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Crítica | Sobrenatural: A Última Chave – A Exaustão de uma Franquia

Antes de criar a prolífica franquia Invocação do Mal, que serviu para garantir o sopro de vida ao gênero terror, James Wan nos entregou Sobrenatural, uma obra que, mesmo com seus nítidos defeitos, abriu caminho para que o diretor se estabelecesse, de fato, como um dos nomes mais promissores do horror na atualidade e que, graças ao sucesso acabou gerando uma série de continuações. Tais sequências, no entanto, como a grande maioria das que vemos no mercado cinematográfico, simplesmente desgastaram a franquia, caindo na mesmice, enquanto Leigh Whannell, responsável pelo roteiro das obras, falha em construir uma história coesa e coerente, construindo não mais que uma linha do tempo bastante confusa.

A mais recente entrada da série, Sobrenatural: A Última Chave, assim como seu antecessor, funciona como prelúdio do primeiro filme, se passando pouco tempo antes dos eventos que assolaram a família Lambert. Após um prólogo, ambientado nos anos 1970, mais longo do que deveria, que gira em torno da jovem Elise Rainier, encontramos a mesma personagem, já idosa, nos anos 2010, vivida por Lin Shaye. Rainier trabalha lidando com assombrações em casas e recebe uma ligação de Ted Garza (Kirk Acevedo), que vive atualmente na antiga casa da senhora, mostrada no prólogo, dizendo que sua moradia é assombrada por espíritos. De início receosa, Rainier acaba decidindo voltar ao Novo México e enfrentar o que se encontra lá dentro da casa de sua infância. Junto de seus ajudantes, Specs (Leigh Whannell) e Tucker (Angus Sampson), contudo, ela descobre que a situação é muito mais complicada do que parece ser.

A escolha do roteiro de Leigh Whannell em utilizar parte do passado de Rainier, sem dúvidas, é um grande acerto, visto que poderia ser utilizada para desenvolver a personagem que conhecemos lá no primeiro longa da franquia e que novamente apareceu em Sobrenatural: A Origem. O texto, no entanto, desperdiça esse potencial ao lidar com a mesmice de sempre, introduzindo um novo demônio a ser combatido e uma série de aparições espectrais ao longo da narrativa. O mais agravante é que o ser das trevas da vez não é minimamente construído – não sabemos nada dele ou porquê ele está ali, quebrando qualquer conexão possível com o passado da protagonista, a não ser o fato que ele influenciou a mente dos homens que moraram ali – foi por acaso? Algo atraiu a criatura até ali? Jamais saberemos.

Lin Shaye, como sempre, não desaponta e, enfim, ela recebe o destaque que merece funcionando como a heroína da obra, único aspecto que pode ser considerado, de fato, inovador, já que dificilmente veremos alguém já na terceira idade salvando o dia em um filme de terror – basta ver o próprio primeiro Sobrenatural. Shaye se dedica ao papel, até mais do que o simplório roteiro de Whannell exige, convencendo-nos de seus receios e ressalvas em relação a esse caso. Infelizmente, ela tem de lidar com os constantes alívios cômicos do texto, todos girando em torno dos ajudantes de Rainier – doses de humor essas que quebram completamente nossa imersão e proporcionam alguns momentos de verdadeira vergonha alheia, nas quais os atores parecem não saber o que fazer em cena, assumindo interpretações robóticas, chegando a ser risíveis.

Claro que a direção de Adam Robitel, nesse seu segundo longa (o primeiro tendo sido A Possessão de Deborah Logan), não ajuda, fazendo uso de planos curtos em excesso, que não permitem a construção do suspense de fato. Com isso, tudo acaba se resumindo aos velhos jump scares, o recurso mais preguiçoso dos filmes de terror, com espíritos aparecendo, do nada, acompanhados por uma trilha que subitamente atinge o volume máximo. Não há refino qualquer desse longa em relação aos anteriores, provando como a franquia chegou ao lugar comum, a tal ponto que todos os eventos transcorridos aqui poderiam, facilmente, fazer parte de qualquer outro longa do gênero.

Existe apenas um ponto da trama que poderia render bons frutos, um evento, no meio do filme, que gira em torno de Ted Garza e que poderia ser utilizado para diferenciar essa entrada das anteriores da série. Whannel, porém, desperdiça esse ponto e acaba caindo na velha estrutura dos filmes de James Wan, na qual o problema parece ter sido resolvido, mas que, na realidade, ainda está longe de ser solucionado. Isso, naturalmente, torna toda a história extremamente previsível, quebrando ainda mais nossa imersão, que já não fora bem construída pelos outros falhos aspectos do filme. A impressão que nos é passada é que os realizadores envolvidos basicamente seguiram uma receita básica, mirando nos lucros e não na construção desse universo particular da franquia – vide a forma como tudo acaba.

Dito isso, não há como tecer grandes elogios para Sobrenatural: A Última Chave, que apenas perpetua a mesmice na qual essa série de filmes acabou mergulhando. Embora seja gratificante enxergar que Elise Rainier, enfim, tenha se tornado a heroína da história, não há muito mais que chame nossa atenção na obra, que basicamente segue a mesma cartilha dos anteriores, sem acrescentar quase nada. Sem nem mesmo conseguir construir uma atmosfera eficaz de terror, o longa se resume aos básicos cheap scares, configurando-se como uma obra para lá de preguiçosa, que meramente visa o lucro, ao invés de pavimentar um promissor futuro para essa franquia, que já deveria ter se aposentado.

Sobrenatural: A Última Chave (Insidious: The Last Key – EUA/ Canadá, 2017)

Direção: Adam Robitel
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Lin Shaye, Leigh Whannell, Angus Sampson, Kirk Acevedo, Caitlin Gerard, Spencer Locke, Josh Stewart, Tessa Ferrer
Gênero: Terror
Duração: 103 min

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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