A Netflix adora produzir e lançar uma produção bizarra de vez em quando em seu serviço de streaming. Boneca Maldita (Rocky Soraya) é daquelas que não deve se levar a sério justamente porque o título já entrega o que vem pela frente, só que acontece totalmente o contrário com o filme, ele tenta sim ser levado a sério e tenta até criar uma trama cheia de reviravoltas e em alguns momentos tenta ser algo parecido com Invocação do Mal.
Sabrina é o nome da boneca e seu aspecto meio grotesco é apenas um artifício para atrair o público que é fã do gênero de terror, mas apenas isso, pois a tal boneca assim como aparece desaparece, sendo claramente escanteada para que então o diretor pudesse desenvolver a trama que ele imaginou para o longa. A ideia era usar a boneca como um elemento que pudesse assustar, mas esse não era o real objetivo de Rocky Soraya que tinha a intenção de enganar o público,
O pior em Boneca Maldita é mesmo o roteiro confuso que não sabe o que quer fazer com a trama. De início parece ser um filme sobre o trauma infantil em relação à perda dos pais, tanto que no primeiro ato até que prende a atenção só que depois muda totalmente e o tema do longa se torna o egoísmo e a inveja, um claro sinal de que o roteiro não sabia por quais caminhos seguir.
Portanto, o principal vilão não é a boneca e sim um demônio chamado Baghain que possui os corpos de outras pessoas. É a partir do aparecimento desse demônio que se percebe então a desnecessidade da boneca para o filme, pois se o demônio entra em pessoas não faz sentido algum ter uma boneca ali. Possivelmente Rocky tentou fazer algo parecido com que foi feito em Annabelle, só que para não ficar igual acabou mudando todo o roteiro e isso originou em confusões e mais bizarrices na estrutura narrativa da história.
Além de errar em não saber que vilão colocar como antagonista, ou a boneca ou o espírito maligno, ainda há outros erros juvenis, como os plots twists mal construídos e desnecessários. Em um momento do longa o longa parece caminhar para uma definição quanto o que é o demônio e sua motivação e então há uma primeira reviravolta que acrescenta informações de quem é aquele demônio e como ele já havia enfrentado os caçadores de fantasmas (uma dupla ao estilo Ed e Lorraine Warren) antes e logo próximo ao final ocorre outra reviravolta que não serve para nada, apenas para explicar quem é o demônio e o porque está atacando a família, uma questão que poderia ter sido feita de forma rápida com alguns diálogos, mas que o diretor perde grande tempo apresentando.
A narrativa é pessimamente construída tornando Boneca Maldita um filme chato e cansativo por não saber o que quer fazer. As tentativas de sustos são péssimas e não há surpresa alguma quando Baghain aparece no fim e luta bizarramente com a protagonista. O longa é tão óbvio que fica na cara onde os sustos irão aparecer e os jump scares forçados ajudam ainda mais a tirar o peso da cena, transformando algo que poderia ser um suspense em uma cena comum.
Outra das falhas do longa foi em relação aos personagens que são mal desenvolvidos, sem profundidade e com interpretações tão ruins do elenco que fica difícil de acompanhar o que o ator ou atriz está fazendo na cena. O elenco é tão fraco que em alguns momentos lembra uma novela mexicana da pior qualidade. Outra questão a ser analisada e que atrapalha bastante a experiência é a noção de não saber quem é o protagonista. Em alguns momentos parece ser a garota, outra hora a tia, em outro o tio e aí aparecem os caçadores paranormais que se tornam os verdadeiros protagonistas. Rocky Soray comete os mesmos erros que cometeu em O Terceiro Olho (disponível na Netflix), mas ainda assim tem lugar cativo no streaming da empresa, pois suas produções têm um público bastante fiel.
Boneca Maldita (Sabrina, Indonésia – 2018)
Direção: Rocky Soraya
Roteiro: Riheam Juniati, Rocky Soraya, Fajar Umbara
Elenco: Luna Maya, Christian Sugiono, Sara Wijayanto, Jeremy Thomas
Gênero: Horror, thriller
Duração: 112 min