Crítica | Moonage Daydream – As Múltiplas Faces do Camaleão
David Bowie foi um dos grandes nomes da história do Rock, tinha uma alta capacidade de inovar e se renovar através do tempo, não à toa foi apelidado como camaleão do rock. Realizar uma abordagem sobre a vida de Bowie é algo que caberia facilmente em uma minissérie, tamanho o vasto material existente. Não é uma tarefa das mais simples, e mesmo assim o documentário Moonage Daydream (Brett Morgen) cumpre com perícia esse objetivo.
Dividido em fases de sua carreira, o documentário biográfico faz uma análise a respeito de sua vida, mas não de maneira aprofundada, sem trazer uma reflexão sobre algumas passagens importantes que são apresentadas e que deveriam ter uma maior importância da produção. Há também momentos que ficaram de fora, como a própria fase final do cantor, em seus últimos anos de vida, que o diretor evitou mostrar no documentário.
O roteiro, também escrito por Brett Morgen, traz muito da genialidade de Bowie, mas pouco da vida íntima do cantor, o que pode não agradar muitos aos fãs do astro do rock. Essa superficialidade do roteiro não atrapalha a trama, até porque a mensagem é passada com eficácia: a de que David Bowie, através do tempo, mudou não apenas o seu jeito de pensar, como é mostrado no documentário, mas também mudou a cultura com as suas músicas e performances.
Brett Morgen trabalhou na produção por longos quatro anos. Diferente do que se vê em muitas obras do gênero, em que há algum tipo de narração apresentando os fatos como aconteceram ou que há algum tipo de divisão por capítulos, o cineasta decidiu simplesmente colocar Bowie como sendo o narrador de sua própria história. Há várias aparições do cantor em entrevistas que foram concedidas pelos artista, fazendo com que esses relatos reais trouxessem uma maior aproximação com o público que assiste a produção.
A história do documentário começa nos anos 1970, e vai apresentando Bowie como um personagem de múltiplas personalidades, mostrando os principais momentos do artista ao longo dos anos. Na obra não se vê muita conversa com empresários, colaboradores da carreira de Bowie ou parentes, o foco é total no artista britânico, e esse é um dos grandes acertos de Moonage Daydream, pois quem assiste a um documentário a respeito de David Bowie quer ver algo centrado em sua vida e a partir de seu ponto de vista, e não algo a partir do relato de pessoas terceiras que o conheciam e saber o que elas pensavam dele.
A obra se mostra bastante previsível ao contar quem era o artista, como foi sua carreira e como era seu estilo de vida, porém acerta ao dar um equilibrado tom dramático. O ponto alto, sem dúvida, são as performances musicais, como o clássico concerto Ziggy Stardust. Há também espaço para para a inserção de cenas com Bowie atuando em filmes conhecidos pelo público, casos de Labirinto, a Magia do Tempo (1986) e O Homem Que Caiu na Terra (1976.)
Moonage Daydream é um documentário feito para os fãs pensado em homenagear Bowie, e o resultado final dá muito certo. Em sua mais de 2h, mesmo sendo cansativo em alguns momentos, é possível conhecer mais da genialidade do cantor, roteirista, diretor e ator, e dá para entender como sua influência se deu sobre a cultura pop até os dias atuais. É sem dúvida um dos materiais mais completos já produzidos a respeito do artista britânico.
https://www.youtube.com/watch?v=9xA5BuTyZaI&ab_channel=UniversalPicturesPortugal
BGS 2022 teve grande público, mas contou com poucas novidades
Na última quarta-feira (13) chegou ao fim a 13ª edição da Brasil Game Show com mostras de que o evento conseguiu atrair um grande público após dois anos de pandemia, em que não foi possível ocorrer o megaevento, o maior da América Latina no segmento de games, devido às restrições impostas pela COVID-19.
A BGS 2022 trouxe uma variedade enorme de estandes, mas deixou a sensação para quem estava indo ao evento pela primeira vez de que faltava algo a mais, um toque de novidade, e para aqueles que já eram veteranos, sobrou o desânimo de não ser uma edição tão interessante, pelo menos para aqueles que buscavam entre as atrações lançamentos de games. O que se encontrou bastante no evento foram stands de periféricos e hardwares e de vendas de artigos de nerds, já de games mesmo não se viu muita coisa relevante.
O estande da Nintendo, certamente, foi um dos mais interessantes da Brasil Game Show 2022, trazendo jogos como Cassiodora, Just Dance, Mario Party Superstars, Mario Kart 8 Deluxe, Pokémon Legends: Arceus, entre outros. Porém, a grande aposta da empresa foi o novo Mario + Rabbids Sparks Of Hope, que tem data de lançamento para 22 de outubro, e que pode ser testado pelos gamers em um local separado, em que não se podia fotografar o game.
Não só de games a BGS 2022 foi composta, tendo seus momentos de entretenimento, contando com muitos estandes do tipo espalhados pelo Expo Center Norte, como o do YouTube e o do Tik Tok, esse último teve um dos stands mais populares do evento nos primeiros dias, com um espaço de 500m² em sua primeira participação na BGS. O Tik Tok trouxe a ideia de seu aplicativo para o estande, com uma experiência interativa para o público, com salas de streaming e uma arena gameplay.
Dois dos stands que causaram maior alvoroço foram o da Twitch e o da Amazon que contaram com a atração conhecida pelo nome de “Garra Humana”. Em que uma pessoa é presa em uma estrutura podendo assim pegar vários brindes com as mãos. O problema é que essas atrações geraram imensas filas de até oito horas, com pessoas ficando o dia todo em pé esperando para poder participar e nem sequer puderam desfrutar do momento. O que só mostra a desorganização de alguns estandes, pois só bastava o uso da tecnologia para que os usuários fizessem um cadastro no site com os horários estabelecidos e assim nem fila precisariam pegar.
