Crítica | O Atirador: O Fim De Um Assassino - Uma Franquia que Perde a Força
Uma franquia clássica de ação e que não é muito conhecida pelo grande público, recebeu um novo capítulo recentemente, trata-se de O Atirador: O Fim De Um Assassino (Kaare Andrews). Uma saga que teve início em 1993 com o longa Sniper, O Atirador (Luis Llosa) e que desde então acumulou sete sequências, totalizando oito filmes até então.
A história em sua origem acompanhou o sargento atirador de elite Thomas Beckett (Tom Berenger), isso na produção de 1993, mas a atual jornada acompanha o protagonista Brandon Beckett – interpretado sempre pelo ator Chad Michael Collins – que teve início em O Atirador 4 (2011), e desde então o sargento Brandon Beckett acabou se tornando a estrela do show junto com o personagem Thomas Beckett, seu pai na história, tendo algumas aparições nas continuações atuais.
O grande problema da franquia Sniper é que por ela ser pouco conhecida do espectador surge dilemas que o diretor acaba tendo que solucionar durante as filmagens. Andrews acaba ignorando um dos elementos mais imprescindíveis para franquias longas de filmes, que são aquelas a respeito de pessoas novas assistirem ao longa no oitavo episódio e não saberem quem é o personagem. É como assistir 24 Horas na sétima temporada e tentar entender o porquê de Jack Bauer tanto correr atrás de terroristas, a diferença que você entende a motivação do agente secreto, e em O Atirador o cineasta ignora esse público que não conhece o personagem e cai de paraquedas em frente a tela. Há alguns diálogos que ajudam a identificar quem é Beckett e que se trata de uma franquia, isso é claro em vários trechos, mas mesmo assim faz falta algumas cenas de flashback na narrativa.
A ideia da trama é basicamente a mesma dos anteriores, colocando o sargento Beckett lado a lado de seu pai, um grande sniper das antigas e que esteve bastante presente na franquia, e seu filho que é um grande soldado também. A grande questão do longa fica em relação a problemática em em ser uma continuação, e a não obrigatoriedade de não apresentar os personagens, mesmo sabendo que muitas pessoas não os conhecem. No roteiro, Beckett é tratado como uma figura conhecida do grande público, como se fosse um The Rock ou um Vin Diesel, mas é apenas o astro Chad Michael Collins, um ator desconhecido e que não impõe força suficiente ao seu personagem.
Ao assistir a um filme sobre snipers o mínimo que se espere é que tenha ação, e isso é algo que a produção peca bastante. Há um bom momento, que é a cena da floresta, e apenas isso, fora esse momento de tensão há outras tentativas que são apenas situações criadas pelo roteiro para vilanizar uma vilã que tinha para ser ótima. Uma mulher asiática que luta muito e é uma sniper excepcional, atira com muita precisão em seus alvos. A grande questão é que enquanto as cenas de tiro são bem organizadas as cenas de luta são ridículas de tão pessimamente coreografadas, lembrando até um episódio ruim de Power Rangers.
Em relação aos personagens, o Agente Zero, interpretado pelo ator Ryan Robbins, não tem um protagonismo tão evidente assim na trama, até porque o seu personagem é secundário, mas sempre que está em cena sua presença se torna interessante, até mesmo as cenas de luta são mais realistas e brutais que a do protagonista Chad Michael Collins, que tem uma atuação forçada e suas cenas de luta são bem fracas. Ryan Robbins merecia mais destaque do que realmente mereceu, e também um papel mais interessante e relevante na trama.
O Atirador: O Fim De Um Assassino tem boas intenções e com um orçamento maior e com um elenco mais qualificado, e obviamente, um diretor que soubesse trabalhar melhor a ação e deixasse com menos buraco a história, além de fazer com que a trama tivesse mais tensão e agilidade, faria com que o longa se tornasse muito mais interessante e limitado do que ele é. Como entretenimento funciona, mas se o longa quiser sobreviver como franquia algo precisa ser repensado, ainda mais em relação aos personagens, principalmente ao protagonista, uma troca do ator principal não seria nenhum erro, até porque ele não tem nenhum carisma para prender a atenção do público.
O Atirador: O Fim De Um Assassino (Sniper: Assassin's End, EUA – 2020)
Direção: Kaare Andrews
Roteiro: Michael Frost Beckner, Oliver Thompson
Elenco: Chad Michael Collins, Sayaka Akimoto, Tom Berenger, Ryan Robbins, Lochlyn Munro, Emily Tennant, Michael Jonsson, Vincent Gale, Sasha Piltsin
Gênero: Ação
Duração: 95 min.
https://www.youtube.com/watch?v=Ub9EikTkrTk
Crítica | Um Grito de Liberdade (2019) Drama Turco que Lembra um Novelão
Uma mãe faria de tudo para ajudar a sua filha a alcançar o sucesso na vida profissional e também na pessoal. Se há uma relação familiar que o cinema adora transmitir para as telas essa é sem dúvida é entre mães e filhas, até porque é uma relação cheia de conflitos, mas também cheia de amor e ternura. E o filme Um Grito de Liberdade (Mustafa Kotan) é mais um desses expoentes.
A produção turca é exatamente o que os fãs do gênero desejam encontrar, pois é um drama que lembra uma novela, tamanha as reviravoltas que o roteiro apresenta. O longa conta a história de uma mãe que luta contra o preconceito de um pai machista para enviar a filha para a escolha, e depois para a faculdade, nesse meio tom o diretor dá uma guinada na história e faz a mãe se tornar vítima não apenas do marido, mas também da filha, que passa a tratar a mãe mal – isso já na fase adulta de Nazil, a filha. A filha tem vergonha da mãe, isso é mostrado em vários momentos do filme, e quando vai para a cidade grande simplesmente a ignora de vez.
Depois de um primeiro ato interessante, o longa em um segundo ato que começa a abraçar de vez a novela, com várias confusões que são feitas para forçar o drama, principalmente uma situação trágica envolvendo Nazli, que certamente está ali para fazer o espectador chorar e que lembra outro filme turco, O Milagre da Cela 7 (Mehmet Ada Öztekin), que também tinha umas cenas no roteiro aleatórias, filmadas apenas para o público chorar sem parar.
