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Críticas

Crítica | Águas Rasas

Jaume Collet-Serra vem em uma boa fase nos cinemas americanos. Aliás, ele é um dos melhores exemplos de diretores que têm péssimas estreias de carreira, mas que, de bico fechado e com muito estudo, conseguem fixar carreira em Hollywood até realizarem bons filmes. Collet-Serra surgiu com o deplorável, péssimo A Casa de Cera, um filme de 2005 que certamente entra na lista dos piores que vi na vida.

Porém a recuperação foi rápida. Três anos depois, ele trouxe A Órfã, um empolgante thriller de suspense que certamente é um de seus melhores filmes. Nisso, fez dois longas de ação com Liam Neeson sendo Noite Sem Fim o ápice de sua carreira. Agora com Águas Rasas, é possível afirmar que o diretor cresceu e conseguiu manter boa qualidade em suas obras.

Nancy resolveu tirar um período sabático em sua vida agitada como estudante de medicina. Para homenagear sua mãe, falecida há pouco tempo, ela parte para uma praia secreta na costa mexicana onde seus pais costumavam surfar. O cenário paradisíaco, deserto e sereno é fantástico no começo do dia. Porém, quando o sol começa a se pôr, uma ameaça gigantesca surge e ataca Nancy: um tubarão branco. Mesmo ferida, ela consegue chegar em uma diminuta ilha de rochas no meio do oceano. Lá, ela terá que enfrentar todos os perigos vindos de seu ferimento e ficar atenta ao tubarão que ronda sua ilha a todo o momento até encontrar alguma maneira de retornar à praia em segurança.

O roteiro de Anthony Jaswinski escolhe rumos menos óbvios para um filme de ataques de tubarão. Ao contrário de Mar Aberto, longa de situação muito similar à de Águas Rasas, Jawinski aposta muito na força de sua personagem Nancy. Logo, de modo inteligente e bem-humorado, o roteirista oferece um bom momento de exposição para situar a motivação da protagonista.

Já ali, ele situa bons elementos através do uso de redes sociais e aplicativos de smartphones. Após uma primeira sessão de surfe onde também ocorre outra interação da personagem com outros coadjuvantes, se estabelece um conflito secundário que torna a surfista bem mais complexa, além de justificar diversas ações que ela toma após o ataque do tubarão.

Quando finalmente o tubarão entra em cena, boa parte do desenvolvimento humano é deixado de lado, afinal todos os esforços se concentram no jogo da sobrevivência. O maior ganho do roteiro é definir uma lógica interna fantástica para a rotina de Nancy em cima da rocha. Enquanto ele sucede bem ao estabelecer as medidas da protagonista para sobreviver, além de delinear os perigos como insolação, desidratação intensa, necrose dos ferimentos, febre, hipotermia, os horários de maré alta e baixa e as rondas do tubarão obcecado, o roteirista exagera na dose da exposição ruim quebrando a todo momento o silencio do solilóquio de Nancy.

Para justificar tantas vezes que a personagem fala consigo mesmo, até insere uma gaivota ferida na mesma rocha rendendo alguns momentos de leveza em meio a tanta tensão e desespero. Talvez, o único verdadeiro porém do longa, seria a inteligência por vezes muito avançada do tubarão. De resto, as saídas para o conflito até o clímax são muito bem inseridas encaixando elementos novos para o espectador não cair no marasmo durante o filme.

Com um texto bastante satisfatório, Jaume Collet-Serra consegue fazer bonito na direção do filme, exceto logo na primeira sequência. Como o roteiro usa o auxílio de redes sociais para definir quem é Nancy, Serra sempre insere caixinhas virtuais ao lado dos atores enquanto eles interagem com fotos ou vídeos. A primeira sequência se concentra em uma camionete que segue até a praia secreta onde Nancy e o motorista conversam.

Como em todas as cenas que se passam dentro de carros, a quebra de eixo de direção é normal por conta do jogo do campo e contracampo. Ou seja, ora o carro vai para a direita da tela, ora para a esquerda. Seguindo um jogo de decupagem infeliz por se concentrar em close ups durante essa conversa, além de encaixar nos mesmos planos as telinhas virtuais, o diretor joga toda a atenção para essa quebra de eixo já que os quadradinhos ficam mudando de lado no enquadramento a cada novo plano. É feio, é amador e gera confusão visual.

Após esse grande tropeço no começo, o diretor toma as rédeas e capricha bastante no resto do filme. Já na primeira grande sequência de surfe, ele consegue realizar uma ótima metáfora de montagem ao mudar os planos de superfície que acompanham a ação, para os subaquáticos mais contemplativos. Toda vez que estamos na superfície, sempre há presença de música que, por sua vez, some, quando nos planos submersos. Infere que a ameaça invisível e despercebida já está presente enquanto a protagonista se diverte com o surfe. Não muito delicado, mas eficiente.

A mesma qualidade segue quando finalmente o tubarão surge. Para isso, ele aproveita praticamente quase todos os planos possíveis para realizar em um filme desses. Logo, a linguagem visual é bastante rica e diversificada. Até mesmo há algumas mudanças de ponto de vista necessárias para a melhor compreensão de algumas passagens. Aliás, o campo de cinematografia brilha bastante conseguindo resultados fantásticos para tomadas submarinas. O mesmo ocorre com o uso adequado das cores para refletir os estados de espírito da protagonista. Novamente, não é à toa que clímax do longa se dê debaixo de forte tempestade.

Dominando bem o campo visual, fazendo algumas montagens videoclipadas para as cenas de surfe, Collet-Serra soube entender bem o tipo de filme que faz. Águas Rasas é, intrinsicamente, um filme de sobrevivência. E como toda obra desse tipo, a montagem tem que ser eficiente para transmitir o momento de marasmo necessário. Fora isso, há todas as outras dicotomias clássicas presentes em filmes de náufragos como a grande ironia da sede – afinal a personagem está cercada por água.

Também não funcionaria bem caso não nos importássemos com a protagonista. Por competência, Blake Lively consegue segurar bem o longa com momentos de horror e determinação. Além disso, o paralelo criado entre o passado da mãe da personagem com a sua luta pela sobrevivência ser competente. Collet-Serra confia tanto em sua atriz que até realiza um plano hitchcockiano que aposta na reação de horror da expressão de Lively ao presenciar uma cena bastante grotesca.

Com absoluta certeza, Águas Rasas é um dos melhores longas que exploram esse tema de ataques de tubarão. Seu roteiro consegue criar laços competentes para a personagem, elaborar planos de sobrevivência críveis, além de firmar bem a figura antagônica do tubarão. O mesmo se dá com Collet-Serra através da linguagem visual rica e das boas metáforas. A ação é igualmente competente, assim como o senso de urgência que ele traduz em sua montagem acertada. Até mesmo a maquiagem e o departamento de efeitos visuais impressionam muito – o tubarão só fica artificial em tomadas aéreas que capturam sua silhueta cafona.

Não há muito erro com esse filme. Se é fã desse tema e de cinema de horror competente, é a escolha mais adequada.

Águas Rasas (The Shallows, EUA, 2016)

Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Anthony Jaswinski
Elenco: Blake Lively, Óscar Jaenada, Brett Cullen, Sedona Legge, Pablo Calva, Janelle Bailey, Sully Seagull
Gênero: Suspense, Terror 
Duração: 86 min


by Matheus Fragata

Crítica | Café Society

Mantendo sua marca insuperável de lançar um novo filme por ano, é de se questionar como Woody Allen consegue bolar tantas ideias. Na verdade, nem isso, já que seus filmes trazem o grave problema de repetir temas, situações e estereótipos, mas não deixa de ser notável que já esteja na pré produção de um longa enquanto completa outro. É até difícil como crítico pensar em introduções a cada novo filme do diretor, mas aqui estamos com Café Society, que traz praticamente tudo o que podemos esperar de um filme de Allen.

