Antonio Banderas é confirmado no elenco de Uncharted
Outro nome se juntou ao elenco de Uncharted. Desta vez foi anunciado o nome de Antonio Banderas, que irá se juntar a Tom Holland e Mark Wahlberg. Não se sabe ainda qual o papel que o astro irá interpretar.
De acordo com a Variety, além do nome de Banderas ser confirmado, o diretor Ruben Fleischer (Venom) também foi revelado. Se juntam ao projeto as atrizes Tati Gabrielle (O Mundo Sombrio de Sabrina) e Sophia Ali (Verdade ou Desafio).
As filmagens do longa devem começar ainda no mês de março. O filme está há muito tempo em desenvolvimento, e já perdeu muitos diretores ao longo dos anos.
Uncharted tem previsão de estreia para 5 de março de 2021 nos Estados Unidos.
Crítica | O Homem Invisível - Terror Psicológico com Toques de Realidade
A Universal sonhava em criar seu universo compartilhado de Monstros, colocando nele seus principais personagens, como Drácula, Frankenstein, O Monstro da Lagoa Negra, a Múmia e O Homem Invisível. Todos em uma mesma produção, e também o estúdio pensava em fazer um filme para cada monstro, e assim realizar o seu próprio universo ao estilo Invocação do Mal, como a Warner está desde 2013 montando o seu de maldições com Os Warren comandando. Mas algo havia dado de errado com o primeiro remake dessa nova leva com A Múmia (2017) em que Tom Cruise foi o protagonista, com o longa sendo bombardeado pela crítica e não sendo tão bem recebido pelo público.
Pois agora parece que a Universal desistiu, acertadamente, deste universo compartilhado e retorna ao cinema de monstros com o ótimo O Homem Invisível, em que o diretor Leigh Whannell (Upgrade) deixa de lado a simples ficção-científica, para se segurar em um tema mais atual e realista aos dias atuais, e é justamente essa pegada mais atual é que deixa o longa mais interessante e moderno.
O Homem Invisível, queira ou não, é a ideia de dar um super poder a um homem, e de dar um dom para um homem, que no fundo é narcisista, e assim o deixar ficar intocável. É assustadora a ideia de saber que há alguém que pode estar em qualquer canto e em qualquer lugar, que pode surgir a qualquer momento e de surpresa para te atacar. É esse o principal barato desta nova versão, pois o diretor que também é o roteirista dá mais um ar de terror psicológico para a narrativa, que é algo que demandava a nova história.
A trama conta a história de Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que sofreu abusos físicos e psicológicos de seu marido, Oliver Jackson-Cohen (Adrian Griffin), e então foge e se esconde dele para assim não sofrer mais com os abusos. A questão é que Cohen é um homem muito rico e aparentemente morre (isso está no trailer e não é spoiler) e Cecilia sente que seus dias de sofrer tortura psicológica terminaram. Essa é uma ótima sacada do roteiro, pois coloca justamente o abusador na rota de perseguir a vítima. É algo que infelizmente acontece em casos do dia a dia e que são vistos, no Brasil e no mundo, com vítimas, em sua maioria mulheres, que são perseguidas por seus ex-namorados e ex-maridos e que não aceitam tão bem o término de uma relação.
A ideia do roteiro é de colocar o homem invisível justamente na cola da ex-mulher. Chega a ser sufocante e desesperador a sensação que Cecilia passa, pois ter alguém que ela não está vendo onde está a observando é realmente algo apavorante. O diretor passa esse sentimento de suspense de forma perfeita para o espectador. Em alguns momentos que parece que o filme vai ficar repetitivo ou chato, mas o roteiro é tão ágil e inteligente que se renova nas situações que ocorrem e a narrativa acaba por se reinventar.
Uma questão mostrada em O Homem Invisível fica em relação à tortura psicológica sofrida por Cecilia. Essa questão foi tão bem aprofundada que dificilmente os traumas irão sumir tão rapidamente na personagem, e isso é algo que é montado com inteligência a respeito da protagonista. Essa é a principal analogia e sacada da narrativa em confrontar a vítima e agressor. Leigh Whannell criou uma obra fantástica de suspense com crítica social, algo que vai muito de encontro com o terror social apresentado em Corra! do diretor Jordan Peele, uma produção que foi muito bem recebida pelo público e pela crítica e que falava sobre racismo, e a mesma coisa acontece com The Invisible Man (nome em inglês), mas aqui o terror social é sobre os abusos e violência doméstica que as mulheres sofrem por seus parceiros e muitas vezes não são ouvidas.
O suspense é bem explorado nesta nova versão, com uma atmosfera que é criada justamente para encaixar nas cenas em que o homem invisível ataca fora que quem pensa que o vilão irá ficar o tempo todo apenas atrás de sua vítima está muito enganado. O interessante do longa, é que por não se saber de onde o assassino irá atacar fica mais fácil de se causar sustos, e o bacana é que o roteiro não precisa colocar jump scares escandalosos para isso acontecer, os sustos acontecem com naturalidade. Há uma atmosfera muito parecida com a do terror dirigido por Paul Verhoeven em O Homem Sem Sombra (2000), que é uma versão diferente e mais sanguinolenta de Homem Invisível, mas neste filme atual o ambiente não é feito para dar medo e sim para criar um suspense em enganar o público em qual canto o vilão está.
O elenco do filme é bastante reduzido e a protagonista obviamente é Elisabeth Moss, ela aparece praticamente em todas as cenas, e o restante é elenco secundário. Portanto, há de se destacar quase com certeza que ela é a única protagonista, e isso é algo que funciona bem, deixa o longa com mais dinâmica, com diálogos ágeis, e com cenas de ação mais rápidas. Moss está com uma interpretação convincente, não está fazendo o mesmo papel da série The Handmaid's Tale e a própria atriz consegue deixar a sua atuação diferente dos sofrimentos infringidos aos que a personagem do seriado sofre.
O Homem Invisível é uma produção que surpreende bastante, não apenas pela ótima narrativa que vai direto à história sem rodeios, mas também pela bela direção e bom roteiro de Leigh Whannell, que mesmo sem ter tanta experiência se mostra uma grande aposta para o futuro do cinema, e se continuar neste rumo irá se tornar um grande profissional. Quanto ao longa, é entretenimento de primeira, ainda mais para quem curte filmes de suspense e terror de qualidade.
