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Crítica | Transtorno Explosivo – Um drama de qualidade

O cinema já apresentou diversas histórias de drama em que o protagonista apresentava ou algum transtorno comportamental ou até mesmo uma fúria incontrolável em situações que não demandavam aquele tipo de atitude, casos do clássico Um Dia de Fúria (1993) e mais recentemente o longa alemão Transtorno Explosivo (2020) que é um tremendo soco no estômago.

A produção dirigida e roteirizada pela cineasta estreante Nora Fingscheidt tem uma trama pesada, carregada de uma violência angustiante. O filme acompanha o drama particular da jovem Benni (Helena Zengel), uma criança que se encontra em um período de sua vida que precisa se deparar com alguns problemas que envolvem a sua vida. Um deles é o de não ter um adulto comprometido a ouvi-la ou até mesmo a aconselhar, e outra questão que a revolta é a respeito do abandono de sua mãe, isso devido aos vários momentos que a garota explode em um sentimento de raiva incontrolável, em que a menina agride de forma violenta e acaba por xingar outras pessoas, e sua mãe não aguenta cuidar dela devido a esses acessos de raiva.

A ideia da diretora é o de justamente apresentar os traumas que uma criança vivencia em sua infância e como isso pode ser prejudicial para o seu desenvolvimento, e não apenas isso, Fingscheidt também nos mostra a partir do ponto de vista de Benni como ela interpreta o mundo e também como a violência que ela prática a si e contra os outros somente a prejudica e não traz benefícios nenhum para si.

Todos esses traumas por qual Benni passa é muito bem trabalhado pela diretora, que trata um tema pesado de forma sensível e com um olhar humano para a vida da jovem garota, dando a interpretação de que crianças problemáticas não são assim porque querem e que com ajuda profissional e um pouco de carinho é possível ter uma mudança de comportamento.

O roteiro só frustra um pouco por não desenvolver mais a questão do transtorno comportamental em si, se ele tem cura ou até mesmo sua possível origem na menina. Mas isso não atrapalha em nada o andamento da narrativa, até porque ela é bem amarrada e desenvolvida pela diretora, sem deixar pontas soltas durante a história.

O final também deixa bastante a desejar, por não trazer uma solução prática para todos aqueles problemas que a jovem garota esteve passando. Pode-se dizer que é um final aberto em que há várias interpretações para o que se aconteceu depois dessa história tão pesada. A diretora quis dar um ar de suavidade para fechar o terceiro ato e assim tentar dialogar com o público de que a garota encontrou uma possível saída para o seu problema.

O destaque da produção, sem dúvida alguma, é todo de Helena Zengel (Relatos do Mundo) uma jovem atriz com muito potencial a ser alcançado e que consegue interpretar uma personagem extremamente complicada e com uma força na atuação que prende a atenção do espectador, até porque o elenco é reduzido e a história é toda focada em Benni, não há uma trama secundária, há personagens secundários e eles estão lá para dar força para a protagonista, que por si só sustenta toda a estrutura narrativa do longa.

Transtorno Explosivo é um grande filme, cheio de mensagens que podem ser interpretadas das mais diversas maneiras e que dá um enfoque para um drama que pouco é visto ou discutido no cinema. Não é uma produção feita para chorar, é mais para refletir e tirar alguma lição daquilo que está sendo visto.

Transtorno Explosivo (Systemsprenger, ALE – 2019)

Direção: Nora Fingscheidt
Roteiro: Nora Fingscheidt
Elenco: Helena Zengel, Albrecht Schuch, Gabriela Maria Schmeide, Lisa Hagmeister, Maryam Zaree, Melanie Straub
Gênero: Drama
Duração: 125 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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