Mais uma incursão de Allen a produções de época, a trama é situada nos anos 30 e logo nos apresenta a Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), um jovem rapaz do Bronx que sente a necessidade de expandir seus horizontes e parte para tentar a sorte em Los Angeles, onde seu tio Phil (Steve Carell) gerencia uma influente agência de atores e atrizes de Hollywood. Sozinho na cidade, Phil designa sua secretária Vonnie (Kristen Stewart) para introduzir Bobby nessa chamada "alta sociedade" (o café society do título, no caso) ao passo em que o jovem rapidamente se apaixona pela moça.

Temos aqui exatamente aquilo que se espera de um filme de Woody Allen. Um protagonista um tanto inseguro e desiludido, romances entre homens de meia idade e moças mais jovens, inserções filosóficas repentinas, um jazzinho básico na trilha sonora e a presença da cidade favorita do diretor, Nova York. E, por grande parte da projeção, Café Society funciona como uma narrativa encantadora e despretensiosa quando centra-se na jornada de Bobby. Mesmo que rodeada de temas que Allen já tenha explorado antes (e de forma superior), o tempo gasto ali compensa pelo carisma de Jesse Eisenberg, que mostra-se novamente bem à vontade com o texto e os trejeitos criados por Allen. Porém, me impressionei pelo lado mais sagaz e ousado do personagem, algo que não normalmente associaria à postura mais introspectiva de Eisenberg.

Os diálogos entre Bobby e Vonnie trazem mais insights de Woody Allen sobre a indústria de Hollywood, piadas antiquadas de medo comunista e, claro, sua criação como judeu. Allen é um mestre nessa arte, e as conversas entre o casal protagonista são divertidas, muito em parte à química de Eisenberg com a eficiente Kristen Stewart. Vale destacar também as inúmeras referências a astros e produções hollywoodianas da época, a maioria delas saída do Phil de Steve Carell; outro muito à vontade em seu papel, novamente dosando seu timing cômico em meio ao drama com impressionante habilidade.

Os problemas começam quando nos deparamos com a verdadeira bagunça estrutural que é Café Society. Além de uma elipse temporal abrupta cujo efeito nunca sentimos por completo, o roteiro de Allen traz diversos personagens e subtramas que parecem estar ali apenas para preencher tempo de projeção. Por exemplo, os núcleos da irmã Evelyn (Sari Lennick) e do gângster Ben (um divertidamente canastrão Corey Stoll) são divertidos e trazem suas doses de bons momentos, mas são completamente avulsos à trama central, seja na ligação com eventos ou conexão temática. Simplesmente estão ali, mas, novamente, rende bons momentos como a montagem sobre a vida criminosa de Ben onde conhecemos o lado "Goodfellas" de Woody Allen. Porém, ao mesmo tempo, nos perguntamos se é realmente necessário acompanharmos flashbacks sobre a infância de tais personagens enquanto estamos no meio dessa montagem...

Ainda somos torturados com cenas completamente descartáveis em que os pais do protagonista (vividos por Jeannie Berlin e Richard Portnow) discutem sobre a existência de vida após a morte em outras religiões e um narrador pontual (o próprio Allen) que não oferece muita relevância aos eventos. E pior, a personagem de Blake Lively é tristemente descartada e subaproveitada após sua introdução tardia no segundo ato, sendo que sua presença ofereceria um peso maior e mais interessante aos dilemas de Bobby - especialmente por compartilhar do mesmo nome da personagem de Kristen Stewart, e eu podia jurar que Allen fosse investir em uma obsessão ao estilo Um Corpo que Cai. Tristemente, ele se ateve ao básico.

No quesito técnico, temos de fato algo a tomar nota. Pela primeira vez em sua carreira, Woody Allen rodou um filme no formato digital, e essa mudança é perceptível logo nos segundos iniciais, quando vemos a beleza das cores nítidas e limpas de uma piscina luxuosa, o que separa Café Society de quase todos seus filmes prévios. E claro, temos a presença de Vittorio Storaro, lendário diretor de fotografia de clássicos como Apocalypse Now, O Último Imperador e Reds, que entra no posto outrora comandado por Darius Khondji para pincelar um dos filmes mais belos da carreira do diretor.

Os anos 30 nunca estiveram tão lindos quanto nas lentes de Storaro, que traz uma paleta de cor quente e vibrante, rendendo momentos plasticamente lindos como o passeio de Bobby e Vonnie pelo Central Park, uma tomada de um crepúsculo sob o rio Hudson e um maravilhoso jantar totalmente à luz de velas que revela-se um momento crucial da narrativa. Gosto dos pequenos detalhes que outros profissionais não teriam tanto cuidado, como o fato de termos - em dois momentos - cenas em que Bobby e Vonnie têm um encontro e uma nítida luz amarela ilumina o rosto de Eisenberg, claramente expondo a paixão que seu personagem sente pela companheira, que traz uma iluminação natural e indiferente, refletindo a própria natureza da personagem e a situação na qual se encontra - Vonnie tem um complicado relacionamento, mas isso seria um spoiler pesado. Fico feliz que Storaro já esteja confirmado como diretor de fotografia do longa seguinte de Allen.

O design de produção de Santo Loquasto também é digno de nota, com um cuidado estético fascinante nas chiquérrimas e luxuosas locações a que somos apresentados à medida em que a narrativa avança. Desde a imponente residência de Phil, que sempre parece diminuí-lo e oprimi-lo através de paredes fechadas e os enquadramentos que o colocam no canto da tela, o aconchegante buteco mexicano onde Bobby e Vonnie têm um de seus primeiros encontros até toda a decoração e composição do clube noturno de Ben, que vai logo se tornando o centro da alta sociedade - sendo curioso notar os diferentes tipos de tecidos e bancos que encontramos ali, em uma mistura que quase torna o retrato dessa classe de personagens caricaturiais e sem identidade. E fique apenas a menção da belíssima festa de Ano Novo que encerra o longa, onde os confeites e fitas coloridas que caem do teto oferecem ainda mais imagens belíssimas.

Café Society traz um Woody Allen seguro e sem grandes inovações temáticas, já que a trama oferece uma reciclagem de histórias já contadas pelo cineasta em seus anos de glória. Vale pelo clima descontraído e o impressionante quesito técnico, que torna este um dos mais charmosos e elegantes filmes de Allen.


by Lucas Nascimento

Crítica | Crepúsculo dos Deuses

Um dos filmes mais polêmicos e amados da velha Hollywood, Crepúsculo dos Deuses, dirigido e roteirizado pelo excelente diretor Billy Wilder já mostra a que veio logo no início do filme. Essa obra prima cinematográfica procura criticar o método de Hollywood fazer cinema e tratar seus funcionários. Com uma trilha de arrepiar composta por Franz Waxman eis que somos mostrados a avenida onde ocorreu “um assassinato que você provavelmente ouvirá falar no radio, na televisão ou lerá no jornal pois uma estrela das antigas está envolvida, uma das maiores. ”. Com uma vista panorâmica de toda a rua, vemos carros chegando, detetives e pessoas da imprensa para investigar o que foi que aconteceu.

Pouco depois o filme volta no tempo e somos apresentados ao protagonista, Joe Gyllis, interpretado por William Holden, um roteirista endividado, prestes a perder seu carro, coisa que não pode ocorrer de jeito nenhum pois seria o mesmo que perder as duas pernas. O filme mostra logo depois uma entrevista que o roteirista tem com o produtor, Sheldrake (Fred Clark) muito interessante pois podemos conhecer mais do universo de Hollywood. Aqui conhecemos também Betty Schaefer, que trabalha no departamento de leitura, que não gostou do roteiro apresentado por Gyllis e comenta isso com o produtor com Gyllis ali, sem perceber que ele era autor, isso cria um atrito entre esses dois personagens muito interessante que é muito bem desenvolvido ao longo do filme.

Mas o filme começa mesmo assim que Gyllis fugindo dos cobradores, tem um pneu estourado e tem que achar algum lugar para esconder o carro, ele acha uma garagem aparentemente abandonada, mas na verdade é a garagem da mansão de Norma Desmond (Gloria Swansom) uma atriz que estava muito em alta na época do cinema mudo, mas na nova era do cinema, com diálogos, música e cor ela foi praticamente esquecida.