O Homem Invisível (The Invisible Man, EUA – 2020)
Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Harriet Dyer, Storm Reid, Aldis Hodge, Michael Dorman
Gênero: Horror, Mistério, Ficção-Científica
Duração: 124 min.
https://www.youtube.com/watch?v=OEyTTpP_Mdw&t=93s
Crítica | Modo Avião - Um Filme que Demora para Decolar
Larissa Manoela é um dos expoentes da televisão brasileira, é claro que é muito cedo para dizer que ela será um dos grandes nomes do futuro da teledramaturgia brasileira ao nível de uma Fernanda Montenegro ou de uma Nair Bello, mas que a atriz está no caminho certo, isso sem dúvida alguma está.
Modo Avião, produção da Netflix, que é a primeira investida da ex-atriz mirim na plataforma de streaming e é uma espécie de aventura ao estilo Hannah Montana – O Filme, por sinal há muitas similaridades entre a produção protagonizada por Miley Cyrus e o longa de Larissa Manoela, as particularidades começam com o roteiro.
O filme dirigido por César Rodrigues vai muito de encontro com a essência dos acontecimentos do longa protagonizado pela ex-estrela teen da Disney. No filme da Hannah Montana, a personagem ia para o interior, mas não sofria um detox pelo uso excessivo de celular. Há outras relações parecidas entre as personagens das duas produções: ambas são famosas, vivem em grandes cidades, e são levadas para o interior para redescobrir outro lado de suas vidas, o outro eu que elas não conheciam e claro que isso já foi apresentado em outros filmes, e que em Modo Avião soa mais como um ponto de partida para transportar a protagonista para outro lugar, e que dá certo, já que acaba dando um choque de realidade na vida de Ana (Larissa Manoela).
Por ser um filme focado para o público teen é natural que tenha alguns momentos que soe como artificial no roteiro, como diálogos fora de hora, situações sem sentido, e até reações aleatórias dos personagens. Isso pode deixar o filme brega, mas não quer dizer que é ruim, e sim que ele tenha problemas de roteiro, o que de fato ele tem. Há momentos que o longa é muito divertido, principalmente quando Ana encontra seu avô Germano (Erasmo Carlos). Daí acontece ótimas situações, há também bons diálogos sobre a adolescência que poderiam ser aprofundados, mas acabam se perdendo por que o diretor acaba por querer se apressar em querer cortar rapidamente para outra cena.
Enquanto faltam cenas espetaculares no longa, que poderiam dar uma incrementada nos desafios que Ana estava enfrentando, e que por exemplo são apresentados no ótimo Fora de Série, da diretora Olivia Wilde, que conseguiu captar com competência os dramas da adolescência sem precisar forçar demais. Já o roteiro de Modo Avião não ajuda muito, os diálogos teatrais e novelescos, que com certeza não seriam ditos em certas situações nem por uma influencer, fora a redenção que ocorre rápido demais para uma garota que até certo dia era apresentada como uma personagem oca e mimada e que acaba ocorrendo rápido demais.
Já Larissa Manoela se sai bem em seu primeiro trabalho na Netflix. Não é um papel diferente do que já havia feito anteriormente, mas a garota tem um carisma natural e uma presença de tela que dize muito sobre si e o porque da idolatria de muitas jovens pela sua imagem. Queira ou não, Larissa Manoela interpreta a si mesma no filme, até porque ela é sim uma influencer de sucesso e isso facilita bastante na hora de sua interpretação.
Há um acréscimo de peso em relação ao elenco secundário que diz respeito a presença de Erasmo Carlos, sua atuação está fantástica, e os momentos que contracena com Larissa Manoela são os mais divertidos, tendo ótimas sacadas que tiram risadas espontâneas do espectador. O restante do elenco secundário está bastante apagado, para não dizer esquecível e isso é culpa do roteiro e da direção que acabaram puxando muito da trama para a protagonista e para a vilã e esquece.
Modo Avião pode funcionar com o seu público-alvo, e pode funcionar com outras faixas etárias que gostem de romance água com açúcar e filmes teens, quem não é muito fã do gênero não irá curtir muito, pois o longa se parece bastante com um episódio prolongado da novela Malhação, não quer dizer seja um produto ruim, ele até que se sobressai frente ao que se vê das produções que a Netflix vem lançando ultimamente, e com a presença de Larissa Manoela, queira ou não, melhora ainda mais.
Modo Avião (Idem, Brasil – 2020)
Direção: César Rodrigues
Roteiro: Alice Name Bomtempo, Alberto Bremer, Jonathan Davis, Renato Fagundes
Elenco: Larissa Manoela, André Luiz Frambach, Erasmo Carlos, Nayobe Nzainab, Katiuscia Canoro, Dani Ornellas, Adriano Fanti
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 86 min.
https://www.youtube.com/watch?v=aywJ39-0l9I
Crítica | Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você - Uma Sequência Repetitiva
O casal Lara Jean (Lana Condor) e Peter (Noah Centineo) continua com uma vibração forte na sequência de Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você, o sucesso teen da Netflix que teve sua origem no primeiro filme surpreendente e divertido de 2018, em que a protagonista tem suas cartas românticas enviadas para as suas antigas paixões de escola, e então precisa lidar com elas ao seu tempo, e nisso acontecem desdobramentos bastante divertidos.
Em Para Todos os Garotos que Já Amei, título do primeiro filme em que a dupla Lara Jean (Lana Condor) e Peter (Noah Centineo) fazem um casal fake para causar ciúmes para a ex namorada de Peter e acabam se apaixonando de verdade, a história tinha algo de original que a continuação não tem. Para Todos os Garotos 2 tem uma atmosfera completamente repetitiva em relação ao que foi abordado no longa anterior, é como se a dupla de roteiristas Sofia Alvarez, J. e Mills Goodloe tivesse copiado a nova trama do filme anterior e colado nesta nova versão, pois fica se remoendo todas as questões discutidas no outro filme, além de uma falha tentativa de se jogar um elemento novo na trama.
