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Crítica | Halloween Kills – Michael Myers vira Highlander

Lançado em 2018, Halloween surgiu como uma grata surpresa e recebeu inúmeros elogios da crítica, além de uma resposta positiva vinda da bilheteria mundial. Muito desse sucesso se deu devido a nostalgia causada pelo ressurgimento de Michael Myers, o assassino serial que retornou para provocar pânico à cidade de Haddonfield.

Com tamanho êxito era evidente que uma sequência viria, mas não com a força que os fãs esperavam. Halloween Kills: O Terror Continua (David Gordon Green) segue o modelo clássico dos slashers, com muita matança desnecessária, rios de sangue, lesões graves e muito mais. Mas mesmo assim, ao terminar de assistir ao longa, surge aquele sentimento de que faltou algo para criar uma narrativa mais empolgante e interessante.

Roteiro Superficial

Como quase toda continuação de um filme do gênero slasher é comum que alguns deslizes ocorram relacionados ao roteiro e com Halloween Kills não é diferente. Como era esperado, Michael Myers ressurge para se sabe lá fazer o que, até porque o objetivo do assassino, e que havia sido bem destrinchado no longa anterior, acaba por se deteriorar, não se sabe mais porque ele está matando, se é apenas para voltar para a sua residência que vivia quando criança, se é porque quer matar todos que tenham alguma ligação com o seu passado, sua motivação vai se tornando vaga com o tempo.

A conclusão que se chega a respeito deste novo episódio da franquia de terror é a de que o cineasta David Gordon Green queria fazer uma sequência com muita matança desproposital, entregando assim o que os fãs do gênero queriam ver, e assim deixou o longa vazio, sem uma história relevante por trás de todos os crimes. E justamente por ser vazio de novas ideias, sendo praticamente um repeteco do que aconteceu no longa de 2018 também dirigido por David Gordon, pensando assim em colocar novamente Myers andando pela cidade e matando, mais de uma hora de filme só sobre isso e sem acrescentar algo de novo que pudesse lançar luz para a franquia.

O resultado final é bastante decepcionante, com uma trama completamente rasa, digna de um slasher sem conteúdo, deixando bem claro que o trio de roteiristas, no qual David Gordon Green faz parte, não tem a mínima ideia de qual caminho tomar para dar mais força a narrativa, algo que não ocorreu em A Lenda de Candyman, com a franquia sendo completamente revigorada. O que o roteiro se propôs a fazer foi de apenas deixar Michael Myers mais assustador – para não dizer praticamente imortal – do que já era. O público já sabe que ele é um assassino forte, impiedoso e que mata por matar, sendo assim havia uma necessidade de pelo menos falar mais sobre quem é Michael Myers e nisso o roteiro falha, pois não há um mínimo debate sobre o seu passado – há sim um retorno ao passado, mas sem uma discussão aprofundada – apenas que é um assassino cruel, e isso todo mundo já percebeu.

A maior decepção de todas fica por conta da protagonista Laurie Strode, interpretada por Jamie Lee Curtis, e que é completamente jogada de lado nesta sequência. Tá certo que ela tomou uma fada quase que letal, mas mesmo assim Laurie é muito mal aproveitada, não tem falas de impacto e os diálogos que participa não empurram a trama para algum lugar que a narrativa possa crescer. O diretor teve a coragem de colocar uma personagem clássica e importante presa em um quarto de hospital, pensando assim em dar maior protagonismo para Allyson (Andi Matichak), filha de Laurie.

Retorno ao Passado

O roteiro até tenta fazer algo de novo, recontando uma parte importante da história da franquia e que esperava-se ser contada na primeira versão, que é respeito dos acontecimentos que ocorreram em Halloween: A Noite do Terror (1978), clássico absoluto dirigido por John Carpenter, e que teve uma sequência irregular e que praticamente impossibilitou novas continuações, que foi Halloween II.

O que os três roteiristas tinham em mente ao realizar esse retorno nostálgico ao passado, era o de trabalhar alguns elementos que pudessem ser usados em Halloween Kills, como a própria casa de Michael Myers, utilizando um flashback que foi montado para recontar como ocorreu a prisão do serial killer em A Noite do Terror, algo que até hoje não se tinha ideia de como ele havia ido parar no hospício pela primeira vez, e assim criando um elo com o longa de 2018.

Esse é um acerto do roteiro e novamente pegando os fãs pela nostalgia do longa dirigido por Carpenter. Outra questão que intrigava até hoje na franquia é o que teria acontecido com os personagens que sobreviveram a matança do primeiro filme de 1978, como o garoto e a garota que Laurie Strode cuidou naquela noite macabra. Há sim um retorno destes personagens, agora já adultos, que ficaram marcados pelo massacre e até hoje convivem com esse trauma, mas mais do que trazê-los de volta há também uma necessidade de confronto final, fechar as pontas soltas que tantos longas ruins da franquia fizeram e tentar assim dar uma continuidade para os próximos longas que se seguirão.

Halloween Kills: O Terror Continua poderia ter levado a trama para outro patamar, na realidade, o diretor poderia ter dado mais indicativos de como a narrativa iria continuar. Uma oportunidade perdida, assim como foi Halloween II, jogando novamente a franquia para um futuro incerto de assassinatos e banho de sangue. Que as próximas sequências pensem bem qual rumo tomar e o que fazer com Michael Myers, até porque ainda há muitas perguntas a serem respondidas.

Halloween Kills: O Terror Continua (Halloween Kills, EUA, UK – 2021)

Direção: David Gordon Green
Roteiro: Scott Teems, Danny McBride, David Gordon Green
Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, James Jude Courtney, Nick Castle, Airon Armstrong, Will Patton, Thomas Mann, Jim Cummings, Dylan Arnold, Robert Longstreet
Gênero: Crime, Horror
Duração: 106 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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