em ,

Análise | Jurassic World Evolution – Seja bem-vindo ao seu Parque Jurássico!

Por décadas, os fãs de Jurassic Park clamavam por algum novo game que fosse fazer jus a uma franquia tão popular entre o nicho nerd. Apesar de, em geral, diversos jogos arcade medíocres tenham sido lançados pontualmente, nunca antes tínhamos recebido um game de porte verdadeiramente milionário de um estúdio grande e conceituado na indústria – a tentativa da Telltale Games com a linha narrativa paralela de Jurassic Park para a geração passada foi boa, mas não chegou perto dos sonhos mais comuns dos fissurados na franquia.

Algo tão simples e, potencialmente, tão fácil: gerar seu próprio parque jurássico ao buscar lucro e divertimento enquanto equilibra a balança do caos que pode mandar todo seu esforço pelos ares quando o inevitável ocorrer: a natureza encontrar um meio. A última vez que os jogadores experimentaram essa possibilidade de criar o próprio parque de dinossauros foi em 2003 com Jurassic Park: Operation Genesis. Por atender essa demanda tão apaixonada, o jogo conseguiu ganhar vida própria por anos a fio graças a comunidade de mods que adicionou diversas funcionalidades e criaturas ao game.

Isso era fato até agora, com o lançamento de Jurassic World Evolution, um simulador de gerenciamento de parques de diversão inspirado no universo imaginado por Steven Spielberg ao adaptar os livros de Michael Crichton. Finalmente os fãs podem construir, em toda a glória e carnificina, um verdadeiro parque de dinossauros.

O Mercado Encontra um Meio

Mesmo que, em essência, Jurassic World Evolution seja um game tie-in, encomendado pela própria Universal Studios para impulsionar as vendas de merchandising do novo lançamento Jurassic World: Reino Ameaçado nos cinemas, é inegável que se trata de um jogo bem feito pela nem tão famosa empresa especializada em simuladores tycoon Frontier.

Ainda que um tanto apressado para o lançamento, o game oferece bastante ao jogador sem nunca enganá-lo. Apesar de todos querermos já embarcar na ilha mais famosa da franquia de filmes: Isla Nublar, na qual o jogador possui um amplo espaço de terra e recursos ilimitados para criar de modo eficaz (ou nem tanto) os maiores sonhos de John Hammond e seu parque jurássico, o game constantemente te lembra que para atingir todo o seu potencial, é preciso entender sua mecânica ao atravessar diversos desafios espalhados pela campanha do jogo.

A narrativa, infelizmente, não é tão caprichada o quanto deveria, apenas se firmando em diálogos ácidos entre os personagens líderes das divisões tecnológicas do parque: cientifica, entretenimento e segurança, e com outras intromissões de personagens icônicos da franquia para lançar frases de efeito condizentes com a personalidade de cada um – Ian Malcolm, dublado pelo próprio Jeff Goldblum, ganha destaque, apesar das intervenções serem pouco inspiradas e repetitivas.

Em suma, apenas serve como um guião bem básico para apresentar as missões vindas em contratos ao jogador nas quais todas vão acabar favorecendo e desfavorecendo sua imagem perante as três divisões. Os contratos, por vezes, são contraditórios para cada setor como alguns militares requisitando tarefas que deveriam ser pedidas pelo departamento cientifico e assim por diante.

Isso obviamente apenas quebra a imersão da proposta, mas não chega a prejudicar a experiência em geral, pois o trabalho de apresentação e da lógica de gerenciamento de recursos entre espaço físico, dinheiro e confinamento das criaturas são realmente espetaculares.

Driblando a Natureza

Ao longo da campanha, o jogador terá que conquistar as cinco ilhas do arquipélago Las Cinco Muertes, uma é destravada conforme se progride na anterior até atingir um ranking de três estrelas de satisfação do visitante. Cada parque nas ilhas oferece diferentes desafios envolvendo planejamento, investimento inicial, além de outros novos desafios envolvendo não só a limitação do terreno, mas também da imprevisibilidade do clima com tempestades fortes e até mesmo tornados.

Quando disse que este é mais um jogo de simulação de gerenciamento do que apenas um simulador descompromissado apenas para colecionar as criaturas mais fascinantes que já andaram pela Terra, estava falando sério. Jurassic World Evolution prima pelo gerenciamento sábio de dinheiro e energia. Caso acabe fabricando o dinossauro errado e negligenciando seu parque ao não atrair mais turistas com outras atrações, rapidamente verá a margem de lucro cair. As missões também pouco irão ajudar no sentido monetário – pelo menos as de contrato, já que geralmente custam mais dinheiro para concluir do que oferecem de recompensa para o jogador.