Já no terceiro ato o diretor resolve abraçar o novelão de vez, com Nazli já sofrendo suas tragédias pessoais, e agora o roteiro a faz sofrer mais ainda, e a coloca em outra situação pior ainda, e não dá para entender o porquê de ter feito isso com a personagem tão abruptamente, sendo que o filme não caminhava para esse sentido. Claramente o diretor quis novamente fazer o público chorar e força a mão para isso, não havia necessidade em fazer aquilo que ele fez nos últimos vinte minutos com a personagem que tinha tudo para ser a protagonista, praticamente jogou um final que seria interessante no ralo.
Fora esses encalços, Um Grito de Liberdade é um drama razoável e que tem um público cativo, pois ele trabalha bem certos elementos, principalmente a relação atemporal de mãe e filha e como questões familiares conflituosas podem tumultuar certos ambientes, fazendo com que estruturas familiares tradicionais possam mudar de uma hora para a outra. Outra discussão interessante que o filme traz é em relação ao papel da mulher na sociedade, com Nazli indo estudar em uma sociedade em que o machismo impera tema delicado, mas que é bem abordado pelo diretor.
Um Grito de Liberdade deve emocionar aqueles que buscam dramas carregados com histórias de vida, mas também pode decepcionar aqueles que procuram tramas mais bem elaboradas e trabalhadas e que fujam do óbvio.
Um Grito de Liberdade (Annem, Turquia – 2019)
Direção: Mustafa Kotan
Roteiro: Evren Erdogan, Bener Karaçor, Ayse Balibey Tanil
Elenco: Özge Gürel, Sumru Yavrucuk, Sercan Badur, Tuna Orhan, Itir Esen, Fatma Toptas
Gênero: Drama
Duração: 110 min.
https://www.youtube.com/watch?v=5WICUIxLa7I
Crítica | Reality Z - Apocalipse Zumbi no Brasil Sem Sustos
O gênero de terror já há algum tempo vem caindo no gosto do público por sua dinâmica de fácil compreensão e simplesmente por imaginar como seria o mundo se acabasse em um colapso generalizado, e se todos os humanos tivessem que sobreviver em situações limite, com pouca água, comida e outros poucos recursos como luz e remédios, além de ter que aprender a usar armas, um item que pode ser bastante útil contra hordas de zumbis, mas que também pode ser usado contra bandos armados de humanos que tentam roubar de outros humanos os recursos básicos para sobreviver.
E é exatamente nessa linha, ou pelo menos há uma tentativa de seguir nesse caminho, que a série Reality Z pensa em imaginar como seria o apocalipse zumbi caso ele ocorresse no Brasil. Na realidade, é a primeira grande produção, não apenas da Netflix, mas de uma grande distribuidora, que permite interpretar como seria o caos com os mortos-vivos no país. Até então já foi possível ver ataques zumbis nos mais diversos países e continentes, mas no Brasil, e na magnitude apresentada como em Reality Z, ainda não.
A trama principal, pelo menos a dos episódios iniciais, gira em torno de um grupo que está participando de um reality show, e na mesma época começam a acontecer ataques zumbis pelo país, mas o foco está no pessoal preso dentro da casa. Uma ideia bastante interessante e que é inspirada na minissérie de sucesso Dead Set (2008), mas há tantas falhas na série original da Netflix, que nem de longe lembra a produção inglesa.
A começar que falta realismo em Reality Z para fazer com que o público acredite que aquilo tudo realmente é um apocalipse zumbi. É tudo muito teatral, inclusive os zumbis, que lembram mais atores vestidos de pegadinhas do Silvio Santos e fazendo um som horrível, feio. A ideia é que o zumbi assuste não apenas os personagens que ali estão, mas também transpareça um mínimo de qualidade quanto a veracidade de que aquilo é real para o público também, e não é isso que parece estar acontecendo assistindo ao seriado.
Dead Set, a minissérie que deu origem a Reality Z, tinha um que de assustador, a começar pela sua atmosfera claustrofóbica criada pelo reality show. O roteiro ao colocar todos presos e imaginar que não tinham para onde fugir era algo assustador, e também o ar de suspense e de que o mundo fora daquele lugar acabou e só existia aquela casa segura deixava tudo ainda mais apavorante. Na série dos diretores Cláudio Torres (Sob Pressão) e Rodrigo Monte (Magnífica 70), que também trabalharam como roteiristas da produção, faltaram em trabalhar esse aspecto em relação ao terror, até porque eles souberam criar um aspecto caótico em relação ao isolamento dos participantes, mas já em relação a criar um medo que pudesse assustar ao espectador, isso passou longe.

Os zumbis está muito atrelado ao gênero de terror, e ele funciona no primeiro episódio, pelo menos, quando há todo o suspense do que iria acontece, mas os diretores erram muito a mão e provavelmente isso tem a ver com a falta de experiência da dupla de cineastas. Torres e Monte criaram uma obra que não assusta em nenhum momento, as situações lembram as da série The Walking Dead, em que os zumbis são vencidos com grande facilidade, mesmo que os diretores decidam matar muitos dos personagens principais, isso não ajuda a fazer com que essas situações mudem, pois muitas delas continuam ridículas ou até mesmo bobas.
O humor é outro gênero que geralmente tem seu lugar nas produções de zumbis. Filmes como Todo Mundo Quase Morto (2004) e Cooties: A Epidemia (2014) mostram que a comédia bem trabalhada consegue ser uma parte a mais do roteiro. Reality Z acerta em alguns momentos, com um alívio cômico que funciona, principalmente nos primeiros episódios e com os personagens certos, os participantes do reality show, depois que há uma troca de elenco os diretores se perdem e o humor é abandonado até que é completamente deixado de lado. O humor estava funcionando e ele ajudava a fazer o espectador a ficar mais pregado na trama, principalmente porque a série não tinha uma história interessante.
