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Crítica | MIB: Homens de Preto – Internacional – Reboot esquecível e sem charme

Levou tempo, mas finalmente tivemos um filme da franquia Homens de Preto sem o elenco original. A era do reboot chegou aos MIB, que troca a dupla carismática de Will Smith e Tommy Lee Jones, que protagonizaram três filmes divertidos e estimulantes, para dar espaço a Chris Hemsworth e Tessa Thompson neste MIB: Homens de Preto – Internacional. Infelizmente, o resultado fica bem abaixo do nível da franquia original.

A trama é ambientada no mesmo universo dos filmes anteriores, mas muda a perspectiva e a locação. Aqui temos a estudiosa Molly (Thompson), que teve um encontro com os Homens de Preto ainda quando criança, e passou toda a sua vida tentando encontrar a misteriosa organização MIB para se juntar a eles. Sendo recrutada na divisão de Nova York para se tornar a Agente M, ela logo é enviada para a divisão de Londres, onde o Grande T (Liam Neeson) a junta com o badalado Agente H (Hemsworth) para proteger um diplomata alienígena que está na mira de dois invasores misteriosos.

Um legado apressado

É uma proposta interessante para um remake. Mais um remanescente do chamado “legacyquel” popularizado por Star Wars: O Despertar da Força, o roteiro de Matt Holloway e Art Marcum apostam em um mundo já estabelecido e com mitologia própria, mas que agora ganha a perspectiva de um novo personagem. O problema é que, sinceramente, Homens de Preto só esteve ausente nas telas por 7 anos, não oferecendo muito tempo para que um “legado” exigisse uma sequência, e a dupla fracassa nesse quesito. Todo o arco de Molly é apressado, com a personagem descobrindo a localização do MIB de forma fácil e sendo recrutada para a agência através de uma sequência de montagem genérica – sendo este o momento em que deveríamos estar nos afeiçoando à ela, mas a dupla claramente está interessada em chegar direto à ação.

Tamanha essa preocupação que já vemos os problemas de estrutura logo nos minutos iniciais. Começamos com uma cena de ação para introduzir o H de Chris Hemsworth, apenas para termos um súbito flashback para 20 anos atrás, onde veremos a infância de Molly, e então voltamos para o tempo presente para seguir a história. Qualquer montador lhe diria que seria muito mais organizado e lógico ter início com a infância de Molly, a fim de evitar duas digressões temporais no mesmo ato, mas parece uma clara interferência de estúdio. O mesmo acontece em outras cenas de ação do filme, que parecem não ter um propósito claro a não ser oferecer espetáculo, mas chegaremos a elas.

Mas se ao menos Molly tem um passado claro e uma motivação estabelecida (mesmo que seja um genérico desejo de “conhecer tudo sobre o universo”), o mesmo não pode ser dito acerca do Agente H de Chris Hemsworth. É uma folha em branco que o ator simplesmente preenche com seus tiques humorísticos e a postura do galã, e sinceramente não é tão diferente ou inovador quando comparamos seu Deus do Trovão mais abobalhado em Thor: Ragnarok ou até mesmo o Kevin do reboot de Caça-Fantasmas, sendo uma figura bem desinteressante e entediante de se passar 2 horas. Sobre a missão em si, é facilmente a mais genérica e sem graça dos três filmes de MIB, contando também com antagonistas que nunca trazem muita personalidade ou motivação aparente; principalmente quando a trama aposta na batida ideia do “traidor infiltrado na agência” que já apareceu em literalmente qualquer filme de agente secreto já feito.

Mas o pior elemento é mesmo o humor. Absolutamente nenhuma das piadas do filme é capaz de provocar uma mísera risadinha, com Hemsworth, Thompson e todo o elenco apostando no batido e cansativo estilo de comédia improvisada, que acaba deixando espaços de silêncio e constatações do óbvio como ironia – esqueçam o Saturday Night Live, gente. Mas isso também falha no personagem criado unicamente para o propósito de fazer piadas e garantir momentos de afeto: o pequeno alienígena Pawny, dublado pelo comediante Kumail Nanjiani, e que se torna uma constante fonte de irritação – seja pelo ator, ou pelo texto sem graça que é forçado a proferir. Confesso que minha única risada genuína foi ao reparar em um figurante que encontrava dificuldade em morder uma laranja, e o fato de eu estar reparando em figurantes demonstra o nível de empolgada que eu tinha durante a sessão.

As chaves de Sonnenfeld

No lugar de Barry Sonnenfeld, que dirigiu os três anteriores, temos a escolha curiosa de F. Gary Gray. Cineasta de gama versátil, ele já trouxe o drama biográfico pesado com Straight Outta Compton: A História do N.W.A. e mostrou que sabe lidar com grande escala no eficiente Velozes e Furiosos 8. Porém, sua visão mais “pé no chão” se mostra limitada para lidar com universos de ficção científica coloridos e povoados por criaturas fantásticas, que também decepcionam em seu design – afinal, a produção perde o genial maquiador Rick Baker para dar espaço a criaturas alienígenas CGI que não vão além do genérico, raramente soando convincentes.

Gray até consegue criar uma estética visual cativante através da paleta de cores bem equilibrada e contrastada do diretor de fotografia Stuart Dryburgh – especialmente na atmosfera noir das ruas escuras de Paris, mas pouco pode fazer na ação. Por mais que o design de veículos e armas tragam boas criações, suportadas por um design sonoro criativo, é uma condução sem muita inspiração, nem mesmo quando uma das oponentes traz um par de braços a mais. Pra piorar, o estúdio parece ciente da ação sem fôlego e garantiu que os compositores Danny Elfman e Chris Bacon entregassem a trilha sonora mais forçada e alta possível – e é assustador reparar em como a mixagem de som parece elevar a música a níveis muito mais altos do que os efeitos sonoros ou os diálogos. Quase desesperador, na verdade.

A verdade é que não precisávamos de mais Homens de Preto. Se este MIB: Homens de Preto – Internacional era o melhor que a Sony podia oferecer, então era melhor vivemos com a lembrança afetiva da trilogia original com Will Smith e Tommy Lee Jones; por mais que Tessa Thompson traga um nítido esforço aqui.

Mas eu queria mesmo era ter visto aquele crossover cancelado de Homens de Preto com Anjos da Lei. Aquilo sim parecia memorável, não este reboot que eu já esqueci mesmo sem ter olhado para a luz piscante de um neuralizador.

MIB: Homens de Preto – Internacional (MIB: International, EUA – 2019)

Direção: F. Gary Gray
Roteiro: Matt Holloway e Art Marcum, baseado nos personagens de Lowell Cunningham
Elenco: Chris Hemsworth, Tessa Thompson, Liam Neeson, Rafe Spall, Rebecca Ferguson, Kumail Nanjiani, Emma Thompson, Les Twins
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 114 min

 

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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