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Review | Marvel’s Guardians of the Galaxy é o melhor game que você ainda não jogou

É inegável: a Square Enix realmente cometeu um pecado cardinal com Marvel’s The Avengers ao tornar o game como serviço e desviar o foco da experiência centralizada em single player

De experiência rasa, o jogo que, apesar de belo e contar uma boa história, cai rapidamente na repetitividade na jogatina e as práticas anti-consumidor com inúmeras micro-transações conferiu uma aura completa de negatividade em relação à marca. 

Após tudo isso, quem saiu prejudicado foi o game de Guardiões da Galáxia. Uma produção secreta que foi anunciada apenas poucos meses antes de seu lançamento. Mesmo com o esforço do marketing e boas análises de lançamento, o game da Eidos Montréal foi considerado insatisfatório nas vendas. 

Entretanto, assim como a sua contraparte cinematográfica, Guardians of the Galaxy é uma obra surpreendente que vale a pena ser conferida em sua totalidade das longas vinte horas de entretenimento que entrega. 

Os Jardineiros da Galáxia

Produzido e roteirizado pelas mesmas mentes responsáveis pela franquia Deus Ex, aguarde pelo mesmo nível de ambição, pois a Marvel é conhecida por ser menos controladora com suas propriedades intelectuais fora dos cinemas e TV. 

A narrativa que é o sustento principal deste game apresenta os Guardiões da Galáxia na mesma formação que a vista no Universo Cinematográfico da Marvel trazendo Peter Quill, Gamora, Drax, Rocket e Groot já empreendendo aventuras ao redor do espaço há algum tempo. 

Ainda assim, o grupo está aprendendo a conviver um com o outro e todas as suas brutais diferenças, se tornando mais um bando de desajustados que não sabem confiar uns nos outros apesar dos esforços tremendos de Quill em manter a equipe unidade. 

Invadindo a zona de Quarentena para capturar uma nova besta para a infame Lady Hellbender a fim de ganhar milhares de créditos, os Guardiões acabam libertando um perigo misterioso que trará consequências drásticas ao decorrer do jogo. Ao tentar escapar do colapso do local, a nave Milano é interceptada pela Tropa Nova comandada pela ex-namorada de Quill, Kor-El. 

Multados em milhares de créditos, Quill consegue um prazo de três semanas para pagar a cobrança. Junto com seus parceiros, ele bola um plano “genial” que envolve golpes e trambiques típicos da trupe, porém as repercussões dessas escolhas acabarão levando os heróis à uma jornada de descoberta e responsabilidade contra uma ameaça que pode exterminar toda a galáxia. 

Conforme os anos passam, os nichos de jogadores sempre expandem conseguindo encontrar produtos especializados para cada segmento do mercado. Entretanto, apesar dos lançamentos de peso da Sony, aventuras focadas em narrativas de único jogador de alto valor de produção estão cada vez mais raras. 

Por isso, já por essa razão em um segmento cada vez mais escasso de lançamentos que fogem dos simuladores de andar, Guardians of the Galaxy já é um peixe fora d’água. O jogo é notoriamente caro tanto pelo tempo de duração impressionante como pela qualidade excelente dos gráficos, design artístico, atuações, interface e músicas licenciadas.

Trazendo algumas das melhores características já vistas nos filmes de James Gunn, o game se vale do uso inteligente das músicas, incluindo das originais apresentadas pontualmente através do álbum favorito de heavy metal de Peter Quill – Star Lord, explicando a origem de seu alter ego espacial. 

As músicas originais são nada menos que INCRÍVEIS!!!

Não somente isso, a verve irreverente da comédia permeia todo o titulo repleto de horas e horas de ótimos diálogos afiados entre os integrantes da equipe. A escrita é feita com tanto cuidado que os personagens cativam em questão de poucos minutos. A falta da linguagem figurada de Drax continua divertindo muito e as piadas de mau gosto de Rocket Raccoon se divertindo com a desgraça alheia são geniais rendendo momentos verdadeiramente hilários.

Permeada por esses diálogos excepcionais, a narrativa é nada menos que excelente. Ainda que seja uma análise rasa, a obra é tão boa que nesse texto de recomendação, vale a pena manter tudo escrito de modo vago para não estragar as ótimas surpresas e participações especiais de personagens que mudam a narrativa substancialmente ao longo da jornada. 

Como a história é mesmo a melhor característica do game, estragar a experiência de um jogador de primeira viagem é uma afronta porque eu tive uma excelente experiência por não fazer a menor ideia sobre do que se tratava a aventura. 

Assim como nos filmes, cada personagem possui arcos satisfatórios com histórias que trazem revelações e origens relativamente distintas das dos filmes. Peter Quill, sendo o protagonista, recebe muita atenção com direito a flashbacks interativos do dia decisivo de sua vida na Terra e da relação com a sua mãe Meredith.

Ajuda a explicar mais da essência heróica do personagem e deixa bastante espaço para explorar mais do passado de Quill em próximas aventuras. Em seguida, Drax é o mais desenvolvido, também trazendo mais luz sobre o passado kathatiano obcecado em destruir Thanos e vingar a sua família. Mais detalhes sobre a cultura de seu povo e das dores profundas que ele carrega são apresentadas.

Já Rocket e Gamora recebem menos atenção, mas não deixam de apresentar um bom trabalho. Os diálogos opcionais a bordo da Milano são muito importantes para preencher lacunas e entender mais sobre a fobia triste de água que Rocky sofre e o seu falso niilismo cínico. Com Gamora, as coisas são mais repentinas, acontecendo no ato final do game, mas dado o contraste de comportamento e ótima conclusão, o momento emociona. 