Na realidade, não dá para entender o que os diretores quiseram fazer em relação a narrativa. A série começa de um jeito e termina de outro, e isso fica claro em vários momentos da trama, o que deixa claro que o roteiro está sem foco e a dupla de cineastas perdidinhos em não encontrar um caminho para sair daquela situação em que enfiaram os protagonistas. Os erros do roteiro vão de encontro com duas situações apresentadas que ficam evidentes com o andamento da narrativa, criando dois rumos distintos com histórias e personagens diferentes, até parece que foram filmadas duas minisséries diferentes e depois na pós-produção juntaram tudo.
Até o quinto episódio reinava na série - e se imaginava que seriam os protagonistas - a galera do reality show, mas de uma hora para a outra, os diretores simplesmente abandonam essa turma que estava tirando de letra o protagonismo, pois eram personagens interessantes e os atores eram carismáticos, fizeram isso para colocar na história o político e a engenheira salvadora da pátria e um policial corrupto. Não dá para entender o porque dos cineastas terem feito essa escolha, fora que depois que esse grupo predomina na casa e a série se torna monótona, chata e sem sentido, fazendo assim com que perdesse a atenção do público.
De todos os personagens os mais interessantes e os que mais cativaram ao público são os já mencionados participantes do reality show, portanto, o que dá para se tirar de conclusão é que a produção tem como principal acerto que o elenco funcionou como o um grupo, mas pecou por não ter grandes interpretações particulares. Há poucos momentos de destaques como a boa atuação de Julia Ianina, no papel de Cristina e de Guilherme Weber como Brandão, de resto é um apanhado de interpretações forçadas e caricatas que lembram a atuações rasas de novelas
A Netflix tem potencial para fazer uma série nacional de terror com zumbis que seja realmente assustadora, só precisa achar o tom certo e tocar o barco. No catálogo da própria plataforma de streaming há um seriado original da Netflix chamado Black Summer (2019) que é bastante interessante e que deveria servir de referência para os diretores brasileiros. Reality Z poderia ser uma ótima série, mas que não tem nada de original e que não traz nada de novo para o gênero.
Reality Z (idem, Brasil – 2020)
Criado por: Cláudio Torres
Direção: Cláudio Torres, Rodrigo Monte
Roteiro: Cláudio Torres, Rodrigo Monte
Elenco: Ravel Andrade, Carla Ribas, Ana Hartmann, Luellem de Castro, Emílio de Mello, Julia Ianina, Pierre Baitelli, Guilherme Weber, Pierre Baitelli, Natália Rosa, Hanna Romanazzi, Gabriel Canella, Leandro Daniel, João Pedro Zappa, Wallie Ruy
Emissora: Netflix
Episódios: 10
Gênero: Comédia, Horror
Duração: 30 min. aprox.
https://www.youtube.com/watch?v=9Cl65Z6WUfo
Crítica | O Silêncio do Pântano - Um Thriller Espanhol de Segunda
Pedro Alonso é uma das figuras de maior destaque ultimamente do audiovisual espanhol, não pela sua história nas produções do país, até porque o ator não recebeu grandes prêmios mundialmente por seus papéis, nem porque interpretou personagens brilhantes, e sim por sua interpretação como Berlin na popular série da Netflix La Casa de Papel, que lhe rendeu muita mídia pelo mundo.
O astro retorna como protagonista no thriller O Silêncio do Pântano (Marc Vigil) que tinha tudo para ser uma grande produção, mas desperdiça o talento do ator com uma trama rasa e um roteiro que acaba se tornando ambíguo com um final de interpretação dupla. É uma pena que outro longa da plataforma de streaming tenha tanto potencial a ser explorado, mas acabe perdendo o foco durante a narrativa.
A trama conta a história de Q (Pedro Alonso), um escritor de uma certa moral que está cansado da corrupção que o mundo está envolvido e acaba por sequestrar um professor universitário, Carretero (José Ángel Egido), tal fato traz problemas para Q com uma organização criminosa que vai atrás do professor que cuida das finanças do tráfico e sabe de muitos segredos do grupo. Uma das premissas mais interessantes da produção é o fato do autor usar de seus crimes para escrever os livros, ou seja, Q é um assassino e comete esses crimes para colocar nas páginas os acontecimentos que está envolvido. É uma ideia bastante interessante e que o roteiro poderia explorar muito mais, mas acaba deixando tudo no superficial, com o roteiro focando apenas no final espetacular e esquecendo em desenvolver a história em si,
O diretor se preocupa tanto com o final fantástico e com cada situação que Q está envolvido que se esquece de desenvolver o roteiro de uma forma coesa. Há furos e falta de elementos que sustentem certas situações, e ocorrências que poderiam ter sido mais bem trabalhadas, como as envolvendo os personagens principalmente as que envolvem Q, um personagem que parecia interessante e com grande potencial, mas que acaba sendo desperdiçado assim como todos os outros da narrativa.
As tramas e as subtramas dos personagens acabam por não se definir em um filme com um roteiro tão perdido. A necessidade é tão grande em se enganar o público com o plot twist final que acaba por ocorrer uma indecisão do roteiro em não se decidir por qual é o melhor caminho a se seguir: ou o do personagem que no fim das contas o diretor Marc Vigil não conseguiu por desenvolver, ou o a linha de raciocínio secundária e sem importância que é a investigação pela polícia dos crimes cometidos por Q. Terminamos o filme sem descobrir quem de fato é Q, um homem que fica escondido atrás de um livro e de suas histórias. Há de se lembrar dos personagens secundários, pois todos são extremamente desperdiçados, além de não terem nenhum carisma para serem lembrados pelo público.
O tão característico traço dos thrilers espanhóis não está presente nesta versão que peca em não saber como abordar o suspense da maneira mais inteligente possível. Tem um primeiro ato bastante interessante, com o personagem Q prendendo a atenção do público, mas os dois atos seguintes destoam bastante do que foi apresentado de início, e um filme que era para ser um thriler acaba ganhando outro rumo que aquele inicial, isso em relação ao suspense. Tal fato está muito ligado a trajetória do personagem Q, que se mostra muito perdido em não saber para onde vai e isso acaba definindo muito os acontecimentos do filme. O espectador que procura um suspense ao estilo do apresentado em produções clássicas espanholas como em Tesis – Morte ao Vivo (Alejandro Amenábar) irá se decepcionar bastante, pois O Silêncio do Pântano não chega nem perto disso.