 Swansom dá um show de atuação, acredito que pelo fato de ela estar passando pela mesma situação da personagem (a atriz também era uma personalidade do cinema mudo que desapareceu por um bom tempo) pode ter ajudado a se relacionar. No início ela passa uma sensação de uma pessoa decidida, que sabe o que quer e lutará até o fim para consegui-lo, mas aos poucos se mostra uma pessoa solitária, infeliz e por vezes insegura e que guarda no fundo de sua alma a pior de todas as depressões. Desmond é acompanhada de seu mordomo, Max Von Mayerling (Erich Von Stronheim), que descobrimos ao longo da trama que tem grandes segredos. O ator passa muito bem o quanto o personagem se importa com Norma e faz tudo ao seu alcance para garantir seu bem-estar.

Gyllis é confundido com um funcionário de funéria no inicio, Desmond mostra a ele um macaco, seu bichinho de estimação que ela gostaria de enterrar, essa cena é um simbolismo indicando que Gyllis seria seu novo “bichinho de estimação”. Após Desmond descobrir que Gyllis é um roteirista ela o convence a se hospedar em sua mansão e ajudá-la a reescrever um roteiro que ela planeja há muito tempo chamado Salomé, querendo que Cecil B. Demille dirija. Assim antes que perceba, Gylis está preso naquela mansão, preso a Desmond, como é mostrado simbolicamente em uma cena que Gyllis fica de saco cheio e tenta sair, mas a corrente da roupa fica presa na porta.

Começa um relacionamento entre Gyllis e Norma que se apaixona perdidamente por ele. Logo esse relacionamento se torna um triangulo, ou melhor, dizendo, um quadrado amoroso já que Gyllis conseguindo fugir algumas noites encontra-se com Betty Schaefer que está noiva de Artie Green (Jack Webb), um diretor assistente. Na ausência de Artie, Gyllis e Betty vão se aproximando cada vez mais, num romance que a meu ver está mais para um elemento secundário do filme, mas que funciona muito bem, pois os dois atores têm uma certa química que é impressionante.

Há uma cena em que Norma Desmond diz a icônica frase “Eu sou grande, os filmes é que ficaram pequenos”. Desmond é a maior crítica que esse filme faz a Hollywood em geral, o esquecimento, a depressão que se segue após isso, a vontade e a crença de que voltará a ser amada pelas pessoas é o que a motiva a viver, ela está a todo momento implorando por amor. Em outra cena, ela está no estúdio da Paramount observando a gravação de um filme de Cecill B. Demille (Interpretado por ele mesmo) quando é reconhecida por um dos operadores de luz que a cumprimenta e coloca a luz em direção a ela, as pessoas no set a reconhecem e “a veneram” assim ela tem o seu momento de glória, certamente um dos momentos mais felizes da personagem, cena muito bem construída que deixa bem claro que ela vive uma ilusão.

É interessante perceber que o real tema do filme é o oportunismo, todos os personagens são oportunistas, O protagonista do filme, por exemplo, tem uma moral questionável, se aproveita de Norma Desmond (Ela por sua vez faz o mesmo) e ainda “rouba” a noiva de seu amigo Artie. Pessoas oportunistas estão presentes em todas as linhas de trabalho e não duvido que na indústria cinematográfica se faça presente, pois é um trabalho muito ligado ao orgulho e a vaidade. O filme envelheceu bem, pois os problemas nele apresentados não desapareceram, pelo contrario, só se agravaram.

Billy Wilder que era conhecido por seguir o roteiro sem dar espaço nem para que seus atores improvisem, sentiu-se forçado a cortar uma cena do filme que se passaria em um necrotério, mas essa mudança foi claramente para melhor, pois tivemos a instigante abertura que felizmente foi para o produto final. Talvez algumas pessoas considerem que o único defeito neste filme é a previsibilidade, mas o filme em nenhum momento tem a intenção de esconder qualquer coisa do espectador, tanto é que já começa pelo final já mostrando o destino do personagem principal.

Sem mais delongas o filme tem direção, roteiro, atuações e trilha impecáveis somados ao tema relevante que aborda não merece menos que a nota máxima.


by Daniel Tanan

Crítica | Ben-Hur (2016)

Refazer um dos longas considerados como o maior feito do cinema americano é uma tarefa para poucos – algo que certamente a Paramount arriscou muito ao indicar Timur Bekmambetov na direção deste longa. O clássico épico de 1959 brilha com suas três horas e meia de duração para contar a grande história de Judah Ben-Hur. Já com os remakes sendo vistos com maus olhos, do elenco pífio, da redução de uma hora e meia na projeção e com um diretor para lá de duvidoso, algo salva nessa readaptação do clássico? Por incrível que pareça, o filme tem seus méritos.

Obviamente, os roteiristas ainda se baseiam no livro homônimo de Lew Wallace, mesmo que seja uma interpretação bastante livre no começo. Explorando uma passagem que antecede a história do filme de 1959, acompanhamos a juventude de Judah Ben-Hur e de Messala, seu irmão adotivo. Apaixonado por Tirzah, irmã de Ben-Hur, Messala, sabendo das diferenças de parentesco, nacionalidades e de classe social, decide partir para Roma a fim de fazer parte das legiões romanas em campanha para alcançar o prestígio necessário para um casamento.

Anos depois, Messala retorna à Judeia para conquistar o coração de sua amada, entretanto, tudo dá errado quando Pôncio Pilatos sofre um atentado justamente na rua da casa de Ben-Hur. Conhecendo a sede de sangue de Pilatos, Messala condena toda a família Hur à escravidão. Vivendo por quase uma década nas galés, Ben-Hur jura vingança à Messala por ter destruído sua vida e sua família.

O longa ganha e perde diversos pontos com as comparações ao clássico de William Wyler, porém, até mesmo em sua estrutura relativamente simples, consegue tropeçar ao burocratizar algumas passagens. A escolha de acompanhar uma dinâmica familiar entre Ben-Hur e Messala certamente é um dos pontos altos do filme, mesmo que se valha de clichês já há muito ultrapassados, além de pesar a mão na típica psicologia do oprimido – que se torna agressor, gradativamente – e abusar muito da exposição gratuita para fazer o espectador entender o emaranhado de personagens.

Justamente, por cortarem uma hora e meia de desenvolvimento textual, essa relação acaba prejudicada graças à pressa que o diretor conduz o longa. Todavia, é inegável que se trata de uma sequência inicial competente para estabelecer diversos conflitos, relações, motivações, ideologias e personagens – mesmo que quase tudo isso não seja desenvolvido apropriadamente.

Graças a essa grande pressa do primeiro ato, introduzindo elementos além da conta, diversas atitudes de Judah acabam não fazendo o menor sentido, pois contradizem suas palavras a todo momento. O personagem é ao mesmo tempo egoísta e altruísta, pessimista e otimista, uma verdadeira bagunça – no filme de Wyller, todos os personagens são muito bem resolvidos.

Além de todo esse grande problema envolvendo a família Hur e Messala, os roteiristas ainda tentam inserir o núcleo dos zelotes, uma seita que se rebela contra a dominação romana e de suas campanhas de expansão. Ainda, nisso, há alguma discussão sobre o papel romano civilizatório e da alienação promovida pelo “pão e circo”, elementos ausentes no filme de 1959. Seria ótimo, caso não fosse apenas uma muleta de roteiro para justificar o destino da família Hur, além de ser um núcleo apressado que aparece, some e reaparece do nada. Ao menos, no clímax do longa, os roteiristas conseguem criar um retrato cômico explorando toda a hipocrisia de grupos que seguem “fortes” ideologias.

Infelizmente, o texto da dupla de roteiristas passa a contar muito com o acaso e na simplificação dos personagens na segunda metade do filme. Ben-Hur vira um retrato ambulante do ódio e da vingança, sua esposa Esther reaparece na trama com facilidade, além de diversos outros acontecimentos importantes surgirem espontaneamente sem a menor conexão narrativa necessária para fazerem sentido. Messala também se torna uma figura antagônica muito simplificada perto do conflito e da introdução que eles haviam apresentado no início do longa.

