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Gabriel Danius

Crítica | Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar – Um relato Cru da Realidade

É fácil entender os motivos que levaram a Academia em indicar Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar para concorrer nas categorias de Melhor Documentário, Melhor Animação e Melhor Filme Internacional para o Oscar de 2022, algo bastante raro de se acontecer para uma produção dinamarquesa que aborda vários temas delicados, alguns deles muito presentes no nosso mundo contemporâneo.

Dirigido por Jonas Poher Rasmussen, um cineasta sem muitas obras conhecidas em seu currículo, mesmo assim há de se destacar que isso não interfere em nada na sua direção e na forma como o cineasta conduziu o seu ótimo trabalho em apresentar a trajetória de vida de Amin, um jovem que vive com sua família no Afeganistão, até que uma guerra coloca os civis no meio dela e Amin e sua família precisam fugir rapidamente do país, em uma saga que é apenas o início de algo maior a ser apresentado na bela e eficiente narrativa.

Vivendo escondido

Com roteiro do próprio diretor Jonas Poher Rasmussen e com parceria de Amin Nawabi há de se dizer que o jeito que a trama é apresentada pela dupla vai levando o espectador a ter várias sensações e sentimentos durante a história.  Se essa era a ideia enquanto a dupla escrevia o roteiro, de passar tais emoções para o público, é justo dizer que chegaram com mérito a tal objetivo, pois a animação além de ser um reflexo da realidade trata também de assuntos atuais de forma impactante.

Em seu início já é deixado claro que Flee é baseado em uma história real e o nome dos personagens - incluindo o seu protagonista Amin - seriam omitidos, algo que já dava a ideia de quão profunda seria aquele conto que o diretor pretendia nos apresentar. Entre os temas abordados no longa/documentário estão alguns que basta ligarmos a TV e colocar em algum noticiário ou em alguma novela ou filme que provavelmente aquele assunto estará sendo abordado, como a questão dos refugiados, a guerra no Oriente Médio, no caso a guerra no Afeganistão (1979), e a homossexualidade reprimida do protagonista.

Numa época em que a questão dos refugiados se torna muito mais presente em nossa sociedade, com um contingente enorme de ucranianos tendo de fugir da Ucrânia, por causa do país estar sendo bombardeado pela Rússia, o que Flee retrata nada mais é que um reflexo da realidade, com Amin e sua família fugindo às pressas nos anos 1990 justamente para a Rússia, mas isso na época em que o país estava deixando de ser uma Ex-república Soviética, o que aumentou o drama dos refugiados, pois a corrupção corria solta entre os policiais russos, algo que foi bem apresentado na animação. E depois o longa ainda retrata, em seu terceiro ato, de forma breve a vida de Amin como refugiado contrabandeado na Dinamarca e isolado de seus familiares.

Além de tratar sobre o tema dos refugiados, com Amin praticamente tendo que se esconder a todo instante, há também outra situação que o diretor trata de forma inteligente, que é a questão da homossexualidade do protagonista. No primeiro ato Amin aparece ainda criança no Afeganistão, retratado como um país ainda aberto e que não havia tanta repressão como ocorre nos dias de hoje, e com um segundo ato em que Amin precisa omitir ser gay em um país novo e também de sua família, sem saber como se abrir e sem imaginar como seus familiares iriam reagir com tal decisão de revelar sua sexualidade. São questões que são apresentadas de maneira sagaz e trabalhadas pelo roteiro com a finalidade de passar as mais diversas sensações, com a principal delas a de emocionar o público, sendo possível tirar algumas lágrimas em cenas pontuais.

O Valor de Uma Boa Narrativa

Vale ressaltar que a maneira escolhida em contar a trama, em poucos momentos de maneira documental, e em grande parte como uma animação, é uma escolha acertada e que só deixa uma atmosfera de que realmente estamos presenciando relatos passados do protagonista, principalmente por parte da animação sendo um ótimo jeito de ilustrar esse tempo que passou. As cenas documentais estão lá mais como um relato histórico, enquanto que a animação, feita com cores vivas, traços fortes e uma narrativa potente, que justamente dá maior dramaticidade para o longa.

Mas sua principal força está mesmo no belo texto narrado por Amin, ao contar sua história de sofrimento e de como viveu tanto tempo escondido e sem ter um lugar para chamar de lar. Essa ideia de não ter um lar é algo simbólico na narrativa criada por Rasmussen e muito bem direcionada ao seu belo final. Há alguns diálogos que estão ali por pura reflexão e que não acrescentam muita coisa para a história e que só servem mesmo para dar uma dinâmica mais lenta para a produção.

Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar é daquelas animações que fazem refletir a respeito de um drama que aflige milhares de pessoas pelo mundo, jogando luz sobre a questão dos refugiados e debatendo outros temas relevantes para a sociedade. Sem dúvida uma das grandes obras lançadas nos últimos anos e suas indicações ao Oscar só aumenta sua importância para o audiovisual pela mensagem que aborda.

Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar (Flugt, Dinamarca – 2021)

Direção: Jonas Poher Rasmussen
Roteiro: Jonas Poher Rasmussen, Amin Nawabi
Elenco: Daniel Karimyar, Fardin Mijdzadeh, Milad Eskandari, Belal Faiz, Elaha Faiz, Zahra Mehrwarz, Sadia Faiz, Rashid Aitouganov
Gênero: Documentário, Animação, Biografia
Duração: 83 min

https://www.youtube.com/watch?v=Yfjjv9aVSaU&ab_channel=DiamondFilmsBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | Sonic 2: O Filme – Divertido, mas repetitivo

A Paramount Pictures acertou quando em 2020 levou para as telonas Sonic: O Filme, produção que foi elogiada pela crítica especializada e pelo público, que foi em peso ao cinema, fazendo com que o longa se tornasse a adaptação de videogame com a melhor estreia já lançada. É claro que uma sequência seria filmada, e é nessa onda que surgiu Sonic 2: O Filme, dirigido pelo mesmo Jeff Fowler do primeiro Sonic.

Nesta continuação, após Sonic se comunicar com os humanos e fazer amizade com Tom (James Marsden), além de conseguir juntar todos os anéis mágicos, ele não havia muito mais o que temer na Terra. A trama coloca em cena novamente seu arquivilão, o Dr. Ivo Robotnik, enquanto dá espaço para que novos personagens do game possam se destacar, como são o caso de Knuckles e Tails.

