirada de descambar nos eventuais furos narrativos e uma séria falta de montagem bem estruturada como o filme anterior, mostrando um balanço de ritmo que é oras lento e calmo em certas cenas, e picotado e corriqueiro em outros momentos, mostrando uma estrutura cênica um tanto desconjuntada. Embora que o filme consiga fazer algo invejável em conseguir fazer que suas longas três horas nunca passem a sensação de desgaste ou arrastado, e sim sempre conseguindo te manter intrigado graças aos personagens e a divertida aventura no qual embarcam através do tempo.

 

Dias de um Passado Esquecido

Mesmo que essa trama por momentos possa soar completamente sem pé nem cabeça quando tentam forçar as constantes explicações expositivas sobre a viagem no tempo que eles estão planejando realizar e enfatizando toda hora do quanto ela é diferente de todos os outros filmes envolvendo o tema, ao ponto de encarregar o Scott Lang/Homem Formiga com as piadas metalingüísticas nível Deadpool ao citar descaradamente o nome de vários filmes junto de Rhodes (por alguma razão), talvez para dar linhas de diálogo para o pobre coitado que nunca sequer teve um arco em nenhum dos filmes até hoje.

Embora que esta seja QUASE bem explicada e resumida na inesperada cameo do Ancião de Tilda Switon quando um grupo dos Vingadores volta para a batalha de Nova York do primeiro filme, onde junto de Banner ambos conseguem resumir a lógica da linha do tempo que os heróis estão para mudar ao retirar as joias do destino e como isso irá impedir que isso afete o seu futuro, ao mesmo tempo em que se cria realidades paralelas, mas que podem ser impedidas caso eles voltem a colocar as joias exatamente nos momentos do tempo em que eles às pegaram quando a missão deles terminar. Mas, é algo muito melhor aproveitado se você realmente não pensar muito a fundo ou vai se deparar com tantas pontas soltas e que dão um verdadeiro nó na cabeça.

Porém a parte mais divertida desse ato de viagem no tempo, mesmo que confusa, seja tudo que envolve a missão em si, criando o que é talvez o maior filme de assalto do gênero de super-heróis (desde o primeiro Homem Formiga isto é). Eis que aí se dá entra aquela velha teoria de que os “heist-films”, ou filmes de assalto, sempre servem como sutis metáforas narrativas para representar o que é na verdade o desenvolvimento e produção de um filme, com seus personagens sendo representações de membros da equipe de filmagem. Filmes como Onze Homens e um Segredo e A Origem estão aí para comprovar isso, e que faltou o Homem Formiga e Máquina de Guerra citarem.

Você até pode enxergar Ultimato cumprindo essa cartilha: Stark é o produtor, Capitão o diretor, Lang é o roteirista, Hulk o cinematografista, o Ronin /Gavião o ator que entra tarde na produção (?), enfim…; enquanto que o retorno aos filmes passados você pode dizer que é uma sutil sátira ao fato de filmes de franquias de sucesso muitas vezes olharem para o passado e se inspirarem para criarem algo novo no presente e que possa ressoar de alguma forma no futuro. Ao mesmo tempo em que é uma nostálgica homenagem que os Russos fazem para todo o legado que seus personagens heróis e seus filmes concretizaram no passado, enquanto eles ainda conseguem ressoar fortemente no presente dos seus fiéis fãs.

Cumprindo parte de um arco interessante que são os Vingadores retornando a esses momentos de glória do passado no melhor estilo De Volta para o Futuro: Parte 2, e contemplarem suas vitórias e aprender com os erros para assim poderem enfrentar e mudar o futuro sombrio que os cerca. Mesmo que acabem cometendo outras doses de erros nessas cenas, mas com nenhuma eventual consequência (é a Marvel afinal). Mas as recriações desses momentos icônicos do MCU são tão divertidas de se assistir, com as versões dos personagens do presente interagindo, de perto e longe, com seus “eus” do passado, que você até faz vista grossa para com certos furos de trama isso pode ser deixado.

Nada que esteja respectivamente envolvido com as interações do passado, incluindo alguns belos encontros dramáticos, seja entre Thor e sua mãe Frigga (ótima aparição de Rene Russo) que o faz recuperar a razão depois de uma boa parcela do filme estando em seu estado de decadência emocional (mas cômica); como também entre Tony e o seu também surpreendente encontro com o seu pai Howard, criando um belo momento de reconciliação sentimental entre pai e filho, cuja a relação sempre foi áspera e que puderam agora fazer as pazes, indiretamente para Howard que ainda não sabe ser seu filho e uma forte recarga emocional que Tony sempre precisou.