Hardwares e periféricos
Sem dúvida, a 13ª edição da BGS ficará conhecida pelo número de opções para os gamers amantes de desktop. Não que em outras edições não houvesse um foco nesse público que prefere jogar pelo PC ao console, mas houve uma oferta maior de acessórios e componentes para serem usados por esses usuários.
Marcas consagradas e conhecidas pelo público, como AMD, Lenovo, Logitech, Acer, Intel e HyperX disponibilizaram suas novas linhas voltadas aos usuários de PC, como o Ryzen 7000 Series e a nova versão do Intel Core.
O estande da AMD era simples, mas destacando seus produtos, enquanto a Intel investia em uma área maior, com destaque para a sua linha Core de 12ª geração, que deve dar espaço em breve para a 13ª geração a ser lançada no dia 20 de outubro nos Estados Unidos.
Novidades
O principal mesmo que são os jogos pouco teve. Por ser um evento de game e pelo fato de o público ir com o pensamento não apenas de pegar brindes, ficar dando voltinhas e ficar vendo belos cosplays, a edição desse ano desapontou muita gente.
Quem foi ao Expo Center Norte pode jogar o game Gran Turismo 7, lançado ainda neste ano de 2022, e testar o volante Logitech G923, o equipamento lançado em 2020 pode ser usado somente no automático, pois não estava equipado com o câmbio manual. Um dos principais lançamentos do evento foi Street Fighter 6, porém o estande da Capcom era muito acanhado para um evento deste porte e para um jogo tão esperado, não comportando tamanhas filas que se formaram.
Outros lançamentos que puderam ser testados em primeira mão foram o game indie de tiro ZERO Sievert, da CABO Studio, o já mencionado Mario + Rabbids Sparks Of Hope e Honkai: Star Rail, um jogo de RPG em 3D que ainda não tem data de lançamento.
Muito pouco para um evento que é chamado de o maior da América Latina, tendo em vista que daria para ter feito algo muito maior no cenário de games ou trabalhado melhor a experiência do gamer dentro do evento, não apenas contando com jogos clássicos que podem ser jogados em casa, mas colocando também mais novidades que possam atrair novos jogadores e também manter os que já vão ao evento. Que a próxima edição melhore nesse cenário.
BGS 2022 | Capcom confirma presença no evento e irá trazer Street Fighter 6
Foi confirmado pela Capcom na última sexta-feira (16) que irá participar da Brasil Game Show (BGS) 2022. O tradicional evento de game ocorrerá entre os dias 6 e 12 de outubro no Expo Center Norte, em São Paulo.
A Capcom irá trazer para a BGS o tão aguardado Street Fighter 6, continuação da franquia de lutas, e permitirá aos gamers que joguem durante o evento.
O game de luta estará disponível no estande da Capcom. Também estarão na BGS pela primeira vez, o produtor Shuhei Matsumoto e o diretor Takayuki Nakayama, de 7 a 9 de outubro, e os fãs poderão interagir com os dois, e nisso estará incluso uma sessão de Meet & Greet, além da participação de concursos de cosplay como jurados, entre outras atividades.
Street fighter 6 poderá ser jogado e testado pelos fãs da franquia, nisso poderão ver os novos visuais dos personagens, e experimentar os recursos inovadores de jogabilidade, entre eles os Tipos de Controle Moderno e Clássico para jogadores iniciantes e fãs de longa data. Estarão disponíveis oito personagens: Ken, Chun-Li, Ryu, Jamie, Luke, Guile, Juri e Kimberly.
https://www.youtube.com/watch?v=hmbIZ4nBxzE&ab_channel=CapcomUSA
As Rainhas mais icônicas do cinema
Reis e Rainhas, na maioria das vezes, são apresentados no cinema na forma que devem ser retratados, como seres vultuosos, acima do bem e do mal, e com uma caracterização que realce os padrões de nobreza desses soberanos.
Não importa se o longa é do gênero de fantasia ou inspirado em fatos reais, é necessário que a imagem concebida da rainha na trama não seja apenas de uma figura ilustrativa, mas também que espelhe o poder de uma figura pública, e assim surja com destaque na trama.
Por isso que muitas personagens acabam se destacando e se tornando tão ou mais atraentes que a própria história. Listamos abaixo as dez Rainhas mais icônicas do cinema.
10. Maria Antonieta (Maria Antonieta)
Um dos pontos fortes de Maria Antonieta é sua sua marcante estética, com lindos figurinos de época e uma direção de arte que deixariam a rainha francesa com inveja.
A cineasta Sofia Coppola retratou de forma magnífica as cores usadas pela corte francesa e soube simbolizar em Kirsten Dunst os últimos momentos de uma rainha que em breve iria declinar junto com o regime imperial, frente aos acontecimentos da Revolução Francesa.
9. Feiticeira Branca (As Crônicas de Nárnia)
Jadis é uma das principais antagonistas da obra escrita por C.S. Lewis, aparecendo no filme O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. Seu governo cruel deixou Nárnia sob o efeito de um inverno sem fim, além de trazer uma melancolia sem fim.
Conhecida como a Feiticeira Branca e a Rainha de Nárnia, Jadis é retratada como uma adversária sem escrúpulos, e isso fica ainda mais evidente quando mata o leão Aslan. Sua tirania só não foi maior porque Pedro, Lúcia, Edmundo e Susana chegam a Nárnia para dar fim ao inverno de cem anos.