Sonic 2: Nada de Novo no Horizonte

Sonic: O Filme foi uma boa produção de origem e surpreendeu justamente por tratar a história com seriedade e por ser uma ótima adaptação de videogame, algo difícil de acontecer, levando em conta o histórico de longas que foram levados para as telonas e que sucumbiram as críticas dos fãs, justamente pela falta de fidelidade de como se tratam as narrativas dessas produções e como tratam os personagens na hora de adaptá-los para o cinema. Em Sonic 2, o cineasta Jeff Fowler, e seu grupo de roteiristas formado por Pat Casey, Josh Miller, John Whittington, tiveram que criar uma atmosfera que pudesse atrair os fãs dos games e também um público jovem que não fosse fã dos consoles.

É claro que para isso era necessário que os roteiristas elaborassem um novo cenário em que pudessem focar a nova aventura, mas que não fugisse muito do que foi o primeiro longa, já que a história havia dado muito certo com os espectadores e em time que está vencendo não se mexe. E é aí que vem um dos grandes problemas desta continuação e que salta aos olhos logo quando o Dr. Ivo Robotnik retorna com sede de vingança, que é o fato do roteiro ser extremamente repetitivo.

Para se ter ideia de como a história não se reinventa, isso em relação ao primeiro filme, mesmo contando com personagens novos em sua trama, algo que poderia trazer ares novos para a narrativa e que geralmente funciona em produções do gênero, e contando com um vilão carismático do porte de Jim Carrey, acaba por não caminhar de forma eficiente do jeito que se imaginava. É recorrente os momentos que o diretor Jeff Fowler utiliza nesta nova produção, que deram certo no primeiro filme, para sair de situações consideradas simples em Sonic 2 e que acabam caindo na mesmice de sempre. Portanto, não se renova o roteiro, é quase sempre a mesma coisa, se tornando um repeteco da receita de bolo que deu certo no longa anterior, algo que acaba transformando essa versão em apenas algo raso.

Claro que a decisão de deixar a narrativa mais leve e menos séria foi tomada justamente pensando no público-alvo da produção, que é composta em sua maioria por jovens e crianças. É evidente nesta versão que deixaram o ouriço mais infantilizado e bobo, e em consequência deixaram a trama em segundo plano. Contando com muitas piadinhas, com algumas sendo jogadas e mal trabalhadas, mas que mesmo assim funcionam e outras que soam forçadas. Com um terceiro ato recheado de ação, em que há um espetacular confronto final entre Sonic e Ivo Robotnik, que funciona muito bem, pois Jim Carrey prende a atenção do espectador ao incorporar o vilão e a cena final da batalha entre os dois é bem construída, com muita destruição e bons efeitos visuais.

Quando Naoto Ohshima e Yuji Naka criaram o Sonic, com a ideia de torná-lo o mascote da Sega, não tinham ideia do potencial que ele teria, de se transformar dali para a frente um personagem que sairia dos games e iria parar nos quadrinhos, na TV no formato de desenho animado. Sonic terá vida longa no cinema, tem um público cativo, que gosta de suas histórias e que é fã dos games, portanto é quase certo que Sonic 2: O Filme será um sucesso assim como o anterior foi. A grande questão é que o nível do roteiro caiu bastante, e para uma terceira parte será necessário mais que cenas espetaculares e personagens novos para atrair o público para assistir algo "novo" nos cinemas e que não seja apenas uma história reciclada.

Em breve um novo confronto do ouriço contra as forças do mal.

Sonic 2: O Filme (Sonic the Hedgehog 2, Japão/EUA - 2022)

Direção: Jeff Fowler
Roteiro: Pat Casey, Josh Miller, John Whittington
Elenco: Ben Schwartz (Sonic/voz), Idris Elba (Knuckles/voz), Colleen O'Shaughnessey (Tails/voz), espetacularizadoJim Carrey, James Marsden, Tika Sumpter, Natasha Rothwell, Shemar Moore, Adam Pally, Lee Majdoub
Gênero: Ação, Aventura, Comédia
Duração: 122 min

https://www.youtube.com/watch?v=gLRLkTdi5Ns&ab_channel=ParamountBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | Apresentando Nate É um musical com a cara de Sessão da Tarde

O sonho em ser um popstar, uma estrela da música ou do cinema é algo bastante comum em uma sociedade jovem que nasce e cresce imersa em redes sociais de compartilhamento de vídeos e fotos populares, como Tik Tok e Instagram, que fazem com que, de uma hora para a outra, alguém anônimo se transforme em uma celebridade instantemente do dia para a noite em um piscar de olhos. Em Apresentando Nate, produção musical do Disney+, há uma relação simbólica entre o entretenimento gerado para milhões de pessoas e o espetáculo feito para ser assistido para uma platéia seletiva, no caso, o espetáculo da Broadway.

A trama gira em torno de Nate (Rueby Wood), um garoto que sonha em se tornar uma estrela da Broadway, mas vive a decepção de não ser chamado nem para participar como coadjuvante da peça de teatro da própria escola. O garoto sente que tem talento e em um dia de viagem dos pais “foge” com sua melhor amiga Libby (Aria Brooks) em busca do papel dos sonhos em uma grande peça da Broadway.

Apresentando Nate nada mais é que uma comédia e um musical que aborda a respeito de como não devemos tratar nossos sonhos, e isso fica muito nítido em várias passagens do roteiro de Tim Federle. Nate sonha em ser não apenas um astro mirim da Broadway, mas também uma celebridade reconhecida por todos, e isso requer um caminho árduo a ser percorrido. Há uma crítica do roteiro interessante sobre a rapidez com que as coisas acontecem nos dias de hoje, com o Tik Tok tendo destaque em uma das cenas, sendo que Nate se torna um fenômeno ao cantar na rua e logo fica conhecido por todo o país, é algo curioso de ser mostrado em um filme teen, já que é justamente o público-alvo de redes sociais como o Tik Tok.

O roteiro, que é adaptado da HQ escrita pelo próprio Tim Federle, tem alguns buracos, justamente nessa construção de um Nate sonhador e como é feita toda a colocação dele se tornar um possível ator de musicais. Ele acaba viajando com sua amiga para outra cidade, algo que poderia render muito mais do que realmente acabou rendendo, principalmente nas situações dramáticas na nova cidade. Há uma lição de moral sobre amadurecimento ali inserida pelo diretor (Tim Federle) no novo local mas que também é feito de modo superficial, e nada mais que isso.