Mas também, criando deliciosos momentos dignos de quadrinho para deixar os fãs vibrarem. A maioria por conta do Capitão, seja em sua ótima luta contra o seu eu mais novo, usando daquele velho “truque de espelhos” para disfarçar quem é o dublê e o ator entre os frenéticos cortes com câmera na mão que os Russo não resistem em utilizar. Como também na breve recriação da icônica cena do elevador em Soldado Invernal onde Steve novamente cercado pelos agentes infiltrados da Hydra, e referenciando a sua polêmica frase de “Salve Hydra” para conseguir escapar. Fan-service muito bem feito!

Porém, os problemas nesse ato começam a aparecer envolvendo quando a decisão de trazerem Thanos interferindo com o plano dos Vingadores é trazida em cena, e junto dele as versões mais novas de Nebula e Gamora, com suas posições no filme sentindo-se um tanto deslocadas. Com Gamora apenas marcando presença para ter uma participação importante na batalha final, para depois desaparecer completamente sem explicações nenhuma, enquanto Nebula recebe uma boa presença de tela e que puxa bons momentos de atuação de Karen Gillan, mas com pouco a fazerem com a personagem além do que fazer sua versão do passado ser um empecilho extra nos planos dos Vingadores e ser um retrato trágico do passado da personagem. Enquanto Thanos, bom, é outra um tanto triste história.

Se por um lado ainda temos aquele vilão de força e determinações imparáveis que já havíamos visto em Guerra Infinita, e que prova aqui não precisar nem um pouco das jóias do infinito para derrubar todos os Vingadores com épicas trocas de socos; ao mesmo tempo que vemos certas mudanças no que tange a personalidade do vilão. Que no seu grande filme de introdução se mostrou ser essa figura quase messiânica do mal, que acreditava mesmo que poderia salvar o universo por cometer esse grande sacrifício, que o tornavam não só em um simples vilão do mal, mas sim alguém cujo você conseguia acreditar na fé que ele possuía por suas crenças de forma tão humanizada, ao mesmo tempo em que o temia por temer por ser tão implacável. E ter um excelente ator como Josh Brolin o interpretando era apenas um bônus de luxo.

Mas em Ultimato parece que vemos um personagem quase que diferente em seus ideais e sentimentos. A surpreendente reviravolta no início do filme quando o Thor finalmente vai na cabeça parece que querem matar de forma simbólica aquele outrora personagem complexo e em partes compreensível em seus ideais, para dar lugar agora à um Thanos cujo os planos voltam agora para uma esfera até bem clichê. Destruir o universo e matar a todos pois sente puro e simples ódio por eles o impedirem seus planos e ideais, e reconstruir um novo por cima deste.

Você até pode discutir que há nisso uma descaracterização proposital, ao fazer o vilão assumir o seu mais clássico papel de “mal por ser mal”, e este será o grande confronto final entre essas forças do mal contra tudo e a todos dos super-heróis. Mas é algo que torna o personagem bem menos interessante do que era antes, e o aproxima de algo bem mais “genérico”. Embora os diretores consigam dar uma cena final bem simbólica e digna para o grande vilão enquanto ele contempla o fracasso de seu sonhado destino se tornando pó. Mas não é a única mudança e desenvolvimento de personagem que causa um certo estranhamento ao longo do filme.

Avengers Assemble” uma última vez

É o que poderia se esperar de um filme que opta em dar um protagonismo dramático quase maior e exclusivo, para a sua grande estrela que sempre foi Tony Stark, com ele finalmente conseguido no final alçar o seu tão desejado sacrifício final para salvar a todos que ama e se importa. Mas não são todos os Vingadores privilegiados com tal tratamento em seus personagens, quase que tratados com certa indiferença pelo roteiro.

Com exceções como Scott Lang/Homem Formiga que pode ser retirado dessa equação pois ele basicamente cumpre as notas certas do personagem dentro da história, além de ser apenas um esperado alívio cômico. Tanto seja pela forma com que a idéia do pulo do tempo através do Reino Quântico vem a partir dele, como suas motivações bem estabelecidas de ser salvar a Hope/Vespa e sua família, e ainda garantindo uma emocionante cena de reencontro com sua filha Cassie agora mais velha, e com Paul Rudd de sobra sempre brilhando. Mas enquanto os outros personagens…bem.

Apenas vejam como a volta e presença do Gavião Arqueiro é lidada. Sua mudança de identidade para o Ronin são muito bem vindas, e que garante facilmente em sua cena introdutória uma das melhores cenas de ação do filme e talvez de todo o MCU, mas sente-se que ele apenas está por obrigação dentro do filme e não sendo um personagem bem desenvolvido. Não por causa de Jeremy Renner, que talvez entregue aqui sua melhor performance como o personagem, mas sim pela forma que ele é trazido e depois isentando da história, quase que da mesma forma que foi em Guerra Civil, saindo da aposentadoria e voltando a ativa com os Vingadores, com boas cargas emocionais adicionadas claro. Mas que no final, você pouco viu o personagem realmente mudar e evoluir além do fato dele testemunhar o sacrifício de sua melhor amiga para a salvação de todos e de tudo aquilo que ele perdeu.

