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Crítica | Gosto Se Discute – Apenas Mais Uma Comédia Esquecível

Que a indústria de cinema nacional investe cada vez mais no segmento das comédias populares isso não é novidade. Essas produções arrecadam cada vez mais e em outros casos são um fracasso total. Estreou nos cinemas nacionais o filme Gosto se Discute de André Pellenz, mesmo diretor de uma das maiores bilheterias nacionais no ano com D.P.A. – Detetives do Prédio Azul. 

Nesta nova comédia acompanhamos o chef de cozinha Augusto (Cássio Gabus Mendes) que precisa mudar o cardápio de seu restaurante para que possa receber cinco estrelas em um prestigiado guia gastronômico. Eis que aparece Cristina (Kéfera Buchmann,), uma auditora do banco que irá ajudar nessa árdua tarefa para que o banco não fique com o restaurante em caso da não melhora financeira. Há ainda o personagem de Patrick (Gabriel Godoy) que é dono do food truck concorrente do restaurante, que se instala em frente ao local justamente para tirar clientes de Augusto.

Em seu mais novo longa Pellenz faz uma mescla no elenco a nova e a velha geração de atores. A nova se dá pela YouTuber Kéfera, enquanto a velha geração está presente com o ator Cássio Gabus Mendes. Essa mistura de início dá certo com Cristina chegando misteriosamente e se apresentando, enquanto Augusto se mostra revoltado com a presença da auditora. Só que esse encontro inicial em si não serve para segurar uma história por mais de uma hora.

Para isso o diretor vai acrescentando novos elementos como a vinda de um psiquiatra interpretado por Paulo Miklos, a mãe e pai de Cristina aparecem para tentar dar um desenvolvimento a personagem de Kéfera, e claro o principal que é a criação do cardápio do restaurante e a vinda de jurados que podem salvar o estabelecimento. O roteiro precisa dessas situações para girar e aí que se enxerga como ele é pobre e fraco. 

A problematização do roteiro se dá principalmente pelo elenco. A começar pela própria personagem Cristina que praticamente não tem função alguma no filme, a não ser fazer com que Augusto possa ter um par com quem conversar. Se o filme fosse filmado sem essa personagem não teria feito falta alguma. Desde seu aparecimento se tem uma noção de estranheza, chegou do nada como Mary Poppins e com um motivo bobo de ficar no restaurante. Com ela é uma coisa, sem ela é outra totalmente diferente. Faltou uma construção de personagem e uma motivação mais inteligente e menos óbvia para sua introdução na história. 

Demoram uma eternidade para dar uma função ao seu papel, que é quando ela encontra os dois funcionários do banco no restaurante. Percebe-se que foi inserida ali sem nenhum propósito e para piorar resolveram fazer os dois protagonistas terem uma cena de sexo totalmente broxante e sem sentido algum. 

Kéfera desde que seu último filme É Fada se tornou fracasso de crítica tenta se firmar no cinema com um papel diferente. Em Gosto se Discute, ela tenta deixar o lado atriz teen de lado e tenta criar uma nova imagem para um público que não está acostumado a vê-la na plataforma de Streaming. Sua inclusão nesta produção se mostrou equivocada, ela levou os seus vícios de interpretação do YouTube para o cinema. 

A atuação de Kéfera não chega a ser constrangedora, ela até que é esforçada, mas certamente não é a pessoa certa para o papel e precisa melhorar muito para fazer cinema de massa. Em nenhum momento parece ser espontânea, soa falsa e forçada sua interpretação, além de manter os trejeitos que faz em suas redes sociais. Suas tiradas também são fracas e superficiais e o humor que tenta empregar não é o necessário para o que a cena pede. 

Já Cássio Gabus Mendes está muito bem como protagonista, mas seu personagem é bastante problemático, dá tantas broncas e chiliques que depois de um tempo fica repetitivo e chato. O núcleo de atores secundários são muito mal explorados, principalmente os garçons e o psiquiatra, aparecem por pouco tempo e muito rapidamente. 

Quanto as piadas elas são mal feitas e muito sem graça. Fazem rir com piadas de situação, nada muito preparado ou desenvolvido. Os protagonistas não sabem fazer humor, tanto Kéfera como Cássio Gabus Mendes são mais dramáticos que cômicos. O excesso de diálogos e muitas vezes longos mata bastante a chance de se fazer humor, tiradas e cortes rápidos ajudariam a deixar o filme mais ágil e menos sonolento.  

Grande parte do filme se passa em um cenário único, que é ou o saguão do restaurante ou a cozinha onde belos pratos são feitos. Fora isso não há grande mudança e assim como todo o longa o cenário vai ficando repetitivo e enjoativo. Tomadas externas mais longas seriam mais interessantes, até mesmo para criar um vínculo entre a dupla de protagonistas. Ao deixar ambos apenas naquele território dá um ar de sufocamento no telespectador e a dupla.

Gosto se Discute não é dos melhores lançamentos brasileiros no ano e provavelmente será esquecido em alguns meses, assim como ocorre com a maioria dos filmes de comédia nacionais. O que dá para tirar de lição é sim a tentativa de mudança de Kéfera para tentar um público novo, algo que possivelmente não ocorrerá com essa fraca produção. 

Gosto Se Discute (Brasil – 2017)

Direção: André Pellenz
Roteiro: André Pellenz
Elenco: Cássio Gabus Mendes, Kéfera Buchmann, Gabriel Godoy, Mariana Ximenes, Paulo Gustavo, Paulo Miklos, Robson Nunes, Rodrigo López, Ronaldo Reis, Silvia Lourenço, Zéu Britto
Gênero: Comédia, Romance
Duração: 82 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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