Star Wars: Os Últimos Jedi | Referências e easter-eggs
Star Wars: Os Últimos Jedi chegou e já nos deixou com dezenas de referências, traçando paralelos com praticamente todos os filmes da franquia, desde Uma Nova Esperança, até Rogue One. Das mais sutis, até sequências praticamente iguais, Rian Johnson criou uma obra que claramente se apoia no que veio antes, ainda que tome algumas decisões ousadas.
Esse artigo busca elencar todas as referências e easter-eggs que encontramos, explicando cada um deles, oferecendo informações relevantes, que levam em conta todo o cânone da saga. Evidente que o texto está repleto de spoilers. Caso tenhamos deixado algo de fora, basta comentar abaixo, que iremos complementar a lista!
Dito isso, vamos para uma galáxia muito, muito distante....
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Golpe baixo
Um dos maiores fan services do filme é a aparição do holograma de Leia pedindo ajuda à Obi-Wan, que R2-D2 exibe para convencer Luke de treinar Rey em Ahch-To. O holograma não aparecia desde Uma Nova Esperança.
Leia atirando
Perto do fim do filme, quando Leia sai de seu coma e atira em Poe, ela veste uma roupa branca e sua arma está definida para nocautear, clara referência à primeira vez que vemos a princesa no Episódio IV, vestindo seu icônico traje branco, atirando em um stormtrooper.
Se você me acertar...
Mais uma clara referência a Uma Nova Esperança! Na luta entre Kylo Ren e Luke, o mestre Jedi diz que ele irá se tornar mais forte se Kylo o acertar com ira, dialogando diretamente com o que Obi-Wan disse a Vader durante seu duelo na Estrela da Morte.
A jornada do Jedi
Essa daqui é bastante óbvia e qualquer um que tenha assistido O Império Contra-Ataca há de perceber. A jornada de Rey em Os Últimos Jedi é essencialmente a mesma de Luke no Episódio V. Ambos os protagonistas de suas respectivas obras vão para um planeta isolado, encontram um mestre solitário indisposto a treiná-los, acabam convencendo-os de mudar de ideia e, no fim, precisam ir embora antes de concluírem o treinamento.
A caverna
Continuando a jornada de Rey na ilha, assim como Luke em Dagobah, ela encontra uma caverna forte com o Lado Negro da Força. Da mesma forma que Skywalker, ela se depara com um reflexo de si própria.
Trajes Jedi
Essa também é bastante óbvia - as roupas de Luke são muito similares aos trajes vestidos pelos Jedi na trilogia prelúdio, ou por Obi-Wan no Episódio IV, refletindo que, de fato, ele é um Mestre Jedi.
X-Wing
Mais um paralelismo com Dagobah! A X-Wing debaixo d'água em Ahch-To evidentemente remete à mesma nave presa no pântano em Dagobah.
A árvore
A árvore de Ahch-To pode ser a mesma que Luke salva em Império Despedaçado, quadrinhos canônicos lançados pela Marvel Comics, que se passa após os eventos de O Retorno de Jedi. Aliás, o formato da árvore remete ao símbolo da Ordem Jedi.
Leite azul
Em uma breve sequência vemos Luke tirar leite azul de uma criatura em Ahch-To - clara referência ao icônico leite azul extraído dos banthas, que já apareceu em inúmeros filmes da saga, introduzido logo em Uma Nova Esperança.
Enforcamento à distância
Logo no início do filme vemos o Supremo Líder Snoke enforcando o general Hux durante uma transmissão holográfica. O mesmo é feito por Darth Vader em O Império Contra-Ataca - a diferença é que Vader, de fato, mata o sujeito enforcado (almirante Ozzel), enquanto Snoke permite que Hux viva.
Raddus
O cruzador de Leia, aquele cuja ponte de comando é destruída, chama-se Raddus, homenageando o Mon Calamari que ajudou a roubar os planos da Estrela da Morte em Rogue One.
Mal pressentimento
Pela primeira vez na franquia não ouvimos um personagem dizer "eu tenho um mal pressentimento sobre isso", frase que, até então, esteve presente em todos os longas de Star Wars, inclusive em Rogue One. Mas só porque não ouvimos não quer dizer que não esteja presente no filme. De acordo com Rian Johnson, BB-8 fala a icônica frase durante a sequência inicial, enquanto ele e Poe estão realizando o plano para distrair a Primeira Ordem.
O velho Yoda
A aparição de Yoda foi uma grande surpresa para todos. A fim de tornar o personagem mais próximo do que vimos em O Império Contra-Ataca e n'O Retorno de Jedi, seu visual remete ao boneco construído por Frank Oz.
DJ
Em dado momento, DJ diz a Finn e Rose para não tomarem partido nesse conflito entre a Primeira Ordem e a Resistência, em inglês ele basicamente diz "don't join", justificando seu apelido DJ. Aliás, sua traição é idêntica à de Lando no Episódio V.
Espada Laser
Em Ahch-To Luke, em certo diálogo, se refere ao sabre de luz como espada laser (laser sword) - isso é uma referência direta ao roteiro original de George Lucas de Guerra nas Estrelas, no qual os sabres de luz tinham esse nome!
Textos sagrados
Antes de destruir a árvore em Ahch-To, Yoda não perde a oportunidade de tirar uma com a cara de Luke. Ele diz especificamente que ali dentro não há nada que Rey já não tenha. Mais tarde descobrimos que Rey tirou os livros da árvore e levou consigo na Millenium Falcon (eles aparecem dentro da nave), ou seja, Yoda estava sendo bastante literal!
Darth Sidious
Durante uma de suas lições a Rey, Luke cita diretamente Darth Sidious, o nome Sith de Sheev Palpatine. Essa é a primeira vez, fora da trilogia prelúdio, que ouvimos esse nome ser mencionado.
Forma espiritual
Durante o duelo entre Luke e Kylo, o mestre Jedi não deixa pegadas na areia, enquanto Ren deixa, já dando indícios de que ele não está ali de verdade. Além disso, o Skywalker está com seu cabelo mais parecido ao que vimos na trilogia original e com seu sabre de luz azul (que foi destruído na sequência entre Kylo e Rey), revelando que essa é uma versão idealizada de si próprio.
It's a trap!
O icônico almirante Ackbar (It's a trap!) tem sua despedida nessa filme. O personagem morre no bombardeio da ponte de comando, que quase leva Leia junto. Sua morte foi inserida no filme em razão da morte do dublador do personagem, Erik Bauersfeld.
Rastreamento pelo Hiperespaço
Apesar da tecnologia ser inédita no novo cânone de Star Wars, já vimos situações similares nas quais uma nave é rastreada mesmo após pular para o hiperespaço. Em O Império Contra-Ataca, Vader fala para calcular todas as possíveis rotas a fim de descobrir para onde os rebeldes foram, mesmo depois de entrar na velocidade da luz. Já no livro Tarkin, Vader descobre o trajeto de uma nave que escapou dele e de Tarkin através da Força.
Além disso, em Rogue One, uma das tecnologias pelas quais Jyn e Cassian passam em Scarif é justamente o rastreamento pelo hiperespaço!
Mão de Luke
Quando Rey entrega o sabre de luz a Luke podemos ver, na lateral de sua mão robótica, uma marca, que foi feita em O Retorno de Jedi, quando o personagem leva um tiro na mão enquanto levanta seu sabre de luz em cima do sail barge de Jabba.
Cavaleiros de Ren
Quando Luke conta a historia do templo Jedi e como Kylo Ren foi para o Lado Negro, ele revela que Ben Solo não fugiu sozinho, levando consigo alguns aprendizes de Luke. Serão esses os cavaleiros de Ren, que vimos durante a visão de Rey em O Despertar da Força?
Carrie Fisher
Nos créditos finais podemos ver a mensagem "In Loving memory of our Princess, Carrie Fisher", homenagem à atriz, que faleceu no fim do ano passado.
Tantive IV
Toda a perseguição da Resistência pela frota de Snoke reflete a perseguição da Tantive IV em Uma Nova Esperança. Isso pode explicar por que somente a nave de Snoke atira contra a da Resistência, sendo que claramente poderiam enviar bombardeiros.
Dados de Han Solo
O objeto que Luke entrega a Leia no fim do filme são os dados da sorte de Han Solo, que somente apareceram uma vez, brevemente, em Uma Nova Esperança.
Pôr do sol
Durante a sequência da morte de Luke, podemos ver o pôr do sol duplo, nos levando de volta à icônica cena do Episódio IV, que marca o início da aventura de Skywalker. Uma bela despedida para o mestre Jedi.
Uma Nova Esperança
Similarmente, a última sequência da obra nos mostra um menino, sensitivo à Força (ele atraiu uma vassoura com a Força), olhando para as estrelas esperançosamente, evidentemente dialogando com Luke olhando para o por do sol duplo em Tattooine.
Batalha de Crait
A batalha de Crait evidentemente é inspirada na batalha de Hoth, tanto pela presença dos AT-ATs atacando uma base em cenário predominantemente branco (seja pela neve ou pelo sal), quanto pelos próprios enquadramentos utilizados pelos diretores - Rian Johnson recria muitos dos planos de O Império Contra-Ataca. Até mesmo o portão da base da Resistência é bastante similar ao visto em Hoth.
T-Rex
A sequência de fuga em Canto Bight traz uma breve referência a Jurassic Park. Quando Finn e Rose estão montados nos Fathiers e fugindo pelo cassino, podemos ver um plano da água em um copo tremendo, similar ao que acontece no filme de Stephen Spielberg, quando um T-Rex está perto.
Sala do trono
A sala do trono de Snoke claramente remete à do Imperador em O Retorno de Jedi. A diferença é que o esquema de cores é totalmente diferente, em uma temos tons vermelhos vibrantes e na outra a predominância de tons escuros.