A relação maior do filme está em seu final extremamente ambíguo, e o diretor não parece estar muito interessado em nos apresentar uma definição clara para ele. A ideia realmente era a de um desfecho que pudesse ter duas interpretações distintas e pudesse enganar o espectador. O que se pode tirar de tudo isso é a mensagem que o filme quer passar, isso se há realmente uma mensagem por trás de todas aquelas frases que o personagem Q falava sobe corrupção e a respeito de todos estarem sujos e envolvidos em crimes. A ideia do longa, com aquela cena final, quando Q está olhando para o pântano, é justamente essa, a de que todos os personagens estão tão envolvidos em alguma sujeira que fica até complicado sair do mar de pântano que estão envolvidos, uma metáfora complexa, ou seja, o diretor construiu toda aquela linha de pensamento simplesmente para tentar criar um final grandioso, conseguiu, mas ficou bastante confuso.
Na realidade, O Silêncio do Pântano, é um filme sem grandes atrativos e que sonha em ser algo maior do que é talvez se o diretor não ficasse tão preso na fórmula mágica de tentar criar um final tão fantástico e focasse apenas em desenvolver a sua narrativa, sem se desviar do caminho e fizesse nada mais que o simples, provavelmente o longa seria mais interessante, casos no cinema de filmes que fizeram o simples e deram certo são o que mais existem, casos de O Silêncio dos Inocentes (1991) e até mesmo Psicose (1960), produções que não quiseram impressionar e foram direto ao ponto sem interromper a trama principal para criar outra paralela. É uma pena que o longa tenha ido por esse lado, pois tinha tanto a oferecer.
A Guerra de Anna (Voyna Anny, Rússia – 2018)
Direção: Aleksey Fedorchenko
Roteiro: Aleksey Fedorchenko, Nataliya Meshchaninova
Elenco: Marta Kozlova, Lyubov Vorozhtsova, Vladimir Sapin, Aleksandr Vakhov
Gênero: Drama
Duração: 74 min.
https://www.youtube.com/watch?v=2S5QZck_lyE
Crítica | Space Force - Uma Comédia que Decola
Viajar para o espaço sempre foi um sonho para o homem moderno, que passou anos imaginando métodos de se chegar o mais longe possível da Terra e mil e uma maneiras de conquistar os astros. E o mais longe que nós, os terráqueos já conseguimos ir, foi até o solo Lunar, local que ainda há o sonho de retornar algum dia. É exatamente sobre essa e outras questões que a série Space Force, produção da Netfflix, realiza uma convincente sátira a respeito de uma organização espacial ligada às forças armadas americana.
As viagens ao espaço sempre tiveram seu público fiel no audiovisual, seja nas produções de TV com Perdidos no Espaço (1965-1969) ou com Battlestar Galactica (1978-1979), e principalmente nas salas de cinema com clássicos atemporais como 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) ou com Star Wars (1977). O período da Guerra Fria, em que EUA e União Soviética brigaram para saber quem iria predominar no espaço e também para saber quem iria chegar ao cosmo primeiro, além de outras situações unilaterais envolvendo o espaço, como a espionagem espacial, segredos de Estado e os projetos bizarros espaciais. Todas essas questões estão no humor apresentado por Space Force e é exatamente este um dos principais fatores que deixam a série mais atraente para o público.
O time de roteiristas do seriado (entre eles Steve Carell deixa bem claro desde o início que o objetivo da produção não é o de levar a trama a sério, pois o humor empregado é daqueles ao estilo vergonha alheia, com situações em menor grau dos presenciados em outra série em que Carell esteve presente: The Office. O humor é parecido, e provavelmente os roteiristas quiseram aproveitar a fama do personagem de Carell para trazer mais força para a produção e também para que o próprio ator se sentisse mais a vontade em um papel que já fez no passado. Claro que o personagem não é igual, é muito diferente do já visto no passado. Mas o humor da série passa pelo o que o protagonista faz e pelos absurdos que beiram ao ridículo que o General Mark R. Naird, seu personagem, faz com toda a sua equipe.
Muito do humor da série está atrelado não apenas nas situações do dia a dia da Space Force, mas também com a sátira relacionada com as questões presente nos nossos tempos, como a do Twitter em clara menção ao presidente americano Donald Trump e ao uso incessante da rede social pelo mesmo, é uma sacada brilhante dentre muitas outras que a produção da Netflix tem. Isso só mostra como o roteiro do seriado é arrojado em criar idéias que se não são sublimes, pelo menos dão um jeito de fazer o público rir, e esse é o principal objetivo de uma série de humor.
As piadas feitas ou algumas das tiradas estão no seriado com o objetivo de ridicularizar o programar espacial americano e principalmente a motivação que as forças armas teriam isso na série, para querer tanto levar armas para o espaço. É algo bastante ficcional, mas é uma clara crítica ao estado armamentista que impera no país que vê tanta obviedade em querer usar armas que precisa as levar para o espaço, um local que nem pessoas têm para usá-las. Essas e outras mensagens são um dos pontos positivos de Space Force, que mostra a força do roteiro em não ser apenas uma série de comédia, mas que há algo a mais por trás daquele humor, que há uma crítica também ao governo e principalmente ao programa espacial, sobram alfinetadas e cenas bizarras, até mesmo com um macaco sendo enviado ao espaço e ensinado a arrumar um satélite, em uma cena surreal e ridícula e engraçadíssima.
Outra ideia interessante foi colocar os astronautas desta vez em um enfrentamento novamente pela lua, mas desta vez contra os chineses. Nada mais atual que um confronto contra a China, em uma época em que se aflora mais em mais os ânimos contra os chineses e mais e mais se esquece aquele passado de brigas contra a antiga URSS. Essa questão de colocar um espião, um inimigo invisível dentro de um órgão governamental é que poderia ter sido mais bem explorado e que poderia ter rendido melhores cenas de humor se não o roteiro não tivesse perdido tanto tempo com tantas subtramas, principalmente da filha do General Mark R. Naird e do personagem F. Tony Scarapiducci.