Entretanto, nenhuma das rasas situações e da pressa inabalável da segunda parte consegue superar a tremenda mediocridade que banha o apressado epílogo que é totalmente diferente da versão de 1959. Atende um chamado utópico e da necessidade contemporânea de finais açucarados para blockbusters. Ou seja, sim, o filme perde parte da essência da mensagem do clássico.

Porém ainda se trata de “um conto de Cristo”. Dessa vez, abandonando a sutileza de Wyller em tornar Jesus uma figura quase ausente em 1959, Bekmambetov usa o personagem de modo mais incisivo tendo maior participação na história. Ainda há as passagens clássicas dos encontros de Ben-Hur com Jesus, porém o primeiro contato serve apenas para mostrar a descrença de Judah nas palavras do filho de Deus – algo que, novamente, não casa com as decisões do protagonista nos momentos decisivos.

Ao longo do filme, outros relances de cenas com a participação de Cristo surgem, além de outros personagens do filme orbitarem a importância de sua figura. Aliás, alguns conflitos também têm origem por conta dessas novidades. Mesmo que interessantes, é curioso como tudo se resolve em passes de mágica, sem a menor vontade ou esforço do time roteirista, além da filosofia do desapego que os personagens parecem seguir – principalmente entre Esther e Judah.

É evidente que Timur Bekmambetov não é nenhum William Wyller. Contando apenas com o bom O Procurado e o abismal Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros como grandes projetos, a escolha de seu nome não poderia ser mais inusitada e bizarra, afinal Ben-Hur deveria ser um projeto para diretores mais contemplativos, de bons dramas, fugindo bastante da vertente da ação descerebrada de Bekmambetov.

Dito e feito, enquanto as duas grandiosas sequências de ação brilham e marcam os pontos altos desse filme, todo o necessário desenvolvimento das cenas dramáticas falha miseravelmente. A abertura do filme já sofre com o estilo frenético de decupagem repleto de shaky cams, as famosas câmeras tremidas em seu próprio eixo. Bekmambetov, nesse primeiro segmento, também tem uma mania bizarra de enquadrar elementos totalmente alheios à ação da cena para fazer um falido ponto de corte.

Nesse ritmo intenso de decupagem e bombardeio visual, raramente Bekmambetov segura os planos do longa por mais tempo gerando algum momento de contemplação – mesmo que o filme exija isso. Toda a elegância cinematográfica, a escala colossal dos enquadramentos fantásticos auxiliados pelo filme Super 70, o ritmo memorável de diversas cenas do clássico de 1959 se perdem nas mãos do remake.

Entretanto, quando finalmente as duas grandiosas sequências de ação aparecem, Timur Bekmambetov consegue mostrar o que faz de melhor. Toda a sequência das galeras é visceral, com tons adequados da fotografia, além da escolha muito interessante de diversos pontos de vista que o diretor utiliza para construir o primeiro ponto alto de seu filme. É particularmente muito interessante a escolha de toda a ação externa, das guerras entre as galeras, nunca ser mostrada devidamente. Acompanhamos tudo a partir dos porões onde os escravos são confinados aos remos. O resultado final é absurdamente fantástico.

A histórica sequência do clímax, da corrida das bigas de William Wyller ainda se sustenta até hoje. O ritmo da montagem é adequado, a ação é estupenda, a decupagem perfeita e os efeitos visuais impressionantes. Talvez, somente por ela, já renderia os merecidos onze Oscar. Logo, a expectativa para ver como essa mesma sequência seria feita em 2016 e todo o poderio tecnológico possível era imensa.

Como o trabalho de Wyller é plasticamente perfeito, Bekmambetov consegue, ao menos, criar uma sequência tão boa quanto. O diretor recusou os efeitos visuais e apostou na exuberante quantidade cavalos reais em cena. É uma grandiosa cena que merece ser vista na melhor tela possível – indico o IMAX. O diretor fez o sequenciamento visual de modo excelente, respeitando as lógicas do jogo. Ainda temos os cavalos pretos de Messala correndo contra os cavalos brancos de Ben-Hur.

A tensão é envolvente, a violência continua a impressionar, os efeitos sonoros e de mixagem, impecáveis. A sequência do remake não deve nada para o clássico de 1959. Enquanto Bekmambetov impressiona com a ação estupenda do longa, ele praticamente esquece o trabalho com o elenco que é verdadeiramente péssimo.

O protagonista, Jack Huston, até que consegue segurar o filme, mas também parece perdido com as decisões incoerentes que Ben-Hur toma a todo momento. Rodrigo Santoro faz Jesus no piloto automático apostando em olhares caramelizados e expressões de serenidade. Já Toby Kebbel tem a pior performance com Messala, um personagem que exige atuações fortes que o ator não entendeu muito bem. Dos coadjuvantes, Pilou Asbaek é o pior com seu tosco Pôncio Pilatos. Assim como Santoro, Morgan Freeman reprisa papéis anteriores mantendo apenas uma postura mais austera com seu Ilderim.

O novo Ben-Hur funciona perfeitamente bem apenas como entretenimento descartável e comum, apesar de suas duas sequências de ação espetaculares. A pressa em contar uma história gigantesca prejudicou toda a narrativa deste remake que busca modernizar ao inserir diversos temas que não eram abordados na versão de 1959.

Com toda essa pressa, eventos que atropelam uns aos outros, além das soluções arbitrárias dos roteiristas, a grandiosa jornada de Judah Ben-Hur toma ares de telenovela, sem impressionar ninguém com seu desfecho açucarado. Se tivessem levado o projeto mais à sério, tendo escolhido nomes verdadeiramente importantes para conduzir o filme, talvez teríamos um clássico moderno e não apenas esse bom filme que somente se sustenta graças a força do livro de Lew Wallace e de suas grandiosas cenas de ação.

Ben-Hur (idem, EUA – 2016)

Direção: Timur Bekmambetov
Roteiro: Keith R. Clarke, John Ridley e Lew Wallace (Livro)
Elenco: Jack Huston, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Nazanin Boniadi, Ayelet Zurer, Pilou Asbæk, Sofia Black-D'Elia, Morgan Freeman, Marwan Kenzari
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Duração: 123 min.

https://www.youtube.com/watch?v=uefsSKX2YkM

 


by Matheus Fragata

Crítica | Quando as Luzes se Apagam

Ao lado do segmento infantil, em uma ponta, e do adulto, em outra, o gênero de terror tem sido uma aposta relativamente certeira para produtores dispostos a seguir a cartilha básica da tradição, que manda reunir atores baratos e despesas controladas a fim de, mesmo não figurando entre as maiores bilheterias do ano, um lançamento bem-sucedido possa se pagar e ainda retornar algum lucro para o estúdio.

Para o teórico do roteiro Robert McKee, o grande gênero de terror subdivide-se em pelo menos três categorias: filmes de mistério (onde a trama tem explicação racional possível), filmes sobrenaturais (onde a trama busca explicação fora do mundo físico conhecido) e o que ele chama de “supermistério” (quando o espectador adivinha qual das possibilidades é a correta para o enredo). Embora sensata, tal divisão não dá conta das habituais variações que a indústria tem explorado, criando estilos ou subgêneros específicos que também não são complicados de identificar.

Como produzir cinema não é fazer contas aritméticas com resultados exatos o tempo todo, os filmes em si costumam oscilar entre pulsões originadas desses subgêneros. No caso do cinema de terror, tais pulsões podem vir da tradição de “filmes de fantasma” (mormente baseada em contraposições como ver-não ver e som-silêncio); do gore (onde a violência gráfica é determinante); do desenvolvimento tecnológico das ferramentas de composição (filmes com efeitos visuais elaborados em computador); entre outras.