Algemas
Quando Rey vai até Snoke, ele retira suas algemas com a Força, igual ao que Palpatine faz com Luke, no Episódio VI.
Ainda há bondade em você
Rey diz a Kylo Ren que ainda há bondade dentro dele, da mesma forma que Luke disse para Vader em O Retorno de Jedi.
Guarda Pretoriana
A guarda pretoriana de Snoke é muito similar aos guardas imperiais de Palpatine, que vemos no Episódio VI.
Dizimando os inimigos
Durante a interação entre Snoke, Rey e Kylo Ren, o Supremo Líder mostra a frota da Resistência sendo dizimada pela Primeira Ordem, igual o que o Imperador faz para Luke.
Porta sabre de luz
Snoke coloca o sabre de luz de Rey no braço do trono, o Imperador faz o mesmo com o sabre de Luke. Ambos os heróis tentam pegar a arma com a Força.
Traição
Essa é bastante óbvia - Kylo Ren mata seu mestre assim como Vader o fez. Isso claro reflete uma postura comum para os Sith - o aprendiz quase sempre mata ou tenta matar seu mestre.
A rachadura
A batalha entre Rey e Kylo encerra com o sabre de luz azul rachando ao meio, criando um paralelo claro com O Despertar da Força, no qual o duelo entre os dois é interrompido pela rachadura no chão.
Nada de hiperespaço
O fato da frota da Resistência não poder pular para o hiperespaço cria um diálogo direto com O Império Contra-Ataca, no qual a Millenium Falcon também não podia ir para a velocidade da luz, por conta do hiperdrive danificado. Motivos diferentes, mas com o mesmo resultado.
Gareth Edwards
Durante a batalha de Crait, Gareth Edwards, diretor de Rogue One, faz uma breve aparição. Ele está ao lado do soldado que diz que o chão é coberto de sal.
Mais participações especiais
Edgar Wright e Joe Cornish também aparecem brevemente durante o filme, mas seus cameos não foram revelados.
Gary
Durante a sequência do cassino em Canto Bight podemos ver um alien baseado no cachorro de Carrie Fisher, Gary. Ele está sobre uma mesa do cassino.
Crítica | Raw - Um olhar assustador sobre o canibalismo
Raw, alternativamente chamado de Grave, é uma daquelas obras que já nasce envolta de polêmica. Retratando de forma bastante explícita o canibalismo, o filme fez, em suas exibições em festivais, diversos espectadores passarem mal ou terem de sair da sala do cinema acompanhados por paramédicos. O que faz do longa-metragem de estreia de Julia Ducournau tão perturbador, contudo, não é simplesmente o gore nele presente e sim a forma instigante e até claustrofóbica que a trama é desenvolvida, nos levando em uma jornada pela loucura extremamente perturbadora, um filme que certamente permanece conosco muito tempo depós dos créditos finais.
Somos contados a história de Justine (Garance Marillier), uma jovem vegetariana que acabara de entrar na faculdade de veterinária. Na semana do trote ela é obrigada pelos veteranos a comer um pedaço cru de fígado de coelho, um grande choque pessoal para ela, já que ela se recusa a engolir qualquer carne, como é mostrado em uma das cenas iniciais. Quando isso ocorre, porém, algo desperta na menina e logo ela se vê viciada no ato de comer esse tipo de alimento, esteja ele cru ou não e eventualmente seu olhar se vira para a carne humana e a universidade oferece um variado menu para seus prazeres gastronômicos.
Raw nos traz um duplo sentido em seu título. Primeiro e mais obviamente se refere à carne crua que a protagonista consome, mais profundamente, contudo, ele faz uma analogia à forma como o canibalismo é retratado na obra – de maneira direta, sem um romantismo como visto em filmes sobre vampiros: temos aqui o homem regredindo a seu estado de animal, primitivo e aterrador. Ducournau em ponto algum nos prepara para o que vamos ver, ela constrói a gradual metamorfose de sua personagem principal, mas consegue nos chocar quando seu desejo toma conta dela, nos fazendo rir de nervoso tamanha a crueza da imagem que se passa diante de nossos olhos.
Garance Marillier nos traz uma atuação que nos mergulha dentro da narrativa. Ela é, ao mesmo tempo, o perfeito retrato da inocência e da sombria tentação, como um predador que se disfarça perfeitamente na sociedade. Seu olhar evidencia a loucura que toma conta de sua mente, como uma ira reprimida e prestes a explodir. Apesar de seu hábito ela, surpreendentemente, se mantém humana, com os sentimentos sendo demonstrados com clareza, fazendo com que nos aproximemos dela e seu hábito canibal seja visto quase como uma maldição que caíra sobre ela. Mergulhamos em sua mentalidade e passamos a nos angustiar com sua vontade oculta, simpatizando com a protagonista, por mais monstruosa que seja.
Naturalmente, a direção em muito contribui para esse fator, enquanto ajuda a contribuir para toda essa ideia de segredo que a protagonista esconde. Inúmeras vezes a vemos ocultando suas ações, com enquadramentos que escondem o que está fazendo até o momento certo. Uma aproximação, então, ocorre, retratando a personagem de forma mais primal, como uma criatura esfomeada que, finalmente, consegue colocar suas garras em um pedaço de comida – o canibalismo aqui não é uma preferência e sim uma necessidade, praticamente uma alteração fisiológica do ser, que passa a se nutrir apenas com a carne de origem humana.
O roteiro ainda faz um ótimo serviço ao não cair na obviedade, dispensando uma narrativa típica do personagem sendo descoberto e, de alguma forma, derrotado ao término da história. Inúmeros pontos de virada são inseridos ao longo do texto, de forma a nos deixar sem saber o que irá acontecer a seguir. Esses plot-twists são inseridos de forma orgânica dentro do filme, são trabalhados com cuidado e não soam repentinos, por mais que causem, sim, a surpresa no espectador. Há uma construção narrativa muito bem pensada que nos leva ao velho “como não vi isso antes?”.
Ducournau apresenta uma evidente preocupação com os coadjuvantes – nenhum personagem fora inserido nessa trama por mero acaso, cada um deles desempenha um importante papel e, sabiamente, ela dispensa personagens secundários sem importância. Seu foco é impressionante e lentamente ela pinta esse quadro a fim de encaixar todos os elementos na hora e na posição certa, como um grande quebra-cabeças cuidadosamente elaborado. Da irmã de Justine até seu companheiro de quarto, todos ganham a devida atenção, se destacando nas ocasiões certas dentro da projeção.
Tudo isso é acompanhado por um perturbador trabalho musical de Jim Williams, que já atua no ramo desde 1989. Suas melodias ora ressaltam o drama da protagonista, ora evidenciam o elemento angustiante da obra, com tons dramáticos que sedimentam a narrativa perturbadora construída pela diretora. Já presente no título inicial, a música tema já dá dicas ao espectador – sabemos que não veremos uma história comum de uma jovem universitária e sim um filme de caráter sombrio que certamente nos irá marcar de alguma forma.
De fato, é isso o que ocorre, Raw é uma obra que dificilmente sairá de nossas memórias, nos trazendo uma narrativa de suspense e terror que se diferencia da grande maioria de longas do gênero. Uma trama cuidadosamente construída, acompanhada por uma direção precisa e atuações que se destacam, temos aqui o que facilmente se configura como um dos melhores filmes do ano, embora certamente seja feito para os espectadores de estômago mais forte, não sujeitos a enjoos ou desmaios provocados por fortes imagens. Um filme cru e aterrador que traz um olhar inédito sobre o canibalismo.
Raw (França/ Bélgica, 2016)
Direção: Julia Ducournau
Roteiro: Julia Ducournau
Elenco: Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Oufella, Laurent Lucas, Joana Preiss, Bouli Lanners
Gênero: Suspense
Duração: 99 min
Dois Sóis no Horizonte | O final de Star Wars: Os Últimos Jedi explicado
Spoilers!
Similarmente ao que ocorreu em O Despertar da Força, Os Últimos Jedi deixou muitas dúvidas sobre o que ocorreu em seu desfecho. Por que e como Luke morreu? Qual a conexão entre Rey e Kylo? O que aquele menino olhando para as estrelas no fim do filme quer dizer?
Este artigo busca jogar uma luz sobre tais questões, com explicações pautadas no que descobrimos ao longo dos filmes e outros materiais do universo expandido de Star Wars. Se ainda assim algo não ter ficado claro, não hesite em comentar abaixo, nos dizendo o que gostariam que expliquemos.
Com isso fora do caminho, vamos aos três finais de Os Últimos Jedi.
Quem é o menino no final do filme?
A mensagem final de Os Últimos Jedi é de que, apesar da Primeira Ordem reinar na galáxia, a esperança foi recobrada – a Rebelião renasceu e os Jedi sobrevivem através de Rey. O menino que vemos ao término da obra reforça esse ponto, demonstrando um garoto sensitivo à Força e que acredita nos ideais da Resistência.
Como já foi apresentado antes (especialmente na trilogia prelúdio), os sensitivos à Força são identificados e escolhidos pelos Jedi para se tornarem padawans. O simples fato de um ser mostrado tão em evidência dá indícios de que a Ordem irá renascer. Além disso, sua postura, observando as estrelas remete ao olhar de Luke para o pôr do sol duplo em Tattooine, antes dele entrar em sua jornada em Uma Nova Esperança.
Vale lembrar que uma nova trilogia, comandada por Rian Johnson (diretor de Os Últimos Jedi) foi confirmada pela Disney e podemos acabar vendo histórias focadas nesses jovens trilhando o caminho da Força. Resta esperar para saber se esse menino em específico terá um papel relevante no futuro, mas, por enquanto, ele representa uma nova esperança.
