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Crítica | House of the Dragon chega à metade da temporada em episódio que recupera fôlego no final

Spoilers

Estamos, enfim, na metade da 1ª temporada de House of the Dragon que, embora se mantenha ótima, encontrou um quinto episódio bastante morno, mas que sedimenta tempestades importantes que virão somente em próximos anos.

“Resolvido” o escândelo envolvendo a donzelice de Rhaenyra Targaryen e o estorvo que Daemon se prova para o Rei Viserys, a corte embarca em uma breve jornada para Derivamarca a fim de consolidar a união da princesa com seu primo Laenor Velaryon, aproximando as duas casas após anos de más decisões de Viserys que afastaram Corlys, a Serpente Marinha, do pequeno conselho e da corte como um todo.

Focado em resolver os entraves políticos sem agitar um maremoto como vimos em episódios anteriores, o roteiro de Charmaine De Grate com We Light the Way, é um dos mais mornos da temporada até agora, ainda que recupere a chama nos minutos finais da exibição. Preenchendo as lacunas de Fogo e Sangue, fica claro que De Grate sofre um pouco com o episódio em questão em termos de narrativa.

Competindo com a escrita de Martin e sem contar com o auxílio do autor, nota-se uma dificuldade grande em conseguir surpreender o espectador ao firmar a enorme rivalidade que Sor Criston Cole criará com sua amada Rhaenyra. Apostando no seguro, o desafeto nasce de um coração partido, ressentido e repleto de mágoa com Criston notando que é apenas mais um peão de prazeres para Rhaenyra, acreditando que ele largaria o dever da Coroa para viver uma aventura.

Certamente dá muito mais sustância ao entrave que não possui detalhes sólidos no livro, mas também não impressiona. De Grate também dá muitas voltas com metaforas um tanto redundantes para explicar a homossexulidade de Laenor quando a direção eficaz de Clare Kilner já resolve a questão com uma breve cena envolvendo Laenor com seu amante sor Joffrey.

É uma pena, porém, que o episódio envolva muita embromação quando começa espetacularmente bem, trazendo mais vileza para Daemon ao encontrar sua esposa Rhea Royce e causar um acidente bastante agonizante. A cena, por mais que tenha pouquíssimo texto, é bastante tensa e exibe os talentos de Kilner na direção.

Por mais que a cineasta seja inimiga de uma encenação mais complexa, nota-se o afinco dela permitir que o elenco brilhe como no caso de Fabien Frankel que rouba todas as suas cenas ao mostrar um sor Criston completamente tomado por seus impulsos e sofrendo com olhares obsessivos. A diretora também busca pautar toda a sua encenação com a questão do olhar, sempre o maior ímã de instrução para o espectador.

Toda a cena do banquete e casamento, ainda que tediosa, é montada com paciência através dos olhares de desprezo entre a corte e seus súditos que mostram a crescente divisão na nobreza do reino.

O mesmo ocorre com o ponto alto do episódio ao exibir Paddy Considine, como sempre excelente, ao interromper seu próprio discurso levando o espectador a crer que Viserys havia sido acometido por um AVC quando na verdade se tratava de um choque escandaloso ao ver Alicent chegando atrasada ostentando seu belíssimo vestido verde, cujo evento é importantíssimo para definir os lados da vindoura guerra civil.

Existem outros fatores dignos de nota, além do final muito bem justificado na explosão irada de sor Criston, cansado de se sentir uma marionete da corte, ao impelir um ataque visceral contra sor Joffrey. Um dos fatos que mais chamam a atenção é a evolução intensa do quadro médico de Viserys. A lepra, hanseníase, do rei já dá sinais claros que vai torná-lo um rei amputado, debilitado e sem governança alguma no futuro.

Por fim, é bastante importante a cena entre Larys Strong com Alicent, pois já torna o personagem que só orbita a corte e que foi visto brevemente no 3º episódio mais conhecido do público. Larys será um dos aliados mais complexos e importantes para a rainha, atuando principalmente como Mestre dos Sussurros – aliás, toda a família Strong já cresce aqui, com Lyonel assumindo o posto da Mão do Rei.

Aliás, de modo bastante raro, é curioso como o episódio termina em um cliffhanger muito urgente envolvendo o futuro de sor Criston – afinal, caso o personagem termine por aqui, muita coisa pode mudar no cânone estabelecido nos livros.

É digno de elogios, também, todo o trabalho de design de produção do episódio. Trazendo muito cuidado nos cenários de Derivamarca, usando diversas peças de navios quebrados para ornamentar os móveis e peças da realeza. O mesmo empenho é visto na cena bastante cara do banquete para celebrar o noivado de Rhaenyra.

Uma pena, porém, que o primeiro elenco se despede em um episódio tão morno que não traz o ápice do trabalho de Milly Alcock e de Emily Carey (embora ela tenha uma boa cena com Rhys Ifans no começo do episódio). A conclusão ainda é boa, elevando o nível do texto e da direção, com Rhaenyra e Laenor se casando em uma festa destruída, sem amor e carinho, às margens da pressão neurótica dos pais, em um salão fúnebre cujo sangue quente do recém-assassinado Joffrey ainda alimenta ratazanas.

Poético e profético, pois é na Dança dos Dragões, são os ratos quem fazem a maior festa.

House of the Dragon – 01×05: We Light the Way (EUA, 2022)

Showrunner: Ryan J. Condal e George R.R. Martin
Direção: Clare Kilner
Roteiro: Charmaine De Grate
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Rhys Ifans, Milly Alcock, Emily Carey, Fabien Frankel, Graham McTavish, Sonoya Mizuno
Emissora: HBO
Gênero: Drama
Duração: 60 min

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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