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Crítica | Megatubarão 2 só abraça o ridículo quando é tarde demais

Sucesso surpresa da Warner Bros em 2018, Megatubarão marcava uma tentativa séria do estúdio em levar o fator trash de franquias como Sharknado com a escala gigantesca de um blockbuster milionário. A empreitada garantiu uma rara colaboração entre um estúdio americano com produtoras chinesas, e uma nova franquia teve início, levando como base a extensa série de livros de Steve Alten.

Seis anos depois, a Warner inesperada resolve voltar para o oceano e com suas criaturas pré-históricas para Megatubarão 2, que mantém a proposta absurda de seu anterior, mas infelizmente não encontra muito o que fazer com suas (limitadas) novas ideias.

A trama volta a acompanhar o mergulhador Jonas Taylor (Jason Statham), que segue trabalhando para o Instituto Oceânico na exploração de uma fenda localizado  quilômetros abaixo do mar. Durante a expedição mais recente, a equipe de Jonas é sabotada por espiões, que acabam por liberar novas classes de tubarões megalodontes para a superfície.

Assim como seu anterior, Megatubarão 2 tenta andar na corda bamba de um filme “sério” enquanto promete as artimanhas de um grande festival trash. O problema é que, mesmo quando o longa aposta em uma trama risível pautada em espionagem industrial, empresárias maquiavélicas e até mesmo mercenários espanhóis com vendetas pessoais com o protagonista (!), é difícil levar a sério. Não ajuda que o roteiro assinado por Dean Georgaris e a dupla Erich e Jon Hoeber seja inchado e patético, apresentando um material que parece destinado à porção narrativa de filmes pornográficos, mas tratados com a seriedade de um Tubarão, de Steven Spielberg, pela direção de Ben Wheatley.

Wheatley, por sinal, é uma escolha inesperada para comandar Megatubarão 2. Substituindo Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido). Tendo dirigido produções de “prestígio” como Free Fire: O Tiroteio e No Topo do Poder, o cineasta britânico faz um trabalho competente e bem superior à qualidade do roteiro. Ao lado do diretor de fotografia Haris Zambarloukos, Wheatley aproveita os valores de produção de sets, cenários e até mesmo de paisagens submarinas, garantindo uma sequência impressionante de caminhada na fossa oceânica – perfeitamente iluminada pelos trajes coloridos dos personagens.

O trabalho de câmera de Wheatley também é formidável, mesmo quando esteja voando para acompanhar reviravoltas novelescas ou encontrar ângulos criativos para as mais banais trocas de diálogos. Wheatley, curiosamente, só não traz essa mesma inspiração no ponto em que Megatubarão 2 deveria triunfar: o terceiro ato que abandona qualquer senso de realismo e “seriedade” para se entregar ao pastelão, seguindo as peripécias de três tubarões megalodontes e um polvo gigante em meio a uma ilha de turistas. É uma cópia maior e mais complexa do clímax do anterior, mas que acaba perdendo o carismático Jason Statham (incapaz de entrar na brincadeira) para o super star chinês Wu Jing – garantindo alguns dos momentos mais embaraçosos do cinema hollywoodiano em 2023.

Finalmente respondendo a pergunta de como seria um filme de Tommy Wiseau com orçamento de US$140 milhões, Megatubarão 2 é uma experiência absolutamente ridícula, mas que só se dá conta disso durante seus minutos finais. No que diz respeito ao trash 100% assumido, Sharknado ainda é a opção mais divertida.

Megatubarão 2 (Meg 2: The Trench, EUA/China – 2023)

Direção: Ben Wheatley
Roteiro: Dean Georgaris, Erich Hoeber e Jon Hoeber, baseado na obra de Steve Alten
Elenco: Jason Statham, Wu Jing, Sienna Guillory, Cliff Curtis, Page Kennedy, Skyler Samuels, Sergio Peris-Mencheta, Shuya Sophia Cai
Gênero: Aventura, Ação
Duração: 116 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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