A conexão de Rey e Kylo Ren
Aqui entraremos mais ainda no território da especulação.
De acordo com Snoke, foi ele quem criou o elo entre Rey e Kylo, permitindo que ambos dialogassem e se enxergassem através da Força. Todas as visões que ambos enxergam, portanto, foram parte das maquinações do Supremo Líder, que visava atrair Rey para sua própria nave.
No entanto, próximo do fim, vemos os dois compartilhando mais uma dessas visões, mesmo depois da morte de Snoke – o que pode gerar algumas teorias sobre o porquê dessa conexão não ter sido desfeita quando o Supremo Líder da Primeira Ordem foi assassinado.
A primeira delas, e mais óbvia, é que Snoke apenas criou a conexão, a partir daí ela permanece mesmo sem sua intervenção, precisando ser ativamente desfeita por alguém. Isso claro poderá ser um grande estorvo para os dois, visto que nenhum deles, aparentemente, entende muito bem como isso funciona.
Outra possibilidade é que Snoke mentiu e não foi o responsável por essa conexão da Força. Com isso, mais teorias surgem, uma delas sendo a de que tal vínculo foi estabelecido em O Despertar da Força, graças aos muitos encontros entre Rey e Ben Solo. Por outro lado, é possível que eles sejam familiares de alguma forma, o que significaria que Kylo mentiu quando disse que os pais de Rey eram ninguém. Claro que isso gera o problema de Han e Leia não saberem quem ela é.
Por fim, a última possível teoria é que Snoke ainda está vivo. Considerando que Darth Maul sobreviveu ao mesmo ferimento, isso é inteiramente possível. Além disso, não seria algo inédito em Star Wars ver um ser capaz de trocar de corpo – isso é bem recorrente no universo expandido (Legends) e a Disney poderia muito bem utilizar tal conceito.
Se tivéssemos de apostar, contudo, seria na primeira teoria.
A morte de Luke
Chegamos, enfim, ao ponto que mais gerou dúvidas no filme: a morte de Luke Skywalker. Em uma sequência bastante simples, que mostra o pôr do sol com dois sóis, o início e final da jornada do fazendeiro que aprendeu os caminhos da Força se encerra. Meditando sobre a pedra na ilha de Ahch-To, após utilizar a Força para aparecer na batalha de Crait, Luke desaparece.
Durante as interações entre Rey e Luke na ilha, descobrimos que o Skywalker foi até lá para morrer, ele largou o manto do Jedi de lado e se tornou um eremita, exilado em um planeta desconhecido, não muito diferente do que Yoda fizera após os eventos de A Vingança dos Sith. Luke, porém, é convencido de que deve agir e chega a ganhar tempo para que a Resistência fuja da primeira ordem – por que, então, ele acabou morrendo no fim?
Quando descobrimos que sua presença em Crait era mera ilusão, vemos o mestre Jedi suado e claramente cansado, demonstrando o esforço que ele teve de fazer para criar sua ilusão em um local tão distante. Sua morte, portanto, pode ter sido consequência disso, do gasto de energia provocado por essa atividade. Isso, contudo, entraria em conflito com a própria essência da Força: ela é gerada por todos os seres vivos e não é uma energia interna do Jedi – ele apenas a manipula, portanto é um recurso inesgotável, pautado na conexão do indivíduo com ela. Admitir que ele pode morrer por isso, significa que ele faz uso da Força dentro de si, indo de encontro com o que ele próprio disse durante o filme. Luke, portanto, não pode ter morrido de exaustão.
Chegamos, pois, ao verdadeiro motivo de sua morte: ele cumpriu sua missão. Sim, exatamente isso, ele passou o bastão para Rey, que há de reviver a Ordem Jedi, tanto pelos seus conhecimentos sobre a Força, quanto pelo que ainda tem de aprender, visto que levou consigo os textos sagrados que estavam na árvore em Ahch-To (eles podem ser vistos, no final do filme, dentro da Millenium Falcon).
Luke enxerga que o futuro dos Jedi está na nova geração e que deve abrir espaço para eles, similarmente ao que Obi-Wan e Yoda fizeram – ambos também desapareceram, deixando o futuro nas mãos de Luke, durante a trilogia original. Claro que isso não quer dizer que nunca mais veremos o mestre Skywalker, afinal, ele ainda pode aparecer sob forma de fantasma da Força.
Naturalmente que essa visão sobre a nova geração dialoga com a própria essência dessa nova trilogia, além de nos levar de volta ao ponto inicial, sobre o menino olhando para as estrelas.
O Último Jedi morreu, agora Rey é a última Jedi.
Crítica | Star Wars: Os Últimos Jedi - O Pior filme da saga desde A Ameaça Fantasma
O gigantesco sucesso comercial de O Despertar da Força, à despeito das críticas sobre o filme ser uma grande cópia de Uma Nova Esperança sedimentou, logo cedo, Star Wars como uma das principais propriedades intelectuais da Disney. Tal fato, sim, já era óbvio e mesmo assim a companhia optou por seguir o caminho mais seguro, sem arriscar praticamente nada e, no fim, acaba entregando um bom produto, mas ausente de originalidade. Tiveram êxito em inaugurar essa nova trilogia, introduzindo personagens com os quais podemos facilmente nos relacionar, mas, ao mesmo tempo, deixaram-nos com o temor de que todos os subsequentes episódios dessa trilogia não passariam de releituras da trilogia original.
Entra o nome de Rian Johnson, sem dúvidas o mais autoral dos poucos diretores que já passaram pela franquia – os receios diminuíram. Pelo menos em partes, afinal, a Disney já demonstrara o forte controle criativo que exerce em suas obras com os filmes da Marvel, além disso, os trailers apenas reforçavam os temores levantados, colocando esse Episódio VIII perigosamente perto de O Império Contra-Ataca, indicando, possivelmente, mais uma cópia pouco inspirada. O que Johnson nos entrega, no entanto, definitivamente não era o esperado – Os Últimos Jedi, de fato, nos surpreendeu, mas não positivamente.
Seguindos os eventos de O Despertar da Força, a trama nos leva de volta ao conflito entre Primeira Ordem e Resistência. De um lado, a frota liderada pela general Leia Organa (Carrie Fisher) tenta escapar de um ataque à sua base, cuja localização foi descoberta pelos inimigos. De outro, temos Rey (Daisy Ridley), enfim, encontrando Luke Skywalker (Mark Hamill), ansiando para que ele retorne à Resistência, trazendo consigo esperança de volta à galáxia – além, é claro, de tentar convencer o desmotivado Mestre Jedi a treiná-las nos caminhos da Força. Ambos os cenários se complicam ainda mais com as investidas de Kylo Ren (Adam Driver) e o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), ambos determinados em acabar com qualquer resquício dos Jedi e da República.
Evidentes, em partes, já nos primeiros minutos do longa, os problemas de Os Últimos Jedi impedem a necessária criação do vínculo emocional entre espectador e obra. Johnson, diretor e roteirista, cria um amontoado de situações vazias, pouco inspiradas – que vão desde batalhas repletas de CGI sem qualquer peso, que parecem ter sido tiradas de um videogame na dificuldade mais fácil; até subtramas claramente desnecessárias, sem qualquer impacto na trama geral ou na construção de seus personagens.
Sem dúvidas, grande parte desses deslizes são oriundos do texto, que opta em trabalhar individualmente cada personagem previamente apresentado em seu antecessor. Soa quase como uma obrigatoriedade, exigência de estúdio, que certos personagens ganhem destaque, criando barrigas, que, no fim, somente aumentam a duração da obra, fazendo com que ela chegue a desnecessários cento e cinquenta e dois minutos. Finn e Poe ambos se enquadram nesse meio, tendo sidestories próprias de pouca ou nenhuma importância para o cenário geral, visto que suas decisões e ações em nada impactam a conclusão do filme.
Cria-se a amálgama entre sequências feitas para vender figuras de ação – através da inclusão de novos personagens e retorno de alguns que, de fato, poderiam ter ficado de fora – e a insistência do texto em repetir a mesma mensagem em diversos arcos paralelos. Tratados como estúpidos, os espectadores devem ouvir mais de uma vez, insistentemente, que a galáxia não é formada meramente por Luz e Sombras, que existe algo no meio. O grande problema disso é que um dos lados, não muito tempo atrás, destruiu cinco planetas inteiros, portanto, abandonar o maniqueísmo com tal informação em mente chega a soar como esquecimento do que veio antes, ou puro desleixo.
Seu foco determina a sua realidade
Maior agravante, porém, é que a constante troca entre os diversos focos narrativos apenas prejudica o que, de fato, há de engajante na obra – o que se resume aos trechos envolvendo Rey, Kylo Ren e Mark Hamill basicamente. Formulaicas são as transições entre tais arcos, apoiando-se em citações diretas ou indiretas a personagens, criando o intenso vai-e-vem que preenche todo o longa, não deixando espaço para que, de fato, nos entreguemos à narrativa, especialmente considerando que muito do que vemos, no fim, não faz diferença alguma.
A montagem burocrática cria constantes rupturas no ritmo, dilatando ainda mais a nossa percepção da duração total da obra. Ao pular de personagem em personagem de maneira pouco inspirada, temos a sensação de que grande parte do longa apenas nos enrola, na tentativa de criar a expectativa para os outros lados da trama. Tudo o que consegue fazer, no entanto, é diminuir nosso interesse pelo produto final.