8. Cleópatra (Cleópatra)
A exuberância de Elizabeth Taylor dita o ritmo desse filme, lançado em 1963, e que até hoje permanece como um clássico épico sobre o Egito Antigo.
Cleópatra foi uma produção considerada ousada para os padrões de sua época, custando US$ 31 milhões. E não é por menos, a rainha egípcia foi – e é – uma das governantas mais conhecidas da história e a ótima direção de Joseph L. Mankiewicz apenas engrandeceu o ícone da Rainha do Nilo.
7. Galadriel (O Senhor dos Anéis)
Interpretada por Cate Blanchett na trilogia do Senhor dos Anéis, Galadriel é sem dúvida uma das personagens mais marcantes e poderosas da Terra-média.
A Rainha élfica, mesmo com toda sua sabedoria, era incapaz de conduzir as responsabilidades que o Um Anel poderia trazer, e que é mostrado em uma das cenas da franquia, em que seu lado sombrio é mostrado ao ser tentada pelo Um Anel.
6. Rainha Anne (A Favorita)
Centro da trama de A Favorita, a Rainha Anne – ou Ana – é um dos grandes destaques. Fica ainda mais em evidência pelo fantástico trabalho proporcionado por Olivia Colman, que lhe rendeu o Oscar de Melhor atriz.
Anne ficou conhecida por ter unificado a Inglaterra e a Escócia, no que se tornaria a Grã-Bretanha, além de seu reinado também ter sido marcado por escândalos pessoais, alguns deles retratados no longa.
5. Rainha Elizabeth I (Duas Rainhas)
Lançado em 2018 e sem muito alarde, Duas Rainhas apresenta a trajetória da Rainha Elizabeth I, com a eficaz interpretação de Margot Robbie no papel da protagonista.
Elizabeth I já foi retratada no cinema diversas vezes, mas provavelmente essa representação feita por Robbie foi uma das melhores caracterizações, não apenas pela direção de arte e maquiagem, mas também pelo seu próprio aspecto físico, que se assemelha bastante ao da própria rainha.
4. A Rainha Má (Branca de Neve e os Sete Anões)
Um clássico muitas vezes nasce de seus personagens que são lembrados através do tempo. Isso ocorre com A rainha Má, de A Branca de Neve e os Sete Anões, pois sem uma antagonista tão cruel e perversa sendo lembrada pelos fãs, possivelmente a animação não seria o clássico que é nos dias de hoje.
A Rainha Má têm como meta a de se tornar a mais bela do todas, por isso tenta matar Branca de Neve de todas as maneiras possíveis.
3. Rainha Elizabeth I (Elizabeth)
Uma jovem Cate Blanchett realiza uma atuação fantástica de um dos maiores símbolos da monarquia inglesa, a Rainha Elizabeth I. Nesta produção dirigida por Shekhar Kapur, que tem uma continuação lançada em 2007, a monarca sobe ao poder após a morte de sua meia-irmã Mary I, e terá de lidar com situações políticas e religiosas já no trono.
Elizabeth apenas se torna mais imponente a cada cena, em um filme grandioso, em que a direção de arte é um dos pontos fortes, com uma produção valorosa e um elenco de tirar o fôlego.
2. Padmé Amidala (Star Wars - Segunda Trilogia)
Bastante conhecida por sua aparição na segunda trilogia da saga Star Wars, Padmé Amidala tem papel fundamental e importante na franquia, sendo ela a Rainha de Naboo e posteriormente se tornando Senadora da República Galáctica. Também se relacionou com Anakin Skywalker, antes de se tornar o Darth Vader.
Padmé pode não ter tido muita relevância na franquia Star Wars, como muitos dos fãs queriam que tivesse, mas ela é sim bastante importante para o segmento da trama, tendo apresentado aptidões políticas que foram importantes para a democracia e que podem ser vistas na saga.
1. Rainha Elizabeth II (A Rainha)
Retratar a icônica Rainha Elizabeth II não é uma tarefa fácil, mas isso não foi empecilho para que Helen Mirren tirasse de letra uma das grandes interpretações de sua carreira em A Rainha, de 2006, com uma caracterização tão perfeita que quase é possível se concluir que a rainha e a atriz eram a mesma pessoa.
A trama se passa logo após a morte da princesa Diana, ocorrida em 1997, e mostra como o público vai mudando de opinião em relação a realeza, e assim a rainha precisará lidar com essa opinião pública.
Menções Honrosas:
A Rainha Margot (1994)
A Jovem Rainha Vitória (2009)
Crítica | Pinóquio (2022) é um conto vazio e sem encanto
O que transforma um filme em um clássico não é apenas quantos prêmios recebeu ou se também é amado pelo público ou pela crítica, mas também sua influência através do tempo, quais sentimentos passou para o público no período a ponto de gerar uma comoção, ou se recebeu novas adaptações com outros olhares a partir de sua versão principal, e tudo isso a animação de Pinóquio provocou desde que estreou no ano de 1940.
Porém, com a nova onda de remakes em live-actions produzidos pelos estúdios Disney, é natural que Pinóquio logo recebesse sua própria versão, até porque a Disney ultimamente mais pensa em reciclar as suas histórias originais do que criar algo realmente novo. O Rei Leão (2019) ficou bem abaixo de seu resultado esperado, assim como Mulan (2020), que deturpou bastante o conto do qual se originou.
