Crítica | Não Para Não - Uma Miscelânea Musical

Pabllo Vittar é um dos maiores expoentes da cultura LGBTQIA+ tanto dentro do Brasil quando fora. Ganhando atenção da mídia ainda em 2015, quando produziu e estrelou como lead singer uma paródia festiva de Lean On, do grupo Major Lazer, sua carreira alavancou de modo assustador e reafirmaram sua posição como um dos maiores ídolos da comunidade e porta-voz da minoria dentro de um crescente espectro moralista e retrógrado. Sua fama concretizou-se com mais força quando, em janeiro de 2017, lançou o primeiro álbum de estúdio intitulado Vai Passar Mal, com músicas contemporâneas que até hoje são relembradas pelos fãs e que se tornaram ícones melódicos para as diversas festas brasileiras.

De qualquer modo, Pabllo encontrou um caminho fortuito e fértil para continuar trilhando sua incrível história - ainda que estivesse pecando, citando os críticos mais eruditos e clássicos da música, “na convicção vocal”. Na verdade, as discussões acerca da extensão dx cantorx pouco importam, visto que suas composições são abraçadas pela maior parte do público e volta e meia são direcionadas para as rádios e os serviços de streaming. Não há como negar que o fenômeno Vittar é real e dá força até mesmo para a entrada de artistas desconhecidos na indústria do entretenimento - afinal, elx teve um início pueril, por assim dizer, e encontrou um merecido espaço no lugar que sempre almejou: os palcos.

E como é de praxe para os cantores pop da atualidade, x artista resolveu lançar seu álbum de surpresa às vésperas de um dos momentos mais conturbados do país, talvez procurando uma forma de amenizar as tensões. Não Para Não, seu segundo trabalho profissional, alcançou números importantes para sua carreira nas poucas horas depois de ter sido lançado - e não é por menos: aqui, o espírito de brasilidade parece ganhar força, mesclando inúmeros estilos musicais e concentrando-os em dez faixas divertidas e no melhor estilo “chiclete”. Ainda que não esteja livre de problemas eventuais, principalmente na identidade da obra, cada música tem o seu valor comercial e abre margens para a produção de mais singles futuros, com imenso potencial artístico.

Buzina pode não ser um início perfeito, mas sem sombra de dúvida é envolvente, indicando o tom predominante do restante das tracks. Pabllo encontra o território adequado para uma letra animada, otimista e própria de uma cultura ballroom dos dias de hoje, com o crescendo bem marcado até o beatdrop do refrão mudo, que traz referências de um synthpop travestido por marcas brasileiras. É claro que a sutileza é o que ganha mais pontos aqui, e não seria até Seu Crime que a miscelânea se estrutura como premissa: o definitivo ponto alto do álbum é uma construção nostálgica e atemporal que conversa tanto com o estilo do pop nacional dos anos 2000 quanto com o forró e o brega, num mergulho inesperado e quase catártico.

Ainda assim, a produção não abre mão das batidas eletrônicas - e nem deveria. É fácil ver a mantida parceria entre a lead singer e compositores como Diplo e Rodrigo Gorky, este estando com elx desde as primeiras investidas no âmbito mercadológico. Em Problema Seu, o primeiro single dessa era, o refrão verborrágico que facilmente poderia ser empregado dá lugar a um respiro, um compasso mais uma vez bem demarcado que ajuda em sua fluidez. As tangências do eletropop mostram as caras com repaginações mais originais que outras faixas. Porém, uma coisa que pode ser dita é que a originalidade em questão de forma alguma chega aos pés da espontaneidade de seu trabalho predecessor, e os motivos são bem óbvios.

Vittar agora está dentro de uma comunidade que, se não x respeita por motivos injustos, deve aceitar o que representa. Manter o status está nos planos dx artista - e é justamente que elx opta por um disco virado mais para o comercial que para o pessoal. Em momento algum tiro o mérito das músicas, ainda mais porque todas são muito bem aproveitadas por um time competente e que definitivamente merece reconhecimento. Mesmo assim, a tríade formada por Não Vou Deitar, Ouro e Trago Seu Amor de Volta parece mecanizada quando justaposta ao restante do álbum: não importa em que ordem você as escute, as semelhanças são indiscutíveis e representa um leve deslize. De qualquer forma, a participação de instrumentos como o bumbo e o pandeiro conseguem incrementá-las e poli-las em certa parte.