Falando em amiga morta, pobre Viúva Negra. Tudo bem que a sua escolha de morte carregue suficiente peso e importância, e é tratada de forma eficiente no filme em forma de um corajoso sacrifício, mas que acaba mostrando ser um tanto anticlimática. Tanto por reduzirem o breve arco da personagem no filme como alguém que também sofre com todas as perdas deixadas por Thanos, e em busca de salvar a única família que sempre teve, e tanto por ser uma cena que se usa da mesma montagem e até o mesmo tema da trilha sonora que se usaram na sim marcante cena da morte de Gamora em Guerra Infinita, e que aqui mais parece um verdadeiro copy-cola. É uma repetição do passado tendo que talvez se repetir para o futuro progredir, sacrifício e fruto, etc, mas a velha personagem e Scarlet Johansson mereciam muito mais em seu momento de despedida final.

Isso porque ainda nem mencionei o personagem quase unidimensional que se torna Bruce Banner/Hulk. Despois de dois filmes inteiros onde ele foi reduzido a ser o alívio cômico, era de se esperar que o personagem pudesse retomar algum destaque dramático novamente no MCU. E sim ele volta em Ultimato a ter importância na trama, mas a sua transformação off-screen (novamente anticlimático) para o “Doutor Hulk” consegue ser tanto um fan-service para os fãs como também uma forma de mostrar que Banner finalmente fez pazes com o Hulk como parte de si e agora conseguem conviver como um só. Mas não só esse formato humanoide do Hulk fica um tanto bizarro, como também não dá nada de interessante para Mark Ruffalo trabalhar como ator, reduzido a fazer a mesma expressão de “tô tranquilo tô favorável” o filme inteiro, e sem quebrar o sorriso torto escondendo dor mas sendo um altruísta inquebrável. Embora seja inegavelmente engraçado ver o Hulk de óculos fazendo experiências científicas e agindo como um milenial feliz. Ah, e se alguém esperava uma retomada e possível desfecho do passado relacionamento amoroso entre Banner e a Viúva Negra, podem esquecer.

Já em contra partida positiva, temos outros arcos particularmente mais interessantes. Seja com o Thor enfrentando o que é claramente uma depressão pós traumática representada em sua forma física com ar decadente, com total desesperança e receio de cogitar enfrentar a perda que sofreu de novo, mesmo que tudo isso seja revestido pelo humor cômico que lhe ficara estabelecido em Thor Ragnarok (aliás, a Valquiria, Korg e Miek todos vivos e bem, ufa). E mesmo que mostre o personagem vindo em uma montanha russa de mudanças de estado desde Ragnarok, indo de um herói altruísta e cômico para alguém focado em busca de vingança e redenção, e agora um pouco de tudo, pelo menos o vemos mudar com uma personalidade bem estabelecida e bem divertida de se acompanhar. E agora aguardar o que o futuro ainda pode guardar para o Deus do Trovão agora assumindo um novo cargo como possível novo guardião da galáxia no final do filme.

Temos também o segundo grande protagonista do filme, o velho Steve Rogers que volta para os holofotes após ter ficado quase que em total escanteio em Guerra Infinita, e que consegue mostrar algo sutil mas novo para o seu Capitão América. Revelando a faceta de um soldado cansado e quase desgastado da luta, mas que segue disposto à um último sacrifício por aqueles que tiveram suas vidas ceifadas, nem que pra isso custe a sua própria. Mas quando este tem um vislumbre do seu passado na forma de Peggy Carter, sua esperança e força se tornam inspiradoras mesmo em meio de tanta dor. E que lhe garantem receber um final digno para o personagem.

Embora a idéia do Capitão voltar e ficar no passado pareça um pouco de falta de coragem de concretizarem uma jornada que sempre fora baseada em sacrifícios para o personagem, ela consegue ser tratada com tanto carinho pelo personagem e com Chris Evans entregando uma cena carregada de emoções com o velho Steve Rogers, mesmo que por debaixo de quilos de (EXCELENTE) maquiagem que o fizeram parecer com Clint Eastwood, fazendo ser sim um fim digno para o Capitão no MCU. Passando o escudo para Sam/Falcão, assim como nos quadrinhos, e tendo direito à sua merecida dança com o amor da sua vida. Talvez não houvesse melhor última cena para fechar esse longo arco do MCU de vinte anos se não essa.