Quanto aos personagens, alguns são bastante interessantes, o já mencionado General Mark R. Naird, protagonista que é interpretado por Steve Carell não traz os vícios nem caras e bocas da série The Office, e tem uma atuação convincente, seu personagem é um pouco diferente, talvez por isso algumas pessoas sintam alguma diferença ao clássico Michael Scott. John Malkovich é outro acerto fazendo o papel do Dr. Adrian Mallory, seu personagem não tem tanta substância assim e não é tão desenvolvido como se imaginava que seria, até suas subtramas são apagadas em relação a outros personagens. Mas a grande decepção está com Lisa Kudrow, não pela sua interpretação e sim pela sua personagem, foi pessimamente explorada e jogada de lado pelos roteiristas, aparece em poucos momentos, na realidade, a figura feminina de destaque são Diana Silvers interpretando a filha de Carell e Tawny Newsome, fazendo o papel da capitã Angela Ali, mas mesmo assim, Kudrow merecia mais tempo de tela.
Com uma trama arrojada e piadas inteligentes Space Force é a série que os fãs gostariam de assistir, não apenas os que ficaram órfãos de The Office, mas os que curtem comédia em geral. Os episódios não são tão curtos quanto os de costume, alguns com mais de 30 minutos, mas não são episódios cansativos, o tempo passa tão rápido que nem se percebe quando acabar.
Space Force (idem, EUA – 2020)
Criado por: Steve Carell, Greg Daniels
Direção: Paul King, Tom Marshall, Dee Rees, Daina Reid, Jeffrey Blitz, David Rogers
Roteiro: Steve Carell, Greg Daniels, Aasia LaShay Bullock, Owen Daniels, Yael Green, Connor Hines, Maxwell Theodore Vivian, Shepard Boucher, Brent Forrester, Lauren Houseman, Paul Lieberstein
Elenco: Steve Carell, John Malkovich, Ben Schwartz, Diana Silvers, Tawny Newsome, Jimmy O. Yang, Don Lake, Owen Daniels, Hector Duran, Dan Bakkedahl, Spencer House, Lisa Kudrow, Jessica St. Clair, Punam Patel, Alex Sparrow, Jane Lynch, Patrick Warburton, Diedrich Bader, Noah Emmerich
Emissora: Netflix
Episódios: 10
Gênero: Comédia
Duração: 30 min. aprox.
https://www.youtube.com/watch?v=Au7rXMuzYQQ&t=58s
O Início do Fim de Um Sonho | O Final Explicado de Vivarium
Com Spoilers
O sonho da casa própria tão poucas vezes foi tão bem apresentado de forma tão realista como o mostrado no longa Vivarium, o segundo trabalho do diretor Lorcan Finnegan, que trabalhou no roteiro em parceria com Garret Shanley.
A produção que não tem uma pegada sobrenatural, mesmo sendo do gênero de horror e também não apela para o sangue nem para a violência, traz uma história original e interessante a respeito dos valores da família, e tem por traz uma sacada a respeito de um plano megalomaníaco de alienígenas em estudar o comportamento humano.
A narrativa soa bastante superficial em não desbravar alguns elementos e não se aprofundar em desenvolver certas situações, até porque há certa necessidade em deixar tudo em aberto para fazer com que o espectador quebre a cabeça e pense a respeito do conteúdo assistido. E por isso mesmo, nos tópicos abaixo, iremos explicar os momentos mais complicados do filme.

Viveiro
Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg) são um casal que têm o sonho de adquirir a casa própria e assim, no futuro, ir morar juntos e ter uma família, com tudo o que tem direito, até mesmo ter um filho planejado no meio desse seio familiar que pode ser estruturado.
Logo no início, quando Gemma sai do seu trabalho na escola e encontra Tom descendo da árvore já há indícios do que viria pela frente. Um pássaro cai da árvore, não pela ação de Tom que está aparando as folhas e sim por outro motivo. E é esse motivo que irá funcionar mais como uma metáfora para o que os dois irão encontrar pelo caminho, e que na realidade é algo bem complicado de se entender, que acaba por traçar uma das grandes sacadas do roteiro.
O diretor foi buscar a sua inspiração na natureza para pensar muitas das reflexões do filme, até mesmo o título da produção em si, o Viveiro que será debatido mais adiante como um experimento em si.
O casal sai à busca da casa própria e acaba por cair na imobiliária de um homem bastante extravagante. Ele os leva para um local longe da cidade com a promessa do lugar ser um paraíso, onde poderão viver o resto de suas vidas em tranqüilidade. Ao chegar percebem que todas as casas são simétricas, tanto a arquitetura quanto as ruas, o silêncio se iguala, as dimensões também, algo de estranho há naquele bairro, mas o casal não percebe e continua a visita pelas ruas adentro até conhecer a sua casa, e ironicamente, ficar preso da própria casa, não no sentido literal, pois podem sair dela, mas não conseguem sair daquele bairro, pois ele não tem fim, e sempre vão parar na mesma casa: a deles.
Ali recebem a missão de cuidar de uma criança, mas o filme não dá muitos detalhes da origem dessa criança, quem é ela, de onde veio e o porquê eles precisam fazer isso para poder sair de lá, nem o motivo de não conseguirem ver nenhum de seus vizinhos e do por que não conseguirem sair do local.

Sequestro Alienígena
Na realidade, Vivarium tem como tema principal a ideia de seqüestro alienígena, e isso fica bastante claro com o passar do tempo. Voltando para a cena inicial, aquela da árvore que parecia não ter importância nenhuma, do pássaro que caiu da árvore quando Tom a aparava. Ela tem muita importância para entender a criança como sendo um alienígena e também um corpo estranho no relacionamento e no âmbito familiar que havia se criado entre Tom e Gemma, ou uma tentativa de família e também para entender todo o sistema alienígena que se emprega no filme e a ideia de seqüestro alienígena.
