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Crítica | Desafio Infinito – Thanos, o Todo-Poderoso

Sendo uma leitura tão clássica no rol das Sagas da Marvel, é curioso e cruel a dificuldade que diversos fãs tiverem por anos para conferir Desafio Infinito, a clássica HQ de Jim Starlin que inspirou o filme ápice da Marvel nos cinemas: Vingadores: Guerra Infinita. Felizmente, em uma jogada de sorte, o consagrado quadrinho enfim recebeu um tratamento de luxo pela Panini em lançamento simultâneo com o filme.

O resultado foi o esperado: edições esgotadas com extrema rapidez a ponto que eu mesmo me considero sortudo por ter encontrado um exemplar. No meu caso, esta seria a primeira vez que leria a tão almejada e elogiada saga. Nesse compilado, há a presença bem-vinda de Thanos em Busca do Poder, uma minissérie que mostra a ressurreição do vilão pela própria Morte e logo depois indo em busca das seis Joias do Infinito.

Apesar de não ser uma leitura obrigatória, recomendo que o leitor gaste seu tempo para saborear essa introdução muito divertida que pode até mesmo cativar mais que o arco principal em si. Isso ocorre principalmente por conta do jeito bem direto de Starlin ao iniciar Desafio Infinito com Thanos se desesperando em não conseguir cativar a Morte, sua verdadeira paixão, por conta de ter ficado ainda mais poderoso que ela própria ao reunir as Joias do Infinito.

Com as constantes ignoradas silenciosas da entidade, Thanos enlouquece e passa a realizar proezas maléficas sempre crescentes a ponto de considerar dizimar metade da vida no Universo para provar seu amor. Após realizar essa loucura, os principais heróis e seres cósmicos da editora se reúnem para impedir que o vilão acabe destruindo até mesmo a realidade que todos vivem.

A Luta Infinita

Há muitas qualidades na narrativa de Starlin ao conseguir manejar uma história crível para um vilão onipotente e indestrutível. Com as primeiras edições mostrando tanto o núcleo de Thanos com a morte, seu irmão Eros, Mefisto e a neta Nebulosa, o roteirista é particularmente muito cuidadoso em exibir uma jornada decadente de um “deus” rejeitado disposto a tudo para conquistar a amada. Apesar da ideia de vermos um personagem apaixonado pela Morte, literalmente, ter envelhecido mal, o conceito é vital para que a história se desenvolva a ponto de justificar as trapalhadas muito pueris que Thanos comete em momentos-chave da história.

Starlin faz um contraste nítido entre o Thanos intelectual e estrategista de Em Busca do Poder com o vilão muito emocionado e aborrecido, repleto de birras, que vemos aqui. Tanto que suas cenas logo parecem redundantes já que o vilão apenas surge para cometer atrocidades ainda maiores. O irônico é que, apesar disso, seu núcleo é facilmente o mais interessante, pois há uma verdadeira mistura de heróis sendo que alguns são claras exigências da editora.

Em geral, apenas Doutor Estranho, Surfista Prateado e Adam Warlock – vital para essa saga, que possuem relevância nesse cenário. Aliás, os embates nervosos entre o Surfista e Adam valem bastante para transmitir o quão inflexível é Warlock sobre suas cruéis estratégias para tentar dizimar Thanos. Apesar do texto ficar bem fraco e até mesmo burocrático com as mudanças entre núcleos mostrando diversas reações pelo Universo por conta do terrorismo do vilão, há a curiosidade de como Starlin consegue de modo bem objetivo resgatar figuras cósmicas pouco conhecidas pelo grande público da editora.

Mesmo que haja uma sensação de incômodo pela falta de conhecimento, Starlin rapidamente supre isso com a demonstração rápida de poderes ou através da narração expositiva ora de Eros, ora do Vigia que assiste todo o confronto impassivelmente. Mesmo que tenhamos uma disparidade enorme entre níveis de poder com os Vingadores e Thanos, há uma boa desculpa para motivar o vilão a não ser Todo-Poderoso durante o confronto, possibilitando uma brecha para que Warlock faça uma investida de mestre contra o antagonista.

O quebra-pau oferecido pelo lendário George Pérez em seus desenhos, trazem um escopo de batalha, apesar de grandioso e épico, bastante centrado e criativo, permitindo que o vilão dizime os heróis favoritos dos leitores sempre de modos bastante peculiares. Como Pérez sempre possui uma visão cinematográfica para a diagramação dos quadrinhos, o efeito é quase sempre bem arrebatador e imersivo.

Apenas há uma desordem quando tanto Starlin e Pérez apostam no abstrato para trazer a luta do Titã contra os poderosos seres cósmicos até termos, enfim, a reviravolta muito curiosa. Embora seja um momento icônico da saga, também revela um buraco narrativo em Desafio Infinito, já que vemos Doutor Destino quase morrer automaticamente ao tentar remover a Manopla do vilão. Embora isso seja um erro de quebra de regras bastante grave, Starlin compensa pela imprevisibilidade do evento permitindo uma escala de piora dos cenários e da probabilidade do plano de Warlock dar certo.

Justamente por isso, em um Universo já totalmente devastado, que temos uma edição final muito interessante devido a completa imprevisibilidade da escrita, ainda que Starlin recorra a um recurso narrativo banal para colocar a ordem da Casa das Ideias de volta aos trilhos. Também é incômodo que a Morte acabe totalmente escanteada e até mesmo desaparecida nos momentos finais dessa história. Ao menos há uma conclusão corajosa que acabou ficando eternizada para o destino final de Thanos.

O Desafio de Ignorar

Regada de elogios merecidos, principalmente pela condução repleta de surpresas por Starlin, Desafio Infinito é uma obra que merece seu lugar de destaque na estante de qualquer colecionador ou fã da Marvel. Mesmo que não seja uma história perfeita, livre de falhas ou confusão, há momentos simplesmente icônicos que marcaram uma saga bastante corajosa para uma década que se provaria tão árdua para a editora em termos criativos. É uma leitura simplesmente obrigatória, ainda mais nesse momento tão especial.

Desafio Infinito (Infinity Gauntlet, EUA – 1991)

Autor: Jim Starlin
Arte: George Pérez, Ron Lim
Cores: Max Scheele
Editora: Marvel Comics
Páginas: 238

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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