É óbvio que o roteiro é inspirado na obra da escritora Jenny Han, mas isso não quer dizer necessariamente que a narrativa precise seguir o caminho que o livro esteja direcionando a história, é justamente aí que entra o papel do diretor Michael Fimognari que não tem a mínima ideia do que está fazendo com aquilo que tem em mãos. O diretor conseguiu perder toda a essência que havia sido colocado no primeiro longa, que era aquele ar de inocência e conhecimento envolvendo a protagonista Lara Jean.
Agora, na sequência parece um catado de temas que o diretor quer apresentar e não dá tempo de tela para cada um, e isso fica bem claro nas subtramas envolvendo os personagens secundários, pois há vários momentos em que surgem ideias bacanas com personagens interessantes, mas essas ideias não são aprofundadas ou desenvolvidas a fundo. Uma delas é envolvendo o pai de Lara Jean, o Dr. Covey (John Corbett), ou até a sua ex-amiga Genevieve (Emilija Baranac) que perde totalmente a força nesta continuação.
Mas o que incômoda mesmo é o tal elemento de destaque do roteiro, que seria a grande surpresa, o personagem surpresa: John Ambrose (Jordan Fisher), que é a tal última carta enviada e que não havia aparecido no primeiro filme. A aparição de John Ambrose tira quase que totalmente o brilho do protagonista interpretado por Noah Centineo, e isso é um grave erro do diretor, primeiro por ter colocado um ator de grande carisma para interpretar o papel de Ambrose, segundo por ter dado bastante tempo de tela para um personagem que antes era secundário e que do nada ganha um protagonismo desnecessário. Peter é o protagonista, isso fica bem claro ao término do filme, então fica evidente que o diretor realmente não soube dosar o tempo que cada um ficou em tela e acabou por ofuscar sua principal estrela.
A continuação também peca em trazer certa mensagem relevante. Se no primeiro a ideia era a de abordar o relacionamento de Lara Jean e a dificuldade em se relacionar com o seu primeiro romance, na sequência isso meio que se perde e acabam por aproveitar o sentimento de paixão de Lara Jean. Agora há uma dúvida se ela está apaixonada por John Ambrose ou por Peter, se limitando em apresentar o romance vazio e assim não debater temas mais relevantes para os jovens que assistem.
Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você também perde a graça que havia conquistado no primeiro capítulo e isso é algo que ajuda a explicar o porque de ter ficado chato e em alguns momentos difícil até de acompanhar a trama. É um grande exemplo de como uma narrativa mal explorada pode tornar um romance com grande potencial em um romance teen água com açúcar e sem graça.
Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você (To All the Boys: P.S. I Still Love You, EUA – 2020)
Direção: Michael Fimognari
Roteiro: Sofia Alvarez, J. Mills Goodloe
Elenco: Lana Condor, Noah Centineo, Jordan Fisher, Anna Cathcart, Janel Parrish, Ross Butler, Madeleine Arthur, Emilija Baranac, Trezzo Mahoro
Gênero: Drama, Romance
Duração: 94 min.
https://www.youtube.com/watch?v=j-3s0-PEd4c
Crítica | O Grito - Um Reboot Sem Sentido
É de se esperar que um reboot de terror traga uma experiência agradável, ou no caso assustadora, para o público que vá assistir aquela narrativa, e que pelo menos se tente reinventar aquilo que já foi visto anteriormente na franquia. Reboots geralmente são um belo tiro no pé dos estúdios, pois a maioria não sabe como tratar a história, e nem sabe como reiniciar a trama nos cinemas. Pode-se dizer que esse é apenas um dos muitos erros de O Grito.
A nova versão dirigida por Nicolas Pesce tenta fazer uma nova abordagem do clássico, que já contou com outras releituras no cinema. A mais famosa e aterrorizante é o remake dirigido por Takashi Shimizu, criador do original japonês, e que conseguiu levar a impressionante aura de horror para a versão americana. Claro que a sequência dirigida por ele em 2006 não teve a mesma qualidade que a primeira versão do remake 2004.
Já este reboot, em que o diretor Nicolas Peasce também tem participação no roteiro, em parceria com Jeff Buhler (Cemitério Maldito), a trama conta a história de uma detetive (Andrea Riseborough), em uma cidade nova que é designada para ajudar em uma investigação, ela então se depara com uma série de mortes misteriosas. Até aí nada de novo na história e nada de original. Com o passar do tempo, o longa não coloca nada de relevante na narrativa, e pior vai colocando mais elementos na trama para te confundir, como se isso fosse realmente um atrativo relevante para o roteiro, mas não é.
Um dos grandes problemas de O Grito, com certeza, é o roteiro já batido em relação a protagonista que se percebe enfrentando uma maldição. Mas do jeito que é apresentado soa muito superficial. Primeiro porque a própria detetive não é uma personagem equilibrada, não há um desenvolvimento interessante em relação a ela. Mencionam apenas que seu marido morreu e nada mais, por sinal abandonam essa ideia de seu marido morrer, um trauma que poderia ser muito mais usado em sua vida pessoal e não é utilizado. O próprio filho da detetive é simplesmente jogado de lado e não aparece mais, somente no final que o colocam novamente em cena e sem motivo algum.
O roteiro também peca no sentido de criar várias subtramas para vários personagens sem função. Há a idosa que vivia na casa amaldiçoada e que é interpretada pela atriz Lin Shaye (Sobrenatural), há o personagem da companhia imobiliária, interpretado por John Cho (Buscando). Tem também o detetive Peter Goodman interpretado pelo ator Demián Bichir (A Freira), e por fim, há o espírito de uma criança que surge na casa amaldiçoada, mas que não assusta ninguém.
Todas essas subtramas são pessimamente aproveitadas, fora que são tantos os personagens secundários e o filme é tão curto que o roteiro não dá conta em conseguir aproveitá-los, nem em desenvolvê-los, e o resultado disso é bastante óbvio: fica tudo bastante superficial e os personagens que aparecem com destaque rapidamente somem do nada. O próprio caso de Peter Spencer, o papel dado a John Cho, que de início parece até ter um protagonismo, mas depois frustra as expectativas, e o roteiro o abandona, perdendo todo o destaque dado a ele. Isso tudo mostra como o roteiro é frágil nas suas escolhas e como o próprio diretor é perdido em não saber pra onde quer levar a sua história, por não saber qual caminho quer levar a sua jornada nem para onde quer levar os seus personagens.