Na natureza existe um pássaro chamado cuco, ele tem uma estratégia que pode ser considerada maléfica, coloca no ninho de outros pássaros um de seus ovos junto com o de outro pássaro que não está tomando conta do ninho no momento. Quando a ave retorna não percebe que tem um ovo diferente de outra junto com a sua. O problema é que o ovo do cuco é maior que o de muitas outras aves e geralmente nasce também antes que a ninhada do pássaro que está chocando. A mãe não distingue a diferença entre filhotes e vai alimentando ele que vai crescendo, crescendo, e os outros filhotes que vão nascendo vão sendo jogados para fora do ninho e morrendo pelo filhote do cuco que é maior. Em suma, o filhote do cuco que é cuidado por outra ave se torna um inquilino que obrigatoriamente precisa ser cuidado por outro pássaro e esse pássaro acaba ficando desesperado por ter que cuidar de uma ave gigante que se torna um incômodo para ela.
Vivarium então se utiliza deste comportamento da natureza para tirar a relação da criança com os agora pais no filme. O menino que é um espécime alienígena foi colocado ali com os mesmos ideais do cuco, ele cresce rapidamente, ele incômoda, cresce rápido igual ao cuco, seu comportamento irrita, e até mesmo os gritos da criança são parecidos ao do pássaro. É uma sacada interessante do diretor também a de colocar uma criança no filme e forçar os dois a se tornarem pais e mostrar o quão difícil é paternidade e a maternidade e como essa não é uma tarefa nada fácil.
Uma das perguntas a serem feitas é se aqueles seres da imobiliária e até mesmo a criança esquisita realmente eram alienígenas e a resposta mais razoável e aceita é que sim. A criança se comunica com os supostos aliens pela televisão, ou pelo menos tem algum tipo de aprendizado por ela, em uma cena interessantíssima em que ela parece ter alguma conexão com algo do outro mundo, em uma clara referência de que ela está sim se conectando com algo de outro cosmo. Há também as várias saídas dele já adulto para algum lugar incerto que não se sabe bem para onde era provavelmente algum local que iria aprender algo para utilizar no futuro contra os humanos, mas isso o roteiro não deixa claro, tudo fica muito vago, faltam informações para completar o que realmente eram aquelas saídas.
Outra falta de clareza fica por parte do roteiro em relação de não definir quem são os alienígenas. O roteiro não dá uma importância em dizer que os personagens são realmente aliens, dão apenas alguns indicativos e cabe ao espectador buscar indícios de tentar descobrir se aquilo é realmente o que se imagina ser verdade ou não.

O Experimento
Se a criança e o homem da imobiliária são alienígenas, surge outro questionamento que deixa muitas dúvidas para quem assiste Vivarium, que é em relação ao significado do experimento em si e seu objetivo. Isso o roteiro do filme não dá um real significado e não dá uma ideia clara do que seria tudo aquilo, mas dá para se ter um entendimento de que aquele experimento na verdade, é utilizado pelos aliens com o intuito apenas de analisar o comportamento humano e ver como a raça humana se sai em diversos momentos, entre eles, ao cuidar de uma criança que não é delas ou até mesmo a paternidade e maternidade forçada.
Portanto, o objetivo dos aliens seria apenas o de analisar como os humanos iriam se sair nas tarefas do dia a dia tomando conta de um bebê alienígena, assim como um pássaro qualquer surta tomando conta de um filhote do cuco.
Outro questionamento é o porquê de Gemma e Tom não conseguirem ver os seus vizinhos, já que existem inúmeras casas por lá e é muito bizarro que não se consiga ver ninguém pelo território. Uma observação a se fazer nesse tópico fica em relação ao porque desses seres serem alienígenas, pois fica claro que cada casa é uma dimensão paralela.
É possível tirar essa conclusão devido ao acontecimento do último ato, devido ao que ocorre na cena final quando Gemma corre atrás do seu filho alienígena já crescido e encontra várias pessoas chorando, em várias casas diferentes, elas estão tristes e algumas estão mortas. Estas cenas que parecem estar desconexas e sem relação umas com as outras, na realidade, são de Gemma entrando em várias dimensões diferentes. É como se Gemma estivesse entrando em várias residências, visitando os experimentos que os alienígenas estavam analisando na Terra.

O Relacionamento
Ainda no campo do experimento, é interessante analisar que a relação dos dois, Tom e Gemma, desde o momento da entrada no bairro novo passam a discutir mais, até que começaram a se ignorar com o passar do tempo, e viver como totais estranhos, como se o amor tivesse acabado entre o casal.
Tom sempre foi apresentado como um cara não tão maduro, que parecia não estar pensando no futuro, diferente de Gemma. Fica claro que com o passar do tempo, na casa, Tom começa a ficar cansado de tomar conta do bebê, e depois da criança que cresceu, mas não está cansado de criar apenas da criança. Tom está cansado daquilo tudo, do simulacro da vida de casado, da vida em família, tanto que não à toa ele cava um buraco no terraço em desespero para fugir do lugar, não apenas porque quer fugir daquele lugar sem fuga, mas também para tentar fugir do relacionamento e do compromisso firmado.
Crítica | A Guerra de Anna - Marcas de um Conflito
A Segunda Grande Guerra Mundial já foi tema de diversas produções no cinema, muitas delas abordando o seu viés político, os seus conflitos e toda a brutal violência que resultou em milhões de mortes em todo o mundo, principalmente na Europa. Em A Guerra de Anna (Aleksey Fedorchenko) a ideia é a de apresentar o calvário pelo qual a jovem Anna que dá nome ao longa e que irá precisar ficar centenas de dias se escondendo em uma chaminé não usada em um escritório nazista.
É um foco bastante diferente se pensado o que já foi visto em produções sobre a Segunda Guerra Mundial e um jeito diferente de se contar os dilemas pelos quais os judeus sofreram na mão dos nazistas. Filmes como Jojo Rabbit (Taika Waititi) e A Menina que Roubava Livros (Brian Percival) também abordam o gênero de uma forma não convencional, colocando a protagonista presa em um local e mostrando os desdobramentos do conflito enquanto ela é mantida no local, mas são produções muito mais interessantes e tocam a narrativa com muito mais brilho, além de trazerem muito mais atrativos para a trama, pois conseguem abrir um debate sobre o tema, algo que A Guerra de Anna não faz.