A boa notícia nisso tudo é que com metade dos heróis “mortos”, eles tiveram a chance aqui de entregar maior atenção e desenvolvimento para a maioria dos personagens que acompanhamos do início ao meio do filme de forma bem cuidada. Deixando os holofotes do clímax para a maioria dos personagens que retornam a vida em grande estilo no fabuloso e aguardado clímax do filme. Que se mostram como gloriosos minutos que fazem valer cada longa hora de espera até chegarmos a esse ato onde se entrega o que é inegavelmente a maior batalha de super-heróis já realizada.

Onde o filme abraça o seu lado quadrinhesco com um amor incandescente, e entregando um verdadeiro presente de momentos épicos entre os personagens, dirigido especialmente aos fãs. Homem Formiga derrubando naves com um soco; Homem Aranha pegando carona no Mjolnir e depois em um pégaso; o Capitão finalmente provando que sempre poderia empunhar o Mjolnir, e até usá-lo melhor que o Thor jamais usou, como também finalmente dizendo a frase que os fãs aguardavam todo esse tempo, enquanto ele lidera todos os personagens super poderosos e seus grupos de exércitos que já deram as caras em pelo menos um filme do MCU, agora todos reunidos em uma só épica cena onde o céu é o limite.

E com todos eles tendo seu pequeno momento de brilho, as vezes sem sequer falar uma linha de diálogo. Uma pena no entanto apenas para a Capitã Marvel, cuja personagem já havia causado tanto alarde esse ano e é aqui reduzida para não mais de dez minutos em cena, com pouquíssimas linhas de diálogo, e sendo basicamente usada como o grande Deus Ex Machina do filme, no início e no final. Pelo menos ela conseguiu ter seu momento de união feminina quando junta todas as heroínas no campo batalha (de forma bem conveniente) para fazerem uma limpa, e também ter um digno momento “mano a mana” com Thanos, assim como todos os outros heróis que perderam a chance de trocar socos de forma brutal contra o vilão, todos reunidos em uma sequência grande e inegavelmente memorável. Mas uma cujo poderia ter sido muito melhor aproveitada nas mãos de um diretor mais visualmente ambicioso. Com certeza se James Wan tivesse aqui teríamos o dobro da grande escala que já temos aqui.

Mesmo que até seja de forma proposital por parte dos diretores em optar filmar esses confrontos de super poderosos sempre seguindo de perto os personagens em cena e colocando o público em sua ótica e perspectiva no meio da enorme batalha desenrolando, humanizando os personagens em meio à uma luta pirotécnica gigantesca. Mas que nunca realmente passa a sensação de algo maior ou “vistoso” com essa opção de cores toda escurecida e acinzentada querendo dar esse ar de Mordor apocalíptica versão Marvel. Porém, nada que impeça de ser uma divertida sequência e que dá um desenlace digno para o destino de seus personagens.

O Fim de Todas as Coisas

Dentre todas as falhas que os Irmãos Russo possam carregar consigo como diretores entre os seus filmes dirigidos dentro do MCU, há algo de notável na escolha de terem sido ambos os escolhidos a comandar esse desenlace de uma longa e contínua franquia, e muito disso tem haver com o seu estilo e visão como cineastas. Essa visão pé no chão, humanizada e cinzenta para um mundo tão colorido e multifacetado. Onde humanos conseguem moldar poderes através de sua inteligência, com armas de ferro ou magia, e seres espaciais poderosos conseguem ser tão mais complexos e dramáticos que qualquer personagem terráqueo.

Em um mundo em que todos eles adquirem esses grandes poderes e responsabilidades, ainda se mostram seres falhos e em constante mudança e crescimento através tanto de suas vitórias quanto perdas. Resultados da tentativa bem realizada de uma eterna humanização para esses personagens que marcou talvez o seu maior nível de destaque nesse filme, cujo o público cresceu junto deles por mais de vinte anos e aprendeu a criticar suas falhas e amar suas qualidades, e que agora com certeza tenderão a deixar uma enorme saudade.

Fechando aqui tanto a fase 3 do MCU, ao mesmo tempo em que é uma sutil passagem de bastão para o futuro e as novas histórias que serão criadas nessa nova geração de heróis e Vingadores. Mas se a Marvel se permitisse parar por aqui tudo que construiu nesses longos anos, seria um final perfeito.

Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, EUA – 2019)

Direção: Anthony e Joe Russo
Roteiro: Stephen McFeely e Christopher Markus, baseado nos quadrinhos da Marvel
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Jeremy Renner, Brie Larson, Karen Gillan, Josh Brolin, Don Cheadle, Paul Rudd, Bradley Cooper, Gwyneth Paltrow
Gênero: Aventura
Duração: 181 min

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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