Pinóquio, dirigido pelo consagrado Robert Zemeckis (Convenção das Bruxas), é uma produção fraca em sua concepção de roteiro, com pouca criatividade e com uma direção que tenta ser inventiva, mas sem muito sucesso. Na realidade, é uma produção oca, sem essência e que fica distante do clássico animado.
O Boneco que ganhou vida
Por ser uma releitura, é de se imaginar que a dupla de roteiristas, Robert Zemeckis e Chris Weitz, quisesse homenagear a obra animada sem tirar suas características originais, fazendo um filme pensando nos fãs da Disney. Sendo assim, trazendo para a frente da tela novos espectadores que talvez não conhecessem a história da animação da década de 40, mas também focando nos adultos que cresceram assistindo ao conto animado.
Há algumas alterações na história adaptada da secular obra de Carlo Collodi, como o próprio fato de Pinóquio deixar de ser um boneco e se tornar um menino e que é algo deixado de lado no live-action. Tal fato acaba tirando a alma de algo que é um dos elementos mais transformadores da animação, que é a vontade incessante de Pinóquio em desejar ser um menino. Com uma pequena mudança no roteiro, que acontece logo em seu primeiro ato, Pinóquio meio que já ganha um pensamento racional através da Fada Azul e perde muito daquela ingenuidade que a obra original tem e que fornece uma moral para o espectador.
O próprio final que Robert Zemeckis proporcionou ao público é sem personalidade alguma, sem querer comparar com o que foi feito na obra original, até porque é uma releitura que pretende ter uma nova abordagem, mas mesmo assim, alterar um final que era tão lindo e agradável quanto o apresentado é de deixar qualquer fã com o cabelo em pé. Não faz o menor sentido a escolha de Zemeckis por aquele final, mesmo que ele tenha pensado em uma possível sequência. Foi um fim brochante.
Ao realizar alterações que tentam trazer significados diferentes para a trama, o roteiro acerto em algumas situações, como a inserção na história de Kyanne Lamaya, que interpreta a bailarina Fabiana, assim como o de dar um maior destaque para o próprio Geppetto, que tendo o ótimo Tom Hanks à frente do personagem tira obviamente de letra outra grande interpretação.
Falta de Criatividade em Pinóquio
Robert Zemeckis ultimamente vem tendo resultado abaixo da média com seus filmes. Um diretor que tem em seu currículo obras como Náufrago e Forrest Gump parece não saber bem que rumo estar tomando na carreira. E em Pinóquio sua direção não está ruim, os planos abertos são bem feitos e detalhados, assim como os belos efeitos especiais praticados pelo CGI são competentes. O problema mesmo está no roteiro e na total falta de criatividade do longa, que não constrói praticamente nada de novo e que faça a narrativa seguir em frente. Pode-se dizer que é um longa "bonitinho", mas isso não é suficiente para dizer que é uma obra boa.
Essa questão da criatividade é algo que é discutido não apenas quando o assunto é Disney, mas também pelo momento atual que Hollywood passa, com os vários remakes e reboots que ocorrem. Essa versão de Pinóquio só faz chegar a conclusão de como trazer um clássico das antigas para os dias atuais sem proporcionar nada de novo é um tremendo tiro no pé, praticamente mata algo que poderia ser uma tentativa de fazer com que o personagem se modernizasse para os dias atuais.
Pinóquio é um resumo de que os live-actions da Disney podem estar seguindo um caminho sombrio. Há bons filmes sim inspirados nos personagens de seus contos, como Malévola e Cruella, mas são poucos os acertos em comparação com a proporção de “erros”. A maioria dessas produções tem como objetivos principais o de focar no revisionismo com muitos efeitos especiais, mas quase sempre esquecem que a qualidade do roteiro tem que estar à altura do conto original
Pinóquio (Pinocchio, EUA – 2022)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Chris Weitz
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth, Angus Wright, Cynthia Erivo, Sheila Atim, Lorraine Bracco, Keegan-Michael Key, Jamie Demetriou, Giuseppe Battiston, Kyanne Lamaya
Gênero: Aventura, Drama, Comédia
Duração: 105 min.
Crítica | Ingresso para o Paraíso é o retorno de Julia Roberts às Comédias Românticas
Julia Roberts é sem dúvida alguma um dos grandes ícones de sua geração. A atriz marcou época nos anos 90 por fazer, principalmente, comédias românticas que até hoje são lembradas pelos fãs do gênero. Em Uma Linda Mulher (1990) apareceu belíssima para o mundo fazendo par romântico com Richard Gere, seguindo a esse filme vieram outros sucessos, como O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), após um longo hiato de duas décadas a atriz retorna ao gênero no divertido Ingresso para o Paraíso (Ol Parker).
Porém, mesmo com tantas rom-coms de sucesso em que atuou nos anos 90, sendo uma sucessão delas sendo recebidas com um tom positivo pelo público e pela crítica, Julia Roberts resolveu se afastar das rom-coms por um longo período por não encontrar um roteiro que não lhe agradasse. Entre essas duas décadas longe do gênero que a consagrou, a atriz contou com algumas participações em romances sem relevância, como Comer Rezar Amar (2010), e o que a fez mudar de ideia em atuar em Ticket to Paradise foi o agradável roteiro da dupla Ol Parker e Daniel Pipski, além é claro, da sua amizade de longa data com George Clooney.
É de conhecimento público que George Clooney e Julia Roberts são amigos há muito tempo, e em Ingresso para o Paraíso voltam a trabalhar juntos depois de cinco anos, sendo o último filme que a dupla contracenou junto foi Jogo do Dinheiro (2016).