A narrativa contada pelo diretor Aleksey Fedorchenko se passa quase que inteiramente dentro do local que a garota se mantém escondida, com exceção do início do filme em que ela ainda não está escondida no lugar. Na realidade, o diretor se prende demais ao roteiro para contar a história da menina que é bastante dramática, tinha tudo para ser emocionante e com altas doses de suspense e tensão, até porque uma garotinha judia presa em um local cheio de nazistas é uma grande trama e por si só já desempenha uma história fascinante. Mas o diretor a conta de um jeito tão sem emoção e com vários furos que acaba perdendo o brilho que teria na mão de outro cineasta.
Outro fator é que o longa é chatíssimo e isso é culpa da direção em tornar uma narrativa que tinha tudo para ser interessante em algo maçante e sem ação. Há alguns momentos que o diretor tenta dar alguns toques de tensão e suspense a trama, dando o entendimento de que Anna seria pega pelos nazistas, mas nada mais do que isso, a ação não ia além destas cenas. A garotinha não fazia nada a mais além de ficar andando pelo recinto procurando o que comer e o que beber e olhando o que os oficiais nazistas estavam fazendo no local. Éum filme tão sonolento que é difícil ficar com os olhos abertos e facilmente se pega no cochilo com o jeito que o cineasta conta a narrativa, e isso é algo ruim, pois perde toda a atenção do público.
Também incômoda são os trechos não contados da história são cortes abruptos por assim dizer, e que deixam o longa mais superficial, como o início em que o roteiro não mostra a família da menina sendo fuzilada, apenas a mostram já morta e precisando fugir do local. Uma cena estranha que não apresenta os fatos como ocorreram, como ela sobreviveu e também em relação ao final aberto, que se bem trabalhado seria bastante interessante, mas que foi muito mal aproveitado, deixando pontas e que ficam dúvidas de seu real destino.
Em suma, A Guerra de Anna serve mais para quem curte ver filmes sobre o período da Segunda Grande Guerra que vitimou tantas pessoas, mas que não vai a fundo em discutir fatos ou em outras ocasiões mais relevantes, e nisso ele peca ao deixar os fãs do gênero na mão.
A Guerra de Anna (Voyna Anny, Rússia – 2018)
Direção: Aleksey Fedorchenko
Roteiro: Aleksey Fedorchenko, Nataliya Meshchaninova
Elenco: Marta Kozlova, Lyubov Vorozhtsova, Vladimir Sapin, Aleksandr Vakhov
Gênero: Drama
Duração: 74 min.
https://www.youtube.com/watch?v=zz1V6wwJr3k
David Ayer lamenta ter tido que refilmar Esquadrão Suicida por ser "muito sombrio"
Cathy Yan, diretora de Aves de Rapina, se solidarizou com o diretor David Ayer, que reclamou por ter de alterar o filme Esquadrão Suicida por ele ter ficado "muito sombrio."
Em um post realizado nas redes sociais, a diretora comentou e lamentou as alterações feitas no filme de Ayer.
https://twitter.com/CathyYan/status/1267119497942532098
David Ayer: "Isso foi refilmado porque o tom era “muito sombrio” – meu primeiro ato era um filme construído normalmente. Peguei minha inspiração do [Christopher] Nolan. Haviam cenas reais com atuações incríveis entre Jared [Leto] e Margot [Robbie]. O Coringa era aterrorizante. Harley era complexa."
Cathy Yan: "Sinto muito por isso ter acontecido com você, David. Conheço a dor."
Pelo o entendido da mensagem da diretora fica entendido que o filme da cineasta também sofreu mudanças.
Depois que foi confirmado o lançamento do Snyder Cut de Liga da Justiça, surgiram rumores de um possível lançamento de uma versão de Esquadrão Suicida, com muitos fãs apoiando o ato. James Gunn, trabalha em uma nova versão de Suicide Squad (nome original) e também confessou que não tem nada contra caso uma nova versão seja lançada.
Crítica | O Segredo da Floresta - Um Filme que Não Assusta
Filmes de terror asiáticos muitas vezes serviram de influência para Hollywood, seja com o cinema coreano ou com as ótimas produções japonesas. O Segredo da Floresta (Vikram Jayakumar) não é um remake, mas é um longa americano que busca inspiração nas produções asiáticas para desenvolver a sua trama e isso fica bastante evidente no jeito que a narrativa se desenrola.
A começar pelo jeito que a narrativa é tocada pelo diretor tentando colocar vários plots twists no roteiro para tentar surpreender o espectador, isso tendo em vista que não chega a nenhum lugar essas viradas de roteiro que são característicos dos filmes asiáticos e que são muito bem empregados no cinema oriental. Em Behind the Trees (nome original) não desempenha nenhuma função os plots twits e o pior que nem para dar um final digno servem.
Na trama, Amy (Vanessa Curry) e seu namorado Jay (Sahil Shroff) estão passando as férias na Índia e acabam por salvar uma garota que está sofrendo uma espécie de um ritual de moradores de uma vila local, e ambos acreditam que a menina perdeu a memória. Essa criança que foi colocada na história é um terceiro elemento que foi inserida pelo roteiro na trama para tirar o filme do marasmo que estava até aquele momento, e surte um efeito temporário, mas depois, por um excesso de mistério, e por acabar colocando mais segredos que o necessário e por não os desenvolver muito bem, acaba por jogar o longa novamente em um caminho que não é aquele que seria o mais adequado para a narrativa e para os personagens.
O roteiro não é ruim por completo, há algo nele que pode ser aproveitado, como a própria ideia de que a criança é possuída e de que há algo de sobrenatural rondando o vilarejo, mas não foge muito disso e acaba caindo nos clichês típicos do cinema americano, sem se reinventar nem trazer nada de novo para o gênero. Outro fato que enfraquece a narrativa é o delas não serem exploradas a fundo, sendo que há muitos aspectos que poderiam ser melhor aprofundados, mas que são amplamente ignorados pelo diretor, que hora ou outra acrescenta diálogos aleatórios e situações desordenadas que ajudam a deixar o filme mais sem sentido do que já é.