Similarmente, o texto de Johnson insere, frequentemente, doses e mais doses de humor, intercalados com momentos dramáticos importantes – não me refiro à típica comédia presente na saga desde sua concepção e sim gags mal-inseridas, que prejudicam nossa imersão e envolvimento emocional com potenciais icônicos momentos. Aliás, a própria trilha de John Williams tem seu diálogo com a imagem abalado por tal razão, visto que as composições dialogam com os momentos dramáticos, sem combinar com as interrupções do artificial humor presente no longa, passando a impressão de que tais melodias foram criadas antes que o filme fosse gravado.
Não bastasse isso, tais inserções indevidas deminuem a presença de certos antagonistas, diminuindo a sensação de urgência, além de criar forte artificialidade na maioria dos conflitos, que já não tem à seu favor os já falados efeitos especiais sem qualquer peso aparente. Bom exemplo disso é o general Hux (Domhnall Gleeson) que é reduzido a provocar risadas na audiência, não sendo nem um pouco construído durante a projeção, desperdiçando por completo o óbvio paralelo entre sua postura e a da Alemanha Nazista.
Evidente que grande parte da artificialidade e ausência de desenvolvimento de personagens se dá em conta do projeto transmídia realizado pela Disney, que praticamente força o espectador a consumir as obras paralelas desse universo, tratando os filmes como apenas um material a mais e não os pontos principais da saga. A mera presença de determinados indivíduos na trama já deixa isso bem claro, criando, mais de uma vez, dúvidas sobre como ou por que eles aparecem em dado lugar. Isso enfraquece a narrativa como um todo.
Ironicamente, muitos dos personagens unicamente trabalhados durante o longa também acabam sofrendo com péssimas decisões tomadas no texto – um deles, em específico, funciona como o maior banho de água fria de toda a franquia, rivalizando apenas com o tratamento dado a Darth Maul e General Grievous nos prévios filmes. Tal pressa em resolver conflitos existentes entre esses indivíduos ainda cria a impressão de que determinados trechos da obra estão em fast forward, como se tivessem gastado todo o tempo disponível com os muitos focos desnecessários presentes no longa.
Eu tenho um mau pressentimento sobre isso
A nada orgânica agilidade, pois, ajuda na formação de uma série de momentos deus ex machina, herança de O Despertar da Força – a diferença é que ainda conseguíamos acreditar em alguns do antecessor, já Os Últimos Jedi joga tudo para o alto e confia na aceitação cega do público perante tais forçados mecanismos de roteiro. Piorando o cenário mais ainda, muitos desses recursos se fazem presente meramente para gerar gags, como é deixado bem claro pela participação de BB-8 nesse filme, que recebe algumas curtas cenas com propósito único de criar comédia, à custo da lógica interna da obra.
Triste constatar que icônicos personagens perdem espaço em razão dessas artimanhas baratas, como Chewie e R2-D2, diversas vezes esquecidos ou ignorados durante a trama. Era de se esperar que o reencontro de Luke com tais personagens gerasse algumas emotivas cenas, mas nem isso vemos, desvalorizando totalmente toda a história da saga – se a intenção é a de deixar de lado os velhos personagens, então bastava criar algo inédito, que não se passasse no mesmo período ou próximo dos filmes anteriores. Ao invés disso, o que temos é um profundo desrespeito com a mitologia da franquia.
Perante tal amontoado de péssimas decisões, roteirismos e táticas baratas de agradar o público, a obra ainda conta com certos momentos que demonstram o quão diferente poderia ter sido o produto final sem a voraz interferência do estúdio. A própria direção de Johnson deixa isso bem claro, exibindo alguns dos mais belos planos da saga, os quais, infelizmente, são indevidamente cortados antes da hora, sendo curtos demais, limitando por completo a contemplatividade das sequências – muitos desses quadros são claramente encurtados a favor da inserção de cenas de descontração, como se as produção não confiasse na atenção do espectador, que precisa ser recobrada incessantemente através de piadinhas fora de contexto.
Aliás, o desconforto visual dessas intermitências é nítido, com a decupagem resumindo os momentos de humor a planos mais fechados, quebrando a organicidade das sequências, especialmente quando intercalados de enquadramentos mais abertos, dando a impressão de que essas inserções foram feitas às pressas, sem grandes esforços para criar um visual mais linear. Tais desconfortos, no fim, prejudicam a construção de Johnson nos trechos mais dramáticos, claro, fazendo com que importantes planos soem desconexos do restante, pela clara diferença na maneira como são apresentados.
Percalços constantes, barrigas desnecessárias, ausência de identidade visual, personagens mal desenvolvidos, dentre todos os outros fatores apresentados fazem com que as sequências efetivamente bem construídas do longa fiquem perdidos. Grande parte da interação entre Rey, Luke, Kylo e até Snoke fazem parte desses bons momentos, remetendo a outros detalhes da saga (dos filmes, não do universo expandido) de maneira dramática, com peso emocional evidente. Como, portanto, se deixar levar por esses focos de qualidade quando rodeados por duvidosas decisões, muitas das quais desconsideram ou ignoram informações e acontecimentos anteriormente estabelecidas? A obra não permite nosso engajamento, ela lima qualquer esperança disso, reduzindo alguns dos mais importantes acontecimentos da saga a meros detalhes, adendos.
O estranhamento aumenta ainda mais, conforme colocamos grandiosos combates de sabres de luz, um deles sendo um dos melhores da franquia, lado-a-lado com batalhas espaciais ou até mesmo conflitos terrestres que não passam a menor sensação de ameaça, como se a imagem não refletisse o que o texto almejava construir. Triste fim esse, no qual enxergamos a possibilidade de um filme muito melhor, limado por decisões, espero eu, provenientes diretamente do estúdio. Decisões essas, que, pela evidente pressa que inserem na narrativa, fazem com que a obra pareça ser a conclusão da trilogia e não seu capítulo intermediário, deixando, assim, poucos motivos para nos vermos, de fato, ansiosos pelo que está por vir.
Faça ou não faça. Tentativa não há.
Não ajuda, claro, o fato de que muitas das sequências que deveriam ser icônicas da obra não passam de releituras do que já veio antes. Nossos temores sobre esse ser um remake disfarçado, pois, praticamente se concretizam. Ao invés do que vimos no Episódio VII, no entanto, o que é feito aqui sai apenas de uma fonte, puxando diversos pontos de vários longas da franquia, desde as mais óbvias de O Retorno de Jedi e O Império Contra-Ataca – em cópias pouquíssimo inspiradas e artificiais, pelo fato de precisarmos acreditar que algo simplesmente igual está acontecendo de novo – até as menos evidentes, como é o caso de cenas claramente tiradas de O Despertar da Força.
Falar sobre atuações em um filme desses, portanto, não pode ser considerado, sequer, justo. Com elenco de peso, formado por veteranos e estreantes, ninguém tem o necessário espaço para brilhar. Hamill até chama a atenção, mas suas cenas são tão perdidas dentro de uma trama hesitante que não conseguimos perceber isso tudo como uma grande oportunidade perdida. Fruto, claro, de um texto que desconsidera o que veio antes e insere motivações frágeis para o personagem.
O mesmo pode ser dito da saudosa Carrie Fisher, que certamente não tem a despedida que merece da franquia, contando, inclusive, com uma cena “vergonha alheia”, das mais deus ex machina possíveis, que mais soa como uma inclusão de última hora. Fisher deixará saudades, mas contemplar seus trabalhos anteriores na franquia é a melhor maneira de se despedir da atriz.
Já John Boyega e Oscar Isaac, ambos têm de trabalhar com arcos superficiais e desnecessários, desvalorizando suas apresentações no filme anterior, ao passo que suas personalidades não são nem um pouco aprofundadas. Cabe a Daisy Ridley e Adam Driver, portanto, levar todo o longa nas costas, visto que são os únicos com uma trajetória fluida e orgânica, que não depende de saltos, que esquecem tudo o que está no meio. Existe uma nítida química entre ambos, que possibilita, ainda que breves, momentos verdadeiramente dramáticos no longa-metragem.
Esses pontuais acertos, claro, não são capazes de nos fazer esquecer toda a tragédia que os cerceia, muito pelo contrário. Como já dito, as qualidades de Star Wars: Os Últimos Jedi permanecem perdidas, sendo necessário esforço para lembrarmos do que efetivamente vale a pena ser salvo, já que todo o restante apenas demonstra o quanto Rian Johnson e a Disney erraram a mão nesse filme. Trata-se de uma obra que não apenas se esquece do que veio antes, como constantemente altera sua própria proposta, estragando personagens, enquanto outros permanecem no raso, nos entregando um dos piores longa-metragens da saga Star Wars, reiterando nossos temores iniciais e o quanto o forte controle criativo da Disney prejudica essa galáxia muito, muito distante.
Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, EUA - 2017)
Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Mark Hamill, Adam Driver, Gwendoline Christie, Domhnall Gleeson, Carrie Fisher, Billie Lourd, Andy Serkis, Laura Dern, Oscar Isaac, Benicio Del Toro, Kelly Marie Tran
Gênero: Ficção científica, fantasia
Duração: 152 min.
Crítica | Tudo o que Você Sempre quis Saber Sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar
Baseado no livro homônimo de David Reuben, Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar, já revela pelo título a acidez e a ironia presente no filme e, é claro, no próprio conjunto da obra de Woody Allen. O diretor, ainda no início de sua carreira, já apresentava inúmeras das características que o acompanhariam pelo restante da sua vida e nada melhor para isso do que um longa-metragem sobre sexo, cujo drama atrelado marca não somente sua fotografia, como sua conturbada e polêmica vida pessoal.