A trama de Ingresso para o Paraíso lembra bastante a de muitos filmes do gênero produzidos nos anos 90 – não à toa a escolha de Roberts e Clooney como protagonistas – em que Georgia e David são um casal que está separado há uns vinte anos. São daqueles casais que não se suportam e quando se encontram sempre discutem, mas terão de se aguentar em várias situações atípicas que o destino irá proporcionar, primeiro quando sua filha Lily (Kaitlyn Dever) se forma na faculdade, e depois quando ela abruptamente viaja para Bali e decide rapidamente se casar com um balinês local, chocando seus pais.
O confronto ácido entre o ex-casal que não se suporta dá a direção para a narrativa, e mesmo sendo óbvio em alguns momentos o que irá acontecer, ainda assim é muito gostoso de acompanhar Roberts e Clooney trabalharem juntos novamente em um papel cativante. Os dois já são carismáticos, algo que ajuda bastante a prender a atenção do público, e os personagens escritos a dedo ajudou a dar uma dinâmica maior para a dupla.
Essa relação entre os dois astros é explorada ao máximo, transformando a carismática e talentosa Kaitlyn Dever quase como uma figurante tamanho os vários planos que o casal surge em cena. O roteiro, obviamente, acerta em dar bastante espaço para os dois, pois tanto Clooney quanto Julia Roberts são os principais destaques da trama, e além de estarem ótimos em cena, leves e engraçados, há um atrativo a mais que é o fato de a direção de Ol Parker saber o que quer desde o início, e assim não querer inventar a roda no meio do caminho, como algumas produções desse formato costumam fazer e se atrapalham em tocar a narrativa.
Quanto a mensagem, ela é clichê sim, mas até que é bonita. Georgia e David tem certeza que foi um erro terem se casado muito jovens, e além de se odiarem, não querem o mesmo futuro para a filha. Na realidade não querem ver Lily morando em um lugar longe dos EUA e largando a advocacia. Porém, com um curto período na ilha, os dois, percebem que perderem um tempo de ficarem eles mesmos juntos como um casal e essa é a moral da história, que tudo poderia ter sido resolvido com uma boa conversa e que atritos surgem em qualquer relacionamento, mas que o amor sempre prospera.
Ingresso para o Paraíso pode não ser considerado um dos grandes filmes do currículo de Roberts, mas sem dúvida é uma divertida história de amor e que deve ser levada em conta quando for pensada em como a atriz voltou a trabalhar no gênero, e tomara que não pare de surgir roteiros de rom-coms de qualidade para que ela – e nem Clooney – possam trabalhar em um formato que ainda pode trazer muito entretenimento para o público.
7 filmes para comemorar o centenário do rádio
Hoje a internet reina como meio para se conseguir informações de forma praticamente imediata com os acontecimentos que vão surgindo. Mas muito antes o rádio foi soberano como meio de se receber informações do mundo. Alguns filmes abordam a paixão pelo rádio, enquanto outros usam o meio como pano de fundo para suas tramas, deixando-as mais realista e mais convencional.
O Rei da Baixaria (1997)
Cinebiografia do contraditório radialista Howard Stern é um prato cheio para quem quer conhecer mais sobre Stern e também entender como criou um estilo próprio ao apresentar seus programas de maneira completamente insana. Longa foi inspirado no livro biográfico do radialista, e é bastante interessante o resultado final, pois faz uma personalidade que não é muito celebrada fora dos EUA a se tornar conhecida. Uma curiosidade é que Stern interpreta a si mesmo no filme.
Longwave - Nas Ondas da Revolução (2013)
Para quem gosta de produções que retratem momentos históricos Longwave é um prato cheio. Longa retrata do ponto de vista de dois jornalistas suíços que trabalham para uma rádio e foram enviados a Portugal com a finalidade de fazer uma matéria, mas acabam mudando a pauta a partir do momento que acontecimentos vão surgindo ao longo da abordagem, pois em 1874 acontecia no país a revolução operária, na qual depôs o regime ditatorial que estava em vigor no país.
É um verdadeiro achado esse filme francês, uma pena ser tão desconhecido do grande público. De modo simples o longa traz a sua mensagem com eficiência ao contar uma história real a respeito de um momento conturbado de Portugal.
Os Piratas do Rock (2009)
O principal ponto a ser levado em conta neste longa dirigido por Richard Curtis (Questão de Tempo) é a ótima trilha sonora, composta por nomes como The Beach Boys, The Who, David Bowie entre outros. Filme foi vagamente inspirado na conhecida Radio Caroline, que foi criada em 1964 para bater de frente contra o monopólio da época da rádio BBC, e também com uma motivação peculiar: de tocar rock em alto mar, sendo assim alcançaram uma audiência de 25 milhões de pessoas
É uma boa história, mesmo sendo um pouco bobinho em alguns momentos, entrega diversão ao público. Vale a pena assistir para conhecer mais sobre como eram realizadas as transmissões no período e para aqueles que gostam de música de qualidade.
A Vastidão da Noite (2019)
A ideia por trás desse bom sci-fi é o de colocar o rádio como pano de fundo para a narrativa principal. O grande problema dele é que a trama, mesmo sendo inteligente, é um pouco arrastada e o próprio mistério em si a respeito da frequência estranha que surge no rádio.
Há um suspense bem desenvolvido sobre uma possível invasão alienígena, mas nada aparece de fato sobre os aliens em si, apenas nos últimos minutos e rapidamente. Portanto, quem busca um entretenimento com explosões, tiros e bombas não irá encontrar isso nessa ficção-científica.