As motivações de alegria não são as únicas que movem Não Para Não. Pabllo também faz bom uso de um escopo mais melódico em detrimento das compulsórias batidas em Disk Me. Ainda que a letra seja reflexo inerente à grande parte das faixas, falando sobre relacionamentos, amores não correspondidos e ilusões românticas, é a voz e a suavidade da composição sonora que marcam um passo interessante e funcionam como uma extensão técnica de Indestrutível. É claro que há algumas imperfeições; todavia, a conexão é quase tão imediata que as mudanças bruscas existentes na construção da faixa desvanecem em um piscar de olhos. A calmaria e a serenidade dessa ballad puramente brasileira é o que vale mais a pena a ser discutido.

Apesar do declive supracitado, a obra se reencontra novamente em um exponencial crescente, partindo de Vai Embora, passando por No Hablo Español, uma divertida e enraizada canção icônica e anacrônica, e culminando em Miragem, uma das melhores produções dx cantorx. Desde a contínua e fluida mudança do ritmo até a manutenção de notas seguras e bem estruturadas, as entradas carnavalescas e nostálgicas quase gritam por atenção sem fazer muito - e, no final, funcionam muito bem.

O segundo disco de Pabllo Vittar pode até perdido um pouco do enlouquecido brilho de seu trabalho inicial, mas mesmo sua estrutura mais pensada e mais comercial não são capazes de tirar o potencial de envolvência. Não Para Não se entrega à busca de um espírito próprio da nossa cultura e o faz dentro de um fusionismo musical interessante e bastante digno de reconhecimento.

Nota por faixa:

  • Buzina - 3,5/5
  • Seu Crime - 4,5/5
  • Problema Seu - 4/5
  • Disk Me - 4,5/5
  • Não Vou Deitar - 4/5
  • Ouro (feat. Urias) - 3,5/5
  • Trago Seu Amor de Volta (feat. Dilsinho) - 3,5/5
  • Vai Embora (feat. Ludmilla) - 4,5/5
  • No Hablo Español - 4/5
  • Miragem - 4,5/5

Não Para Não (Idem, Brasil – 2018)

Label: Sony Music
Lead: Pabllo Vittar
Composição: Pabllo Vittar, Maffalda, Zebu, Rodrigo Gorky, Pablo Bispo, Arthur Marques, Diplo, King Henry, Alice Caymmi, Noize Men
Gênero: Dance-pop, Eletropop
Faixas: 10
Duração: 26 min.


Crítica | Blackout - Britney Revive o Pop

A indústria do entretenimento não é um lugar tão mágico quanto as pessoas pensam: em um momento, você pode estar no topo das paradas, conquistando milhões de fãs e mergulhando em uma montanha russa rumo ao sucesso; no outro, as estruturas de sua vida podem ser desmanteladas por um simples comentário ou um dia não tão bom quanto gostaria que fosse. Esse escopo inconstante de conciliação entre o pessoal e o profissional foi um dos principais motivos que desencadearam o famoso e até hoje relembrado meltdown da princesa do pop Britney Spears entre os anos de 2006 e 2007, cuja figura passava por inúmeros problemas dentro e fora de casa e acabaram explodindo da forma mais humilhante possível para a cantora.

Spears sempre esteve completamente embebida pela fama, desde o tempo em que participava do extinto programa A Casa do Mickey Mouse. Ao completar dezesseis anos, lançou-se na carreira solo e ficou marcada pela baby voice e a baby face - a composição estereotipada da rebelde colegial que mais tarde abriu portar para transformá-la num sex symbol. É claro que, em meio a problemáticas da hiperssexualização, a artista tornou-se também uma forma de expressão que ia de encontro a uma bolha comandada por homens - e, ao lado de Madonna, Christina Aguilera e outras cantoras que vinham das últimas décadas de um conturbado século, alcançou um patamar que lhe trouxe uma pressão imensurável e culminou na quase destruição de sua carreira. Não é à toa que ficou quatro anos em hiato entre In the Zone e seu próximo álbum.

Ressentida entre fãs assustados e uma imprensa visceral e compulsória que não a deixava em paz, Spears recuperou as rédeas de sua vida e deu ares de renovação com a chegada de Blackout. É óbvio que, após as controvérsias que envolveram seu casamento e seus filhos, ninguém a estava levando a sério - mas o lançamento do primeiro single, Gimme More, provou que todos estavam errados e que Britney ainda conseguia causar um impacto. Sem sombra de dúvida, a composição da música já mostra ares totalmente diferentes de seus trabalhos anteriores, mergulhando em uma mescla contemporânea que abandona os ares noventistas e conversa com um público movido pelo dinamismo. A faixa de abertura é sexy, quase empoderadora, cuja letra traz um eu lírico sedento por mais - seja lá a que isso se refira.