Por o filme ter um público-alvo jovem, é natural que a narrativa do longa seja focada em uma aventura de um garoto e uma garota que se perdem e buscam se conhecerem e descobrirem suas habilidades. Tim Federle tem experiência em produções teens, já trabalhou em High School Musical, por isso que dirigir Apresentando Nate poderia soar como algo natural para ele, e o cineasta não se sai mal, tirando o fato que o filme tem um grande aspecto de sessão da tarde e também não rende muito com suas piadas, além de contar com um roteiro tímido, óbvio e com diálogos batidos.

Apresentando Nate certamente irá inspirar muitos jovens que pretendem não apenas cantar ou atuar, algo que não é a ideia principal do filme, mas também inspirar o público a buscar maneiras de ir atrás de suas ambições e de nunca desistir, algo que é simbolizado claramente pela personagem de Lisa Kudrow. Não é um dos melhores musicais que a Disney já produziu, mas certamente irá agradar ao espectador.

Apresentando Nate (Better Nate Than Ever, EUA – 2022)

Direção: Tim Federle
Roteiro: Tim Federle, baseado na HQ de Tim Federle
Elenco: Lisa Kudrow, Rueby Wood, Joshua Bassett, Aria Brooks, Mandy Gonzalez
Gênero: Comédia, Drama, Musical
Duração: 91 min

https://www.youtube.com/watch?v=TPP54qgzZS0&ab_channel=Disney%2BBrasil


by Gabriel Danius

King Richard: Criando Campeãs tem Will Smith em grande performance

As irmãs Serena Williams e Venus Williams fizeram história no Tênis ao competir em alta performance desde muito jovens contra grandes adversárias da época. É difícil que alguém que se denomine fã de esportes ou que seja conhecedor de grandes façanhas esportivas nunca tenha ouvido falar das irmãs Williams, ou de como arrasavam suas adversárias em quadra. Nesse cenário o filme King Richard: Criando Campeãs é um prato cheio para quem curte acompanhar cinebiografias de sucesso e também para quem quer saber como foi o árduo caminho delas até obter o triunfo.

Apesar do longa contar a biografia das irmãs o grande foco está mesmo no pai das Williams, Richard, interpretado por Will Smith (Bad Boys Para Sempre), em um trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator e merecidamente. A trama gira em torno dos ensinamentos de Richard em torno do duro método de ensino em que colocou em prática para doutrinar suas filhas no Tênis desde muito jovens com a finalidade de se tornarem grandes atletas, algo que é apresentado de maneira sagaz pelo diretor Reinaldo Marcus Green, ao mostrar como ocorreram os percalços pelos quais a família percorreu até chegar as tão esperadas conquistas, algo bem comum a ser feito em produções do gênero.

Um Projeto de Sucesso

O fato é de que o roteiro escrito pelo iniciante Zach Baylin para King Richard é daqueles feitos para expor como a carreira de sucesso das duas tenistas não foi nada fácil, apresentando desde seus treinamentos pesados com seu pai, até os caminhos complicados para se firmar em um esporte de elite e praticado quase majoritariamente por garotas brancas. Nisso o diretor Marcus Green inseriu boas cenas que discutem o preconceito no esporte e que falam sobre o racismo que Venus e Serena sofreram ao ingressarem no Tênis.

Portanto, é um acerto do roteiro abordar o tema do racismo, um assunto muito presente ainda na sociedade americana e mundial, mas por não ser um fator principal do longa acaba por ser algo deixado de lado e perde sua força, mesmo sendo tão importante como deveria ser abordado, tendo seus momentos reduzidos a situações em que Venus está se envolvendo nas grandes competições apenas contra jogadoras brancas e também em outros em que Richard tenta motivá-la a se tornar mais que uma jogadora, mas também um ícone para uma geração de garotas negras que possam jogar e quebrar a barreira do racismo. Muito pouco para um filme que tinha tudo para trazer uma mensagem social impactante de modo menos superficial do que foi mostrado.

Por ser uma cinebiografia de origem, ao estilo do que foi Rocketman, apresentando a trilha ardilosa em que o cantor Elton John teve até chegar ao sucesso, em King Richard é parecido, pois conta apenas uma parte da vida das irmãs Williams, até o momento que ficam famosas, e isso foi um acerto por parte do diretor Marcus Green, até porque há muito de interessante na vida não apenas das duas irmãs, mas também na de Richard e de como ele cuidava da carreira de Venus e de Serena com mãos de ferro.

Em relação ao elenco não há muito o que dizer, pois o foco todo está em Will Smith. Já há alguns anos Will Smith – para não dizer muitos anos – persegue a tão sonhada meta de conquistar o Oscar, não é uma obsessão, mas um desejo do astro americano de receber a estatueta de Melhor Ator. Após muitos erros na carreira, com atuações contraditórias, o astro hora ou outra acaba acertando em algum papel dramático, e ao interpretar Richard faz uma de suas melhores performances de sua carreira, não à toa concorre com destaque na categoria de Melhor Ator, com grandes chances de receber o prêmio. Will Smith dá vida para um pai rigoroso e cheio de traumas e parece usar sua própria personalidade para dar maior presença e força ao protagonista.

King Richard: Criando Campeãs tem muita história para pouco filme

Há muito mais escondido nas entrelinhas de King Richard do que é mostrado no longa de Reinaldo Marcus, e por isso mesmo que algumas decisões foram feitas acerca do roteiro para fazer a trama girar com maior facilidade, como o de focar em apenas dois ou três personagens e o de pegar situações específicas da trajetória de conquistas lá na origem das Williams. Mas isso não é o suficiente para fazer com que se tire o vazio com que a narrativa acaba se inserindo em um certo ponto, principalmente em seu último ato, depois que a mensagem já havia sido passada ao público e não havia mais o que ser mostrado, a não ser o grande duelo entre Venus Williams e a tenista Arantxa Sánchez Vicario.

Por ser uma história grandiosa de sucesso é óbvio que o espectador esperasse muito mais dela do que realmente foi entregue e o resultado final é uma grande novela com muito drama, e com um ritmo bastante arrastado para não dizer chato em alguns momentos, chegando a ser difícil de terminar o longa de tão lento e monótonos que são alguns dos diálogos dos personagens. Faltou mais ação para algumas cenas e também maior realismo, já que algumas questões foram deixadas de lado, como o próprio fato de Richard não ser tudo isso que foi apresentado na história.