Quando se assiste a um filme de terror o que se espera, o mínimo pelo menos, é que em certa dose tenha algum elemento de terror, e não é isso que se encontra nessa nova versão de O Grito. Claro que há momentos que o diretor trabalha que dão alguns sustinhos, isso por causa dos jump scares, mas são apenas em algumas situações. Talvez dois ou três bons momentos de terror bem aproveitados e o resto é na verdade mais um suspense policial envolvendo uma maldição que propriamente um terror. A própria maldição, que nas versões anteriores costumava ser mais implacável e bizarra em matar suas vítimas, nesta releitura parece ser mais amigável e dar mais tempo para suas vítimas pensarem em suas ações, não fica em cima o tempo todo, não há aquele sentimento de sufocamento, de que a qualquer momento você realmente vai morrer.
Aquela cena inicial do filme, quando uma das personagens está na cidade de Tóquio, aquela cena sim relembra um terror ao estilo O Grito e se o filme todo fosse naquela pegada, isso em relação aos sustos, seria muito interessante. Pelo menos seria uma redenção para uma história ruim, mas nem isso o diretor conseguiu equilibrar, conseguiu fazer uma trama péssima, com sustos ruins e ainda esqueceu a essência principal da franquia que é a mensagem do filme, aquela frase inicial "quando alguém morre com ódio aquele espírito vaga até encontrar vingança". Provavelmente o diretor não quis se escorar no lema da franquia, o que foi uma burrice, já que a versão japonesa utiliza esse tema para desenvolver a sua narrativa e há até uma mensagem interessante por trás de todo aquele assunto sobre maldição e assassinatos, coisa que não existe no reboot.
São várias as decisões equivocadas na direção de Nicolas Peasce e a sua condução levou O Grito a embarcar em um desastre completo. Mesmo tendo Sam Raimi como um dos produtores não salvou o longa de ser um catástrofe completa. O filme tem problemas técnicos que não se vê nem em produções da Netflix, como a fotografia que é bastante fraca e em cenas filmadas dentro da casa fica até difícil de enxergar a maldição agindo. Portanto, todos tem sua parcela de culpa, desde os produtores, roteiro, e direção. O Grito é um filme esquecível além de ser um grande fracasso.
O Grito (The Grudge, EUA – 2020)
Direção: Nicolas Pesce
Roteiro: Nicolas Pesce, Jeff Buhler
Elenco: Andrea Riseborough, Demián Bichir, Zoe Fish, John Cho, Frankie Faison, Lin Shaye, Tara Westwood, Junko Bailey
Gênero: Horror, Mistério
Duração: 94 min.
https://www.youtube.com/watch?v=EnAJ99Q77DY
Crítica | The Cave - Um Documentário Impactante
Assistir a The Cave não é das tarefas das mais fáceis, pois a produção de Feras Fayyad irá incomodar a muitas pessoas com o estômago frágil a assistir a um documentário deste tipo.
A história que The Cave narra não é simples de ser digerida, e em alguns momentos difícil até mesmo de se olhar para a tela. A trama conta a trajetória, em um pequeno período de tempo, durante o cerco a cidade de Guta, na Síria, em que o local ficou isolado pelas forças de Bashar al-Assad, que combatiam os rebeldes na região e que entrava em confronto contra o Estado Islâmico. Isso enquanto os russos passavam com aviões e bombardeavam a cidade de Guta. Nisso há uma personagem em especial que é seguida quase que frequentemente, a Dra. Amani, uma mulher que os filmes de Hollywood amariam colocar como protagonista devido a sua força vontade e sua revolta frente aos acontecimentos contra a população desarmada.
Toda essa atmosfera de terror é captada pelas lentes de Feras Fayyad. Devido a logística e ao cerco imposto pelo regime de Bashar al-Assad a cidade, o diretor não conseguiu estar presente ao set de filmagem, por isso teve que dar ordens aos seus câmeras pela internet, que tiveram que trabalhar com várias questões problemáticas estruturais, como falta de luz e até mesmo falta de treinamento, pois o cineasta teve que os treinar o jeito certo de filmar, como queria que os ângulos fossem feitos.
Foi um acerto por parte de Feras Fayyad, o de orientar aos seus câmeras, ao ponto de vista de fazer com que a câmera seguisse a Dra. Amani a todo o instante, primeiro para dar maior dinamismo para a cena e naturalidade para o documentário, segundo para mostrar como era a rotina do local. Em um documentário isso é muito importante, ainda mais em uma zona de guerra, em que as pessoas que estão assistindo não têm a mínima noção do que aquelas pessoas estão vivenciando, portanto a rotina delas é importante de ser transmitidas, como estão se alimentando, como estão fazendo para buscar comida, como estão tratando os feridos, e muitas outras questões pertinentes.
O tom utilizado pelo documentário não poderia ser outro, e novamente Fayyad acerta ao denunciar as atrocidades cometidas, tanto pelo regime de Bashar al-Assad que utilizou armas químicas em ataques contra civis desarmados, como acerta em mostrar as várias cenas em que os russos bombardeiam uma área em que ainda havia muitas pessoas vivendo ali. É apresentada a rotina de um hospital na Síria, com pessoas feriadas surgindo a todo o instante, mas utilizando a questão política como pano de fundo para mostrar a crueldade ditatorial do governo e isso é o mais importante da produção.
Porém, por ser apenas um relato dos acontecimentos que estão ocorrendo dentro do hospital, há um tom de superficialidade em discutir toda aquela questão. Uma pessoa que não está tão ambientada nessa situação da Síria, principalmente na questão política, vai se perder em entender o que é toda essa guerra, o que os russos estão fazendo ali, quem são os rebeldes. Há uma falta de um teor narrativo no documentário, e esse elemento ajudaria bastante em contar a história e até mesmo em levar ao entendimento de tudo aquilo para mais pessoas.