Toda a estrutura do álbum, como já dito, afasta-se dos convencionalismos anteriores - não totalmente, mantendo aproximações com Toxic e Overprotected, por exemplo. Entretanto, os arranjos estendem suas inclinações para algo muito mais indie, talvez até mesmo ousando buscar alguns estilos musicais mais marginalizados. Heaven on Earth e Freakshow, fazendo parte do miolo, são referências claras ao Europop e a uma construção sintética que tangencia a eletrônica, mas permanece fiel às raízes do electro-pop. O uso de tons musicais distorcidos contribui para criar uma atmosfera onírica e propositalmente incômoda - um reflexo das próprias emoções da cantora.

Enquanto isso, Get Naked (I Got a Plan) e Toy Soldier procuram uma abordagem mais bruta, tendo o funk como pano de fundo principal. As tracks do disco se aproximam muito mais entre si pela estruturação que pelo conteúdo, apesar de insurgirem enquanto continuação dos temas já tratados pela lead singer. Afinal, sabemos muito bem que Spears nunca teve problemas em falar abertamente sobre sexo, beleza, sensualidade e outros tabus um tanto quanto rechaçados pelos mais conservadores; aqui, entretanto, à medida que algumas faixas trazem narrativas esperadas, outras procuram explorar outros caminhos, criticando sutilmente a manipulação de certas pessoas e como ela está cansada de lidar com “soldadinhos de brinquedo”.

O álbum funciona em sua completude de diversos modos: a visão mercadológica e comercial está ali, dialogando com sua repaginação modernizada e refrescante a um pop prestes a mergulhar na era digital. Ao mesmo tempo, há também um experimentalismo claro, partindo do hibridismo de inúmeros estilos que casam e criam uma harmonia quase perfeita. É claro que os baixos existem, incluindo na participação de Pharell Williams em Why Should I Be Sad, construindo um parênteses fragmentado em comparação ao restante da sólida base. Mas os ápices são mais frequentes, senão pelos vocais em autotune de Britney, por tudo que suas investidas representam - afinal, é sua primeira participação como produtora executiva, conferindo-lhe mais autonomia em fazer o que quiser.

Piece of Me, o segundo e mais aclamado single, é a definição perfeita do que o título da obra significa: buscando colocar a vida de volta nos trilhos, Britney percebe que um dos principais motivos de ter cedido a uma insanidade aterrorizante foi a pressão exercida por uma imprensa manipuladora e sensacionalista. E que melhor forma de responder a esses ataques com um afronte bem claro? A faixa, uma ironia nem um pouco sutil que serve de resposta àqueles que tentaram diminui-la, e não só tem uma letra deliciosamente perversa, como também traz elementos do dubstep e das distorções acústicas que a transformam em uma obra-prima. A maturidade dessa canção é refletida até mesmo em Break the Ice, cuja abordagem mais delicada cria contrapontos entre um poderoso refrão e bridges muito fluidos.

Blackout é um state-of-art por natureza e não poderia ter melhor representante que Britney Spears. A ideia de desligar-se para voltar à ativa é um dos motes que move a idealização do álbum e mostra como é sempre possível dar a volta por cima, mesmo que todos estejam contra você e ninguém acredite mais em seu potencial.

Nota por faixa:

  • Gimme More – 4,5/5
  • Piece of Me – 5/5
  • Radar – 4,5/5
  • Break the Ice – 4,5/5
  • Heaven on Earth - 4/5
  • Get Naked (I Got a Plan) - 3,5/5
  • Freakshow - 4/5
  • Toy Soldier - 4,5/5
  • Hot as Ice - 3,5/5
  • Ooh Ooh Baby - 4/5
  • Perfect Lover - 4,5/5
  • Why Should I Be Sad - 3/5
  • Outta This World (versão exclusiva Target) - 3/5
  • Everybody (versão exclusiva japonesa) - 3,5/5
  • Get Back (versão exclusiva japonesa) - 3,5/5

Blackout (Idem, EUA – 2007)

Label: Jive
Lead: Britney Spears
Composição: Nate Hills, James Washington, Keri Hilson, Marcella Araica, Christian Karlsson, Pontus Winnberg, Britney Spears, Klas Ahlund, Pharrell Williams, Nicole Morier, Nick Huntington
Gênero: Dance-pop, Electropop
Faixas: 12
Duração: 44 min.