Por Serena e Venus Williams serem duas das produtoras executivas do filme é natural que Richard fosse pintado como um salvador da pátria na trama, e também como um homem disciplinador e que estivesse sempre pensando no bem das filhas, mas na história real não foi bem assim que aconteceu. Richard colocou as filhas no Tênis pensando no dinheiro e na fama que viria se elas conseguissem se sobressaírem sobre as adversárias e não para as duas não caírem na vida do crime como é visto no longa. Richard era visto pela vizinhança como um carrasco para as Williams no jeito que as treinava, fato que é mostrado na produção, mas de um jeito bastante romântico, ou seja, o lado positivo da história acaba ganhando maior destaque do que o lado negativo em si.

Quanto as atrizes Saniyya Sidney, no papel de Venus Williams, e Demi Singleton, como Serena Williams, estão bem caracterizadas em relação as duas jovens tenistas, isso se imaginar que Venus Williams se tornou profissional com 14 anos e no filme, no duelo final, ela deveria ser um pouco mais alta do que a atriz realmente aparentava ser – isso levando em conta o tamanho real que Venus tinha na época – é um deslize que poderia ter sido evitado. A atuação das atrizes não está ruim, mas o fato da caracterização não estar no mesmo nível da realidade já perde um pouco da força do roteiro.

King Richard: Criando Campeãs é um relato breve da meteórica carreira de sucesso de Venus e Serena Williams, dando maior destaque dramático para as irmãs e para Richard que para o restante da família, tendo no primeiro ato a família se mostrando personagens bastante interessantes e instigantes, mas que depois foram abandonados por motivos óbvios, o que é uma pena, já que renderiam muito por serem ótimos de acompanhar pelo resto da trama, principalmente Oracene Williams (Aunjanue Ellis), esposa de Richard. É um longa que poderia ter ido muito mais além do que apenas ter contado uma história de superação, mas que vale como relato histórico e de vida da família e que deve emocionar o público ávido por narrativas do gênero.

King Richard: Criando Campeãs (King Richard, EUA – 2021)

Direção: Reinaldo Marcus Green
Roteiro: Zach Baylin
Elenco: Will Smith, Aunjanue Ellis, Jon Bernthal, Saniyya Sidney, Demi Singleton, Tony Goldwyn, Mikayla Lashae Bartholomew
Gênero: Biografia, Drama, Esportes
Duração: 138 min

https://www.youtube.com/watch?v=9MRLMEMhNb0&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | Adeus, Idiotas - Em busca da verdade

O adeus pode ser usado como um simples gesto de despedida por alguém que esteja próximo de uma perda, sendo também utilizado como um gesto poético, como um modo de expressar um adeus mais simbólico, desta forma que se apresenta a premissa de Adeus, Idiotas, longa francês com forte mensagem a respeito das interações humanas.

A trama conta a história de Suze Trappet (Virginie Efira), uma mulher que ficou grávida ainda na adolescência, mas que seus pais tomaram a decisão de doar seu filho sem sua permissão e que agora, a protagonista adulta, quer reencontrar seu filho após anos desaparecido, justamente porque Suze vive um dilema impactante em sua vida. Já o Sr. Cuchas (Albert Dupontel) trabalha como técnico de segurança de TI e está infeliz no trabalho, tenta se matar, mas algo dá muito errado.

São esses acasos da vida que se apresentam apenas nos filmes e que ocorrem em Adeus, Idiotas é que acabam por estimular sentimentos no espectador. É também o acaso que faz com que Suze e Cuchas se cruzem acidentalmente e de uma forma dramática e cômica suas vidas acabam mudando drasticamente. Albert Dupontel (Nos Vemos no Paraíso) além de ser o protagonista também dirige o longa, e coloca mensagens importantes nesta francesa que recebeu doze indicações ao prêmio César, vencendo em sete categorias, incluindo a de Melhor Filme.

A principal mensagem é a respeito da conexão humana e como ao vivermos em um mundo cada vez mais conectado, cheio de máquinas e computadores, essas tecnologias estão nos deixando isolados em nosso próprio mundo, sem nos deixar mais sociáveis. É por isso que existe não apenas o personagem de Cuchas, mas também o do filho de Suze, um homem que também se mostra com problemas de se ambientar a sociedade atual e que também trabalha com TI. É uma crítica ao que está se tornando a sociedade de hoje, com as pessoas cada vez mais isoladas e sem a necessidade de interagirem umas com as outras, fazendo isso apenas através de um “buraco”, que seria a tela do celular ou do computador, algo que acaba sendo representado no início do filme pelo tiro dado por Cuchas na parede de sua sala.

O roteiro coloca como pontapé inicial a personagem Suze iniciando uma busca pelo filho que foi tirado de seus braços ainda quando jovem. Essa busca acaba por se desenrolar durante toda a trama e só não se torna repetitiva justamente por ter surgido o personagem de Cuchas na história. Isso além dos roteiristas terem a inteligência de ter trabalhando o roteiro e irem acrescentando outras relações secundárias, que mesmo não sendo importantes para a narrativa acabaram por prender a atenção do espectador, sempre levando em conta que a protagonista estava em uma busca ao “tesouro”, ou em uma busca ao paradeiro de seu filho.

Um dos pontos altos sem dúvida é o humor desta tragicomédia, que diverte em alguns momentos sem fazer esforço, com situações tão hediondas que beiram ao bizarro. O que o diretor quer propor ao público é que é possível rir dos problemas alheios mesmo que todos tenhamos algum tipo de problema em nossas vidas.

Adeus, Idiotas diverte com questionamentos do cotidiano, mesmo que não reflita algumas ações rotineiras acaba por fazer pensar sobre alguns acontecimentos. Há uma tentativa de se deixar poético demais o final, principalmente aquela última cena, mas acaba por se deixar forçada demais e perde todo o seu encanto, mesmo que o ato final praticado seja justificável pela óptica da dupla de protagonistas o ato em si é bastante irracional.