Fale Comigo (2007)
Ralph "Petey" Greene pode não ser um nome muito conhecido do público, mas sua importância é constatada nesta obra que aborda o poder de comunicação do rádio, com Greene falando sobre assuntos importantes e sendo ouvido por todos a respeito do tema.
A crítica social que a produção apresenta – a história se passa nos anos 60 – sobre a conscientização negra e a também sobre os direitos civis, se tornando um dos grandes ativistas do período.
A Era do Rádio (1987)
Woody Allen faz uma bela homenagem ao rádio como veículo de comunicação e também como meio que tinha um grande valor emocional e mexia com a imaginação das pessoas que o ouviam, já que o período retratado no longa as televisões não tinham a rapidez em comunicar que o rádio tinha.
Para os saudosistas que cresceram ouvindo rádio é uma boa pedida assistir A Era do Rádio, e também funciona como reprodução de uma época que já passou.
Bom dia, Vietnã (1987)
Essa é outra produção que trata da rápida difusão do rádio como meio de comunicação, em que o descontraído Robin Williams surge para dar uma dinâmica divertida em um filme com uma necessidade de carga dramática e que demanda de um tom crítico sobre a Guerra do Vietnã.
A atuação de Robin Williams é espetacular, prendendo o espectador na cadeira, tanto que recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de melhor ator em 1988.
Crítica | Luta pela liberdade é bem intencionado, mas escorrega em seu roteiro
Muito antes da China se tornar essa potência econômica mundial que conhecemos, ocorreu um fato que pode ser considerado como um divisor de águas na história do país, que foi a invasão japonesa em 1931 à Manchúria, território chinês. Em 1937, a tomada da região se configurou como o episódio que ficou conhecido como a Segunda Guerra Sino-Japonesa, em que os japoneses foram acusados de cometer inúmeras atrocidades no país. É nesse cenário que nasce a trama de Luta Pela Liberdade, longa do diretor Zhang Yimou (A Grande Muralha).
Longa foi indicado pela China ao Oscar na categoria de filme Internacional em 2022, e dá para imaginar o motivo dessa escolha. O thriller de espionagem não é uma obra-prima, mas alcança seu objetivo de entreter, além de tentar apresentar como era o ambiente naquele momento da invasão japonesa. Mas essa apropriação do país é apresentada pelo olhar de Yimou quase sempre mostrando a truculência japonesa e colocando os espiões chineses praticamente como heróis e parceiros de uma causa.
A trama não perde muito tempo em apresentar os personagens, fazendo com que os quatro agentes do Partido Comunista retornem à China, em um salto de paraquedas na região de Manchukuo. O que o diretor Zhang Yimou constrói a partir daí é uma narrativa bastante detalhista, em que as figuras centrais terão as suas relações pessoais exploradas, mas não aprofundas.
Essa falta de profundidade do roteiro, da dupla Yimou Zhang e Yongxian Quanperde, se dá em diversos aspectos da produção, pois apresenta pouco ou quase nada da situação em que a China se encontrava naquele momento e foca mais em mostrar as atrocidades cometidas pelo Império japonês. A intenção do diretor era o de se fazer um filme de espiões com um pano de fundo histórico, que funciona em seu primeiro ato, mas depois que se estabelecem as várias conexões se torna monótono e com várias reviravoltas que mais confundem do que propriamente esclarecem os fatos.
O que vale a pena mesmo na narrativa é o fato de acompanhar os agentes chineses em ação, enquanto os oficiais japoneses tentam se infiltrar no grupo chinês e tentam acabar com os planos de salvar um prisioneiro que escapou dos campos de concentração japonês. O objetivo é que esse sobrevivente revelasse ao mundo as crueldades que ocorriam no país. Porém, acompanhar todos aqueles diálogos e excesso de conversa que não chega a lugar algum pode se mostrar um entediante exercício de se ficar à frente da tela.
Em sua carreira, Yimou dirigiu belos filmes, como Herói (2002) e Flores do Oriente (2011). É uma marca do cineasta, que sempre filmou com capricho as cenas de suas produções, com muitas cores e cenários deslumbrantes. O mesmo acontece nesse longa, em que a filmagem é belíssima, os enquadramentos são bem trabalhados, e o jeito com que a câmera se move no ambiente, explorando ao máximo a atmosfera sombria que a história quer passar.
Luta pela Liberdade é um bom filme a respeito de um fato que ocorreu e que é pouco apresentado no cinema. Com um ritmo um pouco lento é verdade - mesmo contando com algumas cenas de ação - ainda assim prende a atenção do espectador em querer acompanhar a narrativa. Vale para quem é fã de produções asiáticas e para quem gosta de acompanhar tramas de espionagem.
Luta pela Liberdade (Cliff Walkers, China – 2021)
Direção: Yimou Zhang
Roteiro: Yongxian Quan, Yimou Zhang
Elenco: Hewei Yu, Yi Zhang, Hailu Qin, Haocun Liu, Yawen Zhu, Naiwen Li, Dahong Ni
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 120 min.
https://www.youtube.com/watch?v=rbKhwWbG7l4&ab_channel=A2Filmes
Crítica | Resident Evil: a Série é um fiasco sem precedentes
Poucas franquias da história dos games receberam tantas adaptações cinematográficas de baixa qualidade quanto Resident Evil. A escolha em levar para as telas esse jogo em especial se deve a sua trama envolvendo zumbis e seu ambiente de terror que proporciona muita tensão aos gamers. O que realmente não se justifica é o porquê de se fazer tantas adaptações da obra em tão pouco tempo, sendo que em 2021 foi lançado o fraquíssimo Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, e não sendo o suficiente a Netflix decidiu entrar na parada com Resident Evil: a Série.