Groot, sendo um personagem difícil de desenvolver em qualquer mídia, ganha alguns detalhes sobre a dificuldade de comunicação do alien que depende da tradução nada confiável de Rocket, mas o fato dele ser o último de sua espécie é bem utilizado para fazer uma catarse geral para fechar o arco dos cinco integrantes perdidos se encontrarem em meio a uma nova família. Destaque para uma das melhores representações já vistas de Nikki Gold fora dos quadrinhos em uma relação engraçada e inteligente com Peter Quill. 

Para fechar o segmento envolvendo narrativa, o jogador encontrará diversas cenas onde terá que escolher algumas opções de diálogos que resultam em consequências diferentes – algo vindo diretamente do gênero que a Telltale ajudou a construir. No caso, pode parecer que a maioria das escolhas não importam, mas algumas culminam em ajudas muito valiosas na missão final, além de delinear um contorno muito mais satisfatório na conclusão da aventura. 

Entretanto, algumas opções realmente não importam a ponto de serem cruciais, funcionando como momentos menos divertidos que trazem uma aura única de vergonha alheia – principalmente quando os personagens passam a cantar se movendo repetitivamente em animações menos caprichadas. 

Quando falta mais recheio

Ainda que a história, diálogos e personagens sustentem o interesse completo do jogador, além do trabalho visual impecável, é um fato que o jogo sofre um tanto com suas mecânicas repetitivas e game design pouco ambicioso. 

Provavelmente por limitação orçamentária, só é possível controlar Peter Quill ao longo de toda a aventura. Embora faça sentido por ele ser o líder dos Guardiões, o personagem com certeza é o mais limitado em suas habilidades únicas fornecidas pelas pistolas espaciais que utiliza nos combates.

Seria interessante poder utilizar Gamora, Drax, Groot e Rocket em alguns níveis, mas não é possível. O jogo contorna isso ao permitir que o jogador dê alguns comandos sujeitos à cooldowns aos outros Guardiões durante os combates. 

Drax é perfeito para deixar inimigos estonteados, Gamora é uma arma letal para aplicar dano máximo à inimigos mais difíceis, Groot ajuda a paralisar diversos alvos e Rocket causa danos múltiplos através de suas bombas e metralhadoras. Ao decorrer do game, uma quarta habilidade é adquirida trazendo mais novidades enquanto as outras são adquiridas através do clássico sistema de pontos através da progressão de níveis.

Embora limitado, é sim divertido metralhar inúmeros inimigos com Peter Quill, além das habilidades elementais que ele adquire no decorrer do jogo, permitindo explorar fraquezas de certos oponentes. O personagem se vale de rápidos desvios e pulos duplos graças às botas propulsoras, oferecendo muito dinamismo nas batalhas que sempre trazem um bom nível de desafio sem serem injustas.

O jogo é dividido em 16 capítulos, cada qual possuindo grandes níveis para explorar, embora lineares ao extremo no melhor estilo de Uncharted. Sempre há coisas novas para se admirar e descobrir, mas a exploração dos níveis é precária, porém encorajada para descobrir contêineres contendo trajes alternativos para os personagens. 

Basicamente, o core do gameplay é esse. Em poucas fases há alguns QTEs para cumprir e em outras é possível pilotar a Milano em combates espaciais com ótimo esquema de controles, sempre divertindo muito. 

Por conta disso, é inegável que o jogo sofra com repetição de oponentes e, a depender das suas escolhas, o final é dilatado ao extremo com muitos conflitos repletos de oponentes esponjas de balas que demoram bastante tempo para serem derrotados. Felizmente, um grande ponto alto são as batalhas contra chefes, todas oferecendo momentos importantes no uso da equipe inteira para conseguir triunfar. 

Mas é importante mencionar que durante toda a jogatina, enfrentei múltiplos crashs injustificáveis do game no meu PC. Se contabilizar, foram mais de trinta ao longo de toda a aventura. Os crashs parecem ser problemas em comum em diversas plataformas, com incidência aleatória, mas parece que o suporte técnico do jogo já não existe mais com o time de desenvolvedores já partindo para o próximo projeto. Então se prepare, pois o problema pode existir e com certeza testerá a sua paciência e amor aos jogo.

Mas que flark!

Mesmo diante do cenário tenebroso que o país enfrenta economicamente, jogando os preços de jogos eletrônicos nas alturas, é um fato: Marvel’s Guardians of the Galaxy merece seu suado dinheiro. Ainda mais agora que está disponível na Xbox Game Pass no custo de assinatura mais básico. 

Seja assinante ou não, se é fã ou gosta das obras com os personagens, o game realmente é uma pérola que deve ser celebrada. O jogo tem suas deficiências notórias, mas diverte muito e oferece uma qualidade narrativa que sobrepuja o tempo limitado dos filmes excelentes de James Gunn. 

Com tanto estilo heavy metal e referências a mil aos anos 1980, acredito que é uma questão de tempo até que essa iteração dos Guardiões se torne a favorita de muita gente, pois o trabalho é excepcional. Agora fica a torcida para que o game consiga reverter a delicada situação que se encontra em termos financeiros.

Afinal, uma sequência mais ambiciosa é obrigatória, ainda mais depois do reconhecimento nas 5 indicações que conquistou ao BAFTA. É fato: a Eidos Montréal nasceu para trabalhar com esses personagens inesquecíveis.

Nota

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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