Adeus, Idiotas (Adieu les cons, França – 2020)

Direção: Albert Dupontel
Roteiro: Albert Dupontel, Marcia Romano, Xavier Nemo
Elenco: Virginie Efira, Albert Dupontel, Nicolas Marié, Jackie Berroyer, Philippe Uchan, Bastien Ughetto
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 87 min

https://www.youtube.com/watch?v=oKp8N_8_jCI&t=1s


by Gabriel Danius

Crítica | A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é animação de qualidade

Já virou quase que uma tradição as produções da Disney/Pixar dominarem grande parte do mercado de animação, com lançamentos impactantes e que hipnotizam o público logo que estreiam, se tornando sucessos retumbantes e recebendo várias premiações. Porém, estúdios como Illumination Entertainment (Meu Malvado Favorito) e DreamWorks Animation (Troll 2) não ficam para trás com seus lançamentos, o mesmo pode-se dizer da Sony Pictures Animation que sem muito alarde produziu o divertido A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas.

Lançado pela Netflix, o longa animado traz em sua trama a desestruturada família Mitchell, em que o pai Rick Mitchell tem problemas sérios não apenas com tecnologias digitais, mas também em se relacionar com sua filha Katie Mitchell, que conta os dias até poder se mudar e cursar a faculdade de cinema. Contudo, o roteiro coloca no caminho dos dois uma viagem maluca para que voltem a se comunicar como uma família e ocorre ainda uma mais ainda insana revolta de máquinas que coloca em perigo toda a humanidade.

Mesmo tendo uma história comum sobre famílias americanas a trama se desenvolve bem, pois o grupo de roteiristas, liderado pelo diretor Michael Rianda, atua no sentido de primeiro mostrar como a família não vai indo bem, que cada um tem a sua personalidade, para depois colocá-los na estrada e os pôr a prova com o ataque repentino das máquinas. É quase que um clichê colocado no roteiro, mas que quase sempre funciona, pois o público quer ver justamente a família lutando lado a lado contra as forças do mal e voltando a se “conectar” entre si e com a realidade.

Essa conexão é justamente a mensagem que o roteiro quer passar, não apenas a de que estamos separados por meios digitais que criam uma barreira em nossa comunicação e nos deixam cada vez mais longe de nossas interações pessoais, mas também do jeito de que estamos nos conectando como humanos e estamos passando a esquecer nossas relações familiares.

Outra das grandes mensagens introduzidas envolve a vida digital, algo que é muito bem representado pelos personagens Mark – uma alusão inteligente a Mark Zuckerberg, o criador do Facebook – ao criar a inteligência artificial que sabota e controla os robôs, e por Katie, que vive plugada na internet. Mark ao criar essa inteligência artificial que rouba dados dos usuários, acaba alimentando a inteligência artificial e criando uma revolta das máquinas contra os humanos, nada mais que uma crítica contra o uso indevido de dados dos usuários por parte das empresas do Vale do Silício, algo do tipo pode ser visto recentemente na animação Ron Bugado, que tem um roteiro parecidíssimo com o desta animação. Já Katie é um retrato dos jovens que vivem suas vidas mais nos meios digitais e nas redes sociais que no mundo real.

A ideia de trabalhar o conceito de como vivemos preocupados com o que as pessoas fazem nas redes sociais, se os vizinhos tem vidas perfeitas, se são melhores que a gente, o que estão fazendo no dia a dia, também é algo discutido e é um tema muito atual e que precisa ser levado a sério. A vilã que é representada pelo aplicativo PAL (amigos em inglês) é ótima e simboliza justamente a ideia de “amigos” superficiais que temos nas redes sociais e que não interagimos, além de retratar dos amigos que esquecemos no mundo real que estão ao nosso lado.

A direção dupla de Michael Rianda e Jeff Rowe, com destaque principal para Rianda, funciona mesmo trabalhando com um tema já batido, o da família desestruturada e que dá a volta por cima para ajudar um ao outro. A qualidade da animação dos estúdios Sony é algo elogiável, ainda mais depois do que fizeram com qualidade em Homem-Aranha no Aranhaverso. Neste longa animado não é diferente ao utilizarem técnicas de animação mesclando 2D com 3D, não à toa foi indicado ao Oscar de Melhor Animação na premiação de 2022.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma boa animação e que serve como entretenimento para todos os públicos, com um humor leve e divertido que prende a atenção do espectador desde o início, claro que não é aquele humor de rir sem parar, mas há boas tiradas e questões dramáticas de se fazer pensar e refletir. Sem dúvida um grande acerto da Netflix.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas(The Mitchells vs the Machines, EUA – 2021)

Direção: Michael Rianda, Jeff Rowe
Roteiro: Michael Rianda, Jeff Rowe, Peter Szilagyi, Alex Hirsch
Elenco: Abbi Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph, Michael Rianda, Eric André, Olivia Colman, Conan O'Brien, John Legend, Chrissy Teigen
Gênero: Animação, Aventura, Comédia, Ficção Científica
Duração: 121 min

https://www.youtube.com/watch?v=_8kRAlYnmvU&ab_channel=NetflixBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | A Filha Perdida - Um outro olhar sobre a maternidade

Do ponto de vista dramático, A Filha Perdida, é um dos grandes filmes da temporada e não á toa desponta no cenário como o favorito entre várias premiações que disputa. Por isso não é nenhum absurdo suas três indicações ao Oscar que recebeu, incluindo a de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz para Olivia Colman (The Crown).

Longa da Netflix é uma adaptação da obra de Elena Ferrante, intitulado História da Menina Perdida, e conta a história de Leda (Olivia Colman), uma mulher que é professora universitária e que está de férias e passa a reviver suas memórias passadas. A produção reconta sua vida em dois períodos, o presente, enquanto está de férias de verão, e o passado, enquanto relembra como foi cuidar de suas duas filhas ainda crianças.

O principal atrativo do filme, e que prende o espectador logo de cara, é estabelecido pelo bom roteiro de Maggie Gyllenhaal (The Deuce), que assim como a direção, assina também o competente roteiro. Há um ar de segredo na trama e que é trazido pela protagonista, percebe-se que ela guarda algo sobre si. O tom que a diretora vai mostrando o que de fato é que Leda guarda em sua vida de amargura é que vai desenvolvendo a narrativa. Surpreende a todos que o tema da produção seja maternidade, mas com uma representação diferente do que é geralmente apresentado por Hollywood em suas produções.

Fica evidente, desde o encontro de Leda com Nina (Dakota Johnso), na praia, que havia algo de diferente naquele olhar de Leda para Nina, uma mulher ainda jovem e que vive impaciente com a sua filha, no jeito que ela briga com a criança, no jeito que discute com o marido ou até mesmo no jeito que deixa a criança de lado à beira mar para se preocupar com uma briga conjugal qualquer. Ali o roteiro já dá indicativos, poucos é verdade, que o longa irá tratar sobre o ato de ser mãe.