The Cave talvez seja uma produção que talvez nem todos consigam assistir. As cenas apresentadas dentro do hospital são bastante fortes. Quem não tem estômago forte talvez se sinta pressionado ou até mesmo não consiga chegar ao final. Crianças são as que mais sofrem nesse tipo de situação apresentada no documentário, por ser o elo mais fraco em uma guerra irracional e por serem mais frágeis acabam sofrendo mais. Com certeza é importante assisti-lo, e tem seu lugar entre os documentários de denúncia
The Cave (The Cave, EUA – 2019)
Direção: Feras Fayyad
Roteiro: Alisar Hasan, Feras Fayyad
Elenco: Amani Ballour, Salim Namour
Gênero: Documentário, Guerra
Duração: 120 min.
https://www.youtube.com/watch?v=lmZycLqkgkk
Crítica | Jojo Rabbit - Um Retrato sobre o Perigo do Fanatismo
O nazismo e o terror cometido na Segunda Grande Guerra já serviram como base de roteiro dos mais diversos títulos no cinema. Steven Spielberg, em O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler, apresentou com maestria esse tema em que o mundo acabou emergindo em devastação total. Em O Pianista o cineasta Roman Polanski apresenta pela óptica de um sobrevivente a destruição da Polônia e mostra como a guerra pode destroçar uma nação.
Desta vez foi a o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) que revisitou este período que tanto marcou e deixou cicatrizes no mundo com o ótimo Jojo Rabbit, um filme que narra de maneira simples e que utiliza de elementos simbólicos para contar o cotidiano de um garoto fanático pela ideologia nazista.
Na trama, Jojo (Roman Griffin Davis) é um garoto que vive a rotina do cotidiano do regime nazista e cresce no ambiente da juventude hitlerista, junto com outras crianças que terão o mesmo destino que ele. Jojo é enviado para um acampamento, em que é ensinado pelo Captain Klenzendorf (Sam Rockwell em outra interpretação fantástica) a odiar os judeus e aprender que a raça ariana é suprema.
Esse primeiro ato é um verdadeiro baque, em que conta a trajetória do protagonista Jojo, e também um choque de realidade para o telespectador que se insere na narrativa e na história do garoto. Pois é realmente um terror ver como aquelas crianças estão sendo treinadas para matar, para praticar o holocausto contra semelhantes judeus, e como tudo aquilo é feito em detalhes.
O ódio apresentado neste primeiro ato é apenas algo que será trabalhado e será dialogado durante toda a trama e que o roteiro irá seguir por todo o filme, pois o fanatismo do garoto irá se tornar algo realmente doentio. O ódio por judeus será algo tão grande que Jojo irá realmente acreditar que eles são o perigo da nação, e esse ódio só será vencido com amor, conhecimento e amizade, e o roteiro trabalha esses temas de forma acertada.
O diretor Taika Waititi usou de sua perspicácia ao trabalhar o roteiro, adaptado da obra de O Céu que Nos Oprime, de Christine Leunens, e sua direção é bastante competente, pois consegue tirar muito do peso apresentado em um filme que tinha tudo para ser trágico. Waititi é um diretor acostumado com histórias mais cômicas, um exemplo é o seu longa O Que Fazemos Nas Sombras, um falso documentário em que apresenta a rotina de vampiros, com ótimas cenas de humor.
Em Jojo Rabbit não é diferente, principalmente no primeiro ato, em que vimos um garoto com uniforme nazista, e que há todo aquele choque por assimilar toda essa informação. O diretor usa muito o humor para tirar a carga pesada que o filme teria e faz o público chorar de rir com o que é apresentado, parece até uma comédia, mas não é, é um drama muito, muito pesado.
Outro fator inteligente utilizado por parte da direção de Waititi é o fato da história ser contata através do ponto de vista de Jojo, o garoto que descobre o quão dura uma guerra pode ser. Muitas produções do gênero de guerra já utilizaram desse artifício de contar uma história e criar o roteiro usando uma criança como protagonista. Filmes como O Menino do Pijama Listrado (2008), A Menina Que Roubava Livros (2013), A Vida é Bela (1997) usaram crianças para contar as tramas não apenas pela ingenuidade e inocência que elas passam, mas também por que são as crianças o elo mais fraco de uma guerra surreal e cruel, que vítima muitas pessoas inocentes, e queira ou não são os jovens os maiores alvos de uma guerra.
Há um toque nonsense em Jojo Rabbit que beira os absurdos apresentados no filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975) que é justamente o personagem Adolf Hitler, aqui interpretado por Taika Waititi, que surge conversando com Jojo durante todo o filme. Esse elemento é justamente colocado em tela para não apenas servir como válvula de escape para ter com quem o garoto conversar, mas também para Jojo lembrar a ele mesmo o motivo dele ser fanático, do por que ele odiar judeus, pois não há um motivo aparente para isso. O ódio puro e simples que ele desenvolveu e quer por que quer odiar o próximo, mas no fundo Jojo é puro e de bom coração, e durante a trama o público vai descobrindo isso, pois o roteiro vai nos mostrando isso com as conversas que vai tendo com Elsa ao longo do filme.
O elenco é o forte de uma produção que cativa com seus personagens carismáticos. Sam Rockwell interpreta um caricato e bobo oficial nazista, o mesmo pode-se dizer da dupla Alfie Allen e Rebel Wilson, que aqui encontra uma personagem à altura. Já Thomasin McKenzie (Elsa) está ótima como a judia que vive escondida na casa de Jojo, sua atuação é contida, mas não por isso interessante e sublime. Roman Griffin Davis (Jojo) também é uma grande surpresa, o garoto não deixa a peteca cair nas cenas individuais, chama a responsabilidade e com facilidade deixa o público preso na tela, faz o telespectador rir e chorar em diversos momentos. Mas a cereja do bolo está mesmo com a performance de Scarlett Johansson (Rosie), mesmo tendo tão pouco tempo de tela está exuberante. Tá certo que a personagem ajuda bastante por ser interessante e intrigante, com sua interpretação contida e nada superficial.
Jojo Rabbit é um ótimo drama sobre a guerra que serve como uma reprodução de como eram os tempos sombrios da época de Adolf Hitler, mas que também serve como uma discussão dos tempos atuais, em que o fanatismo exacerbado corrói a mente de muitos jovens, e queira ou não vale para analisar muito de como esse fanatismo destrói uma nação e acaba por criar o caos em várias estruturas sociais. Jojo Rabbit é um filme que precisa ser visto e revisto, e analisado a fundo, e sua mensagem é tão profunda importante quanto o seu simbolismo.