Crítica | (Des)Encanto: 1ª Temporada - Groening nos Tempos Medievais

Crítica | (Des)Encanto: 1ª Temporada - Groening nos Tempos Medievais

Matt Groening é um dos maiores expoentes da televisão norte-americana contemporânea, responsável por trazer algumas das animações mais hilárias e distorcidas dos últimos anos, como Os Simpsons e Futurama. Tais obras são conhecidas por fugir dos convencionalismos narrativos e buscarem uma perspectiva crítica e ácida da sociedade, traduzindo em tramas absurdas os exageros humanos. Ainda que esta tenha funcionado de forma mais transigente, aquela permanece ainda no gosto popular - não é à toa que está chegando ao seu trigésimo ano. E foi partindo dessa premissa e com o advento de inúmeras plataformas de streaming que Groening encontrou espaço para sua próxima narrativa: (Des)Encanto.

Ambientada numa versão totalmente inesperada da Idade Média, a trama gira em torno de Dreamland, reino governado pelo irritadiço Zog (John DiMaggio), cuja filha, Tiabeanie “Bean” (Abbi Jacobson) mostra-se como um obstáculo em potencial para o exercício de todo seu pleno poder. Mas diferente do que podemos imaginar, o pano de fundo é sobre a garota, e não sobre o Rei: Bean está no ápice de sua adolescência e, levando em conta a época na qual a série se passa, suas irreverências insurgem na bebida compulsória, nos jogos de azar e nas escapadas românticas, colocando em xeque a integridade de sua família e de si mesma. Entretanto, logo com o primeiro episódio, percebemos que tudo isso é justificado pelo fato de seu casamento obrigatório como forma de manter a aliança entre territórios outrora inimigos.

Ao que tudo indica, estamos lidando com mais de uma histórias coming-of-age animadas com mensagens otimistas e aventuras mirabolantes. Todavia, em se tratando de uma construção de Groening, nada será o que aparenta; as críticas estão lá, nuas e cruas, como forma de chocar e traçar um paralelo com a loucura e a sandice da sociedade contemporânea. Há um espaço fértil, recheado de infinitas possibilidades que inclusive não precisam de valer de estereótipos, mas sim utilizá-los a seu favor para orquestrar o sarcasmo de modo completo e satisfatório. O problema principal: criar uma história com começo, meio e fim, algumas viradas interessantes e um cliffhanger digno para uma futura segunda temporada - e é justamente isso que o showrunner não consegue trazer para as telinhas.

Levando em conta a decorrência de eventos do piloto, é natural que nos sintamos em território estranho (afinal, precisamos nos acostumar à nova ambiência). Mas o que acontece quando essa singularidade, por assim dizer, permanece durante cada um dos dez episódios? É muito complicado para uma audiência acostumada ao ritmo frenético de Simpsons seguir as construções contemplativas desse show em questão, ainda mais um que não se vale de muitos acontecimentos ou extravagâncias para conseguir uma estrutura sólida. A priori, a narrativa parece querer nos levar em uma direção, cruzando o caminho de Bean com o demônio Luci (Eric André) e depois fundindo seu arco ao do elfo Elfo (Nat Faxon) - mas todo o potencial é desperdiçado sem dó, obrigando-os a permanece no mesmo território o tempo inteiro.

É quase frustrante observar como tais personagens, cuja interessante química seria melhor aproveitada em circunstâncias diferentes, são jogados em uma linearidade narrativa insuportável. Eles não têm nenhuma evolução aparente até os episódios finais, caem nos mesmos erros e mergulham em ciclos viciosos inquebrantáveis, afastando cada vez mais o espectador de qualquer possibilidade de conexão. A ideia aqui era, após Bean fugir de seu casamento, pegar seus novos amigos e sair para conhecer o mundo, colocando-os em uma clássica-porém-distorcida jornada do herói - e tudo abriria margens para as mais hilárias subtramas. Entretanto, o time de roteiristas não leva isso em conta e brinca dentro dos limites de uma zona de conforto entediante.

