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The House of Dragon é Game of Thrones em seu auge já no primeiro episódio

Spoilers

Nada mais belo e trágico do que ver a ascensão e queda da maior série da televisão no decorrer de seus nove anos de exibição. Acompanhei o fenômeno que foi Game of Thrones desde a sua estreia em 2011, completamente ignorando sobre a obra de cinco livros até então – e até agora, que inspirou a série.

O boom gigantesco pelo ápice da assimilação da linguagem cinematográfica e altíssimo valor de produção da série elevou Game of Thrones a um zeitgeist mais forte que o de Lost, outro fenômeno televisivo nos anos 2000. 

Entretanto, ao contrário de sua concorrência, Game of Thrones só cresceu até culminar em sua conclusão em 2019 que deixou uma miríade de fãs insatisfeitos, afinal a narrativa já havia superado a narrativa de George R.R. Martin e seus showrunners, David Benioff e D.B. Weiss, queriam alçar voos ainda mais desafiadores – todos frustrados pelo resultado negativo da conclusão da série. 

Em questão de apenas três anos do final de GOT, o mundo atravessou uma pandemia que conseguiu originar uma crise econômica catastrófica para o setor do entretenimento e quem mais sentiu a tragédia no bolso foi a Warner, dona da HBO. Agora com o estúdio adquirido pela Discovery, há uma sucessão de poder e mudança radical de pensamento a respeito dos produtos audiovisuais lançados: é preciso dar lucro acima de tudo. 

Com o CEO David Zaslav agindo de modo voraz e extremamente questionável no tato ao lidar com diversas produções artísticas com algumas sendo até mesmo destruídas para se livrar do fisco americano, a HBO sabe que o seu próprio futuro está por um fio e o fio se chama House of the Dragon que pode ser o ovo de dragão herdado da gestão anterior da Warner.

Os Herdeiros do Dragão

É extremamente curioso como a série envolvendo a sucessão de poder traz um discurso metalinguístico involuntário sobre a própria condição de sua produtora. Felizmente, House of the Dragon parece ter agradado o novo “rei” que já deu sinal verde para uma 2ª temporada e, de fato, a nova série da HBO pode ser um triunfo ainda maior que Game of Thrones já foi. 

Ocorrendo 172 anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen, a série já define claramente que seu foco é um só: as diversas crises de sucessão que acontecem na dinastia da Casa dos Dragões após uma tragédia ceifar a vida dos dois filhos do velho rei Jaehaerys que foi obrigado a criar uma cisão em sua família ao escolher seu sobrinho Viserys ante a própria filha Rhaenys. 

Com a sucessão definida, Viserys é declarado rei, já casado com a rainha Aemma, esperando o nascimento de Rhaenyra, primeira filha do casal, gerando outra enorme expectativa por uma nova gravidez de um menino, assegurando a sucessão do trono dos Sete Reinos. 

Sendo a série que vai estabelecer muitos dos fatos já vistos em Game of Thrones atravessando séculos de narrativa, não impressiona a condução notoriamente mais acelerada do excelente episódio piloto. 

Dirigido pelo showrunner Miguel Sapochnik, um dos maiores talentos estabelecidos da série original, a firmeza do ritmo impressiona e deve trazer um desgosto especial aos fãs que amaram o ritmo vagaroso das primeiras temporadas de Game of Thrones

Aqui, nada de fato parece “acelerado”, tendo a duração apropriada, trazendo já quatro acontecimentos extremamente relevantes que vão originar a infame guerra civil da casa Targaryen nos próximos episódios. 

Aliás, justamente por ser cria direta da série original, Sapochnik estabelece toda a estética e visual da série de modo que é impossível distinguir a diegese de House of the Dragon com a de Game of Thrones. Não há a menor diferença, a não ser um capricho maior dedicado às perucas brancas, ao Trono de Ferro, e aos dragões que possuem traços físicos muito mais pronunciados que os de Viserion, Drogon e Rhaegal.

Como já estamos acostumados, a alma da escrita de R.R. Martin está em seus personagens muito bem estruturados, com objetivos claros e intenções maquiavélicas. É impossível não comparar, mas agora que o público está conhecendo os Targaryen, nota-se que muito da inescrupulosidade dos Lannister é vista na Casa dos Dragões, mas com quês que a tornam um tanto mais interessante. 

Aliás, é importante notar que mesmo se tratando de uma série prequel de GOT, não há tempo para estabelecer fatos que deveriam ser conhecidos ao público desde 2011 como o fato da existência de relações incestuosas e consanguinidade ocorrendo com os Targaryen, explicando então muitos dos fracassos de Viserys conseguir viabilizar uma gravidez com sua esposa.

Todo o drama que circunda esse desejo voraz do rei em ter um príncipe rende a sequência mais agonizante do episódio em um parto brutal de Baelon que revela as faces de monstruosidade de Viserys – o ponto alto da direção de Sapochnik no episódio inteiro ao apostar em uma montagem paralela com o torneio mortal organizado em comemoração ao nascimento da criança. 

Ou seja, assim como a melhor característica de outrora, a permanência de personagens multifacetados é um alívio e isso deve ser ainda mais explorado nos próximos episódios, principalmente no núcleo que tange a relação de Viserys com Rhaenyra e a dela com seu tio Daemon. E ainda dela com sua dama de companhia Alicent Hightower, filha da Mão do Rei, Otto. 

As reviravoltas serão muitas e, novamente, quem não leu o livro original ficará bastante surpreso do modo como os acontecimentos transcorrerão no restante dos nove episódios nas próximas semanas.

Outro ponto que deixou muita gente apreensiva era justamente com o elenco que, novamente, é excepcional. Os destaques ficam para o trio principal desse primeiro arco temporal com Paddy Considine encarnando Viserys, um rei ao mesmo tempo fraco e meio maluco, Matt Smith como Daemon, o antagonista principal da série que rouba as suas cenas com um estilo despojado e ameaçador similar a Jaime Lannister, e a relativamente novata Milly Alcock, vivendo a jovem Rhaenyra, protagonista da série, que começa a ter seu arco narrativo delineado, principalmente em relação aos sentimentos mistos a Daemon e a seu próprio pai.

A Casa do Dragão

Torço firmemente pelo sucesso da série. O piloto já pode ser considerado um dos melhores já produzidos pela TV e o ritmo, uma das coisas que mais me incomodavam nas primeiras temporada de Game of Thrones, está nada menos que perfeito em House of the Dragon. Parece que a épica produção entendeu que o poder da síntese é realmente expressivo.

No entanto, por mais que o primeiro passo neste retorno ancestral a Westeros tenha sido brilhante e muito promissor, é preciso ter calma na expectativa, afinal ainda resta uma jornada de mais nove semanas até a conclusão da temporada que será decisiva para o futuro da HBO. 

Para mim, a emissora está em seu próprio julgamento por combate, com House of the Dragon disputando pela sua sobrevivência. Dessa vez, é melhor nada explodir nas mãos de outra Montanha – a da dívida colossal que impulsiona os cortes de gastos na melhor emissora de TV há décadas.

A Casa do Dragão 01×01: Os Herdeiros do Dragão (The House of the Dragon 01×01: Heirs of the Dragon, EUA – 2022)

Direção: Miguel Sapochnik
Roteiro: Ryan J. Condal, George R.R. Martin
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Rhys Ifans, Eve Best, Milly Alcock, David Horovitch, Steve Toussaint, Emily Carey
Emissora: HBO
Duração: 62 min.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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