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Crítica | Pinóquio (2022) é um conto vazio e sem encanto

O que transforma um filme em um clássico não é apenas quantos prêmios recebeu ou se também é amado pelo público ou pela crítica, mas também sua influência através do tempo, quais sentimentos passou para o público no período a ponto de gerar uma comoção, ou se recebeu novas adaptações com outros olhares a partir de sua versão principal, e tudo isso a animação de Pinóquio provocou desde que estreou no ano de 1940.

Porém, com a nova onda de remakes em live-actions produzidos pelos estúdios Disney, é natural que Pinóquio logo recebesse sua própria versão, até porque a Disney ultimamente mais pensa em reciclar as suas histórias originais do que criar algo realmente novo. O Rei Leão (2019) ficou bem abaixo de seu resultado esperado, assim como Mulan (2020), que deturpou bastante o conto do qual se originou.

Pinóquio, dirigido pelo consagrado Robert Zemeckis (Convenção das Bruxas), é uma produção fraca em sua concepção de roteiro, com pouca criatividade e com uma direção que tenta ser inventiva, mas sem muito sucesso. Na realidade, é uma produção oca, sem essência e que fica distante do clássico animado.

O Boneco que ganhou vida

Por ser uma releitura, é de se imaginar que a dupla de roteiristas, Robert Zemeckis e Chris Weitz, quisesse homenagear a obra animada sem tirar suas características originais, fazendo um filme pensando nos fãs da Disney. Sendo assim, trazendo para a frente da tela novos espectadores que talvez não conhecessem a história da animação da década de 40, mas também focando nos adultos que cresceram assistindo ao conto animado.

Há algumas alterações na história adaptada da secular obra de Carlo Collodi, como o próprio fato de Pinóquio deixar de ser um boneco e se tornar um menino e que é algo deixado de lado no live-action. Tal fato acaba tirando a alma de algo que é um dos elementos mais transformadores da animação, que é a vontade incessante de Pinóquio em desejar ser um menino. Com uma pequena mudança no roteiro, que acontece logo em seu primeiro ato, Pinóquio meio que já ganha um pensamento racional através da Fada Azul e perde muito daquela ingenuidade que a obra original tem e que fornece uma moral para o espectador.

O próprio final que Robert Zemeckis proporcionou ao público é sem personalidade alguma, sem querer comparar com o que foi feito na obra original, até porque é uma releitura que pretende ter uma nova abordagem, mas mesmo assim, alterar um final que era tão lindo e agradável quanto o apresentado é de deixar qualquer fã com o cabelo em pé. Não faz o menor sentido a escolha de Zemeckis por aquele final, mesmo que ele tenha pensado em uma possível sequência. Foi um fim brochante.

Ao realizar alterações que tentam trazer significados diferentes para a trama, o roteiro acerto em algumas situações, como a inserção na história de Kyanne Lamaya, que interpreta a bailarina Fabiana, assim como o de dar um maior destaque para o próprio Geppetto, que tendo o ótimo Tom Hanks à frente do personagem tira obviamente de letra outra grande interpretação.

Falta de Criatividade

Robert Zemeckis ultimamente vem tendo resultado abaixo da média com seus filmes. Um diretor que tem em seu currículo obras como Náufrago e Forrest Gump parece não saber bem que rumo estar tomando na carreira. E em Pinóquio sua direção não está ruim, os planos abertos são bem feitos e detalhados, assim como os belos efeitos especiais praticados pelo CGI são competentes. O problema mesmo está no roteiro e na total falta de criatividade do longa, que não constrói praticamente nada de novo e que faça a narrativa seguir em frente. Pode-se dizer que é um longa “bonitinho”, mas isso não é suficiente para dizer que é uma obra boa.

Essa questão da criatividade é algo que é discutido não apenas quando o assunto é Disney, mas também pelo momento atual que Hollywood passa, com os vários remakes e reboots que ocorrem. Essa versão de Pinóquio só faz chegar a conclusão de como trazer um clássico das antigas para os dias atuais sem proporcionar nada de novo é um tremendo tiro no pé, praticamente mata algo que poderia ser uma tentativa de fazer com que o personagem se modernizasse para os dias atuais.

Pinóquio é um resumo de que os live-actions da Disney podem estar seguindo um caminho sombrio. Há bons filmes sim inspirados nos personagens de seus contos, como Malévola e Cruella, mas são poucos os acertos em comparação com a proporção de “erros”. A maioria dessas produções tem como objetivos principais o de focar no revisionismo com muitos efeitos especiais, mas quase sempre esquecem que a qualidade do roteiro tem que estar à altura do conto original

Pinóquio (Pinocchio,  EUA – 2022)

Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Chris Weitz
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth, Angus Wright, Cynthia Erivo, Sheila Atim, Lorraine Bracco, Keegan-Michael Key, Jamie Demetriou, Giuseppe Battiston, Kyanne Lamaya
Gênero: Aventura, Drama, Comédia
Duração: 105 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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