Nem mesmo a aparição de coadjuvantes ajuda a aumentar a complexidade: devendo servir como respaldo tragicômico, como por exemplo a Rainha Oona (Tress MacNeille) ou o conselheiro de três olhos Ovaldo (Maurice LaMarche), as investidas não tão recorrentes quanto os protagonistas fazem um trabalho inverso e refletem a estupidez de suas construções. Os poucos pontos de quebra de expectativa provêm da obviedade, afastando a série das tentativas de recuperar a glória das obras antecessoras. Eventualmente, os acontecimentos se mostram repetitivos, caindo nas mesmas alternativas de fechamento de arco que os outros capítulos.

Mesmo assim, não podemos negar alguns pontos fortes trazidos pelo show. Groening encontra um espaço propício para trabalhar um passado narrativo que mantém certo dialogismo com as outras séries animadas - afinal, ele já brincou com o presente e com o futuro. Em um cenário medieval, marcado pela magia e por criaturas fantásticas, a estética de um contingente considerável de personagens secundários e terciários foge dos padrões e busca uma humanização excessiva - temos, por exemplo, a intocável transcendência das fadas misturando-se aos vícios humanos (como o fumo e a bebedeira) de modo tão desconstruído que chega a ser propositalmente ofensivo e deturpado. Além disso, devo dizer que a irregularidade da primeira metade encontra seu caminho e um equilíbrio interessante até o season finale, arquitetando algumas viradas satisfatórias que já dão as cartas do próximo jogo.

(Des)Encanto é uma série desperdiçada e irregular que encontra sua identidade tarde demais para haver uma conexão profunda entre as mensagens que deseja entregar e a receptividade do público. E não há muito o que se possa dizer, apenas a ligeira sensação de desapontamento, justificada pelo fato de um grande nome da indústria não ousar mais do que julgava conseguir.

(Des)Encanto – 1ª Temporada ((Dis)Enchantment, EUA – 2018)

Criado por: Matt Groening
Direção: Wesley Archer, Frank Marino, David D. Au, Peter Avanzino, Albert Calleros, Dwayne Carey-Hill, Brian Sheesley, Ira Sherak
Roteiro: Matt Groening, John Weinstein, Jamie Angell, Jeff Rowe, Shion Takeuchi, Jeny Batten, David X. Cohen, M. Dickson, Rich Fulcher, Reid Harrison, Eric Horsted, Bill Oakley, Patric M. Verrone
Elenco: Abbi Jacobson, Eric André, Nat Faxon, John DiMaggio, Tress MacNeille, David Herman, Maurice LeMarche, Sharon Horgan
Emissora: Netflix
Episódios: 10
Gênero: Comédia, Animação, Fantasia
Duração: 30 min. aprox.

https://www.youtube.com/watch?v=Gp_RnJcb8Ig


Artigo | Conheça o Instituto de Cinema e seus diversos cursos para apaixonados por audiovisual

Artigo | Conheça o Instituto de Cinema e seus diversos cursos para apaixonados por audiovisual

Ainda que não chegue aos pés de Hollywood ou Bollywood, ou até mesmo do cinema asiático, o Brasil sempre teve seus expoentes do mercado cinematográfico - e tal paixão estende-se até os dias de hoje. Não é nenhuma surpresa que inúmeras escolas de audiovisual tenham despontado principalmente nas grandes metrópoles como Salvador, Rio de Janeiro e, principalmente, São Paulo, cidade na qual se concentram os maiores números de projetos que apoiem a formação de jovens filmmakers.

E dentre essas consideráveis escolas, está o Instituto de Cinema, que cada vez mais vem ganhando força por sua competência e pelo grande número de alunos que arranjam espaço no precário e fechado mercado do entretenimento nacional.

Fundado em 2006 a partir de um coletivo de artistas e profissionais da área, o Instituto se iniciou em uma pequena construção de esquina na Oscar Freire e expandiu o seu império ao longo de doze anos de existência, criando parceria com outras instituições ao redor do Brasil e do mundo - incluindo a Modern School of Film, localizada em Los Angeles (antro do cinema contemporâneo e clássico) e a Primary Stages, em Nova York (também conhecida por suas inúmeras produções, inclusive teatrais).

A escola traz como mote principal a capacidade de avaliação crítica e crescimento político-artístico de seus alunos - e foi através disso e da criação da produtora Operahaus, nascida ao lado do Instituto e uma das responsáveis por fomentá-lo, que conseguiu idealizar a materialização de uma consciência crítica, explanada através de sua visão mundo, e a abertura de inúmeras margens para o mercado brasileiro, possibilitando aos discentes deixarem sua marca nos diversos âmbitos da arte.