Quando um mesmo filme mistura de forma relativamente desordenada essas pulsões, o resultado pode ser confuso na cabeça do espectador e certamente poluído na tela. Este é o caso de “Quando as Luzes se Apagam”, lançamento da Warner a partir de um curta-metragem cujo conceito (usando a luz de cena para criar um jogo de gato e rato dentro da trama) não é exatamente original (“O Mistério da Rua Sete”, de 2010, e “A Hora da Escuridão”, de 2011, já lançavam mão de premissas semelhantes).

Exigir originalidade de qualquer filme em 2016 (e 2015, e 2014, e 2013, etc.) pode ser uma demanda quase impossível de ser atendida, mas há sempre na audiência o desejo de que o universo com o qual se vai relacionar em duas horas (ou, neste caso, menos) de projeção tenha princípios que guardem mínima coerência interna, de modo que quem assiste possa participar sabendo quais regras estão valendo. Em outro filme do mesmo gênero, por exemplo (“O Sono da Morte”, também de 2016 e que também mostra uma criatura atormentando uma criança que não consegue dormir), este problema torna-se quase insuportável ao usar o expediente habitual dos “sonhos” para justificar qualquer coisa que possa aparecer: depois da segunda ou terceira vez em que o recurso é repetido, o espectador entedia-se ao perceber que o próprio filme não segue regra alguma, e simplesmente tudo que for mostrado terá algum tipo de correspondência na (in)coerência da trama.

No caso de “Quando as Luzes se Apagam”, as regras estão bem definidas (o que estimula a identificação de quem assiste), mas a miscelânea de subgêneros presentes evidencia a falta de uniformidade do produto final (repetindo, decorrente de uma premissa revelada num curta-metragem).

No enredo, eventos de natureza desconhecida e que estão perturbando a vida escolar do pequeno Martin (Gabriel Bateman) trazem de volta ao núcleo familiar sua irmã mais velha Rebecca (Teresa Palmer, atriz australiana que parece uma versão surfista de Kristen Stewart), levada por sua vez a enfrentar a mãe neurótica (Maria Bello), que parece esconder algum segredo do passado e que volta e meia aflige os filhos em forma de uma aparição sobrenatural de nome “Diana”.

A quantidade de referências presentes pode ser atordoante ao apreciador do gênero. Os manequins remetem a um célebre episódio da série “Além da Imaginação” (The After Hours). A “criatura” lembra desde alguns clássicos recentes do cinema japonês até mesmo o alienígena de “Sinais” (2002). A protagonista é uma releitura da personagem de Jessica Chastain em “Mama” (2013). Alguns conflitos familiares e a construção da biografia de Diana remetem por sua vez a “O Chamado” (2002). Os olhos de Diana lembram “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (2011), e assim por diante.

Esteticamente, a maior fraqueza do filme é exatamente tentar equilibrar-se, por exemplo, entre pulsões estranhas, querendo ao mesmo tempo ser um filme de elegantes contraposições (a mais óbvia delas é entre claro e escuro) ao mesmo tempo que impressiona com violência gráfica (sangue) e alguns efeitos visuais (econômicos, mas presentes). Este é um balanço complicado de ser atingido e é talvez por isso que alguns dos melhores filmes de terror já feitos (desde “A Bruxa de Blair”, de 1999, até “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”, de 2004), preferem concentrar-se numa abordagem mais uniforme, evitando embaralhar na cabeça do espectador que regras (não só de verossimilhança, mas até mesmo “visuais”) estão valendo.

O maior mérito do filme, por sua vez, não é exatamente sua premissa, mas a admissão na curta duração de que ela é insuficiente para preencher mais que 90 minutos de projeção. Quando o jogo proposto parece próximo ao esgotamento, o filme acaba, deixando eventualmente um gosto de “quero mais” e até mesmo uma porta aberta para continuações. Barato para o padrão dos grandes estúdios de Hollywood, “Quando as Luzes se Apagam” é quase um compacto com melhores momentos de diferentes subgêneros e estilos, tentando – tal qual um rodízio onde são servidas carnes, massas, pratos japoneses, saladas, pratos árabes, pizzas... – agradar a todo mundo, com fantasma, sangue, sustos, crianças e efeitos (talvez esta, também, uma admissão de que sua ideia inicial não fosse capaz, sozinha, de agradar muita gente).

N. E. (Matheus): apesar de ter gostado um pouquinho mais do filme do que nosso amigo Daniel, adiciono aqui que o filme também busca mecânicas vindas diretamente do game Alan Wake.


by Daniel Moreno

Crítica | Um Espião e Meio

Há poucas semanas, Shane Black revitalizou o subgênero do buddy cop com Dois Caras Legais. Não por mera coincidência que temos mais uma comédia destinada as histórias celebres constituída pela dinâmica de uma dupla de policiais. Com Um Espião e Meio, a Universal aproveita a pegada da proposta, mas subvertendo algumas características genuínas ao misturar formatos da comédia e até mesmo da técnica narrativa.

A história escrita por Ike Barinholtz, David Stassen e também pelo diretor do filme, Rawson Thurber, se vale de diversos clichês. Aliás, inicia com um. A vida de Calvin Joyner não foi o sucesso que ele esperava. A realidade de um trabalho maçante, pacato e irritante que ele odeia o acompanha para afogar quaisquer expectativas que ele possa vir a ter. Deprimido por ter perdido a alegria e altas esperanças sobre seu futuro de quando era uma estrela do colégio durante o ensino médio, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando um estranho colega de sala, Bob Stone o chama para sair.

Após um reencontro casual e a ótima surpresa ao descobrir que Bob era nada menos que o menino gordinho e esquisitão do colégio, Calvin se vê envolvido em uma trama de espionagem e perseguição de agentes secretos. A verdade é que Stone é um agente desertor da CIA e precisa da ajuda de seu antigo colega para conseguir decifrar um código que revelará o ponto de encontro para uma negociação de armas com potencial de destruir o mundo.

Como toda comédia que se preze, a narrativa de Um Espião e Meio move-se rapidamente. Mesmo se tratando de uma história bastante básica e previsível – é muito fácil deduzir suas vindouras reviravoltas, o filme se sustenta ao máximo a partir das performances de Kevin Hart e Dwayne Johnson esbanjando carisma e explorando sua verve cômica até então pouco aproveitada.  

Por incrível que pareça, a comédia aposta muito pouco no pastelão e sim nas referências de um universo exterior ao filme fazendo piada com outras obras como Jason Bourne e outros filmes de espionagem. Também por Aaron Paul ser presente no elenco, há uma ótima piada com seu personagem anterior, Jesse Pinkman de Breaking Bad.

Os roteiristas também acertam ao escolher poucos conflitos secundários para guiar a história. O principal drama se utiliza das suspeitas que Calvin têm das verdadeiras intenções de Bob. Tudo é reforçado com a utilização dos agentes da CIA que vestem a carapuça de antagonistas que a história necessita. Então há um jogo onde Calvin vira um agente duplo justamente por ter contato com Bob e com a agente da CIA que está o caçando. Como o protagonista não quer prejudicar a própria vida casual e quer manter a esposa em segurança, ele reluta em acompanhar Bob em suas aventuras.

Aliás, é justamente nesse aspecto no qual o roteiro sai do convencional ao apostar na reação realista de Calvin que ele toma caminhos um tanto burocráticos e fracos na comicidade. Isso inclui toda a relação do protagonista com sua esposa que é bastante rasa, além de utilizar situações clichês. O maior problema desse núcleo é que os roteiristas não fundamentam bem essa dita “crise” no casamento do protagonista. Os conflitos acontecem do nada.

Porém há outros problemas que tornam os personagens mais complexos como a dura realidade dos sonhos destruídos de Calvin e dos reflexos emocionais vindos do bullying que assombram Bob Stone. Nada fora do convencional, mas também não ofende. Ao menos enriquecem os personagens, além do diretor utilizar uma metáfora visual impressionante para um filme de comédia padrão.

