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Crítica | Mulher Maravilha: Espírito da Verdade

Em 2001 foi publicada a última graphic novel fruto da parceria entre o  excelente  roteirista Paul Dini e um dos maiores ilustradores dos quadrinhos, Alex Ross.  A dupla já tinha feito trabalhos maravilhosos na DC que ficaram consagrados, como Superman: Paz na Terra; Batman: Guerra ao Crime e Shazam: O Poder da Esperança.

Poucas pessoas escrevem estórias de super heróis como o Paul Dini, em todo roteiro que ele escreve, podemos perceber seu profundo conhecimento pelo  personagem e o mundo em que ele se insere, além de uma tremenda paixão que ele expressa por meio de suas palavras, assim ele consegue capturar como ninguém a essência do herói e Alex Ross impressiona como sempre com a sua arte realista, com um grau de detalhe absurdo, cada desenho um quadro para emoldurar.

A estória abre com uma narração de Hipolita, regente das amazonas e mãe de Diana que posteriormente se tornaria a maior super heroína de todos os tempos, ela conta sobre a difícil convivência entre os homens e as amazonas, de quando fundaram a sociedade de Themyscira na Ilha Paraíso e da eventual necessidade de se reaproximar do mundo dos homens que resultou na organização de um torneio para decidir quem seria a embaixadora, em que Diana se saiu vitoriosa, assim se tornando a Mulher Maravilha.

Depois dessa introdução temos a nossa protagonista correndo para salvar alguns políticos que haviam sido feitos reféns por um grupo terrorista e vemos o medo que a guerreira amazona provoca neles, depois vemos a Mulher Maravilha em seus diversos atos heroicos, como salvar pessoas de um incêndio e parar um assalto. Após toda essa ação, Diana volta a Themyscira, buscando um pouco de paz e tranquilidade ao lado de seu povo, quando vai falar com sua mãe, ela fala sobre o que a aflige no momento, seus atos em prol da humanidade nem sempre são reconhecidos pela mesma, Hipolita se solidariza com o problema da filha, mas não compreende, os homens deviam entender que ela está ali para ajuda-los.

A ideia do super herói em si, de que alguém todo poderoso está vigiando e vai nos salvar sempre, conhecendo ou não a vitima, sem preconceitos e sem julgamentos é bastante ingênua, tal ser nunca existiria no mundo real e o universo em que ele se insere é completamente fantástico, mas uma das particularidades dos quadrinhos Dini/Ross é divagar sobre como seria se eles estivessem em nosso mundo. Como eles veriam a humanidade? Como a humanidade os veria? Como eles mudariam o mundo?

Assim, Espírito da Verdade traz questões mais próximas da realidade do que o habitual nos quadrinhos da Mulher Maravilha, aqui Diana se pergunta se ela seria capaz de acabar com os conflitos no mundo e como ela alcançaria esse objetivo, já que as pessoas nem mesmo a compreendem, sendo recebida com hostilidade quando sua intenção é ajudar. Temos aqui a questão que move toda a trama do quadrinho. Ideia simples, mas poderosa.

Diana então busca conselho de um de seus amigos mais próximos, que ela acredita que possa sanar suas duvidas, Clark Kent, o Superman, como ela pensou, ele sabe a resposta melhor do que ninguém. Ela pergunta a ele o por quê dele insistir em manter a identidade do Clark Kent e não é o Superman o tempo todo, ele responde: “É simples, Clark Kent é quem eu realmente sou.”

Clark foi criado como um ser humano normal, por seres humanos normais, em uma fazenda, ele era Clark Kent muito antes de se tornar o Superman. Convivendo com pessoas normais a vida toda, tendo vivido como elas e no meio delas o faz ter um bom entendimento de como elas pensam, enquanto que a Diana foi criada em uma Ilha paradisíaca fantástica, isolada de toda humanidade, por guerreiras imortais e poderosas, pouco ela sabe sobre a raça humana, assim uma compreensão mutua torna-se difícil, mas Clark recomenda que ela se aproxime mais, misture-se com eles e veja pelos seus olhos, assim talvez ela perceba como eles a percebem.

Ela segue o conselho do amigo e assiste a um protesto de um país em crise. Ali ela percebe que seu objetivo não é exatamente resolver a crise e sim que os ânimos durante a manifestação permaneçam aceitáveis e não passem dos limites, podendo resultar em uma tragédia, temos um vislumbre da preocupação de Diana quase se realizando quando um dos manifestantes saca  uma arma, ela trata de desarmá-lo rapidamente e deixa o local.

Ela continua sua jornada pelo mundo como uma civil, encontra um país rico em florestas em que uma área que supostamente era para ser preservada estava sofrendo exploração, irritada com a situação, ela quebra os tratores, em outro país, devastado pela guerra ela se oferece como médica, cuidando dos feridos e depois se voluntariza para desarmar as minas, pensando que em outro dia ela poderia simplesmente detonar a bomba e absorver a explosão com seus braceletes, agora não o faz, pois sabe que ela pode facilmente tirar uma vida humana e agora ela compreende melhor o valor que isso tem.

Ela vai a um país no deserto como uma soldada e acaba ouvindo que habitantes foram usados como escudos humanos, ela então se disfarça como uma habitante do local, vestindo uma burca e é sequestrada, sendo diretamente levada para onde as pessoas estão, sendo chutadas brutalmente, Diana é recebida com bondade e gentileza pelas outras mulheres mantidas reféns e desafia um dos homens quando ele diz que elas serão transferidas, revelando sua identidade e salvando aquelas mulheres.

Após todas essas experiências, Diana se torna não somente uma super heroína melhor, mas também uma pessoa melhor, ela se descobre um ser como qualquer um de nós, cheia de contrastes e contradições e decide que vai continuar a seguir o conselho de Clark e permanecer mais tempo com uma identidade civil.

Mulher Maravilha: Espirito da Verdade é certamente uma das melhores estórias da personagem, captura a essência da personagem como nenhum outro quadrinho fez, a inserindo em um contexto mais realista e com o visual exuberante dos desenhos do Alex Ross. Esse, como todos os outros quadrinhos da dupla, merecem entrar no panteão de melhores HQs de super heróis já feitos.

 

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Publicado por Daniel Tanan

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