Mas é necessário fazê-las não só por conta de manter seu parque livre das sabotagens de algum setor, mas também para conquistar novas tecnologias e dinossauros apenas desbloqueáveis através do nível de fidelidade de cada um dos seus companheiros. Em geral, gasta-se mais tempo com constantes pesquisas de extrações de fósseis, vacinas, aprimoramentos em DNA, upgrades para outros prédios de infraestrutura, compras de usinas elétricas do que propriamente na compra dos dinossauros.

Mas quando as criaturas finalmente voltam ä vida com um genoma viável, uma atmosfera de maravilhamento se instala de tão primoroso que é o trabalho com texturas e animações para dar naturalidade aos movimentos dos bichos – tudo de forma mais próxima ao cânone da franquia, obviamente. É algo tão bacana que rapidamente se torna um vício criar mais dinossauros para conferir algumas mudanças estéticas básicas além de observar como se comportam em grupo.

Apesar de ser muito divertido e render os melhores momentos do jogo, há uma falha de mecânica toda vez que o jogador se depara com a criação de uma nova criatura, afinal todas elas possuem certas necessidades básicas de conforto envolvendo território, comunidade, população, etc. Frequentemente me vi em apuros por ter criado certo herbívoro que precisa de pelo menos mais dois espécimes iguais para conviver em paz, pois o jogo falhou em informar. E quando os dinossauros estão infelizes, passam a ficar agressivos e prontos para romper as cercas do parque e atacar os visitantes.

Há também algumas falhas de lógica que podem ser corrigidas em questão de poucos updates futuros como o fato de dinossauros pequenos conseguirem quebrar as barreiras mais avançadas do jogo somente na base da pancada. Outras já envolvem o sistema de satisfação baseado somente em radar diminuto. Se um dinossauro necessitar de mais floresta, mesmo que o confinamento seja abundante, e acabe se aproximando de um portão desmatado, rapidamente ficará agressivo e desconfortável. São pequenos desafios que acabam por pipocar incidentes que requerem trabalho e atenção do jogador de modo injusto, afinal se tratam de falhas de código do game.

Outros diversos bugs podem ser encontrados em questões de comportamento e inteligência artificial como algumas criaturas empacarem em algum lugar e passarem fome até morrer. E mesmo assim, essas características irritantes e nitidamente existentes por descuidos apressados, Jurassic World Evolution não se torna tedioso. Mesmo que haja manhas para dominar rapidamente as lógicas implacáveis de cada novo parque aberto e da repetição de mecânicas custosas de gerenciamento financeiro e de infraestrutura, o game é uma bela diversão.

O departamento artístico foi extremamente feliz em tornar toda a atmosfera do parque em algo realmente especial, além da própria seleção de dinossauros disponíveis somando mais de quarenta e oito espécies. Apenas são necessários alguns ajustes e a adição de criaturas aquáticas pré-históricas como o famoso Mosassauro e os inevitáveis pterossauros que ainda não estão disponíveis no momento da análise.

Por permitir que um sonho muito antigo finalmente vire realidade, apesar de provocar o jogador a investir longas horas em uma campanha pouco inspirada para desbloquear o jogo em todo seu potencial, Jurassic World Evolution é uma compra mais que obrigatória para qualquer fã de Jurassic Park. Aqui, as despesas realmente não devem ser poupadas em favor da realização dos sonhos mais absurdos: ter uma grandiosa coleção de dinossauros.

Pontos Positivos: Grande variedade de dinossauros, possibilidades de expansões importantes, mecânica de gerenciamento financeiro é desafiadora e recompensadora, liberar o caos no parque é sempre divertido, ótimo trabalho visual e sonoro, excelente mapeamento para controles joystick, presença dos elencos originais

Pontos Negativos: Bugs frequentes irritantes que afetam I.A., falta de informações triviais sobre dinossauros fabricados, estrutura das missões rapidamente se torna repetitiva, narrativa nada inspirada, lógica dos contratos muitas vezes é falha.

Leia mais sobre o game aqui.

Jurassic World Evolution (Idem – 2018)

Desenvolvedora: Frontier Developments
Plataformas: PC, Xbox One, PS4
Gênero: Simulador

Avatar

Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Crítica | Westworld – 2ª Temporada – Mediocridade disfarçada