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Crítica | Maestro – Uma homenagem ao legado de Leonard Bernestein

Bradley Cooper busca freneticamente, podemos dizer assim, o seu primeiro Oscar. Indicado quatro vezes na categoria de Melhor Ator, o astro aposta em um novo projeto. Trata-se de Maestro, uma biopic que reproduz a vida do músico Leonard Bernstein e que tem como objetivo trazer à tona e popularizar o legado do artista. 

Após dirigir de forma competente o filme Nasce uma Estrela (2018), produção que já havia ganhado outras versões para o cinema, desta vez o cineasta e ator trabalhou com uma história mais autoral e contou com cooperação como produtor de Martin Scorsese (Assassinos da Lua das Flores). E Cooper não decepciona, a produção é incrivelmente bem dirigida e traz ótimos diálogos e reflexões. 

Leonard Bernstein pode não ser um nome popularmente conhecido pelo público em geral, mas é sabido que foi um dos grandes expoentes da música erudita contemporânea americana. Ele foi responsável por criar obras importantes para a Broadway, como o conhecido Amor, Sublime Amor (West Side Story), além de ter contribuído para a popularização da música clássica entre o grande público, antes vista como algo elitista.

Vida e obra de um artista

Por ser uma cinebiografia focada mais na vida pessoal de Bernstein do que propriamente em sua vida artística, mais especificamente em seu relacionamento com sua esposa Felicia Montealegre (Carey Mulligan), o longa tenta dar maior ênfase a outros temas, como a conexão de Bernstein com seu amante e sua ligação com a música. No entanto, o cerne da trama é apresentar a rotina de Leonard e sua companheira como casal.

Comparando com outra cinebiografia de grande sucesso entre os espectadores, como o caso de Bohemian Rhapsody (2018), que optou por deixar de lado questões mais pessoais sobre Freddie Mercury para se concentrar exclusivamente na trilha de sucesso do grupo Queen, Maestro aborda a vida de Leonard Bernstein de maneira diferente. O filme foca quase que unicamente no homem Bernstein, explorando não apenas sua trilha de sucesso, mas também intimamente sua vida pessoal, o que é um grande acerto por parte do roteiro.

O roteiro, de autoria de Bradley Cooper e co-escrito por Josh Singer, além de se concentrar em apresentar ao público o ser humano Leonard Bernstein, também tem como objetivo introduzi-lo a uma audiência atual e que desconhece o histórico personagem. 

O filme explora de maneira inteligente um elemento peculiar para uma produção sobre música: o silêncio. Essa escolha é eficaz e irônica, já que se trata de uma cinebiografia sobre um músico consagrado. Contribuindo, assim, para que a narrativa seja trabalhada em cima das relações humanas e dos dramas pessoais do artista.

Uma história recheada de camadas

O rico roteiro é repleto de camadas e momentos reflexivos a serem explorados. O relacionamento com a esposa e a filha, a fama, o dia a dia de seu trabalho como músico e, principalmente, um elemento que merecia mais destaque por parte de Cooper e só é apresentado com mais força a partir do segundo ato, que é a questão da homossexualidade do maestro. O personagem se vê obrigado a esconder seu relacionamento do público, gerando assim uma crise conjugal e dando mais destaque à personagem de Felicia.

Na primeira uma hora do filme, a sexualidade de Bernstein é um elemento bastante secundário na trama, só ganhando mais destaque no segundo ato, quando o artista se vê obrigado a esconder a verdade de sua filha e do público, motivado pelo medo das consequências sociais. Cooper aborda essa questão com muita sensibilidade e emoção, lembrando a semelhança ao que foi feito em O Segredo de Brokeback Mountain (2005), coincidentemente, também com Carey Mulligan no centro da história.

A direção de Bradley Cooper, se não é perfeita, pelo menos é bem encaminhada, e as escolhas do cineasta em explorar certos momentos da vida do músico são acertadas. O longa começa colorido, e ao retornar ao passado para narrar o início da trajetória de sucesso de Bernstein, há uma alteração na paleta de cores para preto e branco

É bastante provável que parte do público considere Maestro um filme parado ou até mesmo entediante, e a verdade é que seu ritmo é, de fato, maçante, concebido de maneira intencional. Os longos takes com diálogos extensos e situações pouco relevantes à narrativa contribuem para essa sensação. No entanto, quando a trama se concentra em Leonard Bernstein regendo, torna-se um espetáculo à parte. Em uma belíssima cena, Bernstein conduz uma orquestra em uma catedral, apresentando a Segunda Sinfonia de Mahler. Cooper entrega uma atuação magnífica, elevando a música ao seu ponto alto.

Bradley Cooper está fantástico, e não seria nenhum exagero afirmar que merece, no mínimo, uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Apesar de alguns overactings contidos, Cooper utiliza a técnica de forma a entregar uma atuação carregada de emoção, sem transformar seu personagem em uma versão caricata de si mesmo.

É verdade que Maestro é uma aposta da Netflix para a temporada de premiações, com foco no Oscar, e a obra é sim intrigante, simbolizando um período de ouro para os americanos. Trazer à luz a vida de um artista tão conhecido e que havia sido deixado de lado pelo público atual é um dos grandes acertos da produção. 

Maestro (idem, EUA – 2023)

Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Josh Singer
Elenco: Carey Mulligan, Bradley Cooper, Matt Bomer, Vincenzo Amato, Michael Urie, Brian Klygman, Nick Blaemire
Gênero: Biografia, Drama, História
Duração: 129 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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