A versão live-action da Netflix é uma grande bomba de mau gosto e praticamente lança o nome Resident Evil no esgoto, o que é péssimo, já que o jogo além de ser um clássico dos consoles é também amado pela sua narrativa e pelo seu estilo survivor, com a necessidade de ter que sobreviver ao terror de estar em um local ocupado por zumbis. A série transmite um sentimento contrário ao do game, pois em nenhum momento passa essa sensação de pânico ao público nem o sentimento de pavor em se viver em um mundo cheio de mortos-vivos.
Nessa primeira temporada, entende-se que a trama não tem relação com os filmes em que Milla Jovovich reina como protagonista. No live-action, as irmãs Jade (Ella Balinska) e Billie Wesker, junto com seu pai Albert Wesker (Lance Reddick), se mudam para uma cidade chamada de Nova Raccoon City, mas com o tempo elas vão descobrindo os reais segredos de seu pai e da Corporação Umbrella. Apesar de aparentemente não ter relação com os longas anteriores, em certo momento da história é mencionado acontecimentos que ocorreram em Raccon City, só que não se aprofundam nisso, fica muito vago para compreender a trama de forma aprofundada.
Medíocre do início ao fim
Impressiona como os vários roteiristas conseguiram a façanha de mais uma vez conceber outra versão fraca de Resident Evil, com a diferença de que a série se supera em ruindade, até porque teve muito mais tempo para desenvolver a narrativa, e seu resultado final é pífio no quesito de qualidade e de eficiência, não acrescentando nada para o futuro da franquia no audiovisual, pelo contrário, só atrapalha.
Quando produções são adaptadas de livros e hqs é normal que os fãs assistam esperando o mínimo de fidelidade à obra original, e com os games não é diferente. Porém, a principal falha do live-action da Netflix é o de querer reestruturar um universo que teve sete filmes já (sem contar as diversas animações), e a maioria de qualidade bastante duvidosa.
O que se vê em Resident Evil: a Série é uma total falta de fidelidade aos jogos, mesmo com os roteiristas inserindo easter eggs dos games na produção, como a aparição do chefe Grave Digger (Resident Evil 3) logo no primeiro episódio, assim como a menção ao grupo que pratica culto religioso, como ocorre em Resident Evil 4 com o grupo Los Iluminados, entre outras pequenas alusões ao game que ou passaram despercebidas pelos fãs ou simplesmente foram mal planejadas e executadas pela direção e roteiristas.
É muito pouco para uma produção desse tamanho ficar se prendendo em easter eggs em vez de realmente tentar criar um universo mais fiel sobre a franquia, diferente do que a Netflix fez com Sandman, pois pegaram vários elementos das Hqs e não tentaram reinventar sua narrativa.
Drama em excesso
Há uma decisão equivocada por parte do roteiro ao criar duas linhas temporais e querer focar com igual importância nas duas, sendo que a principal delas, na qual Jade transpira força de vontade para tentar sobreviver a todo tipo de ameaça, termina por não ter um mínimo trabalho decente em se conceber uma história que prenda o espectador. Já a outra linha temporal, em que as duas irmãs vivem brigando e fazendo bobagens, tem muito mais destaque, sendo que o drama juvenil das duas é um tremendo saco de acompanhar, ajudando ainda mais a enfraquecer a trama principal em que Jade tentar escapar dos perigos impostos.
Havia a possibilidade de se mostrar a origem do apocalipse zumbi de outro ponto de vista e com outro formato, sem precisar apresentar todo essa trama e essa bobagem de clones que a série mostra. Fora que o drama exagerado faz com que uma narrativa que não demandava um tom dramático torne a execução da história em um grande fardo de se acompanhar. Parece que nunca assistiram The Walking Dead e perceberam as falhas estruturais do roteiro que fizeram a conhecida saga dos zumbis perder força com o tempo.
Em contrapartida ao drama, que foi a principal linha de desenvolvimento da série, há uma tentativa praticamente nula de se fazer um terror convincente, já que as principais cenas em que os Zeros (como são chamados os zumbis na série) aparecem e que deveriam causar algum suspense e tensão ao público acabam por não causar esse efeito.
Puro amadorismo
Para piorar ainda há situações que demonstram o total amadorismo da obra. Isso fica claro quando Jade Wesker pega um notebook sem conexão com a internet para fazer uma vídeo chamada e o programa usado para a ligação é o Paint. Há ainda a cena – podemos dizer constrangedora – em que Evelyn Marcus (Paola Núñez), a vilã, dança e canta de forma patética ao som da música Don't Start Now, da cantora Dua Lipa, com isso inovaram em transformar Resident Evil em uma série de terror na pegada do Tik Tok.
Outro fator desanimador da série são as atuações, que não convencem em nada, e isso não é culpa propriamente do elenco, já que o roteiro e a direção não ajudam muito a fazer com que o elenco mostrasse o seu potencial. Há ainda personagens fracos e que não ajudam a dar força para a história, ainda que alguns inseridos na trama tivessem força para ir mais longe, mas são pessimamente utilizados, casos de Wesker, que aparece alguns minutos em ação como vilão e Evelyn, que é uma caricata antagonista e faz exatamente o que a maioria dos personagens nessa posição costumam fazer: no caso de Evelyn, desenvolve e pretender comercializar uma medicação que pode disseminar um vírus mortal pela humanidade.