Apesar do péssimo título nacional, Um Espião e Meio rende uma boa sessão ao cinema. A comédia funciona bem em sua maioria graças às piadas lotadas de referências a outras obras cinematográficas. Aposta em clichês, mantem o texto seguro na previsibilidade, mas também investe em reações realistas para qualquer cidadão que se encontrasse na situação de Calvin ao se deparar com um agente secreto. Como esperado, a dupla Hart e Johnson sustentam o filme de modo excelente garantindo boas risadas. Até mesmo a direção do longa tem seus momentos inspirados, apesar do modo bastante preguiçoso no qual o clímax é inserido.


by Matheus Fragata

Crítica | Batman - Ataque ao Arkham

Ironicamente, a infame formação de vilões comandados por Amanda Waller não apareceu pela primeira vez em um longa-metragem com Esquadrão Suicida, novo longa da DC dirigido por David Ayer. Na verdade, a trupe teve sua estreia com um filme animado do selo DC Animated. Sob uma formação diferente, o Esquadrão Suicida é protagonista de Batman: Assalto em Arkham. E, surpreendentemente, é um filme muito mais interessante que a nova aventura milionária com Will Smith e Margot Robbie.

Após Charada roubar segredos de governo em posse de Amanda Waller, a agente casca grossa coloca em prática seu infame projeto Força Tarefa X – a.k.a. Esquadrão Suicida. Antes que sua equipe paramilitar conseguisse matar Charada, Batman intervém e salva o vilão, o condenando para uma nova estadia no Asilo Arkham. Sabendo que as posses de Charada estão no inventário do manicômio, Waller manda Pistoleiro, Arlequina, Nevasca, KGBesta, Aranha Negra, Capitão Bumerangue e Tubarão-Rei, invadirem o Asilo Arkham para reaver seus planos. Enquanto isso, Batman revira Gotham procurando uma bomba que Coringa escondeu na cidade.

Como boa parte das animações DC, Assalto em Arkham sofre com as limitações da duração do filme e da linguagem bastante acelerada. Exatamente por isso, o roteiro de Heath Corson começa em alta velocidade. Em poucos minutos, a narrativa já engrena e avança rapidamente com diversas reviravoltas – algumas até imprevisíveis.

Obviamente, os personagens brilham pela interação muito afinada que Corson realiza entre diversos diálogos recheados de palavrões e violência – afinal se tratam de vilões. Em nenhum momento, há quaisquer indícios de cumplicidade entre eles. Por competência, mesmo se tratando de personagens desprezíveis, os diálogos acertados conseguem levar o filme adiante, além de um bom jogo de níveis de conhecimento de cada um deles acerca da missão no Arkham.

Nisso, Corson aposta muito mais em sua narrativa do que na construção dos personagens, afinal são muitos e o tempo é curto. Decisão acertada, mas que certamente empobrece o longa. Somente Pistoleiro e Arlequina recebem algum tratamento mais elaborado. Aliás, o conflito sobre o término do romance entre Arlequina e Coringa é escanteado no terceiro ato do filme. Uma pena, pois há elementos interessantes, inclusive a relação que ela possui com Pistoleiro.

Outro acerto do roteirista é o plano da invasão. Mesmo pulando a tradicional sequência de planejamento do golpe, Corson, ao nos jogar diretamente para a execução de um plano até que elaborado, cria uma sequência similar com a muito famosa de Onze Homens e um Segredo onde diversos integrantes do grupo dependem do sucesso da ação de um terceiro. É uma das partes mais divertidas do longa que poderia ter mais proveito criativo da direção-padrão de Jay Oliva.

Quando chegamos ao Arkham e o filme caminha para seu terceiro ato, Coringa faz parte da narrativa de modo mais ativo com sua ameaça de explodir Gotham. É um núcleo bastante descartável e bizarro, mas consegue injetar mais ação ao filme. Pena que toda a concentração narrativa envolvida com ele, Arlequina e Pistoleiro se resolve somente na porrada.

Ao fim do filme, Corson deixa a narrativa ainda mais acelerada ao introduzir com inteligência o Batman em Arkham. Com reviravoltas que acabam causando praticamente o colapso do manicômio, diversos vilões conseguem fugir de suas celas e parte para a briga. Ali, Corson que já demonstra não ter a menor piedade ao matar muitos personagens do filme, faz a festa com o restante do grupo.

É curioso notar como David Ayer buscou alguma inspiração em Assalto em Arkham para seu Esquadrão Suicida, tanto no texto quanto na direção de Jay Oliva e Ethan Spaulding. Desde o desfecho parecidíssimo do Coringa nos dois filmes até com a introdução dinâmica de cada um dos integrantes do esquadrão. Já o que tange a direção do desenho, Oliva realiza um dos seus melhores trabalhos. As cenas de ação empolgam, além de possuir qualidade superior à de outros filmes animados no que se refere à técnica de animação feita com mais cuidado.

Os cenários permanecem pouco inspirados e vazios com quase nenhum elemento interessante. Por ser um filme inspirado na série de games Arkham, o traço dos desenhos é bem mais encorpado, adulto, delineando os músculos e apostando nos detalhes dos uniformes de cada um. Infelizmente, os diretores desperdiçam completamente o sistema e a movimentação de combate que a Rocksteady criou para o Batman nos jogos. Aqui, certamente seria bastante interessante adicionarem a brutalidade do combate do game já que a temática do filme é bastante adulta contendo sexo, nudez parcial, sangue e mutilações – uma baita incógnita, aliás.

Batman: Assalto em Arkham consegue ser uma animação de melhor qualidade dentro do DC Animated. A atmosfera mais adulta e violenta consegue encantar quem procura muita ação e pouca história. Do pouco que possui, consegue sustentar o filme inteiro por conta da interessante relação entre os personagens, além de manter um ritmo excelente para boas reviravoltas. Uma pena que o formato limite bastante o filme, restringindo qualquer aprofundamento em seus personagens ou que força o desperdício de boas ideias, além do clímax se resolver sem maiores problemas graças ao exagero envolvendo Batman e seu poder. Ainda assim, é uma ótima dica de entretenimento. Rápido e fácil, consegue superar a qualidade inconstante de Esquadrão Suicida.


by Matheus Fragata

Crítica | Negócio das Arábias


Você já viu algum americano no deserto ouvindo a banda Chicago no som do carro. Você já viu Tom Hanks envolvido com negociatas entre emissários muçulmanos. Você já viu um ocidental típico render-se ao fascínio que a desolação ensolarada no norte africano exerce sobre os “povos civilizados”. Você já viu tudo isso antes, mas poderá ver mais uma vez, se decidir assistir a “Negócio das Arábias”, que não é – nem de longe – “Três Reis” (1999), “Jogos do Poder” (2007) ou “Lawrence da Arábia” (1962).

Filmes como este servem para nos lembrar de como a indústria cinematográfica precisa de um giro rápido que mantenha toda a cadeia produtiva em atividade: artistas, técnicos, publicistas, agentes, estúdios e exibidores, sucedendo projetos um atrás do outro para que a rede seja abastecida com títulos frescos a cada semana. Essa é, ao mesmo tempo, a beleza e a fraqueza do modelo como um todo. É resultado, pois, que celebra de maneira trôpega o gênio do sistema a que já aludiu o estudioso Thomas Schatz, aqui em momento de inspiração duvidosa.

Qual a finalidade de uma produção como esta, exceto manter tal roda girando? O que temos aqui é uma repetição banalizada de temas, personagens e cenários, com o agravante da agenda política hollywoodiana que permite (ou exige, melhor dizendo) reduzir situações complexas ao mínimo múltiplo comum aceitável pela indústria. Há muito em jogo: no caso, investidores do Oriente Médio, um alvo reconhecido dos produtores que precisam capitalizar suas produções caríssimas para – vejam só! – manter aquela estrutura lá de cima em movimento.

Um filme de origem norte-americana, mas dirigido por um alemão, passado na Arábia Saudita, como este, permite dotar o enredo daquela vaga atmosfera globalizada e multiculturalista – não sem, contudo, continuar desagradando à crítica que responde por reflexo a qualquer ruído em sua cartilha de leitura dos filmes, através da qual seguem determinados requisitos que guiam a análise (ainda que o preço seja achar no filme algo que não está lá, mas apenas na cartilha).

