Produções em que os protagonistas são desafiados a encarar a uma série de jogos de sobrevivência são bastante conhecidos na história do entretenimento, e acabam por se eternizarem na memória do espectador por trazerem aventura, ação e quebra dos limites. Jogo Perigoso segue direitinho essa cartilha ao colocar o jovem Dodge Maynard na missão de ter de salvar sua própria pele em um passatempo insano.
A premissa é bastante fácil de se assimilar e conhecida, em que Dodge ao descobrir ter um câncer terminal na cabeça, e de difícil cirurgia, também descobre por coincidência estar em situação financeira muito delicada, e como muitas pessoas que se encontram nessa fase da vida, em que não sabem como vão deixar a família depois que morrer, Dodge decide topar participar de um jogo ao estilo Jogos Vorazes, em que empresários bem sucedidos pagam para caçar por 24h pessoas para as matar. Claro que há algumas regras nesse game que são explicadas durante o longa, como o não uso de armas de fogo e a não comunicação com a polícia, um esquema sofisticado para uma brincadeira macabra.
Corrida Frenética
O que é possível ser visto nas duas horas de Jogo Perigoso é uma corrida contra o tempo do protagonista. No primeiro ato há toda a construção da ideia de se desenvolver o drama pelo qual Dodge passa, apresentando sua doença, sua falta de dinheiro e sua escolha em participar de um jogo tão maluco, em que ele precisa ficar vivo por 24 horas ou morrer. Esse drama é construído, sendo amarrado de uma maneira inteligente no ato final, com uma reviravolta que irá surpreender o público. Miles Sellers (Christoph Waltz), o homem encarregado pela estrutura do jogo envolvendo pessoas bem sucedidas que pagam para caçar pessoas em estado terminais, é inserido como um homem “do bem” na trama, que surge para ajudar Dodge Maynard e sua família, mas que logo adiante, surpreendentemente, descobrimos que na realidade é um vilão daqueles que encontramos em filmes como os de James Bond.
Jogo Perigoso nasceu como uma série de TV em 2020 pela plataforma Quibi, que acabou falindo e depois foi comprada pela Roku, sendo posteriormente exibida pelo Roku Channell. Foi então que a Amazon comprou os direitos da produção para exibi-lo em seu streaming e comprimiu seus quinze episódios em apenas um filme só, com uma narrativa que no fim das contas funciona ao nos convidar a assistir esse espetáculo maluco envolvendo Dodge. É natural que o roteiro deixe algumas pontas soltas, isso se deve por se tratar de uma série de TV, que tem um ar meio armador. Isso fica claro no ato final com as pontas soltas que ficam envolvendo alguns dos personagens.
Com reviravoltas que funcionam, o roteiro acerta ao dar maior dinâmica para as cenas de ação, que queira ou não são o principal atrativo deste tipo de produção. Filmes ao estilo Busca Implacável ou John Wick, em que o protagonista precisa correr alucinadamente pela cidade o tempo todo, ou fugindo de alguém ou correndo atrás de alguém, dão certo pelas sequências de ação serem bem executadas e coreografadas, não apenas as cenas de luta, mas também todo o envolvimento que o desempenho sugere, como também a perseguição, a violência e as explosões que estão envolvidas, e nisso o longa dirigido por Phil Abraham tem de monte.
É verdade que o roteiro mesmo sendo vazio, pois não há uma ideia nova e nem nada que se acrescente de novo em um gênero já saturado em meio a tantas ideias iguais ou parecidas, há pelo menos há uma tentativa em se fazer algo de diferente ou de se fazer algo fora da caixinha ao trazer o protagonista, um homem doente em primeiro momento e que será caçado até a morte por toda a cidade em um game ao modo survivor de diversão, muito parecido com o de Round 6, mas em vez dos empresários assistirem aos jogos eles participam pessoalmente dos jogos, algo que já se mostra algo diferente. E isso em si já prende a atenção, o do porquê destes empresários bem sucedidos quererem participarem de jogos tão macabros e sádicos. Nisso o roteiro se sai bem, pois consegue trazer vilões que são pessoas comuns e ao mesmo tempo cruéis.
Um Thriller Divertido
Phil Abraham conta em seu currículo com diversos trabalhos, sendo a maioria feitos para a televisão, como The Walking Dead, Demolidor e Jack Ryan, portanto é um nome certo e com experiência para trabalhar em um projeto em que precise de certas doses dramáticas e de adrenalina, e nisso o cineasta e se sai bem em manter não apenas a atenção do público, mas também em saber como contar a história, ao usar e adaptar referências já conhecidas da cultura pop, como Breaking Bad e o já mencionado Jogos Vorazes.
Por ter um elenco reduzido é natural que toda a atenção esteja voltada para o protagonista e sua fuga frenética pela cidade, mas mesmo assim há de se notar na presença de outro personagem secundário que está ali para equivaler ao peso de Dodge, no caso Miles Seilers. Os dois personagens são interessantes, são carismáticos, mas falta algo em ambos, uma camada de profundidade, principalmente de desenvolvimento, ainda mais em relação a Miles, pois ninguém tem a mínima ideia de como ele surge na narrativa nem como ele some dela.
Jogo Perigoso tem tudo para ser um dos grandes sucessos da Amazon Prime Video, pois o serviço de streaming adora investir neste estilo de gênero, isso se lembrarmos de séries consagradas, como Hanna e Jack Ryan. A grande questão é se o público comprou a ideia da produção a ponto de se tornar fã da marca e ter entusiasmado a plataforma a criar uma franquia duradoura. É esperar para ver.
Jogo Perigoso (Most Dangerous Game, EUA – 2020)
Direção: Phil Abraham
Roteiro: Scott Elder, Josh Harmon, Nick Santora, Richard Cornnell
Elenco: Liam Hemsworth, Sarah Gadon, Christoph Waltz, Zach Cherry, Aaron Poole, Chris Webster, Devon Bostick, Billy Burke, Al Sapienza, Natasha Liu Bordizzo
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 127 min.