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Artigo | Lições de Moral do tio Ben e da tia May para Jovens Revoltados

Se teve alguma coisa que fez bastante falta em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, com certeza foram as pertinentes lições de moral de tio Ben e tia May em Peter Parker. Mas na trilogia de Sam Raimi, tivemos insights valiosíssimos para o nosso herói do homem comum. Pela proximidade do Aranha com nós, reles mortais, muitas vezes os conselhos de seus tios também acabam nos atingindo. Aqui, selecionamos cinco deles para ajudar a passar pelos momentos difíceis da vida. Tragam seus lencinhos e partam de coração aberto para essa leitura.

Responsabilidade

Com certeza, ninguém gosta de levar um belo sermão. Desdenhando do conselho que guiará toda a sua vida, Peter Parker também não estava nem um pouco a fim de escutar tio Ben sobre os problemas oriundos da conturbada fase adolescente. Assim como Peter, muitas vezes estamos ávidos em atingir os objetivos no caminho mais fácil e rápido, porém sem muitas responsabilidades. Como descobre da pior forma, toda decisão terá uma consequência: umas graves, outras brandas. Por isso, há o discurso do “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Podemos ser capazes de grandes feitos, tanto para o bem quanto para o mal, mas há que se pensar as consequências dessas ações. Pensar no próximo e em si mesmo. Algo que pode nortear melhor as relações interpessoais na escola e fora dela. 

Dever

Em uma das cenas mais bonitas de Homem-Aranha 2, Peter sonha acordado com tio Ben, buscando sua sabedoria para nortear novamente sua vida quando tudo parece estar perdido. Porém, em uma ótima reviravolta, é justamente nesse encontro espiritual que Peter segue o inverso do conselho de tio Ben e desiste abandonar os deveres. Com essa ausência, os picos de crimes retomam em NY, mas oferece tempo do herói endireitar sua vida pessoal. O conselho também se aplica no nosso cotidiano. Sem realizarmos os deveres com honradez, plenitude e amor pelo ofício, há a perda de sentido nisso tudo o que pode guiar para decisões egoístas assim como aconteceu com Peter. É preciso um equilibrar o Dever com a Diversão, nunca com um tomando o espaço do outro. No descompasso, somente quando sua amada corre perigo que Peter deixa o Homem-Aranha voltar em sua vida.

https://www.youtube.com/watch?v=Xo1-Gk1uWA4

Heroísmo

Ainda durante sua crise de identidade, Peter revisita tia May durante a sua mudança recebendo mais um sermão valioso para todos nós: a importância do heroísmo. Mas, no caso, não sobre o ato heroico que cada cidadão pode fazer com pequenos atos de caridade e amor, mas sim sobre a nossa necessidade de heróis como inspiração para as batalhas do dia a dia. “O que o Goku faria? O que o Batman faria? O que a Mulher-Maravilha faria?”. Imagino que já tenha feito essa pergunta para si mesmo na infância. É justamente disso que a tia May ensina para Peter aqui: o heroísmo vai muito além do ato heroico. O discurso de ação e reação novamente entra aqui: pelo dever e responsabilidade, Peter influenciava e inspirava a vida de milhões de pessoas. O heroísmo vira símbolo e o homem vira lenda. Para o nosso cotidiano, é sempre saudável se inspirar por atos de pessoas bondosas que fizeram diferença crucial para melhorar a nossa qualidade de vida na História. Depois, da teoria e da meditação da ideia, é hora de partir para a prática. 

https://www.youtube.com/watch?v=rvTCQ9DbMyw

Vingança

Os nossos desejos também são influenciados pela maldade. Quem nunca desejou o mal do outro na vida? Peter, cego pela raiva, decidiu colocar em prática sua sede de sangue depois de descobrir que Flint Marko era o principal responsável pelo assassinato de seu tio. Pagar sangue com sangue. Obviamente que a vingança nem sempre precisa ser extremada a ponto da morte ou de causar mal físico para alguém. Hoje, mais do que nunca, infligir dor psicológica está a apenas um teclado de distancia (e nem precisa ser do computador). Com o anonimato garantido e motivado por humilhações sofridas na vida real, é fácil nos seduzirmos a ponto de virarmos o monstro que também nos infernizou em algum momento na vida.