Em “Negócio das Arábias”, o executivo de vendas bostoniano Alan (Tom Hanks) viaja à Arábia Saudita tentando ao mesmo tempo salvar a grana para a faculdade de sua filha e o destino de sua empresa, que sofre com a perda de negócios para a concorrência chinesa. Inseguro e vítima de ataques de ansiedade, Alan tem dificuldade em encontrar seus contatos e adaptar-se à rotina de uma sociedade que não esconde ter regras muito particulares (e em grande parte do tempo desconhecidas) para fazer negócios e amigos (ou, eventualmente, amantes). Em sua vulgarizada jornada de autodescoberta, ele conta com o auxílio de alguns nativos, entre eles especialmente a doutora Zahra (papel de Sarita Choudhury).  

Alan é um norte-americano típico, fruto direto do capitalismo ocidental baseado em consumo e produtividade, que aos poucos é convertido por força das circunstâncias a uma perspectiva muçulmana (ou, ao menos, “árabe”) e idealizada da realidade que o cerca. O filme não reserva refinadas sutilezas para atingir tal objetivo e, mesmo assim, revela-se um desafio intransponível para aquela crítica agendada citada há pouco. Não, o filme não é “preconceituoso” com a Arábia Saudita: isto está na cabeça dos críticos, mas não na tela. Sem relevar detalhes fundamentais do roteiro, é preciso ressaltar que, momentaneamente dividido entre o mundo ocidentalizado e liberal representado pelo “núcleo dinamarquês” da trama (e sintetizado na personagem Hanne, vivida por Sidse Babett Knudsen), e o apelo quase primal, natural e inofensivo do mundo islâmico high tech (sintetizado por sua vez nos personagens do motorista pândego e da nada atraente médica nativa), ele opta seguramente pelo segundo. Onde está o preconceito, então?

A visão do filme é ácida com os ocidentais, reduzidos a adolescentes tardios, viciados e depravados – ou, na melhor das hipóteses, num Alan/Tom Hanks assexuado, hipocondríaco e ridicularizado, por exemplo, ao se esborrachar no chão ao menos três vezes durante a história, e em público – e bastante condescendente com os árabes. Qualquer visão mais crítica a respeito do sectarismo ou da violência institucionalizada é convertida numa espécie de segredo religioso, ao qual a trama não ousa tentar desvendar. Tykwer (também roteirista) não passa de um tolo reverente diante de uma sociedade imperscrutável que ele toca apenas na superfície (embora não se furte de enfiar até o cotovelo no pastelão ocidental), enquanto chuta o balde ao, por exemplo, ridicularizar a ameaça terrorista (no filme, substituída por um banzé de adultério) e obrigar o americano bobalhão a trocar a “boa e velha música da América” pela árabe, em outra cena na qual a sutileza é a verdadeira estrangeira.

O enredo gira em falso, é fato, mas tal característica apenas reforça o caráter do protagonista, verdadeiro objeto da piada que se repete, assim como o capitalismo, o casamento burguês ocidental, o comércio – todos valores e instituições das quais o filme não teme tirar sarro. Reverência que falta porque é, mais tarde, reservada à Meca, por exemplo. Dúvidas? Preste atenção ao símbolo que fecha o filme (uma porta, na verdade).

No final das contas, esta comédia dramática aparece como holograma de um cinema que já foi mais relevante, mais corajoso e certamente mais “cinematográfico”. Uma projeção diluída e desprovida de substância, que peca não pelo que tem de “preconceituosa” (preconceito que tem como alvo, como se viu, o ocidente, e não a Arábia, conforme muitos críticos vão querer fazer crer), mas pela forma como se sujeita a convenções político-ideológicas cada vez mais determinantes no cinema de Hollywood (muitas vezes por motivações efetivamente econômicas) distribuídas por um punhado de personagens, situações e cenários que você já viu outras vezes – não como hologramas, mas como material filmado de qualidade bem superior.


by Daniel Moreno

Crítica | Esquadrão Suicida (Sem Spoilers)

Enfim é chegada a tão aguardada estréia dos piores heróis já vistos no cinema. E longe de ser o ideal de seu marketing - "Os Piores dos Piores" - Esquadrão Suicida se resume a ser apenas e, nada mais, que o medíocre de um padrão que todos estamos saturados.

Em uma premissa promissora (como é na HQ que leva o mesmo nome), David Ayer nos apresenta a história de grupo de vilões forçados a combater o mal em nome de interesses do governo. Comandados por Amanda Waller (Viola Davis) e composto por figuras já conhecidas como Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), e por outras nem tanto como Amarra (Adam Beach), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e El Diablo (Jay Hernandez), o Task Force 1 – a.k.a Esquadrão Suicida, é requisitado quando uma arma secreta foge do controle de Waller se transformando em uma das maiores ameaças que o planeta já viu desde Apocalipse. Agora, esse grupo muito suspeito, sob a tutela de Rick Flag (Joel Kinnaman) e Katana (Karen Fukuhara), terá que enfrentar esse oponente implacável.

Logo na primeira meia hora de filme já podemos identificar uma certa confusão em sua montagem. Feita de forma apressada e descuidada, são apresentados os vilões e a forma como foram capturados, em uma tentativa falha de estilização e videoclipe (como é muito bem feito em Snatch de Guy Ritchie), onde música e ritmo se tornam demasiadamente destoantes e sem conexão entre si. A sensação que passa é de estarmos vendo a metade de um filme já começado. O ponto fora da curva desse turbilhão de ideias assimétrico seja, talvez, a introdução de Arlequina, onde o ritmo alucinado de tal começo contribui para a sensação de loucura da personagem. Nesse tempo também podemos ver pela primeira vez o Coringa de Jared Leto. Uma mistura de gângster moderno e sua versão animada dos anos 90, cheio de sensualidade e de relevância (assim como em todo filme) zero.

Essa questão sobre o que fazer com seus personagens paira sobre o longa inteiro, como um espectro assombrando o roteiro. Ayer parece não saber muito bem o que fazer com eles durante a missão suicida rendendo pouquíssimos momentos de interação que realmente valham a pena, atingindo alguma complexidade ou profundidade emocional relevante. Apenas com Pistoleiro e El Diablo que temos um trabalho razoável – ainda que seja pautado em clichês já muito clássicos de filmes que acompanham esses estereótipos.

Não colabora também o senso da história apostar muito em macguffins para mover sua narrativa repleta de conveniências narrativas e soluções que são ao mesmo tempo burocráticas e arbitrárias – recorre na maioria das vezes para o uso de explosivos para resolver os principais problemas do filme.

Se Ayer impressiona pouco no roteiro só conseguindo arrancar algumas risadas entre alguns momentos descontraídos enquanto falha em criar relevância para aquela história, na direção consegue decepcionar ainda mais. Saído de filmes bons como Marcados para Morrer e Corações de Ferro, é negativamente impressionante notar o quão preguiçoso ou limitado ele se torna aqui.

As cenas passam, reviravoltas surgem, novos personagens são apresentados, velhos heróis de filmes anteriores aparecem e em meio a todos esses acontecimentos trazidos pelo roteiro, a câmera e decupagem visual permanecem apáticas. Movimentam-se como devem para trazer alguma vida à imagem repleta das atuações caricatas e excelente do elenco, porém não agregam nada narrativamente. A câmera está ali apenas como um transmissor dos acontecimentos do filme, nunca contribuindo de fato para nos envolver em uma atmosfera fantástica e repleta de vida. Para entender do que digo, apenas pense em como Christopher Nolan apresenta o Coringa pela primeira vez ao público em O Cavaleiro das Trevas. Ali sim há a presença de um diretor que sabe bem do que está fazendo.

Esquadrão Suicida era um longa que tinha tudo para dar certo, mas que infelizmente falha em tornar esse universo cinemático da DC em algo mais palpável e bem estruturado. Em meio a seu roteiro problemático e pouco inspirado com direção cinematográfica visualmente broxante, é possível sim encontrar alguma diversão no filme graças aos esforços do elenco espetacular, da trilha musical licenciada bem utilizada e de alguns poucos momentos onde vemos um vislumbre do que poderia ter sido a experiência original do longa. Após a recepção mista dos dois últimos filmes inspirados nas obras da DC, toda a responsabilidade e expectativa caem no colo do vindouro Mulher-Maravilha.