Outros problemas saltam aos olhos, além da direção e do roteiro, que são os detalhes técnicos, como a fotografia que é tão escura, mas tão escura que fica difícil enxergar algo em alguns momentos, perdendo-se assim algumas ações, lembrou bastante o remake de O Grito (2020) que também trabalhou de forma errada tais elementos. Mas o que irritou mais foram os cortes abruptos mal feitos, foram feitos de forma proposital pelo diretor, mas foram tão mal empregados e tão fora de sintonia e sem sutileza que pareciam haver momentos que uma cena não tinha conexão com outra e isso fez com que muitas cenas parecessem não ter sentido algum.
O que se espera de um filme de terror é que ele dê sustos, e há algumas tentativas de se assustar o espectador ou surpreender o público, mas que são tão óbvios que acabam por não funcionar, ou por a cena estar tão escura que quando dá certo acaba por não se ver ao certo o que está acontecendo na situação. O suspense em si funcionaria melhor se a questão do exorcismo fosse mais bem solucionada e mais discutida, é um tema que é jogado, mas não desenvolvido, fora que a menina possuída é algo tão teatral que se torna ridículo de se ver.
O Segredo da Floresta é daquelas produções que tinha potencial para ir mais longe, mas que acaba mergulhando em seu roteiro frágil e na direção superficial do diretor e na sua falta de boas idéias em se criar algo que pudesse prender a atenção do espectador e assim levar a história mais longe. É mais um exemplo de um longa de terror sobre possessão que não dá medo.
O Segredo da Floresta (Behind the Trees, EUA – 2019)
Direção: Vikram Jayakumar
Roteiro: Vikram Jayakumar, Arjun Grover
Elenco: Vanessa Curry, Sahil Shroff, Subrat Dutta, Tvisha Seema, Tanvi Shinde, Apoorva Arora, Mohit Hiranandani
Gênero: Horror, Mistério, Thriller
Duração: 96 min.
https://www.youtube.com/watch?v=mkarKlrFJFs
Crítica | Togo - Uma Bela e Emocionante Aventura
Há muitas histórias de cães contadas no cinema dos estilos mais variados já vistos, sendo as clássicas comédias com os animais provocando as mais desastrosas situações ou os filmes policiais em que os cães funcionam como personagens secundários de seus parceiros humanos, mas há um terceiro gênero bastante conhecido em que os cachorros reinam que são os longas de aventura e Togo (Ericson Core) é um belo exemplar de como se fazer uma narrativa eficiente e bem elaborada.
A produção do Disney+ tem a difícil tarefa de reproduzir a história do cachorro da raça Husky siberiano chamado Togo que viveu nas primeiras décadas do século XX e que foi injustiçado até meados deste século, por não receber os devidos créditos de ter conseguido levar Leonhard Seppala (Willem Dafoe), muito conhecido na região do Alasca por treinar cães da raça e por fazê-los correr longas jornadas. Togo tinha como missão levar Leonhard em meio a uma grande nevasca para buscar um remédio em meio a uma epidemia, em que muitos acreditavam que não iriam sobreviver, e o cachorro que entrou para a história na verdade foi Balto, que também era um Husky siberiano.
E esse é justamente o tom dado pela trama e pelo diretor Ericson Core (MacGyver - 2ª Temporada): o de homenagear o cão que a todo o momento é apresentado não apenas como um animal aventureiro e corajoso, mas também como um ser simpático e com grande espírito de liderança entre seus pares da raça. Há muitas situações em que Togo está presente e se colocando em risco para salvar o seu bando e também para demonstrar que não é apenas mais um cão que compõe o grupo.
O toque de aventura também está ali, algo que já é muito conhecido nas produções da Disney e também no gênero, mas que ultimamente não vem sendo muito bem desenvolvido nem executado com perfeição. Filmes como A Caminho de Casa (Charles Martin Smith) e O Chamado da Floresta (Chris Sanders) sabiam como colocar apenas o cachorro em momentos de perigo. Em Togo o diretor vai além e cria toda uma situação de insegurança que já é iniciada com a epidemia que coloca em perigo as crianças e depois com a tempestade que está para chegar e pegar a região do Alasca de jeito. Todas essas circunstâncias criam algo a mais e só fazem com que a jornada seja repleta de adversidades.
Além das grandes cenas de ação, há algo a mais na produção que é a Interpretação de Willem Dafoe. Se de um lado temos o encanto de Togo do outro era necessário um protagonista de ímpeto forte, que tivesse uma atuação marcante e presente para que pudesse ser tão potente quanto a do cachorro e ela se encontra na ótima atuação (mais uma de sua carreira) de Dafoe que consegue passar os mais diversos sentimentos ao longo da trama, entre sofrimento e raiva, e faz de um papel simples algo muito maior.
O roteiro prende na cadeira o espectador por ser uma história real, mesmo sendo uma trama já presenciada muitas vezes no cinema, a do homem e a do cachorro no meio do gelo, mas mesmo assim, ela é tão bem contada e narrada que fica difícil de não a acompanhar até o final. Há também um toque de emoção que sensibiliza o público e ajuda a deixar a narrativa mais interessante e imprevisível, algo que faz com que a trama fique mais interessante.
Togo é um grande filme sobre superação, mas não apenas nisso, nele há uma grande mensagem sobre família, autoconhecimento e o melhor de tudo: a conquista da amizade entre o cão e homem, entre o animal selvagem e como o humano soube com o tempo domar e conviver com o instinto daquela fera que não queria apenas liderar um bando, mas também tinha um propósito de vida. É uma linda história que irá emocionar muitas pessoas e que deve ser assistido por todos os fãs deste tipo de gênero.
Togo (idem, EUA – 2019)
Direção: Ericson Core
Roteiro: Tom Flynn
Elenco: Willem Dafoe, Julianne Nicholson, Christopher Heyerdahl, Richard Dormer, Adrien Dorval, Madeline Wickins, Michael Greyeyes, Nive Nielsen, Nikolai Nikolaeff
Gênero: Aventura, Biografia, Drama
Duração: 113 min.
https://www.youtube.com/watch?v=HMfyueM-ZBQ
