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Crítica | Espiral: O Legado de Jogos Mortais – Quero ser David Fincher

Eu talvez seja a pessoa menos apropriada para escrever uma resenha sobre este novo filme. Afinal, com exceção do longíquo e humilde primeiro longa de 2004, não assisti a nenhum dos outros exemplares da gigantesca cinessérie Jogos Mortais, contentando-me em meramente acompanhar a evolução da história através de seus pôsteres muito criativos, que estavam sempre estampados nos lobbies de cinemas na década passada. Na verdade, permita-me mudar de ideia. Talvez eu seja justamente o que Espiral: O Legado de Jogos Mortais precisa, já que o novo filme surge como uma forma de revitalizar e reinventar a franquia de torture porn que ajudou a apresentar o serial killer Jigsaw à Sétima Arte, partindo justamente de uma ideia que seu astro sugeriu ao estúdio.

E o resultado? Ruim posso dizer que não é, mas o resultado não é realmente muito especial.

A trama dedica-se a ser um clássico filme de policial atrás de bandido. Acompanhamos o instável detetive Zeke Banks (Chris Rock), que se vê forçado a investigar uma série de crimes bizarros que remetem ao trabalho do assassino Jigsaw, a quem os personagens constantemente se referem como falecido. Com a ajuda de seu parceiro William Schenck (Max Minghella), Zeke inicia uma jornada que promete expor podres de seu departamento de polícia, chegando até mesmo em seu pai, o aposentado capitão Marcus Banks (Samuel L. Jackson).

Do Livro de Se7en

Meu interesse neste Espiral era bem mais ligado a eventos de bastidores do que a marca Jogos Mortais em si. Afinal, a franquia já havia experimentado seu filme “de redenção”, onde os irmãos Sprieg tentaram revitalizá-la com Jigsaw em 2017, uma investida que não foi tão impactante quanto seus produtores imaginavam, e que eu pessoalmente deixei passar por desinteresse (e olha que sou um grande fã de O Predestinado). O que chamou minha atenção em Espiral foi a história de que o próprio Chris Rock havia bolado uma ideia original para reinventar a franquia. Em uma época em que comediantes parecem estar tendo um ótimo dedo para terror (vide a virada nas carreiras de Jordan Peele e John Krasinski), foi Rock quem me trouxe para a sessão de Espiral.

E o resultado não vai muito além de um filme desesperado para ser Se7en: Os Sete Crimes Capitais. Idealizado por Rock, o roteiro assinado por Josh Stolberg e Pete Goldfinger segue passo a passo as convenções do gênero policial, desde a dinâmica de parceiros que não conseguem se aceitar até a boa e velha corrida contra o tempo para encontrar vítimas e pistas do caso. Talvez a grande inovação esteja nas motivações que movem o antagonista (que não revelarei para guardar a surpresa, claro), mas que ainda assim não deixam de soar um tanto previsíveis. Todavia, Stolberg e Goldfinger são eficientes em construir uma trama coesa e que tenha bons arcos de personagens, especialmente para o protagonista.

Mas, infelizmente, é Chris Rock quem se revela como um dos pontos mais fracos. Sou fã do comediante e até apreciei sua virada mais dramática na quarta temporada de Fargo, mas na pele de um policial aparentemente durão, a impressão é de que Rock está apenas fazendo uma paródia não intencional de um, às vezes se divertindo um pouco demais nas caras de pânico ou “poses de herói de ação”. Rock só funciona melhor quando temos Samuel L. Jackson em cena, o que infelizmente não é tanto quanto desejaríamos – mas ao menos os realizadores não desperdiçaram a oportunidade de ter Jackson reagindo da melhor forma possível ao ser questionado com a pergunta icônica de “jogar um jogo” com o assassino.

Quanto à direção, Darren Lynn Bousman retorna para o universo de Jigsaw após comandar os filmes 2, 3 e 4. Mesmo não tendo assistido aos outros filmes da franquia, não é difícil identificar os vícios batidos que Bousman traz diretamente dos anos 2000 para o longa: os cortes rápidos, a acelerada de velocidade e aqueles efeitos escandalosos que só funcionavam em videoclipes do Evanescence. Apesar do gore ser bem eficiente e garantir momentos intensos, onde certamente conseguir criar imagens fortes e sequências ágeis (créditos ao diretor de fotografia Jordan Oram, muito mais bem sucedido nas lições aprendidas por Se7en), é um trabalho que acaba superestimando a si próprio.

No fim, Espiral: O Legado de Jogos Mortais é um filme policial competente e que garante alguns caprichos visuais, apesar de seu protagonista equivocado e a sensação de deja vú constante. Como alguém que não é conhecedor de Jogos Mortais, não posso atestar se o resultado aqui é uma revolução dentro da franquia, mas se for… o legado de Jigsaw realmente passava por maus bocados.

Espiral: O Legado de Jogos Mortais (Spiral: From the Book of Saw, EUA – 2021)

Direção: Darren Lynn Bousman
Roteiro: Josh Stolberg e Pete Goldfinger
Elenco: Chris Rock, Samuel L. Jackson, Max Minghella, Marisol Nichols, Dan Petronijevic, Richard Zeppieri, Patrick McManus, Ali Johnson
Gênero: Suspense
Duração: 93 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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