É inegável dizer que a indústria audiovisual passou por inúmeras transformações ao longo das décadas - e o Instituto definitivamente não ficou por trás, oferecendo uma variedade incrível de cursos que contemplam as necessidades de seus alunos e suas aspirações para um futuro um tanto quanto próximo. E é por isso que o Bastidores separou alguns dos melhores cursos àqueles que desejam a melhor formação para o mercado.

Confira:

YOUTUBE

Os canais do YouTube representaram uma mudança vigorosa nas relações mercadológicas do entretenimento e trouxeram um espaço ainda inexplorado pelos diretores de cinema e TV. Não é à toa que plataformas de streaming se baseiem nas mesmas ideias estruturais do site para viralizar suas webproduções. O Instituto, visando fornecer o melhor para a formação de seus estudantes, não apenas ministra um curso para youtubers, como também o amplia para uma visão mais burocrática da coisa, mostrando como usar as mídias sociais para divulgação dos produtos e até mesmo como ganhar dinheiro.

E mais: como sabemos, a plataforma em questão é detentora da disseminação de alguns dos maiores videoclipes da história - talvez a única, com o esquecimento da outrora MTV; logo, você também pode mergulhar a fundo na produção de vídeos musicais, desde os pré-processos até colocar a mão na massa.

TV

Não importa o que seja dito, o futuro da TV não corre perigo. E levando isso em consideração, incluindo a contínua produção de séries de respaldo crítico e público altíssimo - é só pensarmos em obras como Game of ThronesThe Handmaid's Tale -, o Instituto abre portas para uma variedade de aulas dentro do mundo televisivo, incluindo a compreensão e a "mão na massa" das várias etapas de uma série, técnicas de roteiro para criar personagens e histórias inesquecíveis, intensivos de análises e construções de textos dramatúrgicos e até mesmo um soberbo curso de atuação para câmera que torna sua equipe a mais completa possível.

CINEMA

O carro-chefe do Instituto obviamente não poderia ficar de fora - e sem sombra de dúvida, também não fica a desejar. As aulas ministradas sobre a maior e mais antiga indústria do entretenimento audiovisual da História contemplam cada uma das etapas da produção fílmica, seja em cursos específicos sobre as mais diversas áreas - como direção de arte, produção e edição (esta última em alta no mercado atual, então fica a dica) -, como também métodos para vender o seu filme e sair na frente de seus concorrentes no complexo mercado cinematográfico.

E é claro: para aqueles mais apaixonados pelo cinema e que desejam absorver o máximo de conhecimento, é sempre possível optar pelo curso de cinema extensivo, um dos mais procurados pelos alunos.

Para conhecer mais cursos e mais sobre a filosofia do InC, acesse o site oficial clicando aqui!


Crítica | Samantha!: 1ª Temporada - A TV Politicamente Incorreta

Crítica | Samantha!: 1ª Temporada - A TV Politicamente Incorreta

A comédia brasileira sempre foi um nicho muito complicado para a aceitação do público; carregada com o estigma das ruínas do pastelão e do caricato, o número de produções do gênero que repete as mesmas fórmulas narrativas é quase inenarrável - e, apesar de constantemente criticadas em todos os âmbitos, representam um microcosmo econômico de grande lucro para a indústria do entretenimento nacional. À parte dos dramas hiper-realistas e de algumas outras tentativas, os longas-metragens e séries cômicos são os mais consumidos em disparadas, e é partindo dessa premissa quase engessada que a Netflix resolveu mergulhar um pouco mais no potencial do nosso país e trazer a primeira produção seriada dessa vertente para sua plataforma: Samantha!.

Já de cara posso dizer que Samantha! traça inúmeros paralelos com certo filme que caiu no esquecimento das pré-indicações ao Oscar, Bingo - O Rei das Manhãs. Ambos trazem um artista em decadência tentando recuperar o brilho de suas habilidades e deparando-se com inúmeros conflitos internos e externos que contribuem para um amadurecimento compulsório. E as semelhanças são imediatamente perceptíveis quando Emanuelle Araújo, que deu vida a uma versão mais nova da icônica Gretchen no longa, volta à ativa ao encarnar a protagonista-título, a qual era conhecida como “a criança mais amada do Brasil” aos nove anos, retornando nostalgicamente para a década de 1980, e agora lida com a falta de reconhecimento público. O capítulo piloto já insurge trazendo uma montagem anacrônica que passeia pelos tempos de estrelato da anti-heroína e como seu cotidiano mudou drasticamente após constituir uma conturbada família.