O filme em questão nada mais é que um grande amontoado de curtas com a mesma temática, como se fossem capítulos do livro no qual foi baseado, procurando explorar diversos aspectos da sexualidade, que vão do orgasmo feminino até a ejaculação masculina. Esse conjunto de esquetes contam com identidades visuais próprias e são completamente desconexos um do outro — Allen explora essas questões de forma criativa, fazendo uso da comédia do absurdo, do exagero, culminando na risada do espectador, que jamais esperaria algo daquela forma. Infelizmente, essa desunião dos diferentes arcos acaba prejudicando a fluidez narrativa em determinados pontos — tirando o gosto pela história anterior, não há nada que nos prenda à seguinte, dificultando nossa total imersão.
Felizmente, a duração do filme como um todo, assim como a de cada segmento, contribui para o ritmo da narrativa. Embora cada comédia seja pautada no exagero, sentimos como se o roteiro do próprio Woody soubesse exatamente como e quando encerrar cada trecho. O trabalho de direção, bastante ágil, também ajuda, mantendo-nos inquietos do início ao fim da projeção. Allen ainda sabe que a estrutura da obra como um todo dificultaria um clímax apropriadamente dito, apenas aqueles internos a cada capítulo — por isso vemos o ponto alto do longa, que se inspira em Viagem Fantástica, localizado bem no fim — uma dramatização do funcionamento do corpo misturada com um paralelo ao lançamento de um foguete, certamente a sequência mais hilária do conjunto.
Allen também mantém sua acidez ao realizar ligações com outras obras da cultura popular, indo desde Hamlet até Frankenstein, dinamizando cada trecho ao mesmo tempo que diverte o espectador, que consegue realizar tais paralelos, pois a maioria deles são bastante óbvios. É interessante notar também que o desenrolar do filme igualmente brinca com o conceito de seu título, as respostas das supostas perguntas que temos são todas escrachadas, repletas de uma ironia que basicamente nos diz: “viva tais experiências e não saia perguntando (ou buscando um livro de auto-ajuda)”, questão que é abordada, inclusive, no término do penúltimo arco.
Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar é uma experiência certamente inesperada e que provoca inúmeras risadas. Sua estrutura, ao mesmo tempo que nos mantém curiosos pelo que está por vir, também traz problemas de ritmo, mas que conseguem ser, em sua maioria, contornados. Woody Allen mostra desde cedo seu talento para roteiro e direção e lança ao mundo sua acidez. Não deixe o título gigantesco te assustar: este é um filme que vale ser assistido.
Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar (Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask – EUA, 1972)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, Gene Wilder, Louise Lasser, John Carradine, Louise Lasser, Anthony Quayle
Duração: 88 min.
Análise | Star Wars: Battlefront (2015) - Fracassando uma ótima ideia
A compra da Lucasfilm pela Disney revitalizou a franquia Star Wars com toda a força, trazendo não só os novos filmes, como inúmeros livros, quadrinhos (ainda que esses, de fato, nunca tenham deixado de serem publicados) e games. Battlefront, aclamado shooter da série, também ganha sua nova versão, um game completamente repaginado que utiliza como moldes a franquia Battlefield, também da Dice/ EA Games, que agora são os responsáveis por nos colocar de volta na guerra civil galáctica. A companhia, porém, é famosa por lançar jogos incompletos, apoiando-se fortemente em conteúdos extras – dlcs e expansões. Battlefront, infelizmente, não é uma exceção, mas isso não quer dizer que o game decepcione.
A ausência de um modo campanha é um dos primeiros aspectos que sentimos e que faz parecer como se algo faltasse no jogo, especialmente considerando o espaço que temos entre O Retorno de Jedi e O Despertar da Força, que poderia ser muito bem utilizado pelo game, criando uma história inédita que acrescentaria muito ao universo de Star Wars. Na falta de uma história, o que nos resta é pular para o multiplayer ou experimentar um dos modos single-player, dentro dos quais temos, inclusive, o tutorial que nos explica cada uma das novas mecânicas aqui inseridas. Vamos iniciar por esses.
Divididos entre esses tutoriais, survival e battles, o modo para um jogador (ou coop e splitscreen) nos permite uma familiarização com a jogabilidade de Battlefront. É recomendável iniciar para aqui a fim de entendermos cada aspecto da movimentação e tiro, seja a pé, seja em uma das icônicas naves da franquia. O que chega a surpreender é como o survival demonstra ser uma experiência consideravelmente divertida – somos colocados contra hordas de imperiais e devemos resistir por quinze ondas até que a evacuação seja liberada. Tanto sozinho, quanto com um amigo, esse modo traz uma dificuldade crescente e interessantes possibilidades que tornam cada partida única.
As recompensas não chegam perto do online, mas atuam como um bônus, um motivador para que entremos nessas partidas. A funcionalidade splitscreen, há muito abandonada pela maior parte dos games, ainda possibilita jogos locais que dinamizam as partidas. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito de battles, que não passam de um outro manual de instruções para utilizar e combater os heróis presentes na obra. Rapidamente se demonstram enjoativas e não oferecem nada além de troféus.
É no multiplayer online que o game demonstra sua verdadeira força. Contando com nove modos, encontramos aqui o grosso de Battlefront e o cuidado do desenvolvedor em nos trazer uma experiência bastante fiel à trilogia original. Desses, o maior destaque vai para Walker Assault, que procura recriar batalhas similares à de Hoth, presente em O Império Contra-Ataca. Do lado dos rebeldes devemos ativar pontos de captura para que Y-Wings bombardeiem os AT-ATs para torná-los vulneráveis. Os imperiais, por sua vez, contam com a tarefa óbvia de defender os walkers. Trata-se de um jogo único, mesmo considerando outros shooters e que nos inserem com maestria no universo de Star Wars.
A óbvia vantagem que o Império recebe em tais partidas atua como um elemento que garante a tensão constante no jogador, ao mesmo tempo que subestimar os rebeldes pode se revelar um gigantesco erro. Aqui temos veículos, naves, soldados, heróis, todos batalhando ao mesmo tempo – cada jogo é como se fosse inédito e traz diferentes desafios, por mais que se limitem a quatro mapas – Endor, Hoth, Sullust e Tatooine. Não se enganem, porém, esses terrenos são verdadeiramente gigantescos e muito diferentes uns dos outros. Enquanto as árvores de Endor ocultam soldados inimigos, as planícies gélidas de Hoth criam fortes batalhas de atrição – a utilização efetiva de cada ponto do mapa pode significar a vitória para um dos lados, como a habilidade de cada jogador, é claro. O time aqui realmente importa e a sinergia é tudo.
Logo atrás, por muito pouco, de Walker Assault, temoso modo Supremacy, que também permite um total de quarenta jogadores simultâneos, vinte de cada lado, naturalmente. Aqui temos os mesmos locais, porém com uma grande diferença: ao invés de derrubar walkers, devemos capturar pontos de controle, o time que capturar a maioria até o final do tempo, ou conseguir todos de uma vez, ganhará. Vemos aqui verdadeiras guerras se desencadeando e uma legítima falta de tranquilidade, ao passo que cada base pode ser perdida para o oponente em um piscar de olhos. Raciocínio rápido, estratégia e, é claro, uma mira melhor que a dos stormtroopers é mais que necessária, mas quem mata mais não necessariamente vence, acima da glória pessoal é necessário pensar no time e um sacrifício pode gerar a captura de um ponto de controle. Dessa forma a Dice/ EA garante um trabalho cooperativo, nos fazendo pensar efetivamente como uma facção e não como um amontoado de jogadores. As vozes em off de oficiais imperiais ou rebeldes ainda ajudam, nos transportando diretamente para essa galáxia muito…. muito distante.
Dropzone, por sua vez, diminui o escopo do que vemos em tela e coloca apenas dezesseis jogadores na partida. A mecânica dos pontos de controle retorna, mas agora eles aparecem randomicamente por um dos seis estágios possíveis, todos variações criativas dos mesmos planetas – e não, não se trata de uma repetição, a diferença nos mapas é tamanha que obriga ao jogador formular estratégias completamente diferentes. Aqui não temos heróis ou naves, somente os soldados lutando – O divertido caos de supremacy e walker assault dão lugar a um maior equilíbrio, ainda que as cartas e equipamentos utilizados (chegaremos nisso mais tarde) façam a maior diferença em cada cenário. Similar a este temos droid run, que diminui ainda mais o número de soldados de cada lado – doze de cada – e no qual devemos capturar pequenos droides que se movem pelas locações. São modos que não contam com toda a glória dos dois primeiros abordados, mas que definitivamente oferecem uma maior diversidade ao game, garantindo um grande teor de replay.
Blast e cargo retomam as origens do gênero shooter, são o clássico mata-mata e capture a bandeira e, ainda que não sejam nada inovadores, ampliam o que já foi dito antes: a diversidade do game. É importante ressaltar que cada um traz experiências completamente diferentes, exigindo novas estratégias – não canso de bater nesta tecla pois é o que Battlefront traz de melhor: uma diversidade que, à princípio, soa limitada, mas que consegue roubar horas, horas e mais horas do jogador.
Fighter squadron, por sua vez, é mais um fator completamente inédito, trazendo batalhas aéreas em quatro possíveis mapas, nos quais controlamos X-Wings, A-Wings, Tie Fighters ou Tie Interceptors. O modo, muito presente no material de divulgação do game, acaba sendo uma pequena decepção. Trata-se de um simples mata-mata que rapidamente soa repetitivo por não contar com o mesmo dinamismo visto nos outros modos. O ponto positivo é o controle das naves, extremamente orgânico e intuitivo (nos controles – no mouse a história já é outra, e recomendo um joystick). A possibilidade de controlar a Millenium Falcon ou a Slave I também embelezam essas partidas, ainda que sejam completamente desbalanceadas, extremamente superiores aos fighters comuns que controlamos. Outro aspecto que atua a favor de fighter squadron é a duração curta das partidas, que garante uma nítida tensão ao jogo, fazendo dele uma competição bastante acirrada.
