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Crítica | Jojo Rabbit – Um Retrato sobre o Perigo do Fanatismo

O nazismo e o terror cometido na Segunda Grande Guerra já serviram como base de roteiro dos mais diversos títulos no cinema. Steven Spielberg, em O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler, apresentou com maestria esse tema em que o mundo acabou emergindo em devastação total. Em O Pianista o cineasta Roman Polanski apresenta pela óptica de um sobrevivente a destruição da Polônia e mostra como a guerra pode destroçar uma nação.

Desta vez foi a o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) que revisitou este período que tanto marcou e deixou cicatrizes no mundo com o ótimo Jojo Rabbit, um filme que narra de maneira simples e que utiliza de elementos simbólicos para contar o cotidiano de um garoto fanático pela ideologia nazista.

Na trama, Jojo (Roman Griffin Davis) é um garoto que vive a rotina do cotidiano do regime nazista e cresce no ambiente da juventude hitlerista, junto com outras crianças que terão o mesmo destino que ele. Jojo é enviado para um acampamento, em que é ensinado pelo Captain Klenzendorf (Sam Rockwell em outra interpretação fantástica) a odiar os judeus e aprender que a raça ariana é suprema.

Esse primeiro ato é um verdadeiro baque, em que conta a trajetória do protagonista Jojo, e também um choque de realidade para o telespectador que se insere na narrativa e na história do garoto. Pois é realmente um terror ver como aquelas crianças estão sendo treinadas para matar, para praticar o holocausto contra semelhantes judeus, e como tudo aquilo é feito em detalhes.

O ódio apresentado neste primeiro ato é apenas algo que será trabalhado e será dialogado durante toda a trama e que o roteiro irá seguir por todo o filme, pois o fanatismo do garoto irá se tornar algo realmente doentio. O ódio por judeus será algo tão grande que Jojo irá realmente acreditar que eles são o perigo da nação, e esse ódio só será vencido com amor, conhecimento e amizade, e o roteiro trabalha esses temas de forma acertada.

O diretor Taika Waititi usou de sua perspicácia ao trabalhar o roteiro, adaptado da obra de O Céu que Nos Oprime, de Christine Leunens, e sua direção é bastante competente, pois consegue tirar muito do peso apresentado em um filme que tinha tudo para ser trágico. Waititi é um diretor acostumado com histórias mais cômicas, um exemplo é o seu longa O Que Fazemos Nas Sombras, um falso documentário em que apresenta a rotina de vampiros, com ótimas cenas de humor.

Em Jojo Rabbit não é diferente, principalmente no primeiro ato, em que vimos um garoto com uniforme nazista, e que há todo aquele choque por assimilar toda essa informação. O diretor usa muito o humor para tirar a carga pesada que o filme teria e faz o público chorar de rir com o que é apresentado, parece até uma comédia, mas não é, é um drama muito, muito pesado.

Outro fator inteligente utilizado por parte da direção de Waititi é o fato da história ser contata através do ponto de vista de Jojo, o garoto que descobre o quão dura uma guerra pode ser. Muitas produções do gênero de guerra já utilizaram desse artifício de contar uma história e criar o roteiro usando uma criança como protagonista. Filmes como O Menino do Pijama Listrado (2008), A Menina Que Roubava Livros (2013), A Vida é Bela (1997) usaram crianças para contar as tramas não apenas pela ingenuidade e inocência que elas passam, mas também por que são as crianças o elo mais fraco de uma guerra surreal e cruel, que vítima muitas pessoas inocentes, e queira ou não são os jovens os maiores alvos de uma guerra.

Há um toque nonsense em Jojo Rabbit que beira os absurdos apresentados no filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975) que é justamente o personagem Adolf Hitler, aqui interpretado por Taika Waititi, que surge conversando com Jojo durante todo o filme. Esse elemento é justamente colocado em tela para não apenas servir como válvula de escape para ter com quem o garoto conversar, mas também para Jojo lembrar a ele mesmo o motivo dele ser fanático, do por que ele odiar judeus, pois não há um motivo aparente para isso. O ódio puro e simples que ele desenvolveu e quer por que quer odiar o próximo, mas no fundo Jojo é puro e de bom coração, e durante a trama o público vai descobrindo isso, pois o roteiro vai nos mostrando isso com as conversas que vai tendo com Elsa ao longo do filme.

O elenco é o forte de uma produção que cativa com seus personagens carismáticos. Sam Rockwell interpreta um caricato e bobo oficial nazista, o mesmo pode-se dizer da dupla Alfie Allen e Rebel Wilson, que aqui encontra uma personagem à altura. Já Thomasin McKenzie (Elsa) está ótima como a judia que vive escondida na casa de Jojo, sua atuação é contida, mas não por isso interessante e sublime. Roman Griffin Davis (Jojo) também é uma grande surpresa, o garoto não deixa a peteca cair nas cenas individuais, chama a responsabilidade e com facilidade deixa o público preso na tela, faz o telespectador rir e chorar em diversos momentos. Mas a cereja do bolo está mesmo com a performance de Scarlett Johansson (Rosie), mesmo tendo tão pouco tempo de tela está exuberante. Tá certo que a personagem ajuda bastante por ser interessante e intrigante, com sua interpretação contida e nada superficial.

Jojo Rabbit é um ótimo drama sobre a guerra que serve como uma reprodução de como eram os tempos sombrios da época de Adolf Hitler, mas que também serve como uma discussão dos tempos atuais, em que o fanatismo exacerbado corrói a mente de muitos jovens, e queira ou não vale para analisar muito de como esse fanatismo destrói uma nação e acaba por criar o caos em várias estruturas sociais. Jojo Rabbit é um filme que precisa ser visto e revisto, e analisado a fundo, e sua mensagem é tão profunda importante quanto o seu simbolismo.

Jojo Rabbit (Jojo Rabbit, Alemanha – 2019)

Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi, Christine Leunens (Livro)
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephen Merchant, Archie Yates
Gênero: Comédia, Drama, War
Duração: 113min

 

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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