Samantha é ex-esposa do forçosamente aposentado jogador de futebol cujo apelido é Dodói (Douglas Silva, afastando-se em uma completude sincera de sua memorável performance em Cidade de Deus), que ficou doze anos preso por motivos desconhecidos. Dodói a deixou numa posição de mãe solteira com os dois filhos Brandon (Cauã Gonçalves) e Cindy (Sabrina Nonata), cujas personalidades opostas ao extremo carregam inúmeras brechas para camadas e mais camadas de humor puro - ao menos a tentativa de construção de um. A série, criada por Felipe Braga, já acerta em cheio ao optar por um núcleo principal pequeno e que permite o desenvolvimento de seus personagens principais - e também merece reconhecimento por afastar-se do convencionalismo de treze episódios, optando por sete capítulos de aproximadamente meia hora que possuem começo, meio e fim em si mesmos.

Braga parece buscar inspirações em diversos shows norte-americanos que prezam pelo politicamente incorreto, tema constante em cada uma das subtramas aqui, e pelo propositalmente ridículo. Os enquadramentos teatrais e os diálogos autoexplicativos nos levam aos moldes de Unbreakable Kimmy Schmidt, por exemplo. As sátiras ácidas, ainda que não existem em um número satisfatório, indicam um potencial interessante que pode ser trabalhado em um futuro próximo, caso a série seja renovada, é claro; o afastamento de arcos românticos e padronizados é muito bem-vindo, além de respaldar a entrada de outras críticas profusas entre as iterações que tangenciam tópicos polêmicos como a representatividade midiática das minorias, a efemeridade da internet, o boom das subcelebridades, o feminismo, e muitos outros.

Enquanto os momentos de glória despontem com emoção - principalmente por parte da performance inigualável de Araújo e de suas expressões cativantes que permeiam cada um dos subnúcleos explorados -, os deslizes encontram um triste equilíbrio para também aparecerem: os primeiros capítulos não possuem um ritmo muito bem trabalhado, beirando a monotonia extrema e logo depois pulando para um frenético jogo de palavras e de câmera que por vezes contribui para a perdição do telespectador; alguns diálogos se tornam crus demais para um cosmos tão naturalista quanto este, transformando-se em desnecessários monólogos clichês.

De modo geral, Samantha! vale mais pelas atuações e pelas referências que a história em si. Claro, é interessante ver uma protagonista feminina em um tour-de-force atrás do estrelato perdido - e toda e qualquer tipo de representatividade é muito válida. Porém, a construção desses arcos é falha e se vale muito de conexões forçadas para funcionar totalmente. Não obstante, a presença de nomes como a própria Gretchen e Sabrina Sato, marcam uma atemporalidade interessante para nos mostrar o poder de diálogo entre as diversas décadas da Era de Ouro do entretenimento brasileiro - e abre espaço para os easter eggs que joga com graça, seja no próprio formato dos programas de auditório ou dos mascotes nem um pouco ortodoxos (Ary França faz um incrível trabalho ao dar vida à Cigarrinho que, como o próprio nome diz, é uma caixa de cigarros).

É interessante perceber que a comédia nacional finalmente decide seguir em um rumo diferente. Ainda que seja complicado desapegar de raízes tão fortificadas durante décadas e décadas de criações formulaicas, as composições de Braga são essenciais para mostrar que há muita coisa faltante a ser explorada nesse meio - e a série em questão é apenas um dos poucos produtos que podem ser oferecidos em meio a tanta mediocridade, mesmo que um pouco de polimento seja necessário.

Samantha! – 1ª Temporada(Idem, Brasil – 2018)

Criado por: Felipe Braga
Direção: Luis Pinheiro, Júlia Jordão 
Roteiro: Roberto Vitorino, Patricia Corso
Elenco: Emanuelle Araújo, Douglas Silva, Sabrina Nonata, Cauã Gonçalves, Daniel Furlan, Ary França, Rodrigo Pandolfo, Maurício Xavier, Lorena Comparato, Duda Gonçalves
Emissora: Netflix
Episódios: 07
Gênero: Comédia
Duração: 25 min. aprox.