Por enquanto, o melhor a se fazer é esperar para ver.


by Redação Bastidores

Crítica | Star Trek (2009)

Dizem por aí que há dois tipos de nerd dentro da cultura pop. Aqueles que preferem Star Wars e aqueles que preferem Star Trek, ou Jornada nas Estrelas. Graças a circunstâncias do destino e pelo fato de eu ter visto a saga de George Lucas antes no SBT, acabei pendendo para a primeira classificação, da qual ainda faço parte com orgulho. Porém, eu nunca havia tido um contato forte com o universo de Gene Roddenberry, com exceção de inúmeras referências em Os Simpsons, Seinfeld e literalmente qualquer série de televisão, até o lançamento do filme de J.J. Abrams em 2009.

Seria a primeira grande excursão de Abrams no cinemão blockbuster, já tendo agradado com o eficiente Missão: Impossível 3 e a revolucionária série Lost. Havia a gigantesca responsabilidade de reacender a chama fraca da franquia, satisfazer aos fãs devotos e conquistar uma nova geração no processo. Não posso falar em nome da ala veterana, mas este Star Trek certamente acertou em cheio para mim.

Mesmo não conhecendo a fundo o universo das séries de televisão e dos longa-metragens originais, de cara já me apaixonei pela forma como Abrams e os roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci reiniciaram a franquia. Não apenas um remake ou reboot, mas um longa novo que incorpora a viagem no tempo para criar uma realidade alternativa onde encontramos versões mais jovens dos personagens icônicos. É uma solução brilhante pois oferece a oportunidade de reinventar o universo ao mesmo tempo em que não joga fora os 50 anos de conteúdo que esta já rendeu, incorporando-os à trama na presença de um Spock envelhecido (vivido por Leonard Nimoy).

E o foco aqui reside justamente no vulcano (na versão jovem, Zachary Quinto) e na origem turbulenta do Capitão James T. Kirk (Chris Pine), desde o momento em que embarcam na academia de treinamento da Frota Estelar até a primeira missão que acaba por unir toda a tripulação da nave Enterprise: Uhura (Zoe Saldana), McCoy (Karl Urban), Sulu (John Cho), Chekov (Anton Yelchin) e Scotty (Simon Pegg). Em oposição a eles, temos o renegado Nero (Eric Bana) que parte atrás de vingança pela destruição de seu planeta.

É um filme totalmente dedicado a seus personagens, e talvez por isso funcione tão bem e tenha sido tão eficiente em falar com um novo público. Chris Pine está excelente na pele de um Kirk narcisista e que inicia a projeção desperdiçando seu dons e o legado heróico de seu falecido pai (um até então desconhecido Chris Hemsworth) em paqueras e brigas de bar na Terra, ganhando a partir daí um arco de desenvolvimento muito sólido que explora a imprudência e subsequente amadurecimento do futuro capitão da Enterprise. Pine é carismático e irônico na medida certa, e temos fogos de artifício quando contracena com Zachary Quinto, que surge inexpressivo na maior parte do tempo como Spock, mas aprendi que inexpressividade e calculismo são facetas definitivas do personagem. O mais interessante é ver o personagem falhar em manter o controle de suas emoções e se entregar a explosões de violência e melodrama, incluindo uma memorável pancadaria com Kirk.

Temos esse mesmo cuidado com o restante do elenco, que por sinal é uma verdadeira pérola em termos de casting. A atmosfera da academia dá margem a situações divertidas e fáceis de se formar interações e primeiros encontros entre os personagens, com Kirk conhecendo McCoy em uma nave de transporte a caminho da Federação (leia-se, no ônibus escolar), tendo o primeiro contato com Uhura em uma paquera de bar (leia-se, na baladinha universitária) e com Spock em uma simulação de teste impossível (leia-se, o professor exigente). O humor funciona para Kirk e suas interações, ao passo em que Sulu e Chekov são bem apresentados ao ambos cometerem alguns erros em sua primeira missão, com o primeiro tendo esquecido de acionar uma chave e o segundo ter dificuldades com o reconhecimento de voz em decorrência de seu carregado sotaque russo; mérito à excelente performance de Yelchin, que passa longe da caricatura em sua composição.

A Uhura de Zoe Saldana ganha um pouco de destaque a mais graças ao pseudo triângulo amoroso formado com Kirk e Spock, ainda que o primeiro não passe de um flerte aqui e ali. Muito da relação da oficial com o vulcano fica no subtexto, dando a ideia de um romance entre aluna e professor que acaba não ganhando o destaque esperado - o que prejudica um pouco os momentos mais dramáticos e intimistas entre os dois. E o Scotty de Simon Pegg é o último a ser introduzido, mesmo que por conveniência do roteiro e a necessidade de um Deus Ex Machina em um ponto chave do segundo ato. Porém, a performance de Pegg é tão divertida e tão vibrante que somos capazes de perdoar a falta de sutilezas.

A história que os abriga também é bem contada, agradando pela simplicidade e o fato de manter o foco em algo direto e sem muitas subtramas, garantido mais enfoque aos personagens. A presença do Spock Prime é chave para justificar o antagonismo de Nero e sua vingança, em um conceito simples e bem conciso de viagem no tempo. Todas as motivações do vilão de Bana são compreensíveis, ainda que o ator seja bem sucedido em criar um romulano ameaçador e cruel.

Já a direção de Abrams revela-se acertada, ainda que tenhamos ali um cineasta ainda experimentando diversas técnicas e trejeitos. Anos depois, teríamos a culminação de seu melhor trabalho como diretor em Star Wars: O Despertar da Força, enquanto aqui temos uma mise em scene que oscila entre planos longos, câmera na mão, uso um tanto descontrolado de planos holandeses e, claro, as famosas luzes de flare que iconizaram seu trabalho com o diretor de fotografia Daniel Mindel. As cenas de ação ganham muito na mão de Abrams, que revela-se um expert em efeitos visuais orgânicos e críveis, além de cenas de batalha e lutas que são capazes de empolgar e envolver - o salto da tripulação da Enterprise até uma perfuradeira planetária é um dos pontos altos.

E aí temos uma certa polêmica. Cenas de ação em Star Trek. Ainda que a série e os filmes tenham tido sua boa parcela de pancadarias (algo que descobri em uma bizarra e divertida pesquisa), este novo filme abre mão do aspecto mais cerebral que muitos dos fãs veteranos esperavam, apostando mais na fórmula blockbuster e, nas palavras de Abrams, "adicionando um pouco de Star Wars". Entendo como pode ir contra as expectativas dos fãs, mas isso de forma alguma torna o filme ruim, já que não é um mero filme de ação burro na linha de Transformers. É uma aventura elegante e que mantém a inteligência ao respeitar o arco e as relações de seus personagens, resultando em uma catarse capaz de provocar lágrimas até mesmo nos não familiarizados com a franquia (guilty as charge), seja através da pirotecnia, da música de Michael Giacchino ou do famoso discurso final proclamado por Leonard Nimoy.

Star Trek é uma aula de como se reiniciar uma franquia, devendo ser um objeto de estudo nos estúdios de Hollywood que sofrem para trazer de volta suas franquias consagradas. Ao oferecer uma abordagem moderna e radical e um excelente tratamento com seus personagens multifacetados, J.J. Abrams conseguiu injetar nova vida à Enterprise e ganhou uma nova leva de fãs no processo.

Star Trek (Idem, EUA - 2009)

Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Alex Kurtzman e Roberto Orci
Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Zoe Saldana, Karl Urban, John Cho, Anton Yelchin, Simon Pegg, Eric Bana, Winona Ryder, Chris Hemsworth
Gênero: Aventura, Ação, Ficção Científica
Duração: 128 min


by Lucas Nascimento

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