Os dois modos restantes colocam os heróis no centro da jogada. Hero Hunt faz de um jogador um herói enquanto os outros sete devem caçá-lo pela fase. Aquele que matar o inimigo se tornará o novo personagem icônico. O grande defeito de tais partidas é o fato de que não importa o quanto de dano você causou ao oponente, quem se tornará Han, Luke, Vader, Leia, Boba ou Palpatine será quem deu o último tiro, o que pode gerar uma grande frustração no jogador, ao mesmo tempo que cria espertinhos que ficam à distância esperando só para dar o último bote. A pouca quantidade de jogadores em cada mapa também os torna nitidamente vazios e passamos muito tempo percorrendo o cenário sem nada o que fazer. Com certa similaridade a este temos o Heroes vs. Villains, que já traz uma dinâmica maior, colocando dois times – um de heróis e outro de vilões obviamente – em batalhas. Há somente um herói de cada lado enquanto os outros são soldados normais. Aqui temos o gosto verdadeiro de controlar Vader, por exemplo, que se prova uma força a ser reconhecida pelo time inimigo, fatiando todos à sua frente. Cada herói se revela único e é preciso um pequeno treino antes de se colocar em seus calçados (voltamos ao modo single-player).
Limitar Battlefront a seus inúmeros modos de jogo, contudo, seria um erro. Grande parte do replayocorre em virtude dos colecionáveis e dos equipamentos presentes no game. A cada nível que alcançamos (cuja experiência adquirida é baseada em nossas proezas em cada jogo) liberamos novas cartas – powerups recarregáveis como granadas, minas, jetpacks – e armas. Esses possibilitam uma inteira customização da jogabilidade, adequando as partidas ao estilo pessoal do jogador, queira este ser um sniper ou atacar seus oponentes à queima-roupa.
O avanço em níveis é ansiado a cada jogo finalizado e nos faz querer iniciar outro imediatamente. Acima disso, porém, é interessante observar como nossas próprias habilidades se desenvolvem com o tempo e nossa taxa de sucesso passa a aumentar exponencialmente, como em qualquer shooter. A escolha da arma certa pode significar a vitória para seu time, basta encontrar qual melhor se encaixa em seu estilo. Além disso, existe a possibilidade de customizarmos a aparência do soldado que controlamos – seja rebelde ou imperial – através de certos presets que podem ser comprados. Trata-se de um fator inteiramente opcional, extra, mas que merece a atenção daqueles que jogam no modo em terceira-pessoa. Já falando nas diferentes perspectivas possíveis, o modo em primeira pessoa e terceira diferenciam apenas na precisão e na percepção do cenário ao seu redor. Ambos apresentam suas qualidade se defeitos e devem ser experimentados e escolhidos na base da preferência de cada jogador. Pessoalmente, a terceira-pessoa me atrai mais.
O que é inegável em Battlefront é a sua qualidade gráfica. Temos aqui um dos games mais belos da nova geração, independente da plataforma escolhida. A profundidade de cada cenário e a quantidade de detalhes que vemos em tela é verdadeiramente assustadora. Enquanto percorremos o solo da batalha, vemos verdadeiras guerras aéreas se desenrolarem muito acima, o que nos transporta com exatidão para esse universo e nos coloca em um palco muito mais amplo. A guerra civil galáctica efetivamente se desenrola aqui, nos garantindo uma percepção muito mais ampla do conflito entre o Império e a Aliança Rebelde. Infelizmente o mesmo cuidado não está presente nas animações dos heróis, mais especificamente em suas apresentações que chegam a ser risíveis, especialmente a de Han Solo – Boba Fett, felizmente, sai ileso e se mantém altivo, sendo um dos vilões mais divertidos de se jogar.
Star Wars: Battlefront pode parecer um game incompleto e realmente há muito o que se acrescentar para que ele se torne o jogo perfeito dessa gigantesca franquia. Ainda assim se trata de um verdadeiro tributo aos fãs da trilogia original e um shooter extremamente divertido, que traz modos únicos que o diferencia notavelmente de outros gigantes da indústria, como Call of Duty ou Battlefield. Proporcionando horas, horas e mais horas de jogo, temos aqui uma obra que todo amante de Star Wars deve, ao menos, considerar adquirir, nem que seja para soltar um rebel scumenquanto atira contra a escória rebelde.
A Batalha de Jakku
Lançado como conteúdo adicional gratuito, A Batalha de Jakku acrescenta mais um modo, Turning Point, e três novos mapas para Battlefront – um para o próprio modo adicionado, que também é utilizado nos outros para quarenta jogadores, outro para os mapas menores, como os de Blast e um terceiro para o Fighter Squadron. Estamos aqui em uma batalha decisiva da Rebelião (agora Nova República) contra o Império: após a Batalha de Endor, as forças imperiais se reagruparam em sua fábrica no planeta Jakku, descobrindo a localização do planeta, os rebeldes prontamente montam um ataque maciço à base.
Observar os céus de Jakku preenchidos por naves de ambos os lados é um espetáculo à parte. Enquanto trocamos tiros na terra, um super star destroyer entra em colapso, pronto para se chocar contra a superfície desértica do planeta. Ao mesmo tempo, inúmeros destroços já ocupam as areias, inclusive a nave que vemos Rey pela primeira vez em O Despertar da Força. Com esse dlc conseguimos ter uma percepção bastante real do que se seguiu após o Episódio VI.
Turning point é um modo muito bem vindo a Battlefront. Trata-se de uma variação do clássico king of the hill, no qual o Império precisa controlar alguns pontos de controle, não perdendo-os para os rebeldes, até que o tempo se esgote. A tensão é contínua e qualquer segundo perdido pode significar a derrota da equipe. O lado negativo é que somente temos Jakku nesse modo, algo que certamente irá mudar com futuros dlcs. Hoth, por exemplo, seria um acréscimo óbvio, colocando os rebeldes tendo de segurar sua base até o fim.
Dito isso, o pequeno, porém importante, dlc nos dá um gosto do que está por vir nas próximas expansões, mostrando que Battlefront pode, sim, ter uma grande sobrevida até ou até mesmo depois de sua continuação, dependendo da estratégia utilizada pela DICE. Como é gratuito, certamente deve ser conferido por todos os jogadores do game.
Star Wars: Battlefront
Desenvolvedor: DICE
Lançamento: 17 de Novembro de 2015
Gênero: Shooter
Disponível para: PS4, PC, Xbox One
Bastidores Explica | Em Qual Ordem Devo Assistir Star Wars?
Os Últimos Jedi está finalmente chegando e não há melhor hora para rever os oito filmes de Star Wars, a dúvida que sempre fica, porém, é a seguinte: ordem cronológica ou de lançamento? Aqui nesse post eu irei explicar que a melhor maneira não é nenhuma dessas duas e sim uma terceira, que consiste em: Rogue One, IV, V, II, III, VI e VII. Isso mesmo, sem o Episódio I! Alguns já devem conhecer esse esquema, é chamado de Machete Order, idealizado por Rod Hilton, e ele coloca as seis obras de forma que a narrativa toda gire em torno da jornada de Luke e a ascensão/ queda do Império. Como essa ordem foi elaborada antes do lançamento de Rogue One e O Despertar da Força, demos uma adaptada a fim de incluir esses dois filmes mais recentes.
Antes de começarmos, porém, vamos contemplar as duas outras possibilidades.
Ordem de lançamento (IV, V, VI, I, II, III, VII, Rogue One)
Assistir Star Wars da maneira como ele foi originalmente lançado cria uma evidente ruptura na narrativa da saga. Primeiro acompanhamos a história de Luke Skywalker, vemos como ele se tornou um Jedi e derrubou o Império. Logo em seguida, voltamos ao passado e descobrimos como a galáxia chegou a tal ponto, como Anakin Skywalker se tornou Darth Vader, somente para, depois, retornarmos ao futuro e novamente ao passado.
Ouso dizer que essa é a ordem que mais diferencia as trilogias, sentimos como se estivessem muito distantes uma da outra e o pior: assistir a trilogia original e logo após a nova apenas nos faz enxergar mais os deslizes de George Lucas, especialmente considerando A Ameaça Fantasma. Isso, é claro, sem falar na aparição de Hayden Christensen como fantasma da Força na edição especial de O Retorno de Jedi, que não faz o menor sentido para quem não assistiu a trilogia nova ainda!
Considerando os novos filmes lançados pela Disney, esse eterno vai e vem quebra completamente a fluidez da saga e mais serve para confundir do que qualquer outra coisa!
Ordem cronológica (I, II, III, Rogue One, IV, V, VI, VII)
Do I ao VI, a saga assume um contexto bastante diferente. Não se trata mais da história de Luke e sim de Anakin, como ele se tornou um Jedi, caiu e foi redimido – a jornada do herói do personagem em questão é a que ganha maior destaque e isso acaba ofuscando a de seu filho, que, pessoalmente, considero muito mais interessante. Basta enxergarmos, Vader é o clássico caso do anjo caído, enquanto Luke era um zé ninguém que quase entrou para a academia imperial, passou a fazer parte da aliança rebelde, quase caiu para o lado negro e, no fim, destruiu o Império.
O conflito interno do personagem, gostemos dele ou não, é muito interessante e garante uma notável profundidade a ele. Assistir Star Wars com o foco em Vader certamente não é algo ruim, mas tira nosso enfoque de aspectos cruciais dentro do universo em questão, como a luta pela liberdade almejada pela Aliança Rebelde. Acima disso tudo, para quem é completamente “virgem”, essa ordem estraga totalmente a revelação de que Darth Vader é pai de Luke! E sim, quando eu assisti O Império Contra-Ataca, com meus seis anos de idade, eu não sabia disso, é um choque monumental.
