Quando um filme é inspirado em fatos reais ou utiliza de acontecimentos históricos para dar o pontapé inicial em sua trama para desenvolver a narrativa, é bastante comum que sejam contadas as ocorrências com bastante riqueza de detalhes de como aqueles fatos se sucederam, e é assim que o assustador O Assassino de Clovehitch se desenrola em tentar retratar a realidade.
No longa, que está disponível na Netflix, dirigido por Duncan Skiles, os fatos apresentados na história foram levemente inspirados no serial killer Dennis Rader, também conhecido como o Assassino BTK, no qual por 31 anos aterrorizou os moradores da cidade de Wichita, no Kansas, iniciando as matanças em 1974 e somente sendo preso em 2005 e pegando 175 anos de prisão.
Acima de Qualquer Suspeita
Na maioria dos filmes de suspense há uma grande necessidade em se esconder quem é o assassino ou o perseguidor que vai atrás de suas vítimas para lhes sequestrar ou matar. É um mistério aceito pelo espectador que compra a ideia e vai atrás junto com o detetive ou o mocinho em tenta desvendar e descobrir quem está cometendo a onda de crimes. Em O Assassino de Clovehitch o diretor meio que já entrega desde o primeiro ato, de uma forma sútil, com pequenos movimentos de câmera e de diálogos, quem é o verdadeiro criminoso, e isso não estraga em nada a experiência de assistir ao longa, pelo contrário.
O roteirista Christopher Ford (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) só se inspirou nos assassinatos cometidos pelo Assassino BTK, há algumas similaridades que lembram o modus operandi do criminoso. O roteiro cria uma trama com algumas diferenças em que Don Burnside (Dylan McDermott) é um homem bastante respeitado em sua comunidade e um pai de família que preza pela educação de seus dois filhos, religioso ele sempre dá lições de moral no filho mais velho Tyler Burnside (Charlie Plummer), até que Tyler começa a suspeitar que o seu pai tenha um passado um tanto quanto sombrio relacionado aos crimes de Clovehitch.
A escolha pelo diretor em retratar no longa os acontecimentos de uma forma diferente de como ocorreram é apenas um capricho do diretor mesmo e que serve para dar direcionamentos diferentes para a trama. Na realidade o cineasta só usou os crimes de BTK como pontapé inicial para criar sua narrativa. Já a decisão em entregar quem é o assassino muito rapidamente é feito para criar um elo com o espectador em saber que pode ser alguém próximo a Tyler, e Duncan Skiles constrói isso de maneira assustadora, dando um aspecto de um filme de terror para a relação entre pai e filho, entre cria e criatura.
O que chama mais a atenção do roteiro está em relação ao fato de trabalhar com a ideia do assassino ser alguém acima de qualquer suspeita, claro que muitas produções já fizeram isso, é uma reviravolta que geralmente pega a todos de surpresa, mas que nesta produção funciona de outra forma, pois Don Burnside além de ser um pai de família que se empenha na tarefa de cuidar dos filhos, também é um religioso que participa com esforço da comunidade que vive, ajudando outras pessoas. O roteiro ao colocar o assassino como um pai de família que ninguém suspeita e que faz atrocidades inimagináveis é algo realmente perturbador.
Thriller de Primeira
O suspense abordado em O Assassino de Clovehitch beira a atmosfera utilizada em thrillers com a temática de seriais killers. Não é tão fascinante como os grandes clássicos do gênero, sendo que o que prende mesmo a atenção é sua trama que foge do convencional. Mesmo que há alguns questionamentos a serem feitos em relação a narrativa, principalmente em relação ao seu final bastante discutível, com uma discussão abstrata sobre amor e ódio de Tyler para Don Burnside.
Não há um aprofundamento dos personagens, até porque não há necessidade disso, eles são apresentados da maneira que devem e o diretor o faz da forma mais sucinta possível, sem que soem de uma maneira superficial ou forçada, principalmente o vilão que é assustadoramente ótimo. Dentre o pequeno elenco que é apresentado Charlie Plummer se destaca com sua atuação, sendo que a cereja do bolo está na interpretação de Dylan McDermott que está fantástico no papel do “bom” pai.
O Assassino de Clovehitch passou batido quando estreou em 2018 e só explodiu mesmo depois de ter ido para a Netflix. É uma produção que tem os seus problemas de roteiro, mas que mesmo assim surpreende com sua trama intrigante e boas reviravoltas e por isso mesmo vale a conferida.
O Assassino de Clovehitch (The Clovehitch Killer, EUA – 2018)
Direção: Duncan Skiles
Roteiro: Christopher Ford
Elenco: Dylan McDermott, Charlie Plummer, Samantha Mathis, Madisen Beaty, Lance Chantiles-Wertz, Brenna Sherman
Gênero: Policial, Drama, Suspense
Duração: 109 min