A impessoalidade da internet apenas deu força para propagar ódio gratuito, atacando pessoas somente pela banalidade da agressão, nos tornando animais estúpidos sem ao menos dar a chance ao debate civilizado de ideias. Sem percebermos, acabamos ultrapassando a vingança a ponto de nos tornarmos a maldade personificada. Participando de diversos grupos de zoeira, não é difícil notar como sempre alguém se torna o saco de pancada do outro. O que era para existir pouco, acaba se perpetuando pelo ciclo sem fim de agressões psicológicas estúpidas. Nos vingamos de pessoas que nem mesmo fizeram qualquer coisa para nós. É justamente por isso que May diz: a vingança é como veneno, vícia. Ou como eu digo: o Karma é infalível, o imponderável não perdoa, essas pessoas que estimam a maldade só acabam encontrando o infortúnio, a infelicidade e, merecidamente, o esquecimento. 

Perdão

Uma das virtudes cada vez mais raras nos turbulentos dias de hoje: o perdão. Ultrapassando a raiva, Peter compreende que sua ação não aliviou a dor. A violência apenas o guia para caminhos cada vez mais sombrios e com menor chance de redenção. May, sabiamente, intervém no meio dessa loucura de Peter, já em luto pelo fracasso do relacionamento com Mary Jane. O perdão aqui é o perdão pessoal. Ser capaz de largar a bagagem na consciência depois de realizar tantos atos ruins para os outros. Ficar remoendo a consciência não ajuda nada. O que ajuda é a ação, mover-se para corrigir seus erros. Por isso, o perdão em si é uma das atitudes mais corajosas que podemos ter na vida. 

O perdão guia a moralidade inteira de Homem-Aranha 3. Vemos Harry perdoar Peter, Peter perdoar Harry e Flint, Mary Jane perdoar Peter. Para alcançar esse esclarecimento pessoal, assim como no filme, diversos desafios precisam ser superados. Desafios que geralmente trazem brigas e memórias de mágoas passadas. Por isso, muitos optam por não seguir esse caminho, afinal o custo é tremendo. O perdão não é fácil, pois envolve também aceitar escutar a opinião alheia sobre nossos defeitos – algo sempre muito desagradável. Por conta da internet, há essa sensação de descartabilidade das pessoas que se resumiram a virar pequenos avatarezinhos que marcam outros em memes. 

O problema é que na vida real, ninguém pode ser descartado dessa forma cruel, sem qualquer relevância. Para atingir o perdão, é preciso superar o medo. E, assim como em muitos casos na vida, acabamos sendo nosso pior inimigo. Pela covardia, acabamos perdendo amigos, oportunidades e, em casos piores, a nós mesmos. Claro, há de ser realista e as pessoas não são todas iguais. Assim como o perdão é uma virtude difícil, às vezes ela nem sempre é realmente requisitada. Pessoas danosas existem e é preciso saber diferenciar quem realmente aproveita da sua pessoa daqueles que merecem uma segunda ou terceira chance de resolver as coisas. Isso vale inclusive para uma auto-reflexão que pode levar a um esclarecimento que pode não te agradar. Mas é através da dificuldade que se atinge a maturidade para saber lidar com as coisas. 

Esses conselhos da tia May e do tio Ben realmente são valiosos. Por eu ter crescido junto com o lançamento da trilogia Aranha do Sam Raimi, admito que sempre achava um porre essas pausas narrativas que ousava tirar minhas valiosas cenas de ação. Porém, hoje, revendo essas cenas, é fácil reconhecer a importância dela dentro e fora das telas. Espero que o artigo tenha ajudado a suportar um pouco as milhares de incertezas que cercam a vida como um todo. O que todos podemos concordar é: há beleza nos momentos de felicidade. E por mais que sejam breves, dependendo da realidade de cada um, merecem ser festejados, relembrados e alcançados o máximo possível, no melhor equilíbrio que a vida pode nos oferecer. 

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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