A maioria dos longas quando vai tratar deste tema traz à tona a questão de como é bom ser mãe, de como é maravilhoso cuidar dos filhos, mas em A Filha Perdida não é bem isso que Maggie Gyllenhaal quer tratar. É muito claro que há um conflito particular no jeito que Leda quer ficar longe o máximo possível de suas filhas, e isso é mostrado de modo sútil, de uma maneira tocante, apresentando o lado da protagonista. Na realidade, a proposta é transformar aquela ideia de que a maternidade nem sempre é flores e a diretora trata de não fantasiar um tema que o cinema ama abordar de uma maneira quase sempre de modo completamente romântico.

Além de tratar da romantização da maternidade há também a questão de se trabalhar a ideia do tempo perdido, já que a própria protagonista acaba por soltar uma fala sobre isso, algo que faz o total sentido, pois ela mesma não apenas não nutre um sentimento natural de ser mãe, mas também sente que perdeu um tempo de ficar ao lado de suas filhas ao abandoná-las quando crianças por três anos e que aquele período não irá voltar.  Aí que está a inteligência do roteiro em falar sobre um tema tão batido, mas com uma mensagem diferente e forte e que toca o público pela simplicidade.

Olivia Colman está ótima como a mulher que se martiriza por não se achar uma mãe competente e sua indicação ao Oscar é um reflexo dessa atuação potente de Colman. O mesmo pode-se dizer para a interpretação de Jessie Buckley (Fargo), que faz o papel da Leda mais jovem e também foi indicada para Melhor Atriz Coadjuvante merecidamente, pois tem destaque para uma parte da trama importante e de caráter dramático, até mais forte que o da própria Colman.

Há um trabalho energético por parte de Maggie Gyllenhaal em desenvolver a questão dramática da narrativa, mas sem forçar no espectador um choro, até porque não é o tipo de espetáculo que requer esse tipo de abordagem. A questão mesmo é que há um drama pessoal vivido pela protagonista, presa em uma rotina e que Maggie quer nos apresentar como Leda querendo se libertar, sendo a praia aquele ambiente perfeito de fuga para ela.

O jeito do roteiro contar a narrativa, transitando entre passado e presente, é um elemento que serve para abordar as duas fases da vida de Leda, enquanto cuidava de suas filhas quando criança e quando já madura e entende tudo que já passou e vê outra mãe, no caso Nina, passando pelo mesmas situações que ela no passado.

A Filha Perdida não se desenvolve do jeito que deveria, mesmo tendo um apelo emocional e atingindo o público no alvo. Falta uma dinâmica, um ritmo que seja mais empolgante. Há alguns momentos que a trama cai no marasmo e que é quebrado quando a história é levada para contar o passado de Leda. Do resto, é um bom filme e vale pela sua mensagem e pela quebra de, podemos dizer assim, um tabu que não é muito discutido no cinema, que é o da romantização da maternidade, que para algumas mães é algo lindo e maravilhoso, e que para outras mães é um fardo. Sem dúvida um dos grandes filmes da temporada.

A Filha Perdida (The Lost Daughter, Grécia, Reino Unido, Israel, EUA – 2021)

Direção: Maggie Gyllenhaal
Roteiro: Maggie Gyllenhaal, Adaptação do livro de Elena Ferrante
Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson, Ed Harris, Peter Sarsgaard, Paul Mescal, Dagmara Dominczyk, Jack Farthing, Oliver Jackson-Cohen, Alexandros Mylonas, Alba Rohrwacher
Gênero: Drama
Duração: 121 min

https://www.youtube.com/watch?v=s63AZRGzUtc&ab_channel=NetflixBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | Spencer é um retrato melancólico da "Princesa do Povo"

É certo que se hoje estivesse viva Lady Diana Spencer, ou Princesa Diana, ainda não teria recebido o título real de Rainha, já que Elizabeth II (95 anos) mantém o título atualmente e goza de boa saúde. Em Spencer, dirigido pelo chileno Pablo Larraín (Ema), a “Princesa do Povo”, como era popularmente chamada, era um grande atrativo na realeza, tanto que por onde andava atraía as lentes dos fotógrafos e causava enorme repercussão, e isso é algo apresentado com grande destaque no longa.

O foco principal da trama dirigida por Larraín é o tradicional encontro de final de semana no natal que aconteceu em 1991, em uma das propriedades reais da Rainha localizada em Sandringham. Porém, o que era para ser um reconfortante e alegre encontro natalino com a presença de Lady Diana e seus filhos acaba por se mostrar uma torturante e trágica passagem da Princesa pela propriedade, que mais parece uma prisioneira, isso devido aos rigores impostos pelas tradições inglesas e que Diana deve seguir no dia a dia que estiver ali, como ter que se pesar, ou para se submeter a refeições pontuais, entre outras regras severas.

Fábula

O roteiro escrito por Steven Knight (Peaky Blinders) para Spencer é inspirado na realidade, ou seja, o filme nos traz uma abordagem real da vida da Princesa Diana, mas não é um espelho da realidade do que ocorreu naqueles três dias do Natal em Sandringham, e sim imagina o que poderia ter acontecido naqueles fatídicos dias em que Lady Diana esteve hospedada junto à realeza e teve que se proporcionar as regras rígidas reais. Larraín coloca Diana como se estivesse em um filme de terror, com a propriedade de Sandringham sendo uma versão parecida do Overlook Hotel de O Iluminado, de Stanley Kubrick.

Mesmo com muitos episódios envolvendo Diana sendo exageradamente imaginados pelo roteiro, como a ida de Diana a sua antiga casa, ou até mesmo a cena em que a Princesa diz que vai se masturbar – e que recebeu muitas críticas por não ter comprovação histórica de ter realmente ocorrido – mesmo assim o longa não perde seu charme, muito pelo contrário, é bem dirigido e é bem montado. Esse toque de exagero inserido por Larraín é um acerto, pois a ideia é a de justamente a de mostrar a rotina severa da propriedade Real, a partir do ponto de vista do militarismo, desde a alimentação que chega em caminhões do exército e em caixotes como se houvessem armas dentro destas caixas, até mesmo a já mencionada rotina rígida e a caçada que é mostrada no ato final. São questões que estão presentes no roteiro para mostrar como Diana estava presa naquele ambiente e como sua vida não era nada fácil, claro, lembrando que há muita imaginação na trama.