A “Machete Order” (Rogue One, IV, V, II, III, VI, VII)
Chegamos, enfim, à maneira que mais faz sentido em termos de narrativa, especialmente considerando a nova trilogia. Começando por Rogue One, conhecemos, desde cedo os horrores do Império, as chacinas cometidas pelos imperiais e à respeito da luta pela Liberdade, travada pela Aliança Rebelde. A figura de Vader é apropriadamente estabelecida como uma de ameaça, medo, encaixando perfeitamente com o início do Episódio IV.
Já em Uma Nova Esperança, com uma trama bastante simples, a luta da Rebelião continua, passamos a enxergar Rogue One como o perfeito prólogo dessa história, que, então estabelece Luke Skywalker como o personagem central de toda a saga. A batalha de Yavin ganha um peso ainda maior e o tom mais pessimista de Rogue One é substituído por um de esperança. Continuar para O Império Contra-Ataca, após esse filme, é um caminho mais do que óbvio.
O Império Contra-Ataca termina, somos deixados com um dos maiores cliffhangers da história do cinema, Luke descobre que Vader é seu pai, Han é congelado e levado para o Palácio de Jabba e somos deixados nessa expectativa conforme o filme se encerra com a frota rebelde se distanciando. Tudo isso é resolvido em O Retorno de Jedi, mas antes de irmos para lá, agora que descobrimos quem é Vader, vamos ter um flashback e descobrir sua história – um detalhe interessante é que a nave médica no final de O Império Contra-Ataca é vista indo para a esquerda, o que narrativamente falando pode simbolizar uma jornada para o passado, justificando um flashback, isso sem falar no momento contemplativo de Luke e Leia que olham para a galáxia pela janela.
Voltamos, portanto, ao Episódio II. Por que II e não I? Simplesmente porque A Ameaça Fantasmanão acrescenta NADA de útil à saga e ainda nos livramos de Jar Jar Binks e um podracing extremamente longo. Mas por que o Episódio I nada acrescenta? A resposta é simples, todas as informações ou acontecimentos de destaque dele podemos extrair direto de sua continuação.
No início de Ataque dos Clones já sabemos que Anakin é aprendiz de Obi-Wan, aliás, já sabemos disso desde Uma Nova Esperança (mais um motivo pelo qual é importante começar por ele). Padmé é colocada como senadora da República logo no texto de abertura. O Chanceler Palpatine também é introduzido nas cenas iniciais, junto do conselho jedi com Yoda e Windu. O romance de Anakin e Amidala ainda é revelado logo no princípio e se torna muito mais fácil de aceitar quando temos nossa imaginação para construir o que veio antes e não um filme que mostra que ela é uma grande pedófila. Mesmo a vida de escravo de Ani é revelada através de um diálogo com Watto, o que já estabelece a personagem de sua mãe e justifica a ira do Jedi posteriormente.
O posterior, A Vingança dos Sith, é o caminho óbvio, finaliza o flashback mostrando a queda de Skywalker. Aqui encontramos o que poderia ser considerado único defeito dessa “Machete Order” – na cena do parto de Padmé, descobrimos que Luke é irmão de Leia, o que estraga a revelação do Episódio VI. A verdade, porém, é que a revelação apenas é transferida para o Episódio III e trabalhada novamente no último filme da saga. O final, com Owen e Beru olhando para os dois sóis de Tattooine cria um vínculo direto com a trilogia original e nos transporta de volta para O Retorno de Jedi.
Assim, após assistir a criação do Império e como Anakin foi manipulado, vamos para o desfecho. O interessante é que, colocando os episódios III e VI lado a lado temos os dois clímax da saga juntos, além de ter o início e o fim do Império próximos um do outro. O mais importante do flashback, contudo, eu diria que é o distanciamento que ele cria entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, que permite uma maior sensação de passagem de tempo, que nos faz acreditar mais no crescimento de Luke (que se torna um cavaleiro jedi), dá o tempo para a criação da nova Estrela da Morte e, é claro, o tempo para Han ficar preso na carbonita. O término da saga, então, cumpre sua função de mostrar como a liberdade foi restaurada e como Luke superou as tentações do lado negro, redimindo seu pai e acabando com o Imperador.
Mas, é claro, que com os novos filmes a saga está longe de ser encerrada. E como O Despertar da Força se encaixa nisso tudo? Após deixarmos Luke no final de O Retorno de Jedi, era de se esperar que o Império acabasse por ali. Mas não é o que acontece, conforme vimos no Episódio VII. É o caminho mais natural, portanto, assistir O Despertar após O Retorno, ele continua a história e de imediato coloca o paradeiro de Luke como grande mistério - em outras palavras, a saga continua girando em torno do Skywalker!
Considerações finais
Naturalmente não há uma ordem certa para se assistir Star Wars, esta que apresentei aqui é apenas a que considero melhor. Vale a pena a experiência! Antes de encerrar, contudo, preciso dar uma sugestão: procurem assistir as versões de cinema da trilogia original – velhos VHS, DVDs ou até mesmo alguns fan-edits. Uma delas, particularmente interessante, é a Harmy’s Despecialized Edition, que recria as versões originais com som e imagens remasterizadas. Com isso, nos livramos do NOOOOO de Vader em O Retorno de Jedi e Hayden Christensen como fantasma da Força no desfecho.
Que a Força esteja com vocês!
Portal | Novo game da franquia é anunciado
A franquia de quebra-cabeças da Valve ganhará uma nova entrada, já em 2017. Trata-se de Bridge Constructor Portal, um derivado desenvolvido pela Headup Games, responsável por Bridge Constructor e Game Dev Tycoon. Como o nome já sugere, o objetivo do jogo é construir pontes da Aperture Science para permitir que um caminhão chegue de um vão ao outro. Confiram o trailer abaixo:
Bridge Constructor Portal ainda trará icônicos personagens da franquia de volta, como GLaDOS - essa, de fato, não poderia faltar.
O jogo será lançado no dia 20 de dezembro de 2017 para PC e Mac e, em 2018, ele será disponibilizado para Xbox One, PS4, Nintendo Switch e dispositivos móveis.
Crítica | As Vantagens de Ser Invisível - Adolescência em Depressão
Se fôssemos anotar a quantidade de filmes sobre adolescência lançados nos últimos vinte anos precisaríamos de cadernos e mais cadernos e mesmo assim não conseguiríamos listar todos. Poucos, contudo, captam tão bem a explosão emocional dessa faixa etária de forma tão precisa quanto As Vantagens de Ser Invisível, dirigido e roteirizado pelo mesmo escritor do romance original, Stephen Chbosky, o que já é digno de nota, considerando que são poucas as vezes que uma adaptação encabeçada pelo próprio autor que acaba se sobressaindo e o que recebemos é tão bom quanto o material fonte.
Charlie (Logan Lerman) é um jovem que sofre de depressão e acaba de entrar no ensino médio. Temeroso em relação a esse novo estágio de sua vida, ele acaba se tornando praticamente invisível, socialmente excluído, até conhecer Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois alunos do último ano que o acolhem em seu círculo de amigos. O filme, a partir daí, lida com a melhoria psicológica de seu protagonista em paralelo com os típicos dramas adolescentes, em especial sua paixão por Sam, que o leva em uma montanha russa emocional que nos deixa ao mesmo tempo ansiosos e receosos pelo que está por vir.
É impressionante como o roteiro de Chbosky consegue colocar em imagem a instabilidade de Charlie, são situações comuns a todos nós, mas há tamanha sinceridade no que assistimos que não conseguimos deixar de ficarmos vidrados na tela. Ao mesmo tempo, ele lida com a depressão do personagem de maneira assustadoramente realista e aos poucos nos revela mais das causas da doença, trazendo um plot twist angustiante que tira o longa-metragem do comum e o coloca muito acima da média.
As questões abordas são um choque de realidade e a forma como são retratadas fazem desta uma obra que merece e deve ser assistida por qualquer adolescente – mesmo o uso de drogas, primeiro mostradas com seus bons efeitos colaterais mostram seus malefícios mais adiante na projeção.
A direção de Stephen também chega a surpreender, especialmente em virtude de sua pouca experiência com os longas. Ao adotar um foco subjetivo em Charlie, ele consegue nos transportar para dentro de seu protagonista. Quando está sozinho, nos sentimos sozinhos, quando está rodeado de amigos, nos sentimos no calor desse círculo social. Mesmo sua angústia, timidez (como quando está prestes a dançar ou beijar alguém) trazemos para nos próprios e não podemos deixar de lembrar de nossas próprias experiências, que fizeram, para alguns, o ensino médio uma verdadeira maravilha e para outros uma tortura indescritível.
A beleza de As Vantagens de Ser Invisível está aí, em seu caráter eterno – não importa em que década vivemos, sempre passaremos por situações parecidas, pois, apesar das mudanças tecnológicas e filosóficas, o ser humano continuará sendo o que ele é: uma mistura de incertezas, emoções, sentimentos que podem gerar coisas verdadeiramente maravilhosas e coisas terríveis.
Sequer mencionar o trabalho de atuação do trio principal, Logan, Emma e Ezra, seria uma grande injustiça de minha parte. Miller faz um trabalho que nos choca especialmente em virtude de seu longa anterior, Precisamos Falar Sobre o Kevin – de psicopata ele passa para um jovem engraçado, divertido e bastante descontraído. Sabiamente, Chbosky utiliza o personagem para abordar a questão da homossexualidade em uma sociedade ainda muito preconceituosa e praticamente grita para o espectador: seja você mesmo, não se esconda, mostrando que a árdua tarefa de se revelar pode tirar um peso de suas costas.