Jojo Rabbit (Jojo Rabbit, Alemanha – 2019)
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi, Christine Leunens (Livro)
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephen Merchant, Archie Yates
Gênero: Comédia, Drama, War
Duração: 113min
https://www.youtube.com/watch?v=e3X6SuwSY84
Crítica | Ameaça Profunda - Um Terror que Peca pela Falta Qualidade
Há dois tipos de gêneros que hora ou outra Hollywood adora abordar em seus filmes. O primeiro é o cinema de monstros, em que criaturas diversas, de todos os tipos e tamanhos, surgem para confrontar os protagonistas. Outro tema muito recorrente é o da sobrevivência, em que os personagens se encontram em uma situação limite e precisam sobreviver para que não sejam mortos por alguma ameaça externa, seja climática, no caso de um furacão ou uma tempestade, ou de algum outro motivo particular. Em Ameaça Profunda (Underwater) o que se presencia é o encontro destes dois gêneros muito utilizados no cinema hollywoodiano, mas de um jeito extremamente confuso e com um diretor à frente do projeto que tinha boas ideias e intenções, mas que as executou de forma inadequada.
A trama conta a história de uma equipe de tripulação científica subaquática que enfrenta um aparente terremoto e precisa sobreviver fugindo do local, indo de uma base para outra muito mais profunda e que foi abandonada em uma extração antiga do subsolo. O diretor William Eubank (O Sinal - Frequência do Medo) coloca todos os tipos de clichês comuns em tipos destes filmes e eles funcionam, a princípio, pelo menos no primeiro ato em que os personagens são apresentados e os sobreviventes estão fugindo da base que está prestes a explodir e de um possível monstro que está os caçando. Depois esses clichês se tornam um pouco repetitivos, principalmente em relação aos sustos e aos jump scares que são sempre os mesmos e feitos da mesma forma. Nos primeiros minutos surpreende, mas depois de algum tempo não dá mais aquele efeito no público, pois já se imagina qual será o final da cena de tão repetitiva e óbvia que a ela foi.
A ação do primeiro ato funciona justamente por que o diretor coloca logo nos primeiros minutos uma motivação para os personagens fugirem e não fica de enrolação, o problema é que depois o cineasta decide dar uma bela escondida no que os fãs do gênero do cinema de monstros mais gostam de ver, que é propriamente as criaturas em si. A demora é tanta que começa a ficar entediante acompanhar a fuga dos personagens. Claro que há um entendimento que eles estão fugindo da base por que está explodindo e não há uma noção de que exista uma criatura atrás deles, e esse é um dos principais erros do roteiro, que foi o fato de não ter apresentado ou dado uma dica, pelo menos para a protagonista ou para o público, de que estas criaturas estavam ali desde o início do filme, simplesmente ficaram escondidas e deixaram o mais interessante, literalmente, para os minutos finais.
É uma pena que os monstros foram tão mal aproveitados no filme. A ideia parecia bastante interessante de início, se não original pelo menos dava para deixar os fãs do gênero empolgados com o que presenciavam na tela. Primeiro que os sobreviventes não enfrentavam apenas um tipo de perigo, e sim vários tipos de criaturas e isso é algo bastante interessante, pois o oceano é realmente um lugar cheio de habitantes desconhecidos, ainda mais quando explorado a dimensões mais fundas, e isso é algo que o cinema está sabendo aproveitar ultimamente: a questão de brincar com o desconhecido.
Pegue os dois exemplos recentes Megatubarão (2018) e Medo Profundo (2017) em que criaturas horrendas do fundo do mar caçavam de forma predatória suas vítimas, é claro que o diretor e a dupla de roteiristas Brian Duffield e Adam Cozad pensaram nestas referências para criar alguns dos monstros, principalmente o bichão chefe que se parece bastante com o Kraken de Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007), mas que em Ameaça Profunda o monstrão que surge é muito mais original e assustador, por isso a decepção de ele não ter aparecido desde o início do filme, parece até chefe de jogo de videogame de tão impressionante que é.
A direção de William Eubank é bastante confusa por outros motivos. Ela é linear ao direcionar os personagens para a frente, mas em compensação não sabe o que fazer com eles, não sabe se os desenvolve ou não, e quando o faz fica algo muito jogado. Quando fala sobre a vida da protagonista interpretada por Kristen Stewart, em que ela perdeu alguém querido em um acidente, ou em que o capitão, papel vivido por Vicent Cassel, que também teve uma perda e que é mencionada muito por cima, isso tudo para dar uma mensagem de que todos perdem algo pelo caminho, e isso faz bastante sentido com a cena final envolvendo a engenheira Norah (Kristen Stewart), tudo isso é bastante jogado no roteiro, não é trabalhado, deixando os personagens sem uma conexão e sem um lado emocional trabalhado.
Nem mesmo a criação do ambiente claustrofóbico ajuda em criar um elemento a mais na tentativa de se fazer um suspense a mais, até por que as criaturas já davam essa sensação de horror, de que algo estava os perseguindo, mas o ambiente é pessimamente usado. Primeiro que tudo no subsolo do oceano é muito, mas muito escuro, uma fotografia horrível, faz sentido ser escuro, pois realmente há uma ausência de luz em uma profundidade tão imersa, mas não faz sentido ser tão escuro a ponto de nem ser possível enxergar direito as criaturas. Segundo que o filme é muito mal filmado, e isso passa novamente pelas mãos de William Eubank, o diretor treme a câmera a todo o instante, não foca no que precisa, a ação é desajustada, enfim, é tudo uma grande chance perdida, o que acaba se tornando tudo uma grande chatice.
O roteiro também não ajuda muito para que Ameaça Profunda vá adiante, e perde a oportunidade em diversos momentos. Várias cenas de ação são jogadas no lixo apenas por indecisão do diretor em não saber aproveitar o que o roteiro pedia, provavelmente, e por não saber o que tirar daquela cena, se terror, suspense ou ação, ficou uma mistura de gêneros que acabou por não ser nada no fim das contas. O pior de tudo é o mau uso dos personagens, todos são pessimamente explorados, rasos e alguns sem carisma, a ponto de não prender a atenção do telespectador. Kristen Stewart é esforçada, o problema é realmente o papel que lhe deram uma mulher que tenta sobreviver, com um trauma passado e apenas isso. Na realidade, faltam protagonistas carismáticos no longa e isso é algo bastante problemático e algo que devia ter sido estruturado ainda no roteiro.