O diretor coloca Diana em momentos dramáticos em que se automutila e também manifesta para o público que a Princesa sofria de bulimia, na qual foi pouco mencionada em cinebiografias sobre Lady Diana, e que é algo interessante de se mostrar, pois o que nos é apresentado é que Lady Diana era uma mulher que sofria como todos nós, é isso que o filme nos evidencia a cada passagem.

Logo em seu primeiro ato o diretor nos deixa claro que a história é uma fábula, fábula essa que soa mais como um pesadelo em que Diana está presa e tenta se libertar das amarras da realeza. É assim que Larraín fantasia que era a rotina de Lady Diana junto à Rainha e ao Príncipe Charles, com muita melancolia e doses de exagero.

A respeito da traição do Príncipe Charles, algo que poderia ser relevante para a trama, mas que Larraín resolve não dar muita força para esse acontecimento, até porque o foco da narrativa está em Diana, poderia fazer com que a história caminhasse para outro rumo. Já os personagens secundários são todos pouco aproveitados e não tem força nenhuma, estão ali apenas para dar mais força para a personagem de Kristen Stewart.

Vale Oscar?

Justamente por o filme ser focado quase que inteiramente na Princesa Diana e não dar oportunidade para que personagens secundários possam aparecer e assim se destacarem é que Kristen Stewart surge e esbanja todo o seu talento. A atriz que está muito bem caracterizada desenvolve todo o seu lado dramático e interpreta uma Diana reprimida, fazendo com seja uma das favoritas ao Oscar de Melhor Atriz.

Kristen Stewart só precisou dissociar sua imagem à de Emma Corrin, que ficou parecida com a própria Diana e também interpretou de forma magnífica a Princesa na 4ª temporada de The Crown, série da Netflix que estreou em 2020. Surpreende mesmo que a caracterização de Stewart esteja, em alguns momentos, muito parecida com a própria Diana, com os movimentos, trejeitos e até mesmo o jeito de falar de Lady Diana.

Usando figurinos originais – ou parecidos dos utilizados no período retratado – a produção acerta ao dar um tom mais original a trama e assim fazendo com que o espectador reviva aquele cenário dos acontecimentos que ocorreram no período. A ambientação de época também é bem retratada, mesmo que seja uma época não tão distante assim.

Spencer não é uma cinebiografia convencional que conta a vida da Princesa Diana como realmente ocorreu, e como o próprio nome do filme já diz tenta mostrar uma Diana de carne e osso. Há um certo vazio narrativo na trama, não acontecendo nada de muito relevante na história a não ser as demonstrações de melancolia apresentados pela protagonista e que refletiam o dia a dia de uma princesa presa pela solidão e que só queria se libertar das amarras da família real. A grande questão é se os dias de Diana eram assim mesmo junto com a família real: angustiantes e tristes.

Spencer (idem, Reino Unido, Alemanha, EUA, Chile – 2021)

Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Steven Knight
Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Jack Nielen, Freddie Spry, Jack Farthing, Sean Harris, Stella Gonet, Richard Sammel, Elizabeth Berrington, Sally Hawkins
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 117 min

https://www.youtube.com/watch?v=tZhqbnVc_EI&ab_channel=DiamondFilmsBrasil


by Gabriel Danius

Crítica | O Assassino de Clovehitch - O perverso retrato de um criminoso

Quando um filme é inspirado em fatos reais ou utiliza de acontecimentos históricos para dar o pontapé inicial em sua trama para desenvolver a narrativa, é bastante comum que sejam contadas as ocorrências com bastante riqueza de detalhes de como aqueles fatos se sucederam, e é assim que o assustador O Assassino de Clovehitch se desenrola em tentar retratar a realidade.

No longa, que está disponível na Netflix, dirigido por Duncan Skiles, os fatos apresentados na história foram levemente inspirados no serial killer Dennis Rader, também conhecido como o Assassino BTK, no qual por 31 anos aterrorizou os moradores da cidade de Wichita, no Kansas, iniciando as matanças em 1974 e somente sendo preso em 2005 e pegando 175 anos de prisão.

Na maioria dos filmes de suspense há uma grande necessidade em se esconder quem é o assassino ou o perseguidor que vai atrás de suas vítimas para lhes sequestrar ou matar. É um mistério aceito pelo espectador que compra a ideia e vai atrás junto com o detetive ou o mocinho em tenta desvendar e descobrir quem está cometendo a onda de crimes. Em O Assassino de Clovehitch o diretor meio que já entrega desde o primeiro ato, de uma forma sútil, com pequenos movimentos de câmera e de diálogos, quem é o verdadeiro criminoso, e isso não estraga em nada a experiência de assistir ao longa, pelo contrário.

O roteirista Christopher Ford (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) só se inspirou nos assassinatos cometidos pelo Assassino BTK, há algumas similaridades que lembram o modus operandi do criminoso. O roteiro cria uma trama com algumas diferenças em que Don Burnside (Dylan McDermott) é um homem bastante respeitado em sua comunidade e um pai de família que preza pela educação de seus dois filhos, religioso ele sempre dá lições de moral no filho mais velho Tyler Burnside (Charlie Plummer), até que Tyler começa a suspeitar que o seu pai tenha um passado um tanto quanto sombrio relacionado aos crimes de Clovehitch.

A escolha pelo diretor em retratar no longa os acontecimentos de uma forma diferente de como ocorreram é apenas um capricho do diretor mesmo e que serve para dar direcionamentos diferentes para a trama. Na realidade o cineasta só usou os crimes de BTK como pontapé inicial para criar sua narrativa. Já a decisão em entregar quem é o assassino muito rapidamente é feito  para criar um elo com o espectador em saber que pode ser alguém próximo a Tyler, e Duncan Skiles constrói isso de maneira assustadora, dando um aspecto de um filme de terror para a relação entre pai e filho, entre cria e criatura.

O que chama mais a atenção do roteiro está em relação ao fato de trabalhar com a ideia do assassino ser alguém acima de qualquer suspeita, claro que muitas produções já fizeram isso, é uma reviravolta que geralmente pega a todos de surpresa, mas que nesta produção funciona de outra forma, pois Don Burnside além de ser um pai de família que se empenha na tarefa de cuidar dos filhos, também é um religioso que participa com esforço da comunidade que vive, ajudando outras pessoas. O roteiro ao colocar o assassino como um pai de família que ninguém suspeita e que faz atrocidades inimagináveis é algo realmente perturbador.

