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Crítica | Velozes e Furiosos 10 não sabe a hora de parar

Em andamento nos cinemas desde 2001, é de se admirar a resiliência da franquia Velozes e Furiosos em tentar construir uma narrativa e linha do tempo coerente. Sem reboots, alterações temporais ou prelúdios, a saga dos corredores de Dom Toretto permanece uma das histórias mais fascinantes de evolução de franquia em Hollywood, que atinge agora a marca impressionante de um décimo capítulo em 2023 – sem contar o derivado Hobbs & Shaw.

Após algumas turbulências nos bastidores, que contaram com a substituição do diretor Justin Lin (responsável por cinco dos dez longas da saga) pelo francês Louis Leterrier, já acostumado com pancadarias e carros após o sucesso de Carga Explosiva 2. Mas se Velozes e Furiosos já virou uma grande festa de linchamento público das leis da Física há tempos, Velozes e Furiosos 10 deixa bem claro que a piada já está ficando sem graça.

Na trama, Dom Toretto (Vin Diesel) lida com os desafios da paternidade ao cuidar de seu filho Brian (Leo A. Perry) ao lado da esposa Letty (Michelle Rodriguez). Mas a paz de Toretto e sua família de corredores é quebrada quando o lunático Dante (Jason Momoa) ressurge das cinzas dos eventos de Operação Rio para obter vingança contra os heróis.

Não que Velozes e Furiosos já tenha sido um exemplo de lógica narrativa, mas é realmente decepcionante encontrar neste décimo filme um retcon tão preguiçoso e sem graça quanto a introdução de Dante. O filho de um vilão do passado que o público não sabia que existia, e que serve à desesperada tentativa da franquia em exacerbar o lore e a mitologia de seus personagens – onde o próprio Diesel já comparou com o trabalho de J.R.R. Tolkien em O Senhor dos Anéis. Isso só torna a experiência de Velozes 10 extremamente repetitiva e cansativa, já que todas essas situações e suas variações já foram experimentadas antes, onde o próprio Velozes 9 já lidava com temas de paternidade e figuras obscuras do passado.

O roteiro escrito por Dan Mazeau e Justin Lin ainda peca por suas ambições exageradas ao quebrar o núcleo da história em múltiplas partes: em seus 140 minutos, o espectador seguirá a missão de Dom, os demais integrantes da familia perdidos em Londres, a subtrama bizarra de Letty com a vilã Cipher (Charlize Theron), o ex-vilão Jakob (John Cena) agindo como tio legal em um road movie e toda a saga de vingança de Dante. É uma estrutura que exigiria muito mais peso e elementos interessantes para os demais personagens, mas que deixa bem evidente que o filme em si só se importa com Toretto e Dante, com o restante da “Família” servindo apenas como distrações descartáveis. Curiosamente, o que faz falta é o roteirista Chris Morgan, que reformulou e entendeu as dinâmicas de equipe a partir de Desafio em Tóquio, e abandonou o barco após Hobbs & Shaw.

O que se salva mesmo é a adição de Jason Momoa. Ainda que sua inserção na trama seja absurda, o astro de Aquaman se diverte horrores na pele de Dante, que age como a figura anárquica e descontrolada aos moldes do Coringa da DC. Momoa é exagerado, afetado e não poupa nos maneirismos, dando origem a uma figura que passa longe de ser ameaçador ou um verdadeiro perigo, mas que é sempre capaz de injetar humor e pulso ao filme – invalidando completamente a ideia descartável de outro vilão do governo perseguindo Toretto (no caso, o inexpressivo Alan Richson). Um vilão carismático e que definitivamente merecia mais tempo.

Mas o que realmente importa em Velozes e Furiosos são as cenas de ação, disso não há dúvida. Entrando de última hora em uma produção que escalonou seu orçamento para a casa dos US$340 milhões, Leterrier se sai de forma eficiente em apresentar boas sequências de perseguição, lutas corporais e toda a escala cartunesca que a franquia passou a adotar em seus últimos anos. Infelizmente, após confrontos com tanques de guerra, cofres gigantes, submarinos nucleares na Antártida e até viagens ao espaço, parece ter pouco que Velozes possa fazer para surpreender e divertir o espectador, e o décimo filme certamente carece de um grande momento aos moldes dos anteriores.

O destaque fica para uma boa sequência de perseguição em Roma, onde Leterrier abandona um pouco a montagem excessiva e os efeitos visuais de apoio para uma cena com efeitos práticos notáveis e uma boa geografia da capital italiana. De quebra, é nesta sequência que Velozes 10 é capaz de oferecer ao menos um momento estupidamente brilhante, que envolve Toretto, um guindaste e uma bomba redonda. Definitivamente um dos destaques.

No fim, realmente não parece haver mais ideias malucas para a turma de Vin Diesel com Velozes e Furiosos 10. As maquinações de história e personagens surgem mais cansadas do que nunca, e com exceção do vilão de Jason Momoa, nem o espetáculo parece ser capaz de surpreender. Vai ser difícil aguentar uma segunda (e talvez até terceira) parte do encerramento.

Velozes e Furiosos 10 (Fast X, EUA – 2023)

Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Dan Mazeau e Justin Lin
Elenco: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Jason Momoa, Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel, Sung Kang, Jordana Brewster, John Cena, Charlize Theron, Jason Statham, Daniela Melchior, Brie Larson, Rita Moreno, Helen Mirren, Alan Ritchson
Gênero: Ação
Duração: 142 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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