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Crítica | Vingadores: Ultimato – Um presente para os fãs

Eu escrevo sobre os filmes da Marvel Studios desde sua concepção. A crítica do primeiro Homem de Ferro, em 2008, deve ter sido uma das dez primeiras que escrevi em minha vida, ainda em um blog pequeno no WordPress. Mais de uma década depois, em 2019, o MCU se tornou a maior e mais lucrativa franquia cinematográfica da atualidade, e Vingadores: Ultimato chega como ponto final. Não é sob nenhum prisma o último filme da Marvel Studios na História, mas o encerramento dos primeiros 22 filmes que agora atendem ao que o chefão Kevin Feige chama de Saga do Infinito. E como encerramento, Ultimato realiza sua função muitíssimo bem. 

É muito difícil até mesmo falar sobre a trama de Vingadores: Ultimato sem mencionar os temíveis spoilers. Se levarmos em conta apenas o que os trailers mostram, não poderia nem falar dos primeiros 20 minutos sem fazer uma grande revelação. Basta dizer que o longa começa com os heróis lidando com as consequências das ações do estalo de Thanos (Josh Brolin), que dizimou metade da existência no universo. Desfalcados, os Vingadores descobrem uma chance de reverter todo o caos quando o Homem-Formiga (Paul Rudd) reaparece com uma proposta ousada e perigosa. 

Fim do Jogo

Pela primeira vez na Marvel, Guerra Infinita audaciosamente terminou com Thanos vencendo e encerrando o longa com muita melancolia. Esse sentimento, algo tão raro de ser encontrado em meio às piadas infantiloides que permeiam a maioria dos filmes do MCU, é um dos grandes trunfos de Ultimato. Beneficiando-se da extensa duração de 3 horas, boa parte do primeiro ato do longa explora a tristeza e o luto dos heróis, assim como a exploração de um mundo devastado e aterrador, marcado eternamente pela perda de bilhões de pessoas. A dupla de roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus é eficiente em criar uma narrativa dramática e com momentos profundos, dando atenção especial para a Viúva Negra (Scarlett Johansson, excelente) e o Capitão América (Chris Evans), algo que os irmãos Anthony e Joe Russo traduzem bem ao apostar em um tom frio para a maioria das cenas nessa seção do filme.

Claro, Ultimato não é um festival de lágrimas ou cabeças baixa. Mais do que qualquer coisa, o novo filme dos Vingadores é uma celebração de tudo aquilo que veio antes. Sem entrar em detalhes específicos sobre a trama, mas qualquer um que acompanhe o processo e os longas deve adivinhar, mas há um motivo além da nostalgia para que o material promocional de Ultimato traga tantas cenas dos filmes anteriores em sua divulgação. Toda essa porção do filme, que envolve uma grande dose de fan service, aparições surpresa e encontros inesperados, é a melhor parte de um longa que só poderia funcionar com uma franquia tão grande como essa. É realmente algo especial para os fãs.

Os Russos estão chegando

Com as chaves do reino da Marvel Studios desde Capitão América 2: O Soldado Invernal, os irmãos Russo ficaram com o trabalho de direção mais importante e complexo da franquia. Considerando tudo o que está em tela e toda a preparação para realizar o que está em cena, é de se aplaudir a competência. Porém, é um fato que os Russo trabalham melhor com cenas de luta corporais e que tragam menos efeitos visuais (vide O Soldado Invernal), e raramente temos momentos visualmente espetaculares que façam jus ao que está no papel. Há uma cena que fará todos os fãs gritarem, e que no papel parece a melhor coisa do mundo, mas ao ver em tela é simplesmente… Funcional. Um diretor mais autoral como Peter Jackson ou até mesmo James Wan seria mais habilidoso e caprichoso em oferecer o nível cinematográfico que as cenas aqui realmente merecem. Não deixam de impressionar, simplesmente pelo que está em cena, mas definitivamente poderiam ser melhores.

Não que os irmãos não demonstrem ambição. Há um plano sequência elaborado e divertido que apresenta o novo visual de Jeremy Renner no filme, que certamente é o trabalho de câmera mais inspirado da dupla. Não só pela movimentação criativa, mas pela paleta de cores, que permite ao diretor de fotografia Trent Opaloch (geralmente limitado ao cinza e o constraste baixo) brincar com luzes de neon coloridas de uma cidade japonesa.

Assemble

Mas se há algo que definitivamente agrada ao máximo de seu potencial, é o elenco. Guerra Infinita pode ter tido o maior número de personagens, mas Ultimato beneficia-se de um número reduzido de protagonistas, e o texto de McFeely e Markus oferece ótimo material para todos. A começar por Robert Downey Jr., no papel de Tony Stark há mais de 10 anos, e ainda sendo capaz de encontrar novas nuances e camadas dramáticas para o eterno Homem de Ferro, e não seria exagero dizer que este é seu melhor trabalho com o personagem. É o papel da vida do ator.

Chris Evans também tem muito o que fazer aqui, após ser desfalcado em Guerra Infinita. É um personagem que foi ficando mais interessante e ganhando mais destaque ao longo dos anos, mas que sempre foi enxergado como a “alma” dos Vingadores, e o ator é excelente ao transpor a postura de líder e o otimismo do Capitão América. Scarlett Johansson talvez seja a grande surpresa aqui, entregando uma cena intimista e arrasadora ao falar sobre a perda de sua família (os Vingadores), ao passo em que Jeremy Renner brilha ao oferecer uma camada sombria para seu Gavião Arqueiro. Quanto a Chris Hemsworth e Mark Ruffalo, seria spoiler detalhar o que exatamente acontece com Thor e Hulk, mas basta dizer que nunca vimos os dois agindo dessa forma com seus respectivos personagens – e o resultado em cena é incrível e inesperado.

Vingadores: Ultimato é um verdadeiro presente para os fãs. Serve como a perfeita culminação de uma fase de 22 filmes, respeitando seus personagens e os diferentes arcos que os acompanharam por anos, e apresentando uma conclusão que é inevitavelmente emocionante e poderosa. É um filme que seria excepcional nas mãos de diretores mais inspirados, mas que, da forma como existe hoje, já pode ser considerado um milagre por simplesmente funcionar e agradar tão bem.

Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, EUA – 2019)

Direção: Anthony e Joe Russo
Roteiro: Stephen McFeely e Christopher Markus, baseado nos quadrinhos da Marvel
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Jeremy Renner, Brie Larson, Karen Gillan, Josh Brolin, Don Cheadle, Paul Rudd, Bradley Cooper, Gwyneth Paltrow
Gênero: Aventura
Duração: 181 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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