O suspense abordado em O Assassino de Clovehitch beira a atmosfera utilizada em thrillers com a temática de seriais killers. Não é tão fascinante como os grandes clássicos do gênero, sendo que o que prende mesmo a atenção é sua trama que foge do convencional. Mesmo que há alguns questionamentos a serem feitos em relação a narrativa, principalmente em relação ao seu final bastante discutível, com uma discussão abstrata sobre amor e ódio de Tyler para Don Burnside.

Não há um aprofundamento dos personagens, até porque não há necessidade disso, eles são apresentados da maneira que devem e o diretor o faz da forma mais sucinta possível, sem que soem de uma maneira superficial ou forçada, principalmente o vilão que é assustadoramente ótimo. Dentre o pequeno elenco que é apresentado Charlie Plummer se destaca com sua atuação, sendo que a cereja do bolo está na interpretação de Dylan McDermott que está fantástico no papel do “bom” pai.

O Assassino de Clovehitch passou batido quando estreou em 2018 e só explodiu mesmo depois de ter ido para a Netflix. É uma produção que tem os seus problemas de roteiro, mas que mesmo assim surpreende com sua trama intrigante e boas reviravoltas e por isso mesmo vale a conferida.

O Assassino de Clovehitch (The Clovehitch Killer, EUA – 2018)

Direção: Duncan Skiles
Roteiro: Christopher Ford
Elenco: Dylan McDermott, Charlie Plummer, Samantha Mathis, Madisen Beaty, Lance Chantiles-Wertz, Brenna Sherman
Gênero: Policial, Drama, Suspense
Duração: 109 min

https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=aJO3G17JqZ8&feature=emb_title


by Gabriel Danius

Crítica | Imperdoável - Reencontrando o Passado

Quando Sandra Bullock surgiu para o estrelato e fez sucesso nos cinemas nos anos 90, trabalhando em clássicos como O Demolidor (1993) e Velocidade Máxima (1994), ficou claro que Hollywood ganhava uma atriz que poderia transitar entre vários gêneros, indo da ação à comédia, com habilidade de se destacar em papéis dramáticos, como pode ser vista em Imperdoável.

No longa da Netflix, Bullock interpreta Ruth Slater, uma mulher que sai da prisão após cumprir sentença por cometer um crime violento e tenta retornar sua vida em sociedade. Porém, questões envolvendo o seu passado começam a lhe perseguir, isso, além dela buscar reencontrar sua irmã mais nova que acabou sendo adotada quando criança depois que Ruth foi presa.

Obviamente que por se tratar de um filme carregado de teor dramático fica nítido que o roteiro em alguns momentos força a mão para que o espectador chore ou se emocione, e nisso o trio de roteiristas conseguiu transformar Imperdoável em uma produção que lembra uma novela mexicana ou algo parecido. Não que isso seja algo ruim, é mais uma questão de escolha do caminho trilhado da jornada que a protagonista irá percorrer e que irá fazer o público acompanhar a decidir se gosta ou não do que está vendo.

O grande problema do roteiro é que ele utiliza de uma carga dramática exagerada na narrativa. Há alguns momentos que não precisava dessa dose novelesca no roteiro que foi empregada, até porque algumas cenas por si só já se revelavam dramáticas, mas  mesmo assim a diretora Nora Fingscheidt acabou por utilizar desse artificio.

Os roteiristas alcançaram esse objetivo dramático de emocionar o público utilizando elementos clássicos da narrativa, como, por exemplo, o que ocorreu no passado da personagem que fez de Ruth uma criminosa, que vem com um plot até que bem encaixado no ato final, além da busca pelo reencontro com sua irmã que prende a atenção do espectador e que dura grande parte do longa. Consequentemente a essas questões secundárias que vão se desenrolando enquanto a trama vai se desenvolvendo, ocorrem as várias tentativas de se reconciliar com a sociedade novamente, uma tarefa que não é nada simples para ninguém que abandona a prisão, e que pode ser ainda pior para uma mulher em muitas circunstâncias.

Nora Fingscheidt é uma diretora fiel aos acontecimentos apresentados na história e se mantém dentro do roteiro. A cineasta já havia dirigido o ótimo Transtorno Explosivo (2019), e sabe como ninguém tratar os traumas particulares dos personagens e suas angústias, muito diferente do que se vê em outras produções do gênero em que as tramas acabam se perdendo no caminho e assim o teor dramático se torna ineficaz durante a trajetória dos personagens. A diretoria mantém o interesse do público na trama principalmente com a busca de Ruth por sua irmã e ao tentar desvendar o seu passado, se Ruth cometeu ou não o crime em seu passado.

Sandra Bullock se sai bem no papel de uma mulher sofrida e que precisa se readaptar à sociedade, personagem diferente do que vem interpretado na carreira ultimamente. A grande questão é que mesmo sendo uma excelente atriz, acabam vindo à tona alguns vícios dramáticos de atuação, como um tom caricato e trejeitos vindos das comédias em que Bullock trabalha, não que isso atrapalhe o andamento da narrativa, mas ficam evidentes em alguns momentos.

Imperdoável é a saga brutal de como o sistema penitenciário pode mudar alguém e como a vida de uma pessoa pode também ser alterada do dia para a noite em questão de minutos. É um drama que poderia ser mais ambicioso, mas que não deixa de ser um trabalho que vai além do que muitos vistos no gênero. É uma produção claramente feita e pensada para atingir a um grupo específico, e que a diretora Nora Fingscheidt acerta no tom utilizado, justamente alcançando o objetivo que queria.

Imperdoável (The Unforgivable, UK, EUA, Alemanha – 2021)

Direção: Nora Fingscheidt
Roteiro: Peter Craig, Hillary Seitz, Courtenay Miles
Elenco: Sandra Bullock, Viola Davis, Vincent D'Onofrio, Jon Bernthal, Richard Thomas, Linda Emond, Aisling Franciosi, Emma Nelson, Will Pullen, Tom Guiry
Gênero: Policial, Drama
Duração: 112 min

https://www.youtube.com/watch?v=P0RO1pF4L1o&ab_channel=NetflixBrasil


by Gabriel Danius

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