Watson, por sua vez, carrega uma dose emocional gigantesca, ela vive claramente a incerteza de sua personagem, é uma mulher cujo futuro está para ser decidido e isso faz com que não consiga lidar com outros aspectos de sua vida direito – mesmo ela colocando Charlie em uma terrível posição, não podemos deixar de nos afeiçoar por Sam e entender seu lado, tamanha é a sinceridade de Emma em seu trabalho, que já se destacara no decorrer da franquia Harry Potter. Lerman, por sua vez, é o que conta com a maior responsabilidade: deve viver uma mistura de tristeza, alegria, raiva, paixão e arrependimento, ao mesmo tempo que cativa o espectador e nesse quesito ele consegue de forma que qualquer um que tenha passado por algo parecido irá aplaudir o garoto.
A trilha musical também não deixa a desejar e, ao contrário de muitos filmes do gênero que vemos por aí, não cai no erro de colocar uma música famosa a cada momento dramático. Temos aqui um claro exemplo de como menos é mais através do uso de Heroes, de David Bowie, que sumariza perfeitamente a jornada pela qual o protagonista passa.
Além do trecho colocado no início da crítica, que bem representa sua relação com Sam, Bowie escreveu a música em sua fase de Berlim, para onde fora para se recuperar de seu vício nas drogas – a canção, no filme, portanto, simboliza a vitória do personagem principal sobre sua depressão.
Apesar de todos as qualidades, o filme ainda cai em um pequeno deslize normal para adaptações de livros que seguem uma estrutura de diário ou carta. Ao trazer uma narração em off constante, muitas vezes temos uma simples constatação de fatos que já vemos em tela, o que acaba tirando o efeito dramático de alguns trechos. Felizmente aqui, o caso é mais ameno que em A Culpa é das Estrelas, por exemplo, mas ainda assim prejudica o longa em determinados aspectos.
Dito isso, As Vantagens de Ser Invisível não deixa de ser um excelente filme, que serve para entreter, educar e nos lembrar de uma complicada parcela de nossa vida. Trata-se de uma abordagem madura e atemporal de problemas pelos quais passamos, um retrato sincero de como um jovem pode se recuperar de traumáticos eventos e passar a viver sua vida de fato e a uma prova de como a amizade e o amor podem tirar qualquer um de seus momentos mais sombrios.
As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA - 2012)
Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Dylan McDermott, Kate Walsh, Nina Dobrev, Paul Rudd
Gênero: Drama
Duração: 102 min.
Crítica | Jogos Mortais 5 - Só faltou relevância nesse filme
Uma das principais características da franquia Jogos Mortais é a sua montagem paralela, que divide a obra, em geral, em dois focos distintos, um nos mostrando a investigação policial, cujo objetivo é encontrar o serial killer Jigsaw, e outro mostra as vítimas do mais recente "jogo" elaborado por esse assassino. Embora se passem em locais distintos e, ocasionalmente, em tempos diferentes, os dois lados da história dialogam entre si, um complementando o outro, enquanto caminham para o mesmo ponto em comum. Por mais que a visão original de James Wan tenha sido deturpada ao longo das sequências do primeiro longa-metragem da série, essa estrutura se manteve intocada.
Jogos Mortais 5, no entanto, comete o erro mais crasso imaginável dentro dessa proposição, criando narrativas paralelas que (quase) nada se complementam, uma praticamente anulando a outra, de tal forma que o filme poderia facilmente existir sem qualquer uma delas. Mais agravante ainda é a própria trama geral, que praticamente nada acrescenta ao universo da franquia, soando mais como um fictício making-of dos jogos de Jigsaw do que qualquer outra coisa - puro fan service dispensável, sem um pingo de criatividade. Antes, contudo, de entrarmos nos outros graves problemas dessa quinta entrada da franquia - e acreditem, eles são muitos - vamos à trama.
Seguindo a mesma premissa da obra anterior, que atua como continuação direta de Jogos Mortais 3, ao contrário dos dois primeiros filmes, que funcionam perfeitamente como obras fechadas em si próprias, o longa em questão nos leva de volta para os minutos finais de seu antecessor, com o agente Strahm (Scott Patterson) sendo preso na sala onde encontrou o corpo de John Kramer (Tobin Bell) - inexplicavelmente, já que o cadáver já havia passado por sua necrópsia em outro lugar e certamente sentiriam falta caso ele tivesse simplesmente desaparecido, mas isso é esquecido pelo roteiro, naturalmente. Dentro dessa sala, o agente encontra uma passagem secreta e mais uma fita, que dá a entender que ele está entrando em um jogo elaborado pelo serial killer. Ignorando os avisos de Jigsaw, ele continua sua jornada, convicto de que o detetive Mark Hoffman (Costas Mandylor) é um dos ajudantes do assassino - algo que descobrimos no filme anterior. Enquanto isso, outro jogo se desenrola com cinco pessoas tendo de vencer uma série de provas que os forçam a trabalhar em equipe.
De imediato, a premissa de Jogos Mortais 5 soa como um sopro de originalidade na franquia - enquanto os grandes twists das obras anteriores girava em torno de quem era o assassino, nesse quinto longa já sabemos quem está por trás de tudo. O whodunnit se transforma na velha perseguição de gato e rato, sem deixar claro quem desempenha cada papel nessa história toda. Ainda que o roteiro de Marcus Dunstan e Patrick Melton dê certa atenção ao detetive Hoffman, contudo, é perdida a oportunidade de nos colocar mais na pele desse criminoso, o que, no fim, acaba não diferenciando muito a estrutura narrativa do filme em relação aos seus antecessores.
Oportunidade perdida, no entanto, é o menor dos problemas da obra, visto que ela traz algumas questões de ativar a incredulidade de qualquer um com o mínimo de atenção. A mais evidente dessas é a investigação conduzida por Strahm, que de trabalho policial realmente não tem nada: ele simplesmente entra em uma sala, olha para o alto, a cena corta para um flashback (making-of dos jogos) e quando retornamos ao presente o agente aprendeu algumas informação nova, como se ele próprio tivesse contemplado esse olhar sobre o passado ou tivesse absorvido, por osmose, tudo o que aconteceu naquela sala. Chega a ser ridículo como o personagem descobre que Hoffman é o assassino, logo nos minutos iniciais, sem levantar qualquer dado, apenas tendo uma súbita epifania.
Para piorar essa situação, é abandonado o notável trabalho em cima das cores da imagem, que acompanhamos nos longas anteriores. Aqui a diferença é mais sutil, o que acaba nos confundindo vez ou outra quando vamos ao passado e não há praticamente nenhuma mudança no tom das cores, ou sequer um filtro mais diferenciado. Jogos Mortais 4 já está longe de ser um bom filme, mas, ao menos, ele demonstra maior preocupação com tais fatores - essa sua continuação nem isso, provando ser uma produção preguiçosa, pouco inspirada e repleta de erros amadores.
Mas ainda falta para acabarmos a longa lista de defeitos da obra, afinal, é preciso comentar sobre o encadeamento dos eventos e sobre a falha montagem paralela criada nesse quinto filme. Os constantes vai-e-vem entre agente, Hoffman e vítimas do jogo são realizados de maneira extremamente burocrática - não há coesão entre as sequências do longa, como se fossem recortes de filmes diferentes colocados ,de maneira alternada, em sequência. A impressão passada é a de que estamos assistindo uma nada boa série de televisão com diversas subtramas se desenrolando paralelamente.
Não satisfeitos com todos os deslizes levantados até aqui, os roteiristas ainda fizeram a questão de criar uma das armadilhas mais absurdas de toda a franquia: uma lâmina gigante que realiza movimentos pendulares - algo que não faz o menor sentido, considerando que a pessoa teria de fazer isso sozinho, sem levantar suspeitas, sendo que poderia fazer algo muito mais simples e mais efetivo. E não irei sequer comentar sobre o fato de ter sido um policial e não um engenheiro que construiu esse monumental exagero.
Ao menos, a direção de David Hackl, que trabalhara como designer de produção na franquia desde Jogos Mortais 2, nos poupa do excesso de planos curtíssimos entrecortados, péssimo maneirismo de Darren Lynn Bousman, que extrapolara a linguagem visual estabelecida por James Wan. Hackl, no entanto, continua a nos mostrar mais do que deveria, esbanjando do gore sem qualquer justificativa, tentando apenas criar algo ainda mais sangrento que seus antecessores - o que, de fato, consegue, criando uma sequência em específico, próximo do fim, de revirar o estômago. Assim como nos três longas que vieram antes desse (o primeiro foge disso), temos a violência como mórbido espetáculo.
Claro que, independente de qualquer erro ou acerto que o filme possa ter, nada irá superar a mais cruel das verdades acerca dessa produção: ela é inteiramente desnecessária. Se jamais tivesse existido, a franquia poderia pular do quatro para o seis sem o menor problema, ao passo que as duas histórias paralelas desenvolvidas em Jogos Mortais 5, além de não dialogarem apropriadamente entre si, não impactam em absolutamente nada a trama geral da franquia. Dito isso, não podemos deixar de enxergar essa quinta entrada da série como um grande filler, que esquece quase que por completo os acertos do longa original.
Jogos Mortais 5 (Saw V, EUA/ Canadá - 2008)
Direção: David Hackl
Roteiro: Marcus Dunstan, Patrick Melton
Elenco: Scott Patterson, Costas Mandylor, Tobin Bell, Betsy Russell, Julie Benz, Meagan Good, Mark Rolston, Carlo Rota, Greg Bryk, Laura Gordon, Joris Jarsky
Gênero: Terror, suspense
Duração: 92 min