Ameaça Profunda tinha tudo para ser um filme de terror interessantíssimo, a atmosfera, as criaturas desconhecidas, o monstrão do final, tudo mesmo, mas tudo foi tão pessimamente aproveitado que mais parecia uma produção B da década de 90, ao estilo Tentáculos (1998), em que os fãs amam odiar. Uma pena que longas assim pequem tanto em não aproveitar o potencial que tinham.
Ameaça Profunda (Underwater, EUA, 2020)
Direção: William Eubank
Roteiro: Brian Duffield, Adam Cozad
Elenco: Kristen Stewart, Vincent Cassel, Jessica Henwick, T.J. Miller, John Gallagher Jr,, Mamoudou Athie, Gunner Wright
Gênero: Ação, Drama, Horror
Duração: 95 min.
https://www.youtube.com/watch?v=R4x5RO2gDBo&t=69s
Crítica | O Relatório - A Busca Pela Verdade
Histórias sobre a CIA adoram contar o lado vitorioso, ou como foi vencer o terrorismo e todo o mal gerado pela luta armada pelos guerrilheiros que usam a religião em busca de um ideal, principalmente os filmes pós-onze de setembro, após os atentados que vitimizaram os Estados Unidos e que tiveram como alvo as torres gêmeas do World Trade Center, o Pentágono e um terceiro avião que ia em direção a Casa Branca. Uma busca incessante aos terrorista foi realizada, mas poucos se fizeram a pergunta de como foi feita essa busca, e quais foram os métodos empregados para conseguir suas respostas até chegar ao mentor dos atentados: Osaba Bin Laden.
Em O Relatório (Scott Z. Burns) o agente do FBI Daniel Jones (Adam Driver) é chamado para uma força tarefa montada por uma Senadora para investigar possíveis abusos cometidos no programa de detenção e interrogação criado pela CIA para tirar informação de terroristas. A produção então foca em sua mais de uma hora em apenas investigar os fatos, e então as recria de forma inteligente, até mesmo para sair daquele marasmo do escritório que havia se estruturado, e para criar a sensação de crueldade que o diretor queria levar para o público, de que o programa de táticas avançadas era ineficaz e só servia para torturar mesmo. São cenas pesadas e que lembram bastante um filme de terror, é preciso ter estômago forte em alguns momentos.
Obviamente que por ser um filme investigativo ele é cansativo em muitos momentos. Seu ritmo é lento, muito lento, chega a ser parado, mesmo. Muitas coisas estão acontecendo e sendo descobertas a todo instante e parece que o filme não sai do lugar mesmo assim, e isso é estranho. Isso se deve muito ao ambiente escolhido para filmar, que é o escritório de investigação. O local dá uma ideia de que tudo está parado e que o filme não muda de cenário e que a história não gira.
O foco não é a ação e sim a investigação e também a de denunciar o ocorrido, as práticas de tortura, mas há um certo exagero em mostrar as cenas de tortura. O roteiro também peca em não apresentar muito o lado político, quando apresenta esse lado fica interessante, mas quando isso acontece o telespectador possivelmente já tenha se cansado ali da trama ou até mesmo desligado a TV, é uma aposta arriscada do roteiro de deixar tanta coisa para o segundo e terceiro ato. A questão política é importante e ela poderia ter sido o principal da narrativa. Apresentar os fatos do ponto de vista investigativo é interessante, mas colocar tudo apenas do ponto de vista de Daniel Jones foi um tiro no pé.
Daniel Jones é o principal personagem da trama, ele que faz girar toda a história e todos os acontecimentos vão se desenvolvendo ao seu redor. As situações vão sendo levadas a ele e com grande perícia Adam Driver vai dando o tom certo que o protagonista necessita. Jones é um agente do FBI que não se mete em muitas situações de risco, e talvez o público quisesse ver mais disso, ou mais de investigação criteriosa ou interessante, algo como foi feito em Todos os Homens do Presidente (1976), uma aula de como se fazer jornalismo e de como se fazer uma bela investigação.
Adam Driver está em outra atuação segura. Claro que seu personagem não faz nada além de investigar e conversar, mas há momentos em que se revolta e seu tom dramático está ali. O ator demonstra ter aquele carisma que todos conhecem, e sua interpretação é de longe a principal do filme. Uma pena que ele é apenas o destaque isolado em um filme vazio, poderiam ter balanceado colocando um personagem secundário de maior força ou mais relevante para dar mais brilho para o personagem de Daniel Jones, que se mostrou muito fraco e sem camadas tendo que atuar sozinho quase que o longa inteiro.
O Relatório é daquelas histórias que se não são espetaculares, servem apenas como relatos de algum momento de uma guerra que não serviu para nada, e por sinal esse é o principal ponto do roteiro: a crítica a guerra, de que serviu ela e pra que os EUA foi a caçada aos terroristas. É como se a investigação tivesse chegado a conclusão que o programa de táticas avançadas tivesse servido apenas para torturar terroristas como forma de vingança pelos atos praticados nos EUA. Como mensagem o longa cumpre bem sua tarefa, serve para passar o tempo e é interessante, mas como entretenimento de diversão talvez as pessoas não irão curtir muito, até por que esse não é seu principal objetivo.
O Relatório (The Report, EUA, 2019)
Direção: Scott Z. Burns
Roteiro: Scott Z. Burns
Elenco: Adam Driver, Corey Stoll, Evander Duck Jr., Jon Hamm, Linda Powell, Annette Bening
Gênero: Biografia, Drama, História
Duração: 120 min.
https://www.youtube.com/watch?v=Es7mmnNLsyk
Crítica | Don't Fuck With Cats - Uma série criminal que choca pelo enredo
A Netflix encontrou nas séries criminais um jeito de atrair um público ávido em encontrar nestas histórias um jeito de se prender a histórias macabras e horripilantes de personagens reais e que marcaram época. Há um vasto material de arquivo a ser explorado, mas também há muita dificuldade em se encontrar conteúdo por aí a respeito destes episódios conturbados que ocorreram, caso mesmo de Ted Bundy e que é belamente relatado em Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes, série documental que a própria Netflix investiu e foi um sucesso estrondoso, tanto que mais adiante a plataforma de streaming resolveu voltar ao filão com a série Mindhunter que estuda a fundo de maneira mais ficcional a menta dos assassinos seriais
Em sua ânsia em conquistar novos públicos e realizar conteúdos mais relevantes e de melhor qualidade a Netflix aborda novamente o tema dos assassinos seriais com a ótima série documental em três episódios Don't Fuck with Cats: Hunting an Internet Killer (Mark Lewis) ou em uma tradução livre: Não Ferre com os Gatos. O nome da produção já diz bastante sobre o que será mostrado em seus episódios, e os amantes de animais e principalmente de gatos ficarão revoltados com as cenas de crueldades que serão expostas nos mais de quarenta minutos de cada capítulo horrendo.