Resident Evil: a Série é outra oportunidade perdida de retratar o apocalipse zumbi da consagrada franquia de games no audiovisual, o que é bem triste, já que haviam muitos caminhos para onde a produção poderia seguir com sua narrativa. É um fato que a obra não tem quase nada a ver com os jogos, parece qualquer outra coisa, menos Resident Evil. O futuro da franquia no cinema e na TV precisa ser repensado urgentemente e que as futuras produções sejam mais eficientes e levem mais a sério o que está sendo adaptado.
Resident Evil: a Série – 1ª Temporada (Resident Evil, EUA – 2022)
Showrunner: Andrew Dabb
Direção: Rachel Goldberg, Bronwen Hughes, Rob Seidenglanz, Batan Silva
Roteiro: Andrew Dabb, Jeff Howard, Tara Knight, Garett Pereda, Mary Leah Sutton, Shane Tortolani, Lindsey Villarreal, Kerry Williamson
Elenco: Ella Balinska, Siena Agudong, Paola Núñez, Lance Reddick, Connor Gosatti, Anthony Oseyemi, Turlough Convery, Emily Child
Streaming: Netflix
Episódios: 8
https://www.youtube.com/watch?v=mUisls0Z-C0&ab_channel=NetflixBrasil
Crítica | Eu, Christiane F. Continua chocando 40 anos após seu lançamento
Muito antes da série Skins (2007) se consagrar por acompanhar os dramas adolescentes, abordando na época temas como uso de álcool e consumo de drogas entre jovens, e Euphoria (2019) tratar de vários temas modernos, entre eles também está o do uso das drogas como alternativa para fuga da realidade. Eu, Christiane F. 13 Anos, drogada e Prostituída (1981) já havia feito um registro do assunto de forma crua e com uma veracidade que no período havia sido pouco apresentado até então.
O diretor Uli Edel (O Grupo Baader Meinhof) em seu primeiro trabalho no cinema fez um competente trabalho ao adaptar a obra literária escrita por Kai Hermann e Horst Rieck, que contava com detalhes quatro anos da vida de Christiane, que vão dos seus 12 aos 15 anos, mostrando suas experiências traumáticas com o uso excessivo de álcool, depois indo parar no mundo das drogas, usando e abusando da heroína, e por fim o caminho da prostituição infantil.
O longa lançado no início da década de 80 é um retrato de como era a sociedade alemã no período da Berlim Ocidental, época em que o muro de Berlim seguia erguido separando a Alemanha. Portanto, ao assistir Christiane F. é de se fazer uma viagem ao período retratado pelo cineasta ao submundo de Berlim, em que Christiane (Natja Brunckhorst), sua melhor amiga Babsi e seu jovem namorado Detlev (Thomas Haustein) vivem em uma sociedade marginalizada e sucumbem ao violento mundo das drogas.
Por ser filmado na década de 80, a produção fez um relato de como a heroína estava se disseminando entre os jovens naquele momento, e em busca de mais e mais doses acabavam fazendo de tudo para conseguir dinheiro e comprar mais droga. Impressionante como passados 40 anos, o longa de Uli Edel ainda permanece atual nos dias de hoje, sendo que naquela época já havia uma epidemia no vício em drogas como heroína e cocaína, e hoje há uma explosão muito maior com o uso e a expansão das drogas sintéticas e do crack.
Há uma carência no roteiro escrito por Herman Weigel no sentido em que parece não haver muita esperança para Christiane F. e seus amigos, e o diretor segue bem essa linha de exibição, o que não é verdade, já que em dado momento, quando a protagonista e Detlev tentam largar o vício, há um rápido declínio para o sombrio mundo das drogas e da prostituição infantil. Ou seja, há sim uma esperança para os personagens, mas o foco está em querer retratar a degradação da geração de jovens.
Outro acerto de Uli Edel foi o de apresentar gradativamente a piora da garota e a de seus amigos e de como todos, pouco a pouco, foram naufragando para o fim por causa do vício em heroína. Uma produção que também tratou desse assunto, do vício em drogas, com uma narrativa parecida com a de Christiane F., foi Réquiem para um Sonho (Darren Aronofsky), pelo menos seu tom sombrio usado na trama, que se assemelha em algumas situações ao longa de 81.
O ponto alto de Christiane F. foi o de assistir de forma nostálgica ao show de David Bowie em que ele canta Station to Station na disputada Sound, considerada no período uma das mais modernas discotecas da Europa. Bowie estava em seu auge, já havia lançado álbuns que logo se tornariam verdadeiros clássicos, como Aladdin Sane e Heroes. No longa, o uso da imagem de David Bowie poderia funcionar como uma espécie de fuga da realidade para Christiane, mas não acontece nada disso, pelo contrário, ela tão logo se torna viciada em heroína e acaba por ter que deixar para trás seu fascínio pelo camaleão do rock.
Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída é um filme duro de assistir, difícil de acompanhar as cenas em que Christiane e seus amigos surgem se picando com seringas. Tal escolha é feita justamente para chocar, para passar a mensagem de desconforto ao público e de como o uso de drogas pode destruir a vida de quem a consumir, transformando o usuário em um zumbi. Queira ou não é uma trama que se mantem atual, pode-se passar os anos e ainda continuará chocando.
Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída (Christiane F. - Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, Ale – 1981)
Direção: Uli Edel
Roteiro: Herman Weigel, Kai Hermann (livro), Horst Rieck (livro)
Elenco: Natja Brunckhorst, Christiane Reichelt, David Bowie, Thomas Haustein, Jens Kuphal
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 125 min.
https://www.youtube.com/watch?v=p7ioOWXqdws&ab_channel=A2Filmes