O que fascina na série criminal é o jeito em que a narrativa é construída. Mark Lewis (Paranormal Witness) sabe usar o discurso documental necessário para se contar a história, até porque além de ser uma série a produção também é um documentário dividido em três partes. Além de dirigir o cineasta também a roteiriza, e Mark consegue dar o tom certo para a trama, que de início parece ser uma coisa, mas depois se mostra outra. Tudo leva a crer que é apenas uma simples produção criminal sobre um assassino louco que mata gatos e sobre a pré-disposição de pessoas revoltadas em encontrar esse lunático, mas com o tempo o diretor vai se desdobrando em apresentar todos os lados desta história, o lado da polícia, das pessoas que estão investigando, do assassino, da mãe do assassino e de outros personagens secundários, fatos que vão dando maior riqueza para a trama e para a narrativa.
Na realidade, Don't Fuck with Cats melhora bastante depois que a trama vai se desenvolvendo a respeito dos assassinatos, pois antes há todo um mistério sobre o que aquele louco quer com aqueles gatos, e o documentário perde muito tempo, um episódio inteiro quase, para falar apenas da matança com os gatos e como ela foi elaborada, e não parte para o que realmente interessa, que seria a investigação, o papel da polícia.
Após entrar no assunto que importa realmente, o dos assassinatos dos gatos, o diretor te fisga rapidamente, te prendendo mais com a revolta com que aquilo causa no telespectador, pois um animal sendo maltratado ou morto é de cortar o coração de qualquer um, já que é um ser inofensivo, e o público geralmente pensa que aquilo pode acontecer com o seu animal de estimação. E com esse início rápido e com uma trama universal o cineasta logo consegue desenvolver e dar ótimas reviravoltas para a trama e apresentar o verdadeiro assassino e seu show, seu verdadeiro objetivo, e toda a sua espetacularização.
Há muitos temas tratados dentro da série, além da própria investigação que é o tema central que faz girar toda a narrativa, mas o fato que chama bastante a atenção é a do assassino em si, Luka Magnotta, um homem que queria ficar famoso, que criou um verdadeiro show acerca das mortes dos gatos. Desde o começo ficou obcecado com a repercussão com que a situação ganhou na internet, principalmente com os grupos de discussão sendo criados na internet para procurá-lo. Luka Magnotta passou a gostar de fazer os seus atos, a se divertir, é um acerto como a série apresenta o lado sádico e cruel do assassino, mas antes prende a atenção do público em instigar pelo mistério em quem é esse monstro. Há muitas referências a cultura pop por meio de filmes clássicos que fizeram história no cinema, como Casablanca (1942), Instinto Selvagem (1992), e Prenda-me se for Capaz (2002), que são usados pelo serial killer por que ele próprio era fã destas obras e as usava para criar uma estrutura em que pudesse se defender contra futuras acusações contra si.
O documentário não perde a oportunidade de discutir temas interessantes para a sociedade, como a fama que Luka tanto almejava alcançar com os seus atos, pois o rapaz queria por que queria ser famoso, outro tema não tão discutido profundamente, mas não por isso sem relevância é o da própria cultura da perseguição nos tempos de internet, contas fakes e seu uso indiscriminado também estão no documentário, e um fato que chamou bastante a atenção foi como os grupos de discussão do Facebook foram importantes para os trabalhos em encontrar o assassino. John Green, pseudônimo de um morador de Los Angeles bastante curioso por mexer pela internet, se juntou a um grupo selecionado, privado, na rede social e começaram a procurar das mais diversas formas os rastros do assassino, essa parte da investigação é bastante interessante, mostra como a internet também pode ser utilizada para o bem e não apenas para o lado negativo.
A trama de Mark Lewis falha em não discutir a fundo o espetáculo que foram os grupos no Facebook e o perigo de se sair acusando outras pessoas, a discussão, quando ela existe, é muito superficial. No último episódio também fala por poucos minutos e termina de modo muito aberto e sem se debater ou se aprofundar a respeito de um tema muito importante que é o de como os grupos de discussão acabaram ajudando o assassino a ficar popular, pois por discutir seus assassinatos acabaram por divulgar seus atos, e esse debate a respeito de como um ato cruel pode receber mídia gratuita pela internet e pela mídia, e isso não é algo que é aprofundado pelo documentário.
Don't Fuck With Cats é um ótimo trabalho documental que aborda os vários lados de uma mente humana desestruturada e frágil, e até onde uma pessoa vai para conseguir alcançar os seus objetivos. Todos os lados são bem explorados, mas por ter apenas três episódios é bastante óbvio que nem tudo é bem discutido a fundo ou debatido com a complexidade necessária, ou até mesmo estudado como se deveria ou se imaginava. O foco da série é apenas o de investigar e o de apresentar o caso para as pessoas que não sabiam ou que desconheciam tal fato cruel e sórdido. O lado sombrio dos seriais killers continuará a ser terreno fértil a ser explorado pelas produções cinematográficas e televisivas, e que seja feito nos mesmos moldes que o belo trabalho criado por Mark Lewis.
Don't F**k with Cats: Hunting an Internet Killer (idem, EUA – 2019)
Direção: Mark Lewis
Roteiro: Mark Lewis
Elenco: Deanna Thompson, Claudette Hamlin, Antonio Paradiso, Anna Yourkin
Gênero: Documentário, Crime, Mistério
Duração: 50 (cada episódio)
https://www.youtube.com/watch?v=x41SMm-9-i4
